Não adianta culpar o Bolsonaro. É o mundo que está atrasando a recuperação brasileira
Incerteza sobre futuro da economia americana e dólar forte são vetores mais relevantes que caneladas de Bolsonaro. Lentidão das reformas também atrapalha

Declarações e posturas do presidente Jair Bolsonaro são colocadas entre os vetores para uma lenta recuperação da economia e falta de fluxo de investimentos domésticos e externos. Pode até ser. Mas achar que um presidente brasileiro é mais importante que a conjuntura mundial é um pouco demais.
Estamos em um fim de ciclo de crescimento global, que se mostra mais aparente na Europa e China, em meio a uma guerra comercial que é muito maior que tarifas e câmbio. Num momento em que todos se perguntam o que será da economia dos Estados Unidos, que está melhor em comparações com os demais pares globais, só não se sabe até quando. E essa resposta é a chave para sabermos quando o dólar pode perder força, abrindo espaço para uma retomada no preço das commodities e das economias emergentes.
Para nos ajudar a entender qual seria o peso relativo de Bolsonaro e suas falas (que, muito entre nós, não deveriam surpreender a ninguém) dentro de um complexo cenário mundial, conversei com dois estrangeiros.
Um já conhecido nosso, de uma conversa sobre a imagem do país logo depois das eleições, quando Bolsonaro foi bombardeado como sendo uma ameaça à democracia pelos principais jornais do mundo. Jean Van de Walle é chefe de investimentos (CIO) da Sycamore Capital, já morou aqui no Brasil nos anos 1980 e tem mais de 30 anos acompanhando emergentes.
Também falei com o economista sênior para América Latina da Continuum Economics, Pedro Tuesta, que tem mais de 15 anos acompanhando a economia e a política brasileiras.
Agendas distintas
Pergunto a Walle se Bolsonaro tem esse peso todo sobre a economia ou sobre a bolsa brasileira.
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“Eu duvido que Bolsonaro está tendo algum impacto na bolsa ou na economia. Ele está deixando a política econômica nas mãos do Paulo Guedes. Não vejo ele intervindo. Ele se ocupa da agenda de costumes. A médio e longo prazos pode até causar alguma incerteza, com assuntos como esse envolvendo Amazônia, mas creio que tem outros assuntos mais relevantes”, diz Walle.
A realidade, segundo Walle é que o mundo não está muito amigável para mercados emergentes. Temos um quadro de EUA relativamente forte em comparação com outras economias, o que leva a um fortalecimento do dólar e queda das commodities. A dúvida é como será essa desaceleração dos EUA. Se teremos uma recessão por lá ou não.
Ao mesmo tempo, como o mundo desacelera mais rápido que os EUA, há um movimento mais generalizado de aversão ao risco, o que também favorece o dólar e os ativos americanos.
“Esse conjunto nunca é favorável para emergentes. E a situação agora é essa. É desfavorável”, resume Walle
O dinheiro não liga
Segundo Tuesta, a preocupação dos investidores é se as falas e ações de Bolsonaro são uma ameaça real às Instituições, como o Congresso e a Justiça. Não que os investidores estejam preocupados com as Instituições em si, mas se o cenário for esse, isso é péssimo para os negócios.
Com aquela objetividade típica do gringo, Tuesta diz o seguinte: “Os negócios não se preocupam com direita, esquerda, minorias, floresta até que isso seja um problema para os lucros. Ninguém se importa com guerra cultural desde que isso não atrapalhe a última linha do balanço.”
Até mesmo segmentos que se dizem mais preocupados com questões sociais e ambientais não deixam de fazer negócios com a China, que é uma ditadura, lembra Tuesta.
“Esse não é o problema, por mais que você ache ou goste de pensar assim.”
Na correnteza do rio Amazonas
Do que ninguém escapa, diz Tuesta, é do quadro global que não está nada favorável. Para ilustrar seu ponto, ele chama atenção para o Chile, que tem feito reformas, estímulos fiscais e uso da política monetária (juro real está negativo por lá). Além de ter um presidente menos polêmico que Bolsonaro. Ainda assim, o país andino tem problemas econômicos.
Já no México, o presidente é visto como socialmente inclusivo e preocupado com pautas minoritárias. Mas sua postura com relação à economia é vista como possível ameaça à última linha do balanço. Resultado, menores investimentos e crescimento da economia.
Tuesta, que é natural do Peru, faz a seguinte analogia para falar da importância do quadro internacional: se imagine tentando ir contra a correnteza do rio Amazonas em um banco pequeno, com um remo pequeno. “Você não pode fazer nada, o rio te leva para onde ele quiser.”
