Do elogio ao bronzeado ao caso de amor bilionário: os detalhes do acordo entre Trump e a Europa que fixou tarifas em 15%
O acordo foi firmado no mês passado, mas novos detalhes sobre a estrutura desse entendimento só foram revelados agora e incluem tarifas sobre produtos farmacêuticos e semicondutores

Primeiro Donald Trump elogiou o bronzeado do chanceler alemão, Friedrich Merz. Depois disse que a chefe da União Europeia (UE), Ursula Von der Leyen, era poderosa. Uma mudança de tom e tanto para o presidente norte-americano, que no começo do ano chegou a dizer que a missão da Europa era prejudicar os EUA. Só que os europeus pagaram um preço alto pela simpatia do republicano.
Além de aprenderem a falar a língua de Trump nas negociações — evitando o caminho da retaliação e das reclamações — a União Europeia partiu para conversas e, principalmente, para concessões — em especial no comércio e nos gastos militares.
O resultado veio no mês passado, quando Bruxelas e Washington chegaram a um acordo que fixou em 15% as tarifas gerais sobre as exportações da UE para os EUA. Junto com o acordo, os europeus também se comprometeram a comprar US$ 750 bilhões em energia norte-americana e investir pelo menos US$ 600 bilhões adicionais nos EUA.
- VEJA TAMBÉM: Receba os episódios do Touros e Ursos, podcast do Seu Dinheiro, em primeira mão para saber quais são as principais recomendações dos “gigantes” do mercado
Os novos detalhes sobre a estrutura desse entendimento foram revelados nesta quinta-feira (21) e incluem tarifas sobre produtos farmacêuticos e semicondutores.
O Comissário de Comércio da UE, Maros Sefcovic, afirmou: "Este é o acordo comercial mais favorável que os EUA já concederam a qualquer parceiro".
A declaração foi endereçada para líderes políticos e empresariais europeus que expressaram preocupações sobre o desequilíbrio do acordo na época em que foi anunciado, mas que deixou questões sem resposta, incluindo a alíquota tarifária aplicável a alguns produtos que Trump impôs com taxas setoriais.
Leia Também
Trump já comprou mais de US$ 100 milhões em títulos públicos e debêntures desde que chegou à Casa Branca
O que pensam os dois dirigentes do Fed que remaram contra a maré e votaram pelo corte de juros nos EUA
O anúncio de hoje finalmente trouxe mais detalhes em um momento em que muitos outros parceiros comerciais ainda negociam e aguardam por esclarecimentos semelhantes sobre seus respectivos acordos comerciais com os EUA.
O acordo entre EUA e União Europeia no detalhe
Os principais pontos do acordo incluem o compromisso dos EUA de "aplicar a maior tarifa entre a Nação Mais Favorecida (NMF) dos EUA ou uma tarifa de 15%, composta pela tarifa NMF e uma tarifa recíproca, sobre produtos originários da União Europeia".
Em outras palavras: a partir de 1º de setembro, os EUA aplicarão apenas tarifas NMF sobre diversos produtos da UE, incluindo "recursos naturais indisponíveis (incluindo cortiça), todas as aeronaves e peças de aeronaves, produtos farmacêuticos genéricos e seus ingredientes e precursores químicos".
Enquanto isso, a UE deve "eliminar tarifas sobre todos os produtos industriais dos EUA e fornecer acesso preferencial ao mercado para uma ampla gama de frutos do mar e produtos agrícolas dos EUA".
Várias das chamadas tarifas da Seção 232 foram limitadas à alíquota mais ampla de 15%, incluindo aquelas sobre madeira e semicondutores — um percentual bem abaixo das taxas que Trump ameaçou e que podiam chegar a 100% dependendo do caso.
O setor farmacêutico da Europa, a principal fonte de importações dos EUA, também terá tarifas limitadas a até 15%. Fundamentalmente, a taxa não se acumulará com outras tarifas em toda a UE.
