Crise de crédito no radar? Índice de debêntures cai 4% no mês com choque do coronavírus
Movimento derrubou por tabela o retorno de alguns fundos de crédito privado, que investem a maior parte do patrimônio em títulos de dívida emitidos por empresas

O choque provocado pelo coronavírus também mexe no mercado de debêntures, os títulos de dívida emitidos por empresas. O Idex, índice calculado pela gestora JGP que mede o rendimento de uma cesta de papéis, acumula uma queda de 4% no mês – contra um CDI de 0,20% no período.
Esse movimento derrubou por tabela o retorno de alguns fundos de crédito privado, que investem a maior parte do patrimônio em debêntures.
É claro que se trata de uma perda muito menor que a da bolsa. Mas qualquer solavanco nesse mercado assusta, já que estamos no terreno da renda fixa.
Eu conversei com gestores que atuam nesse mercado para entender as razões da nova queda e saber se há motivos para maiores preocupações.
A queda em si não destoa muito do que aconteceu no mercado de títulos públicos, que acumulam uma queda de 3,48%, segundo o IMA, índice calculado pela Anbima.
O principal risco de quem investe em crédito privado nem são essas oscilações de taxa, mas sim o calote da empresa que emitiu as debêntures. No momento em que se fala da possibilidade de uma crise de crédito derivada da paralisação da economia, todo o cuidado é pouco.
Leia Também
Com renda fixa em alta, B3 lança índice que acompanha desempenho do Tesouro Selic
A avaliação dos gestores e outras fontes de mercado com quem falei é que as empresas emissoras de debêntures em geral estão em boa situação financeira. Mas alguns setores inspiram cuidados.
É o caso, por exemplo, de fundos que detêm certificados de recebíveis imobiliários (CRI) de shopping centers – que neste momento estão fechados ou registram uma forte queda no fluxo de pessoas.
Segunda crise
Essa é a segunda vez em menos de um ano que os fundos de crédito privado passam por uma turbulência. A queda no rendimento das debêntures – e dos fundos que investem nos papéis – acontece toda vez que os papéis são negociados no mercado a taxas de juros mais altas.
Isso faz com que os fundos precisem registrar em suas carteiras a nova taxa, mesmo que não tenham negociado suas debêntures – da mesma forma que um gestor de ações precisa registrar o preço dos papéis que possui na carteira pelo valor negociado na bolsa.
Os gestores de fundos de crédito que eu ouvi atribuem a piora recente a esse movimento, conhecido como “marcação a mercado”. Assim como aconteceu na bolsa, o choque do coronavírus faz com que o número de vendedores de debêntures no mercado seja muito maior que o de compradores.
Esse mercado já havia passado por um solavanco no segundo semestre do ano passado. Foi um movimento de correção depois da forte captação apresentada pelos fundos – muitos deles vendidos de forma errada pelas plataformas de investimento como um produto para a reserva de emergência.
“As taxas já tinham ajustado bem no ano passado e estavam em um nível compatível com o risco de crédito. Agora tem uma componente de cautela”, me disse o sócio de uma gestora de fundos de crédito.
Entre as empresas que costumam captar recursos no mercado com a emissão de debêntures, como as de energia elétrica, não houve um aumento de risco de crédito relevante, na visão desse gestor. “Outros setores como comércio, turismo e aéreas estão mais expostos, mas tipicamente essas empresas não costumam acessar o mercado de capitais.”
De um modo geral, a situação financeira das empresas hoje é bem mais saudável do que nos anos de recessão da economia brasileira, me disse David Camacho, gestor e sócio da Devant Asset.
“As companhias estão menos endividadas e com uma melhor posição de caixa. Elas vão sofrer na linha de receitas, mas pelos balanços que a gente acompanha conseguem aguentar.” – David Camacho, Devant Asset
Um levantamento feito pela XP Investimentos com gestores mostra que 67% deles veem algumas empresas e setores que podem ter uma piora no risco de crédito, mas nada preocupante por enquanto.
Outros 22% apontam uma piora significativa em empresas e setores específicos e 11% não viram nenhuma mudança na qualidade de crédito das companhias.
Por enquanto, cautela
Ainda que os fundos de crédito não venham a sofrer com eventuais calotes, o mercado de debêntures deve continuar sob pressão.
A postura da maioria dos gestores neste momento tem sido de manter recursos em caixa, ainda que as taxas dos papéis hoje no mercado estejam mais atrativas.
“A rentabilidade da nossa carteira hoje corre acima da meta dos fundos, então não requer que a gente reduza nosso caixa para conseguir retorno”, me disse o sócio da Devant.
Tesouro Direto: retorno do Tesouro IPCA+ supera 8% mais inflação nesta quinta (2); o que empurrou a taxa para cima?
