O que deu errado para a Lojas Renner (LREN3) na era ‘pós-Galló’? Depois de ‘tempestade perfeita’, varejista busca novos caminhos em 2024
Em meio a aumento da concorrência, juros em alta, pandemia e erros de execução, ação da Lojas Renner (LREN3) poucas vezes esteve tão barata aos olhos do mercado

A ação da Lojas Renner (LREN3) poucas vezes esteve tão barata aos olhos dos investidores. E existe uma razão para isso. Na verdade, uma série delas. Rotineiramente qualificada por analistas como uma das melhores empresas do Ibovespa, a varejista de moda enfrenta uma espécie de tempestade perfeita.
Coincidência ou não, o tempo começou a fechar para a Renner após a saída de José Galló do cargo de CEO, em abril de 2019. De lá para cá, a empresa sofreu com a pandemia da covid-19, o avanço das concorrentes chinesas e a escalada da taxa básica de juros pelo Banco Central.
No entanto, analistas também apontam erros cometidos pela própria Renner que levaram a empresa a ser negociada atualmente mais de 70% abaixo de sua máxima histórica, verificada semanas antes do início da pandemia.
Após a forte queda dos últimos anos, as ações LREN3 hoje se encontram em menos da metade das cotações da época em que Galló comandava a varejista, que vale hoje cerca de R$ 14 bilhões na B3.
Na tentativa de entender melhor o que se passa com a Lojas Renner, conversei com analistas e gestores que acompanham a companhia de perto. O resultado você confere a seguir.
Um pouco da história da Lojas Renner (LREN3)
A Lojas Renner costuma destoar de seus pares no varejo listados na bolsa em diversos aspectos.
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Em um ramo subjetivo como o varejo de moda, a Renner precisou de poucos anos para deixar de ser uma empresa restrita ao Rio Grande do Sul para se transformar em líder nacional de vendas no segmento.
Grande parte desse sucesso é atribuída a José Galló. Ele atuou como CEO da Lojas Renner por mais de duas décadas antes de passar o bastão para Fabio Faccio em abril de 2019.
Sob o comando de Galló, a Renner primeiro teve o controle acionário vendido a uma subsidiária da norte-americana JC Penney para, anos depois, ser convertida em corporation. Isso ocorreu em 2005.
Desde então, a empresa não tem um controlador acionário definido. Também por isso — os cases de sucesso de corporations no mercado brasileiro podem ser contados nos dedos — quem acompanha de perto a varejista atribui grande parte da reputação conquistada pela Renner ao estilo de gestão de Galló.
O executivo deixou o cargo de CEO em abril de 2019, quando passou a presidir o conselho de administração.
LREN3 acumula perda de mais de 70% desde máxima histórica
Meses depois, em janeiro de 2020, LREN3 alcançou sua máxima histórica na bolsa.
Isso foi pouco antes da pandemia de covid-19, que levou a companhia a seu primeiro grande tropeço.
Simultaneamente, a brusca mudança nos hábitos de consumo somou-se à chegada de novos concorrentes para dificultar ainda mais a vida das empresas do setor.
No pregão da última sexta-feira, LREN3 fechou em R$ 14,40, uma perda acumulada de 73,7% em relação ao pico histórico e de aproximadamente 60% na era "pós-Galló".

É bem mais que algumas de suas concorrentes no varejo de moda listadas na B3.
Para Larissa Quaresma, analista da Empiricus, o desempenho das ações é reflexo da demanda ainda pressionada pelo patamar de juros e inadimplência elevada.
No fim de janeiro, mais um alarme soou na sede da empresa, que também é dona da Camicado e da Youcom.
O Citi cortou a recomendação para LREN3 de “compra” para “neutra”, com preço-alvo de R$ 18,50 até o fim do ano.
Se levarmos em consideração o último fechamento, trata-se de um potencial de valorização nada desprezível de 28%.
Para os analistas do Citi, no entanto, Lojas Renner ainda enfrenta um momento delicado, especialmente no que se refere à imposição de limites à oferta de crédito para melhorar o portfólio da Realize — o banco da varejista.
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A tempestade perfeita da Lojas Renner
Passados quase cinco anos desde que Galló deixou a função de CEO, analistas ainda falam sobre ele em tom de admiração — em especial devido ao estilo “barriga no balcão” por meio do qual tocava o cotidiano da empresa.
De todo modo, a maior parte dos fatores que pressionam a ação da empresa na bolsa hoje parece estar fora do controle de seus atuais diretores. Ou seja, talvez o destino da Renner fosse semelhante mesmo com Galló na linha de frente.
Andreas Ferreira, analista de empresas da Mantaro Capital, afirma que a Lojas Renner atravessa uma tempestade perfeita.
Contornar algumas dessas adversidades depende exclusivamente da administração da empresa, como ajustar a atuação da unidade de concessão de crédito.
Outros fatores, no entanto, não dependem apenas dela, como lidar com a escalada dos juros pelo Banco Central e com a concorrência das “comprinhas” chinesas.
Em relação a esses aspectos, o impacto da alta da Selic alcança a economia como um todo — embora o varejo seja especialmente sensível.
Pressão competitiva no varejo
O que mais tem afujentado o investidor das varejistas brasileiras é a pressão competitiva.
“O impacto não é só operacional. O que preocupa o investidor tem a ver com o espaço que essa companhia vai perder ou que terá para crescer no futuro por conta dessas empresas, que estão com muita força no Brasil”, afirma Ferreira.
Tudo isso sem contar a profusão de episódios de ondas de frio e calor fora de hora.
Mas a Renner também tem culpa no cartório.
A começar pela Realize.
A Lojas Renner acelerou a oferta de crédito quando o Banco Central baixou o juros a 2% ao ano e perdeu o momento de puxar o freio de mão quando as taxas começaram a subir, de acordo com analistas que cobrem a companhia.
Isso provocou um aumento acentuado da inadimplência nos cartões da loja.
Ao mesmo tempo, a varejista precisou investir pesado no desenvolvimento dos canais digitais na esteira dos novos hábitos de consumo desencadeados pela pandemia.
Também houve erros de coleção. "E isso acontece pouco na Renner", afirma Andreas Ferreira.
O analista comparou as decisões da Renner e da C&A nesse aspecto, com a devida ressalva de que o ticket da primeira é mais elevado que o da concorrente.
“A Renner optou por um caminho talvez mais Zara, um pouco mais caro, enquanto a C&A tentou fazer o básico, com uma moda mais versátil, e capturou um pouco do espaço da Renner”, disse ele.
Mas não ficou apenas nisso.
“Na cabeça do cliente, a Renner ficou cara”, afirma o sócio da Mantaro.
“Houve toda aquela situação de inflação de matéria-prima, depreciação do real. Isso exigiu um repasse de preço maior para a manutenção da margem bruta. Mas a Renner talvez tenha ido um pouco além. Tanto que tentou voltar atrás, principalmente mudando o mix de produto e layout na loja.”

