BC queima US$ 7 bilhões para tentar segurar dólar
Pressão no câmbio reflete as dúvidas dos investidores sobre o futuro político do governo do presidente Jair Bolsonaro, após o pedido de demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro
O caos político que se instalou no Brasil fez o Banco Central (BC) "queimar" US$ 7 bilhões nos últimos três dias para tentar segurar as cotações do dólar no Brasil. Mas a bateria de leilões de moeda do BC, intensificados desde a última quarta-feira, foram incapazes de acalmar o mercado até agora.
A pressão no câmbio reflete as dúvidas dos investidores sobre o futuro político do governo do presidente Jair Bolsonaro, após o pedido de demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro, oficializado nesta sexta.
Também pesaram nos últimos dias declarações do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em entrevista ao Estadão Live Talks da última segunda-feira.
Leia também:
- Fundos imobiliários do BTG estão comprando… fundos imobiliários!
- Coronavírus reduz a renda de metade dos brasileiros
- Comprada em dólar, Ace Capital vê impeachment como melhor cenário
- Receba notícias e dicas de investimento por e-mail
Na ocasião, ele sinalizou novo corte da Selic (a taxa básica de juros), atualmente em 3,75% ao ano. Além disso, surgiu a visão de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, perdeu prestígio e pode ser o próximo a deixar o governo.
Em meio à perspectiva de que a taxa básica de juros (Selic) possa cair para 3% ao ano no início de maio, quando ocorre reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, a alta do dólar ante o real se intensificou na quarta-feira.
Por trás do movimento está a avaliação dos investidores de que, com juros mais baixos, o Brasil se tornará ainda menos atrativo ao capital internacional.
Ainda na quarta-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, anunciou em evento no Planalto um plano de investimentos de R$ 300 bilhões para a recuperação econômica do Brasil pós-pandemia.
O detalhe é que nenhum integrante do ministério da Economia participou do anúncio. A equipe de Guedes, na verdade, vê com preocupação a possibilidade de o governo lançar um plano de investimentos, já que não há recursos para isso.
Para reduzir a pressão no câmbio na quarta-feira, o BC vendeu um total de US$ 880 milhões em swaps cambiais. Foram duas operações. O swap é um tipo de contrato que, ao ser negociado, tem o efeito equivalente à venda de dólares no mercado futuro. Ainda assim, o dólar à vista subiu 1,90%, aos R$ 5,4087.
Prestígio
A percepção de que o ministro Paulo Guedes perdeu prestígio deu novo impulso ao dólar ante o real na quinta-feira. A visão de boa parte dos economistas e operadores do mercado financeiro é a de que o governo Bolsonaro pode dar uma guinada na área econômica, abandonando a orientação liberal da equipe de Guedes em favor de uma postura mais desenvolvimentista, ancorada no investimento estatal.
A situação piorou em meio às notícias de que o ministro da Justiça, Sergio Moro, poderia pedir demissão.
Novamente, para reduzir a volatilidade no câmbio, o BC vendeu ao mercado um total de US$ 1,900 bilhão em contratos de swap, em quatro operações espalhadas ao longo do dia. Não adiantou: o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 2,22%, aos R$ 5,4087.
Ontem, a pressão no câmbio continuou aumentando. Após o Diário Oficial da União trazer, ainda durante a madrugada, a exoneração de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal (PF), ficou claro para o mercado financeiro que Sergio Moro iria deixar o governo.
Para apagar o incêndio, o BC começou a atuar no câmbio logo no início da sessão. Os leilões de moeda foram intensificados após as 11h, quando Moro oficializava em entrevista sua saída. Assim, até o início da tarde, o BC já havia realizado três leilões de swap no valor de R$ 1,400 bilhão, dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra no futuro) no total de US$ 700 milhões e quatro operações de venda à vista de dólares das reservas internacionais, de US$ 2,175 bilhões. Apenas ontem, o BC realizou vendas de US$ 4,2755 bilhões.
Considerando os últimos três dias, então, as atuações somam US$ 7 bilhões. Ainda assim, o dólar bateu recordes ante o real. No pico de ontem, chegou a ser cotado a R$ 5,7484 - o maior valor nominal da história, mas acabou fechando em R$ 5, 6614, recorde para um fechamento.
Campos Neto estragou a festa do mercado e mexeu com as apostas para a próxima reunião do Copom. Veja o que os investidores esperam para a Selic agora
Os investidores já se preparavam para celebrar o fim do ciclo de ajuste de alta da Selic, mas o presidente do Banco Central parece ter trazido o mercado de volta à realidade
Um dos maiores especialistas em inflação do país diz que não há motivos para o Banco Central elevar a taxa Selic em setembro; entenda
Heron do Carmo, economista e professor da FEA-USP, prevê que o IPCA registrará a terceira deflação consecutiva em setembro
O que acontece com as notas de libras com a imagem de Elizabeth II após a morte da rainha?
De acordo com o Banco da Inglaterra (BoE), as cédulas atuais de libras com a imagem de Elizabeth II seguirão tendo valor legal
Banco Central inicia trabalhos de laboratório do real digital; veja quando a criptomoeda brasileira deve estar disponível para uso
Essa etapa do processo visa identificar características fundamentais de uma infraestrutura para a moeda digital e deve durar quatro meses
Copia mas não faz igual: Por que o BC dos Estados Unidos quer lançar um “Pix americano” e atrelar sistema a uma criptomoeda
Apesar do rali do dia, o otimismo com as criptomoedas não deve se estender muito: o cenário macroeconômico continua ruim para o mercado
Com real digital do Banco Central, bancos poderão emitir criptomoeda para evitar “corrosão” de balanços, diz Campos Neto
O presidente da CVM, João Pedro Nascimento, ainda afirmou que a comissão será rigorosa com crimes no setor: “ fraude não se regula, se pune”
O real digital vem aí: saiba quando os testes vão começar e quanto tempo vai durar
Originalmente, o laboratório do real digital estava previsto para começar no fim de março e acabar no final de julho, mas o BC decidiu suspender o cronograma devido à greve dos servidores
O ciclo de alta da Selic está perto do fim – e existe um título com o qual é difícil perder dinheiro mesmo se o juro começar a cair
Quando o juro cair, o investidor ganha porque a curva arrefeceu; se não, a inflação vai ser alta o bastante para mais do que compensar novas altas
Banco Central lança moedas em comemoração ao do bicentenário da independência; valores podem chegar a R$ 420
As moedas possuem valor de face de 2 e 5 reais, mas como são itens colecionáveis não têm equivalência com o dinheiro do dia a dia
Nubank (NUBR33) supera ‘bancões’ e tem um dos menores números de reclamações do ranking do Banco Central; C6 Bank lidera índice de queixas
O banco digital só perde para a Midway, conta digital da Riachuelo, no índice calculado pelo BC
Leia Também
Mais lidas
-
1
O carro elétrico não é essa coisa toda — e os investidores já começam a desconfiar de uma bolha financeira e ambiental
-
2
Ações da Casas Bahia (BHIA3) disparam 10% e registram maior alta do Ibovespa; 'bancão' americano aumentou participação na varejista
-
3
Cenário apocalíptico, crise bilionária e centenas de lojas fechadas: o que está acontecendo com os Supermercados Dia?