Trata-se de um retorno recorde para o título de 2029, que sugere uma reação negativa do mercado a uma nova proposta de gratuidade do transporte público pelo governo Lula
Brasil captou no exterior com menor prêmio da história este ano: “há um apetite externo muito grande”, diz secretário do Tesouro
Em evento do BNDES, Rogério Ceron afirmou que as taxas dos títulos soberanos de cinco anos fecharam com a menor diferença da história em relação aos Treasurys dos EUA
Isentas de imposto de renda ou não, debêntures incentivadas continuarão em alta; entenda por quê
A “corrida pelos isentos” para garantir o IR zero é menos responsável pelas taxas atuais dos títulos do que se pode imaginar. O fator determinante é outro e não vai mudar tão cedo
Renda fixa: Tesouro IPCA+ pode render 60% em um ano e é a grande oportunidade do momento, diz Marília Fontes, da Nord
Especialista aponta que as taxas atuais são raras e que o fechamento dos juros pode gerar ganhos de até 60% em um ano
Quanto rendem R$ 10 mil na renda fixa conservadora com a Selic estacionada em 15% — e quais são os ativos mais atrativos agora
Analistas de renda fixa da XP Investimentos simulam retorno em aplicações como poupança, Tesouro Selic, CDB e LCI e recomendam ativos preferidos na classe
Tesouro Selic deve ser primeiro título do Tesouro Direto a ter negociação de 24 horas, diz CEO da B3
Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional, também falou sobre o que esperar do próximo produto da plataforma: o Tesouro Reserva de Emergência
Nada de 120% do CDI: CDB e LCA estão pagando menos, com queda de juros à vista e sem o banco Master na jogada; veja a remuneração máxima
Levantamento da Quantum Finance traz as emissões com taxas acima da média do mercado e mostra que os valores diminuíram em relação a julho
Chamada final para retornos de 15% ou IPCA + 7%? Analistas indicam o melhor da renda fixa para setembro, antes de a Selic começar a cair
BTG Pactual, BB Investimentos, Itaú BBA e XP recomendam travar boa rentabilidade agora e levar títulos até o vencimento diante da possibilidade de corte dos juros à frente
CDB do Banco Master a 185% do CDI ou IPCA + 30%: vale a pena investir agora? Entenda os riscos e até onde vai a garantia do FGC
Os títulos de renda fixa seguem com desconto nas plataformas de corretoras enquanto a situação do banco Master continua indefinida
Liquidação no mercado secundário dispara retorno de CDBs do Banco Master: de IPCA + 30% a 175% do CDI
Sem a venda para o BRB, mercado exige prêmio maior para o risco aumentado das dívidas do banco e investidores aceitam vender com descontos de até 40% no preço
Como ficam os CDBs do banco Master e do Will Bank após venda ao BRB ser barrada? Retornos chegam a 25% ao ano ou IPCA + 19%
A percepção de risco aumentou e investidores correm para vender seus títulos novamente, absorvendo prejuízos com preços até 40% menores
SPX diminui aposta no Banco do Brasil e vê oportunidade rara no crédito soberano da Argentina
Com spreads comprimidos travando o mercado local de títulos de dívida, a SPX afina a estratégia para preservar relação risco-retorno em fundos de crédito
Braskem, Vale, Mercado Livre… onde estão os riscos e oportunidades no crédito para quem investe em debêntures, na visão da Moody’s
Relatório da agência de risco projeta estabilidade na qualidade do crédito até o próximo ano, mas desaceleração da atividade em meio a juros altos e incertezas políticas exigem cautela
Prêmio das debêntures de infraestrutura é o menor em cinco anos — quem está comprando esse risco e por quê?
Diferença nas taxas em relação aos retornos dos títulos públicos está cada vez menor, diante da corrida aos isentos impulsionada por uma possível cobrança de imposto
A nova jogada dos gestores de crédito para debêntures incentivadas em meio à incerteza da isenção do IR
Com spreads cada vez mais apertados e dúvidas sobre a isenção do imposto de renda, gestores recorrem ao risco intermediário e reforçam posições em FIDCs para buscar retorno
Tesouro Direto vai operar 24 horas por dia a partir de 2026
Novidades incluem título para reserva de emergência sem marcação a mercado e plataforma mais acessível para novos investidores
Tesouro Direto IPCA ou Prefixado: Qual a melhor opção de renda fixa para lucrar na virada de ciclo dos juros?
Com juros em queda e inflação sob controle, entenda como escolher a melhor opção de rentabilidade para proteger e potencializar os investimentos
Debêntures da Petrobras (PETR4) e prefixados com taxa de 13% ao ano são destaques. Confira as recomendações para renda fixa em agosto
BTG Pactual, Itaú BBA e XP recomendam travar boa rentabilidade agora e levar títulos até o vencimento diante das incertezas futuras
Tesouro Educa+ faz aniversário com taxas de IPCA + 7% em todos os vencimentos; dá para garantir faculdade, material e mais
Título público voltado para a educação dos filhos dobrou de tamanho em relação ao primeiro ano e soma quase 160 mil investidores
De debêntures incentivadas a fundos de infraestrutura, investidores raspam as prateleiras para garantir títulos isentos — e aceitam taxas cada vez menores
A Medida Provisória 1.303/25 tem provocado uma corrida por ativos isentos de imposto de renda, levando os spreads dos títulos incentivados a mínimas históricas