Perdeu a emissão primária de debêntures da Petrobras (PETR4)? Títulos já estão no mercado secundário e são oportunidade para o longo prazo
Renda fixa da Petrobras paga menos que os títulos públicos agora, mas analistas veem a possibilidade de retorno ou ganho de capital no futuro

Depois de quase seis anos sem emitir dívida no mercado local, a Petrobras (PETR4) anunciou sua 8ª emissão em junho deste ano, ofertando R$ 3 bilhões em debêntures incentivadas, que são títulos de renda fixa isentos de imposto de renda.
O oferta de três séries — com vencimentos para 2035, 2040 e 2045 —, atraiu uma enxurrada de investidores, principalmente pessoas físicas. Segundo a petroleira estatal, a demanda foi de R$ 5,4 bilhões, valor 80% acima da oferta inicial.
Todo esse interesse fez com que as taxas oferecidas nos títulos diminuíssem significativamente. Isso porque, quanto mais interesse o investidor demonstra por um ativo, menos o emissor precisa pagar de juros — é a tal da regra de oferta e demanda.
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Debêntures incentivadas, como a da Petrobras, têm como referência a taxa oferecida pelos títulos públicos atrelados à inflação, as NTN-B ou Tesouro IPCA+.
Inicialmente, a petroleira previa oferecer o mesmo valor do Tesouro IPCA+ de mesmo vencimento, com um desconto de 40 pontos-base. Com isso, a debênture de 2035, por exemplo, deveria pagar IPCA + 6,85% ao ano.
Ou seja, o spread (prêmio de um ativo de crédito em relação aos títulos públicos) previsto já era negativo. Algo que é considerado comum para a emissão de empresas como a Petrobras — populares entre os investidores e com grau máximo de investimento em agências de crédito (AAA).
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Acontece que a procura pelos títulos foi tão alta que as taxas caíram ainda mais em relação ao título público correspondente. Após o processo de precificação (bookbuilding), as debêntures da Petrobras para 2035, que tiveram a maior demanda, saíram com retorno de IPCA + 6,39% ao ano — um desconto de quase 90 pontos-base.
Debênture da Petrobras vale a pena?
Por que investir em uma renda fixa da Petrobras se o título público paga melhor? Os especialistas ouvidos pelo Seu Dinheiro citam dois principais motivos.
O primeiro é a isenção de imposto de renda, algo que os títulos públicos não têm.
Embora o spread da debênture da Petrobras tenha ficado negativo em relação ao Tesouro IPCA+ de mesmo vencimento, quando se calcula a taxa que o título isento teria se fosse tarifado (gross up, no jargão financeiro), há um pequeno prêmio.
O retorno de referência da NTN-B 2035 utilizado pela petroleira foi de IPCA + 7,25%. Ao fazer o gross up da debênture da Petrobras, seu retorno fica equivaleria a uma NTN-B que pagasse IPCA + 7,51% — o que representa um pequeno prêmio de 26 pontos-base.
Em outras palavras, comparando-se o retorno líquido do título público de mesmo prazo e indexador que a debênture, esta se mostra mais rentável, pois é isenta de IR, ao passo que o título público é tributado.
Rafael Bellas, coordenador de produtos da InvestSmart, destacou que os títulos de vencimento mais longos tiveram menor demanda e ficaram com prêmios maiores.
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Veja as taxas das debêntures da Petrobras com gross up:
Série | Oferta primária | Referência NTN-B | Gross up |
---|---|---|---|
Primeira | IPCA + 6,39% | IPCA + 7,25% | IPCA + 7,51% |
Segunda | IPCA + 6,66% | IPCA + 6,95% | IPCA + 7,83% |
Terceira | IPCA + 6,84% | IPCA + 7,08% | IPCA + 8,05% |
Fonte: InvestSmart e Tesouro Direto
“Estamos falando de um título isento de imposto de renda, emitido por uma das maiores empresas do país. Claro que vai ter apelo para a pessoa física. Ainda mais em um momento em que esta pode ter sido a última emissão isenta da Petrobras”, diz Bellas.
O coordenador se refere à Medida Provisória 1.303, que está em tramitação no Congresso Nacional, e propõe tarifar títulos atualmente isentos em 5% de IR.
Debêntures incentivadas, Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e Imobiliárias (LCI), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e Imobiliário (CRI), todos deixam de ser isentos a partir de 1º de janeiro de 2026, segundo o texto atual.
Mas a MP ainda precisa ser apreciada e validada por deputados e senadores para ter força de lei. Os parlamentares podem mudar o texto e a expectativa dos agentes financeiros é que a isenção se mantenha.
“Com certeza o contexto influenciou a demanda. Mas quer a isenção se mantenha, quer não, ainda é um ótimo investimento para ter em carteira considerando a taxa oferecida. 6% de juro real, isento de imposto não se vê sempre”, diz Bellas.
Este nível alto de juro real é o segundo motivo apontado pelos especialistas. Segundo eles, essas taxas em títulos de renda fixa não vão se manter por muito mais tempo.
