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Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
Juros para baixo

Selic deve ir a 2,25% na próxima reunião e fechar ciclo a 1% ao ano, diz Kawall, do ASA Bank

O ex-secretário do Tesouro e diretor do ASA Bank, Carlos Kawall, crê que o BC cortará a Selic em mais 0,75 ponto na próxima reunião do Copom e que a taxa de juros poderá continuar caindo no futuro

Montagem de meteoro no espaço em direção para baixo com o texto juros em cima; investimentos
Imagem: Montagem Andrei Morais / Shutterstock

O Banco Central (BC) foi claro: o ciclo de baixa da Selic poderá continuar na próxima reunião do Copom, mesmo após o corte de 0,75 ponto promovido nesta quarta-feira (6), para 3% ao ano. Pois Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro e diretor do ASA Bank, crê que a taxa básica de juros ainda tem muito espaço para continuar caindo.

Em entrevista ao Seu Dinheiro, ele mostrou-se satisfeito com a postura da autoridade monetária e com as sinalizações para o futuro: segundo ele, a sinalização de que há espaço para mais uma redução de até 0,75 ponto no próximo encontro foi surpreendente — e bem-vinda.

Isso porque, para Kawall, será necessário continuar cortando a Selic para fornecer o estímulo necessário à economia: o ASA Bank trabalha com um cenário em que o PIB do Brasil cairá 6% em 2020, com viés negativo, e em que a inflação permanecerá em níveis bastante baixos — a combinação ideal para uma queda forte na taxa de juros.

Dito isso, o economista aposta num novo corte de 0,75 ponto na reunião de 16 e 17 de junho, o que levará a Selic ao nível de 2,25% ao ano. Mas, enquanto o BC diz que a próxima baixa seria a última, Kawall acredita que o ciclo de alívio monetário poderá ir além.

"No Copom de janeiro, eles fizeram um corte e disseram que não mexeriam mais. Aí, baixaram em 0,5 ponto [em março] e sinalizaram que era o fim do ciclo. Agora, cortam 0,75 e dizem que podem vir mais 0,75 na próxima", destacando que o BC tem ajustado suas comunicações de acordo com a evolução do cenário econômico — e tais mudanças sempre implicam em juros cada vez menores.

E até onde a Selic poderá cair? Kawall explica que o ASA Bank vê o ciclo de ajustes se encerrando em 1% ao ano. Ele destaca, no entanto, que esse patamar não necessariamente será atingido em 2020, e que pode haver uma pausa em algum momento do ajuste.

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O fator determinante

O ex-secretário do Tesouro aponta a trajetória do ajuste fiscal como a variável chave para o comportamento da Selic daqui em diante. O próprio BC bate nessa tecla: segundo a autoridade, políticas de resposta à pandemia que piorem a trajetória do ajuste de forma prolongada podem elevar os prêmios de risco e gerar pressões inflacionárias.

Mas Kawall acredita que, por mais que o cenário político esteja deteriorado no momento, não há uma postura deliberadamente contrária à responsabilidade fiscal e ao cumprimento do teto de gastos por parte do Congresso.

Para ele, persiste o entendimento de que é necessário preservar a agenda de ajustes no médio e longo prazo, embora a crise do coronavírus tenha gerado novas demandas orçamentárias e provocado um desvio significativo neste ano.

"Se retomarmos o caminho das reformas no segundo semestre ou em 2021, isso vai acabar jogando a favor de mais estímulos pelo Banco Central", diz.

E o dólar?

O corte de 0,75 ponto na Selic vem num momento de enorme pressão sobre o dólar: no segmento à vista, a moeda americana terminou a sessão de hoje a R$ 5,7024, marcando um novo recorde de encerramento em termos nominais — desde o começo de 2020, a divisa já avança mais de 42% ante o real.

Para Kawall, a escalada no dólar tende a continuar: o ASA Bank projeta que a moeda terminará o ano na faixa dos R$ 6,00, recuando para o patamar de R$ 5,50 em 2021. E, segundo ele, o Banco Central parece estar confortável com esse cenário de câmbio mais elevado.

"Mesmo com os juros a 1% ao ano, a inflação do ano que vem ficaria em 2,8%. Para chegar à meta do Banco Central, de 3,75% em 2021, teríamos que ter um dólar ainda mais alto", diz o economista, destacando que os impactos da valorização do câmbio sobre a dinâmica inflacionária se dá em seis meses.

Assim, os impactos dessa disparada do dólar serão sentidos ainda em 2020, período em que a inflação projetada é bastante baixa — o boletim Focus da última segunda-feira (4) trabalha com o IPCA fechando o ano abaixo de 2%.

"Isso sugere que o dólar não é um problema para a inflação, a não ser que a taxa de câmbio vá para R$ 8,00, R$ 9,00 ou além"

Orçamento de guerra

Kawall também destaca que o mercado estará atento à ata da reunião do Copom, a ser divulgada na próxima semana, buscando pistas quanto ao eventual uso de uma nova ferramenta por parte da autoridade monetária.

Isso porque o plenário da Câmara aprovou nesta quarta-feira, em segundo turno, a PEC do 'Orçamento de Guerra', que seara os gastos emergenciais por causa da crise do coronavírus das contas da União — o texto não precisa de sanção presidencial e é promulgado pelo próprio Congresso.

Entre outros pontos, essa PEC facilita a atuação do BC no mercado de títulos públicos e privados durante a pandemia. Assim, a autoridade ganhará o poder de atuar na curva de juros — um princípio semelhante ao que já é feito no mercado de câmbio, via leilões de swap e outros mecanismos.

"O entendimento é o de que o BC usará essa ferramenta de forma pontual", diz Kawall, destacando que a curva de juros encontra-se demasiadamente inclinada. "Ao divulgar a ata, vamos saber o que ele tem em mente como estratégia".

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