Indicado para ocupar a diretoria de Política Econômica do Banco Central (BC) Fábio Kanczuk defendeu que o principal papel da política monetária é assegurar inflação baixa e estável em sua sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
“É com estabilidade monetária que convergiremos para taxas de juros a níveis mais adequados, seguindo sempre firmes no objetivo de contribuir para um ambiente de crescimento econômico sustentável”, afirmou.
Engenheiro eletrônico formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e mestre e doutor em economia pela Universidade da Califórnia, Kanczuk era diretor-executivo para o Brasil e outros oito países junto ao Banco Mundial desde novembro de 2018. Entre outubro de 2016 e setembro de 2018, ele foi secretário de Política Econômica do então Ministério da Fazenda (governo Michel Temer).
Kanczuk vai substituir Carlos Viana na diretoria que é responsável por uma das áreas mais sensíveis dentro do BC, a construção e calibragem dos modelos econômicos que geram as projeções de inflação, ponto central dentro do regime de metas. O diretor de Política Econômica também é um dos principais responsáveis pela formulação dos comunicados, atas e Relatórios de Inflação do BC.
A indicação foi aprovada por 16 votos a 4, após duras críticas dos senadores ao Banco Central (veja abaixo). No plenário, no início da noite, a indicação teve 51 votos favoráveis, 7 contrários e uma abstenção.
O presidente Roberto Campos Neto vem gradualmente trocando a equipe deixada por Ilan Goldfajn. Entre os “novos diretores” temos João Manoel Pinho de Mello (Organização do Sistema Financeiro), Bruno Serra Fernandes (Política Monetária) e Fernanda Nechio (Assuntos Internacionais).
Perguntas dos Senadores
A primeira rodada de perguntas dos senadores foi sobre a diferença da Selic e das taxas cobradas dos tomadores finais.
Kanczuk começou dizendo que durante seus muitos anos na academia e no governo o desafio era entender o motivo do juro básico alto no Brasil. Agora, parece que a coisa finalmente funcionou e o problema se tornou outro.
“A preocupação número um é essa, reduzir o juro na ponta”, disse.
Entre as razões do spread elevado no país, Kanczuk listou aos senadores a inadimplência, custo administrativo, compulsório, tributos e margem de lucro.
BC apanha pelo juro alto
No segundo bloco, o tom das críticas ao juro alto, aos bancos e ao BC subiu muito. A senadora Kátia Abreu (PDT-TO) perguntou sobre compulsórios e disse que iria ensinar ao BC como montar uma central de recebíveis de cartão de crédito. Medida que está em andamento, mas que teve alguns adiamentos.
Já Espiridião Amin (PP-SC) disse que se a situação com relação aos juros para o tomador final não mudar, ele não vota mais favoravelmente a indicações para o BC.
Como não tem como punir ninguém, o senador disse que vai punir a instituição Banco Central. Sua rebeldia recebeu apoio de outros senadores. “Não é possível o país seguir prisioneiro do juro”, disse.
Rose de Freitas (Podemos-ES) ressaltou que as críticas não são pessoais ao indicado, mas reforçou a posição já dada por Amin, de que não passam mais diretores do BC enquanto promessas não forem cumpridas.
Esse tom mais crítico ao BC é um sinal ruim tendo em vista os projetos que o BC quer fazer andar no Congresso, como sua autonomia formal e uma reforma do sistema cambial.
Kanczuk disse que a mensagem foi captada e que é nisso que “vai centrar seus esforços”.
Para o indicado, com open banking e fintech "é que vamos ganhar a batalha" do spread bancário e o BC está provendo o incentivo para essas novas tecnologias. Ele também mencionou o sistema de pagamentos instantâneos.
Sobre a autonomia do BC, Kanczuk disse que esse é um ganho importante, pois tem evidência sólida de que BCs autônomos conseguem praticar juros menores. “O Congresso também sai favorecido, única esfera que pode retirar diretores. Acho um ganho imenso. Sou muito a favor”, disse.
Para o indicado, a economia parece estar se recuperando. "Acredito que vamos vencer a batalhar do spread, tanto citada hoje, e o crescimento vem e com as preocupações sociais legítimas."
Ao fim da audiência, Rose e Amin pediram para que Kanczuk levasse "essa mensagem incisiva" de insatisfação dos senadores para o Banco Central.