A esperada retomada mais firme da atividade vai se tornado um evento cada vez mais distante no horizonte. Enquanto o Banco Central (BC) apresentava mais um indicador pouco animador, as projeções do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB), também captadas pelo BC no boletim Focus, marcavam a sétima semana consecutiva de retração.
Tomando o diagnóstico do próprio BC, a redução de incertezas e melhora da confiança são “condições necessárias” para uma recuperação sustentada. Os dois eventos, no entanto, passam aqui por Brasília, onde segue o embate sobre a reforma da Previdência.
Como esse é um evento que não deve se desenrolar no curto prazo, podemos esperar novas decepções com indicadores de atividade e novas revisões para baixo nos prognósticos de crescimento. Tudo isso com reflexo nos indicadores de mercado, que também operam as expectativas com as reformas, além dos sinais do mercado externo.
A mediana do Focus, por exemplo, que caiu a 1,95% na edição desta semana, estava pouco acima dos 2% há cerca de um mês, e esteve na linha dos 3% em meados do ano passado.
A expectativa é que essas projeções convirjam para próximo de 1%. Na semana passada, o Itaú Unibanco revisou seu prognóstico para o PIB de 2% para 1,3%. “Essa revisão incorpora dados correntes mais fracos, além da percepção de um arrefecimento mais amplo da atividade à frente”, diz relatório da instituição.
No lado da confiança, depois de um salto depois das eleições, os indicadores passam a perder fôlego, como um breve choque de realidade de que a agenda do novo governo não tem ou terá implementação fácil. Ainda mais com a reforma da Previdência sendo a pedra angular das demais reformas, sem a qual não se cria a percepção de sustentabilidade fiscal.
Também de acordo com o Itaú, os índices de confiança apresentaram recuo generalizado em março e indicam riscos de arrefecimento adicional da atividade à frente.
O próprio BC reviso seu prognóstico de crescimento de 2,4% para 2% e deve fazer novo ajuste em junho, quando atualiza as projeções no Relatório de Inflação.
Do mundo das expectativas para os dados, o BC também apresentou seu indicador de atividade, o IBC-Br para o mês de fevereiro. Foi captada uma queda de 0,73%, vindo de retração de 0,31% em janeiro (dado revisado).
O resultado veio pior que o esperado pelos analistas consultados pela “Broadcast Projeções”, que era de queda de 0,25% (mediana), com projeções oscilando entre queda de 1% e alta de 0,3%.
Considerando a variação em 12 meses, que é menos volátil em função das revisões constantes da base de dados, o avanço é de 1,2%. No acumulado do ano, a variação é positiva em 1,66%, na série sem ajuste sazonal.
O governo não vai assistir a essa piora de ambiente sem fazer ou menos tentar fazer algo. Não por acaso já vimos notícias sobre um “pacote” de medidas para “destravar” a atividade e outras certamente virão, para “destravar” outros canais como o “crédito”.
As medidas são importante e podem ajudar a melhorar o cenário, mas redução de incerteza e melhora da confiança virando atividade, emprego e renda de fato só mesmo com a reforma da Previdência encaminhada e abrindo espaço para outros ajustes macroeconômicos.
O BC também já disse que deu e dá sua contribuição mantendo a Selic em 6,5% ao ano, patamar considerado estimulativo e avalia que precisa de mais tempo para observar o comportamento da econômica livre dos choques que sofreu ao longo do ano passado. Mesmo que tenha espaço para cortar um pouco mais o juro, não seria nada capaz de operar milagre.