Mercado entre o ruim e o pior
Ambiente externo desafiador, com desaceleração do crescimento global e guerra comercial, soma-se à desânimo com economia e derrotas políticas no Brasil
A economia chinesa vinha perdendo tração antes mesmo da escalada guerra comercial com os Estados Unidos, reforçando o temor de que a desaceleração econômica global será o resultado final da disputa entre as duas maiores economias do mundo. Com isso, o sinal negativo volta a prevalecer nos mercados internacionais, o que tende a agravar o sentimento mais negativo que começa a se espalhar entre os negócios no Brasil.
A produção industrial, as vendas no varejo e os investimentos em ativos fixos na China em abril vieram todos abaixo do esperado, evidenciando a fragilidade da economia chinesa, à medida que Pequim se prepara para um enfrentamento mais intenso com os EUA sobre o comércio. Com isso, cresce a expectativa de novos estímulos por parte do governo chinês.
No mês passado, a indústria chinesa cresceu 5,4%, desacelerando-se em relação à alta de 8,5% apurada em março e frustrando a previsão de alta de 6,5%. Da mesma forma, o comércio varejista chinês avançou 7,2% em abril, de +8,7% no mês anterior e +8,6% esperados. Já os investimentos acumulam alta de 6,1% ano ano, impulsionados pelo governo, uma vez que o setor privado tem diminuído os aportes.
Ainda assim, as principais bolsas asiáticas fecharam em alta, seguindo os ganhos em Wall Street na véspera, após comentários mais “sutis” do presidente norte-americano, Donald Trump, sobre a guerra comercial. Mas os índices futuros em Nova York amanheceram no vermelho, com os negócios oscilando ao sabor da estratégia “morde e assopra” vinda da Casa Branca.
As principais bolsas europeias também iniciaram o dia em queda. Já o dólar mede forças entre as moedas rivais e ganha terreno entre as divisas correlacionadas às commodities, ao passo que o petróleo cai pouco mais de 1%. A percepção é de que os ativos de risco devem embarcar em um intenso vaivém no curto prazo, enquanto aguardam a reunião do G-20, quando Trump deve se reunir com o líder chinês, Xi Jinping.
É a política!
Se ontem o alívio externo teve efeito limitado sobre os negócios locais, diante das preocupações com a política, hoje a menor disposição ao risco lá fora tende a potencializar o sentimento por aqui. Os investidores mostraram cautela em relação aos possíveis impactos tanto da quebra de sigilo bancário e fiscal do senador Flávio Bolsonaro quanto da delação premiada de um dos donos da Gol envolvendo o deputado Rodrigo Maia.
O receio é de que tais episódios respinguem na tramitação da reforma da Previdência, tumultuando o ambiente já complicado pela complexidade da articulação política do governo para a aprovação das novas regras para aposentadoria. Com isso, os desdobramentos dessas questões serão importantes na evolução da matéria no Congresso.
Por ora, a postura dos deputados é de que vai ser difícil votar alguma coisa esta semana, dando um ritmo mais moroso às negociações para a aprovação da reforma da Previdência na comissão especial. Esse pano de fundo adiciona incerteza ao cenário local, em meio a um ambiente internacional mais desafiador por causa da guerra comercial.
Enquanto isso, a equipe econômica canta um samba de uma nota só. Segundo o ministro Paulo Guedes, a Previdência Social virou um “buraco negro fiscal” e a economia está no “fundo do poço”. Com isso, o emprego só vai melhorar se a reforma for aprovada; o salário mínimo só terá aumento real se a reforma for aprovada; os investimentos só virão se….
Em meio a esse ambiente menos animador, o governo Bolsonaro enfrenta a primeira grande greve. Os cortes anunciados para a área da Educação - de 30,5% ou 3,5%? - são tema do primeira paralisação nacional, que acontece hoje nas principais cidades de todo o país. Professores, estudantes e trabalhadores da área vão às ruas, em defesa das universidades federais, da pesquisa científica e do investimento na educação básica.
Agenda cheia só nos EUA
A agenda econômica desta quarta-feira está carregada nos EUA e também traz como destaque dados de atividade no país. Às 9h30, saem as vendas no varejo em abril, além do índice regional da indústria em Nova York. Na sequência, às 10h15, é a vez dos números consolidados da produção industrial norte-americana no mês passado.
O calendário norte-americano traz ainda os estoques das empresas em março e o índice de confiança das construtoras em maio, ambos às 11h. Na sequência, saem os estoques semanais de petróleo bruto e derivados nos EUA (11h30). Por fim, às 17h, é a vez do fluxo de capital estrangeiro de e para o país em março.
Já na zona do euro, merece atenção a leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) da região da moeda única nos três primeiros meses deste ano, logo cedo. No Brasil, destaque para as publicações do Banco Central sobre a atividade econômica (IBC-Br) em março (8h30) e sobre a entrada e saída de dólares do país (12h30).
Para o indicador do BC, que serve de termômetro para o desempenho do PIB nos três primeiros meses deste ano, a expectativa é de queda, nas duas bases de comparação (-0,20% e -2,10%), o que tende a corroborar a previsão de retração da economia no início de 2019, interrompendo oito trimestres seguidos de recuperação da atividade.
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