A partir de 1º de setembro, o governo Trump também concordou em aplicar sua política de preços de medicamentos NMF apenas aos genéricos. A diretiva visa reduzir os preços dos remédios nos EUA, vinculando-os aos valores normalmente mais baixos pagos por outros países desenvolvidos.
Nas últimas semanas, o republicano ameaçou impor impostos de até 250% ao setor farmacêutico e enviou um ultimato às grandes empresas exigindo que reduzissem os preços dos medicamentos nos EUA.
Para automóveis e autopeças, os EUA e a UE concordaram com uma tarifa condicional de 15%, mas somente após Bruxelas apresentar uma legislação para reduzir as taxas industriais — uma redução substancial do pretendido imposto de 30% e uma redução de quase 50% da tarifa que incide sobre o setor automotivo europeu, de 27,5%.
DÓLAR abaixo de R$ 5? A VITÓRIA de TRUMP na guerra comercial pode ser POSITIVA para o BRASIL
O caso de amor de Trump com a UE vai durar?
A declaração que detalha o acordo fechado no mês passado também inclui informações sobre compras e investimentos da UE — o caso de amor de Trump com o bloco veio dos US$ 750 bilhões que os europeus pretendem destinar ao setor energético norte-americano.
O problema é que o aporte bilionário está construído em um terreno instável. O comunicado de hoje reitera os números dos gastos planejados, incluindo energia, chips de inteligência artificial (IA) e investimentos mais amplos nos EUA, mas os descreve como intencionais e esperados, em vez de compromissos garantidos.
Além disso, o acordo mais recente não introduz mudanças nos termos da lei de serviços digitais da UE, que inclui regulamentações para grandes empresas de tecnologia e tem sido um ponto de discórdia nas negociações comerciais para Trump.
- LEIA MAIS: Quer viver de renda? Descubra quanto é preciso investir com calculadora gratuita do Seu Dinheiro
A reação do mercado na Europa
As bolsas europeias sentiram o preço alto que a UE teve que pagar por um acordo comercial com Trump e algumas delas perderam terreno nesta quinta-feira, com a divulgação de detalhes do acerto.
O índice de referência Stoxx 600, por exemplo, caiu 0,04% — um leve recuo, mas que interrompeu uma sequência de três sessões seguidas no azul. A bolsa de Paris também não sustentou os ganhos e encerrou o dia com queda de 0,44%.
O setor automotivo europeu também sentiu: o índice Stoxx Europe Automobiles caiu 0,58%, com os investidores preocupados com a natureza condicional das reduções das tarifas dos EUA para o segmento.
Mas nem todo mundo saiu perdendo com a revelação dos pormenores do acordo entre UE e EUA. Londres e Frankfurt fecharam a sessão em alta de 0,23% e 0,07%, respectivamente.
O setor farmacêutico europeu avançou 0,56%, com gigantes como a Novo Nordisk avançando 3%.