O grande problema do Brasil nessa correnteza, diz Tuesta, é que não temos um “remo” para ir contra a maré. Não temos instrumentos para resistir à correnteza. Os instrumentos seriam a política fiscal e a política monetária.
Lembra de 2008? Então, naquele momento tínhamos espaço fiscal para gastar (superávits primários eram de mais de 3% do PIB) e tinha como fazer política parafiscal e monetária. Além de contarmos com commodities em alta. “Agora, nada disso vai acontecer”, explica.
A ideia, segundo Tuesta, é tentar sobreviver à corrente, pois não será possível ir contra ela.
“Se o seu remo é pequeno, você tenta apenas não bater nas margens. Tenta sobreviver com o menor número possível de cicatrizes.”
Manter a rota do barco, segundo Tuesta, é manter o foco nas reformas e demais ajustes econômicos e não tomar medidas contracíclicas exageradas. Esse foi o erro de Dilma Rousseff, com exageros fiscais e corte de juros na marra.
Segundo Tuesta, quando você olha os números e o desenho da política econômica, o Brasil está mantendo a rota, sobrevivendo. Mas ele reconhece que isso é algo bastante difícil politicamente, pois as pessoas estão pedindo grandes medidas. O que o governo não pode fazer é entrar em pânico.
O fantasma argentino
Walle diz que o que está acontecendo com a Argentina é o tipo de crise que não acontece em mercados globais favoráveis. “A Argentina é a última vítima global dessa tendência negativa”, explica.
Para Walle, o mercado global avalia que há algum um efeito contágio da Argentina para o Brasil. “Historicamente os países são parecidos, com os mesmos tipos de problemas”, avalia.
O caso da Argentina, segundo Walle, é um exemplo para todo mundo olhar. Mauricio Macri não aproveitou a oportunidade, não que seja fácil fazer reformas. Mas o ponto é que se passar mais um ano e o Brasil continuar sem crescimento, o mercado pode chegar à mesma conclusão com relação a Bolsonaro.
“Se o Brasil tivesse feito reformas mais rápidas, a situação agora poderia ser diferente. Mas as coisas andam muito devagar e o tempo passa rápido. E você olha a Argentina e pensa que o Lula poderia voltar”, pondera.
O ponto destacado por Walle é que a crise está durando muito tempo no Brasil e os investidores começam a se desesperar e procurar outras opções. Ele se diz impressionado pelos investimentos e compras de imóveis feitas por brasileiros nos EUA. “O brasileiro está tirando dinheiro do Brasil e isso é preocupante”, diz.
Faço a mesma pergunta sobre a Argentina para Tuesta, que diz não acreditar em uma volta de Lula ou PT ao poder. O crescimento decepciona, mas consumidores e o mercado estão um pouco mais otimistas.
“As memórias da recessão são muito novas. A esquerda colocou o país em uma crise tão grande que é difícil de esquecer, mesmo considerando que os eleitores têm memória curta”, avalia.
Há saída ou esperança?
Walle, que ajuda a alocar os cerca de US$ 15 bilhões da Sycamore, diz que está cautelo e com poucos investimentos em mercados emergentes.
“Temos que esperar o ciclo americano. A economia desaquecer por aqui. Ver se ele será bem gerenciado, se não vamos para uma recessão e uma crise. Esse é um assunto para o ano que vem, para 2020, e pode ser muito favorável para emergentes”, diz Walle.
Uma desaceleração sem recessão nos EUA levaria o dólar a perder força ante as demais moedas, favorecendo as commodities e outros investimentos.
“Talvez vejamos, pela primeira vez em sete ou oito anos, o mundo crescendo mais rápido que os EUA e isso iniciaria um ciclo negativo para o dólar e positivo para emergentes. Estou esperando isso”, afirma.
A oportunidade, diz Walle, deve surgir dentro de nove a 18 meses. A questão é como será gerenciado esse ciclo de desaceleração nos EUA.
“Isso é fundamental para o Brasil, que nunca vai conseguir fazer reformas de maneira rápida. Melhora de ambiente global compraria tempo para o Brasil. Eu ficaria bem otimista com o dólar perdendo força.”
Sobra algo de bom?
Para fechar, Walle diz que gosta das empresas de proteína no Brasil, pois esse é um mercado que o país está bastante bem posicionado para tirar vantagem da gripe suína. “JBS e BRF podem andar bem.”
Além disso, ele acredita que o Brasil pode se beneficiar muito da guerra-fria entre China e EUA. Se a China não compra dos EUA, compra do Brasil.
Pergunto se Bolsonaro não terá de escolher entre China e EUA em algum momento. Resposta: “O empresário vai explicar para o Bolsonaro que a China é mais importante. A China não concorre com o Brasil na agricultura. O país deve manter a posição tradicional de não se comprometer."
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