Embora o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, tenha deixado claro que não há relação mecânica entre aprovação da reforma da Previdência e corte na taxa básica de juros, os analistas de mercado voltaram a reduzir a previsão para a Selic no fim 2019 e 2020.
A mediana do Focus para a Selic caiu para 5,5% de 5,75%. Há quatro semanas, a projeção era de estabilidade em 6,5%. Para 2020, o ajuste foi maior, com a mediana saindo de 7,25% há quatro semanas para 6% agora.
Essas projeções parecem embutir a certeza de que o Congresso vai aprovar uma reforma da Previdência bastante robusta e que o impacto dessa reforma será deflacionário.
Na semana passada, Campos Neto disse que o BC entende que a reforma será aprovada, estimulando a atividade. O que importa para o BC é como a reforma vai afetar a inflação e essa é uma avaliação que poderá ser feita só depois que soubermos que reforma sairá do Congresso.
Na terça-feira, o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) deve apresentar seu novo relatório e a expectativa é de que o texto comece a ser votado na comissão especial. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, trabalha para que o projeto seja levado ao plenário antes do recesso parlamentar.
É um desafio enorme discutir e votar uma PEC em dois turnos em meia dúzia de sessões, mesmo existindo a consciência dentro do Congresso de que está na hora de superar essa pauta. Uma das alternativas que ouvi é que seria possível, no melhor dos cenários, fazer a votação em primeiro turno antes do recesso.
Essas projeções do Focus mostram um confiança muito grande de que o Congresso “vai fazer a coisa certa”, mas acreditar demais na política e nos políticos parece algo arriscado. As decepções do mercado costumam ser mais contundentes que essas ondas de otimismo que temos visto por agora.
No lado dos preços, os prognósticos feitos pelo mercado também são bastante favoráveis. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar o ano em 3,8%, contra uma meta de 4,25%.
Para 2020, a mediana caiu para 3,91%, contra uma meta de 4%. Vale lembrar que as ações do BC visam cada vez mais o ano de 2020.
Olhando para horizontes mais longos, temos a inflação projetada exatamente na meta de 3,75% para 2021. Para 2022, a mediana também está em 3,75%, mas deveremos observar uma convergência para 3,5% ao longo das próximas semanas, que foi a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).