De peças automotivas a assentos infantis: mais de 400 itens entram na lista de tarifas de 50% sobre aço e alumínio de Trump
Com critérios de seleção pouco transparentes, itens como plásticos, partes de móveis, motocicletas e utensílios de mesa estão passam a ser tarifados pelos EUA
Bolsas na Europa celebram chance de encontro entre Putin e Zelensky, mas há muito em jogo — inclusive para Trump
Os principais mercados europeus fecharam esta terça-feira (19) com ganhos — a exceção do setor de defesa, que recuou — mas pode ser cedo demais para comemorar qualquer avanço na direção do fim do conflito entre Rússia e Ucrânia
Decisão de Flavio Dino, do STF, deixa os bancos em “situação inédita, complexa, sensível e insolúvel”; entenda
Representantes de grandes instituições financeiras do país relataram um impasse entre a determinação do governo dos Estados Unidos e a da Suprema Corte brasileira
Esta cidade brasileira é o segundo destino preferido dos nômades digitais para conjugar trabalho e lazer
Tóquio liderou o terceiro ranking anual de destinos preferidos dos nômades digitais para o chamado workcation
Zelensky admite pela primeira vez que Ucrânia pode trocar territórios em acordo de paz com a Rússia
Mudança de postura marca semana decisiva para um acordo, com líderes europeus reforçando apoio à Ucrânia em Washington
Eleições na Bolívia testam resistência de 20 anos de hegemonia política
Crise econômica, racha no MAS e ausência de Evo Morales transformam a eleição deste domingo em uma disputa aberta e histórica
Efeito Trump sobre investimento verde deve ser temporário, mas há receios de retração
A Net-Zero Banking Alliance sofreu sucessivas baixas logo no começo de 2025 e ainda há o receio de possíveis mudanças das agendas de instituições multilaterais, como o Banco Mundial
Agenda de tarifas do Trump: próximas semanas reservam novas taxas sobre chips e aço que podem chegar a 300%
Presidente dos EUA fala em taxações que podem começar mais baixas e subir depois, mirando semicondutores e metais em setores estratégicos da economia
Trump e Putin não selam acordo sobre guerra na Ucrânia; Zelensky entrará nas negociações
Enquanto Trump tenta mostrar força como negociador e Putin busca legitimar seus ganhos de guerra, Zelensky chega a Washington para não perder espaço na mesa de conversas
Nem Apple, nem UnitedHealth: a maior posição da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, é outra
Documento regulatório divulgado na quinta-feira (14) mostrou as atualizações de carteira do megainvestidor e deu indícios sobre suas apostas
Cidadania australiana para brasileiros: caminhos, desafios e as novas regras para viver legalmente no país
Com taxas mais altas e regras mais duras, brasileiros precisam de estratégia para conquistar cidadania na Austrália
Trump volta a criticar Brasil e diz que país “tem sido um parceiro comercial horrível” para os EUA
Presidente norte-americano também classificou o processo contra Jair Bolsonaro como “execução política” e defendeu tarifa de 50% sobre produtos brasileiros
‘Guru’ de Warren Buffett vê sinais preocupantes no S&P 500 e volta a questionar: há uma bolha na bolsa americana?
Cofundador da Oaktree Capital analisa o otimismo em relação ao mercado de ações dos EUA e destaca porque é preciso ter cautela
Poderia ser irônico se não fosse verdade: encontro entre Trump e Putin chama atenção pelo local
Os dois líderes devem se reunir na sexta-feira (15) em uma tentativa de estabelecer um cessar-fogo na Ucrânia que leve ao fim da guerra, mas europeus não estão confiantes nos propósitos do presidente norte-americano
Vitória de Milei: inflação da Argentina cai para o menor nível desde 2020 e se mantém abaixo de 2% pelo terceiro mês seguido
Dado reflete a busca do governo argentino por estabilidade em meio a reformas profundas e acordo com o FMI
Lula e Moraes na mira: governo Trump acusa Brasil de censura e deterioração dos direitos humanos
Documento do Departamento de Estado dos EUA critica atuação do STF, menciona o presidente brasileiro e amplia pressão sobre Brasília em meio a mudanças na política externa norte-americana
Powell vai parar nos tribunais? Se depender de Trump, sim. Aqui está o motivo
O republicano disse nesta terça-feira (12) que está considerando permitir um grande processo contra o chefe do banco central norte-americano
Relógio de Trump faz “tic-taco” e China ganha mais tempo para negociar as tarifas com os EUA
O decreto foi assinado pelo republicano poucas horas antes da meia-noite, quando a pausa nas tarifas deveria expirar
Quem era Miguel Uribe, o pré-candidato de oposição ao governo da Colômbia morto após ser baleado em comício
Filho de uma família influente na política colombiana, Miguel Uribe buscava a indicação de seu partido para concorrer à presidência no ano que vem
Green Card, vistos e cidadania americana: o que mudou após Donald Trump?
Com cerco migratório como bandeira, Donald Trump mudou o jogo para quem quer obter vistos e cidadania nos EUA; saiba o que mudou, como se proteger e quais caminhos continuam abertos para morar e trabalhar legalmente no país