Na semana passada, questionamos onde estavam os dólares que já deveriam estar entrando no Brasil neste começo de 2019, depois que fluxo cambial de janeiro tinha sido o menor desde 2013. Pois bem, os dados atualizados sobre o mês de fevereiro, até o dia 8, mostram que eles apareceram e com força. Nos seis primeiros dias úteis do mês, a sobra de dólares foi de US$ 5,5 bilhões.
O fluxo cambial capta as trocas comerciais e de investimentos e aplicações do Brasil com o exterior. No fim do ano passado, mais de US$ 20 bilhões deixaram o país, especialmente pela conta financeira, que captou o movimento sazonal de empresas que fecham balanços e remetem lucros para o exterior. O usual é que em janeiro parte desse dinheiro já comece a retornar, mas agora em 2019, o movimento parece acontece um pouco “atrasado”.
Ainda é cedo para falar em tendência de recuperação, mas neste começo de fevereiro, a conta financeira teve saldo positivo de US$ 3,1 bilhões, enquanto a conta comercial mostrou resultado positivo de US$ 2,4 bilhões. A tendência é que a conta comercia passe a registar superávits ainda maiores em função dos embarques de safra. A conta financeira depende de outros vetores, como andamento das reformas, percepção de risco dos investidores e planos de investimentos de empresas externas.
Mesmo com a recuperação vista na semana passada, o fluxo acumulado no ano está em apenas US$ 5,541 bilhões, em comparação com US$ 10,4 bilhões vistos em igual período do ano passado.
Fluxo e preço
Mais uma vez os dados evidenciam que o fluxo não determina preço, pois na semana passada o dólar acumulou alta de 1,9%. No dia 6 de fevereiro, por exemplo, quando o Ibovespa caiu 3,8%, e o dólar subiu mais de 1%, retomando a linha de R$ 3,70, o fluxo cambial tinha sido positivo em pouco mais de US$ 2 bilhões.
Não que o fluxo seja totalmente desprezível para o preço, mas a formação capta as expectativas do mercado com o cenário local e externo e as movimentações dos bancos, fundos e investidores estrangeiros no mercado futuro, onde os valores movimentados são muito superiores ao fluxo à vista.
É na B3, onde comprados, que ganham com a alta do dólar, e os vendidos, que ganham com a queda da moeda, protegem suas exposições em outros mercados e fazem apostas direcionais na moeda americana. Na semana passada, os estrangeiros tinham atuado na ponta de compra de dólar futuro e cupom cambial (DDI, juro em dólar). Na venda estavam os bancos. Agora, nesta segunda semana, os estrangeiros voltaram a atuar na ponta de venda, se desfazendo de mais de US$ 15 bilhão, enquanto os fundos estão na ponta de compra.
As posições líquidas, no fim do pregão de terça-feira, mostravam o estrangeiro comprado em US$ 35 bilhões, os fundos vendidos em US$ 24,6 bilhões, e os bancos, também vendidos, em US$ 12,3 bilhões.