O Banco Central, possivelmente, encerrou este ciclo de alta dos juros e o próximo movimento deve ser de corte, no final de 2025 ou no início de 2026.
O mercado futuro de juros, onde agentes financeiros negociam opções baseadas em suas expectativas para as taxas no futuro, já trabalha com valores menores, na faixa dos 13% ante os 15% da Selic hoje.
Mercado secundário é a segunda chance
Para quem ficou de fora da oferta primária, ainda há chances de colocar as debêntures da Petrobras na carteira.
Os títulos de renda fixa da petroleira são negociados no mercado secundário, entre investidores. Tantos os títulos desta 8ª emissão, quanto papéis mais antigos.
Felipe Higashino, gestor de renda fixa da G5 Partners, alerta que as taxas no secundário são menores do que a oferta no primário, principalmente em casos de empresas muito demandadas como a Petrobras.
“Quem vai vender no secundário sabe dessa demanda alta e tem vendido a prêmios menores para ganhar no preço do título”, diz Higashino.
Isso porque a demanda alta aumenta os preços das debêntures, ao mesmo tempo em que comprime as taxas. Assim, há variação de preços no dia a dia, mesmo se tratando de renda fixa. É a chamada marcação a mercado.
Mesmo com um prêmio mais “amassado”, os especialistas afirmam que o papel da petroleira é interessante para a pessoa física. O papel corresponde a alocação em renda fixa atrelada à inflação que tem sido muito recomendada nos últimos meses.
Matheus Spiess, analista da Empiricus, destaca como a Petrobras melhorou o seu perfil de dívida nos últimos anos e hoje é uma empresa muito mais forte e consistente do que foi no passado.
Para ele, mesmo que esses títulos sejam de dívida mais alongada, o risco atrelado à empresa é baixo. “Pelo menos no que temos de panorama hoje”, disse.
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Em plataformas grandes para negociação de mercado secundário, como XP e BTG, é possível encontrar as debêntures da Petrobras.
O Seu Dinheiro encontrou opções da 8ª emissão. O papel de vencimento em 2045, por exemplo, sendo oferecido a uma taxa de IPCA + 5,90%. Já o título de 2040, com uma taxa de IPCA + 6,47%.
Emissões mais antigas, porém de vencimento mais próximo, como a debênture PETR26, para 2029, era oferecida a IPCA + 6,76%. Outra opção era o papel de vencimento em 2026, a IPCA + 7,5%.
Debêntures da Petrobras no mercado secundário:
Ticker | Vencimento | Taxa | Preço |
---|---|---|---|
PETR26 | 15/01/2029 | IPCA + 6,76% | R$ 1.349,56 |
PETR16 | 15/01/2026 | IPCA + 7,5% | R$ 1.433,43 |
PETR27 | 15/01/2034 | IPCA + 6,6% | R$ 1.165,20 |
PETR28 | 15/06/2040 | IPCA + 6,47% | R$ 1.020,53 |
PETR38 | 15/06/2045 | IPCA + 6,59% | R$ 1.030,65 |
PETR38 | 15/06/2045 | IPCA + 5,9% | R$ 1.108,06 |
Fontes: BTG Pactual, XP Investimentos e Inter.
Estratégia para as debêntures: ganho de capital ou retorno
Quem vende as debêntures da Petrobras no mercado secundário está em busca de um ganho de capital. Esse lucro se dá por meio da valorização do preço dos títulos.
Quem leva o papel ao vencimento recebe a rentabilidade firmada na compra, mas quem o vende antes do fim do prazo pode ganhar com sua valorização ou perder com a sua desvalorização, caso a demanda caia e/ou as taxas subam.
Na oferta primária da 8ª emissão, cada papel saiu por R$ 1 mil. A maior parte das emissões passadas também foi por esse preço.
Porém, na venda entre investidores, a marcação de preço desses títulos varia ao longo do tempo, assim como as taxas de juros.
Para os especialistas, este pode ser um fator de risco ou uma oportunidade.
No caso de quem está em busca de comprar as debêntures da Petrobras, é uma segunda chance, mas exige atenção em relação às taxas e aos preços. Para não sair no prejuízo, o indicado é que se carregue o título até o vencimento, para garantir o retorno oferecido e a correção do valor pago pela inflação.
Já para quem vai vender, o recomendado é esperar que a taxa básica de juros do país caia consideravelmente.
Com a taxa Selic menor, títulos antigos que ofereciam juros maiores passam a ser mais valorizados e cobiçados, de modo que o preço dos papéis sobe e é possível obter ganho de capital neste momento.
Entretanto, não dá para saber quando isso vai acontecer.
“A demanda por títulos da Petrobras sempre vai existir, por isso, as duas estratégias são válidas. A melhor opção é sempre levar até o vencimento, é mais seguro e as taxas são boas. Mas, para quem quiser sair do papel antes, não dá para cravar quando, mas a saída com lucro é uma possibilidade no futuro”, diz Bellas.
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