LREN3: cara ou barata?
De um lado, se a Renner ficou cara na cabeça dos clientes, investidores experientes têm comentado que raramente viram o valuation da ação da varejista tão barato quanto em tempos recentes.
Historicamente considerada uma empresa boa, mas cara na bolsa, a relação preço sobre lucro (P/L) de LREN3 poucas vezes esteve tão baixa.
De um histórico de 25, 30 vezes preço sobre lucro, hoje ela negocia pouco acima de 10x, dependendo de como cada analista projeta os resultados.
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Dias melhores virão para Lojas Renner? Os novos caminhos da varejista
Existe uma percepção no mercado de que o pior momento já passou para Lojas Renner.
A avaliação é a de que a empresa já está atuando em todas as frentes problemáticas apontadas na reportagem do Seu Dinheiro.
Ao mesmo tempo, o cenário de juros está melhorando aos poucos.
Economistas veem a Selic voltando a um dígito já em 2024 — a taxa básica de juros encontra-se atualmente em 11,25% ao ano.
Isso também deve contribuir para uma melhora do desempenho da Realize, atuando em conjunto com a mudança de rota já em curso na financeira da Lojas Renner.
Em relação à concorrência, o vai-e-vem em relação à taxação das importações abaixo de US$ 50 em algum momento deve resultar em uma diminuição da pressão competitiva.
“Existe uma pressão forte do varejo e é uma receita importante para o governo. No limite, as brasileiras estabeleceriam fábricas na China para depois importar”, disse Ferreira, da Mantaro.
Já os erros de coleção são vistos por ele como pontuais.
“O tempo atrapalhou muito. Os erros aconteceram em momentos de calor e frio fora de hora. Os diretores da Renner são experientes, sabem o que fazer. Já perceberam os erros e estão consertando.”
A empresa também está trabalhando em relação ao repasse de preços e as medidas já começam a refletir nos volumes de vendas.
Diante disso, a expectativa é de que ocorra um re-rating de LREN3 à medida que essas medidas destravarem o lucro da varejista.
No entanto, trata-se de uma perspectiva para médio e longo prazos.
Lojas Renner (LREN3): comprar ou vender?
A situação leva a uma outra questão: é hora de comprar ou vender LREN3?
No relatório no qual retirou a recomendação de compra, o próprio Citi também explicou por que considera que não é hora de vender.
“Acreditamos que Lojas Renner é uma empresa de qualidade, com alta liquidez e balanço sólido. Os resultados provavelmente deverão melhorar em 2024 e, dependendo do ritmo de recuperação, poderemos ter uma visão mais construtiva sobre o nome”, afirmam os analistas do banco norte-americano.
Para 2024, o Citi espera um crescimento impulsionado pelo volume de vendas e pela prioridade dada à melhora da qualidade do crédito concedido por meio da Realize.
A partir do segundo semestre, a aguardada abertura de um centro de distribuição em Cabreúva, no interior de São Paulo, para centralizar as operações de comércio eletrônico deve melhorar a margem operacional da Lojas Renner.
Já Larissa Quaresma, analista da Empiricus, explica por que a casa de análise ainda prefere olhar para LREN3 de fora.
“No geral, apesar de a ação estar barata do ponto de vista histórico, em 13x lucro projetado para 2024, e a operação estar sequencialmente melhorando, esperamos resultados ainda fracos nas próximas divulgações."
Ainda assim, a grande maioria dos analistas tem uma visão positiva para os papéis. De 11 indicações, 9 são de compra e duas de manutenção, de acordo com dados do Trademap.
A divulgação do próximo balanço da Lojas Renner, referente ao quatro trimestre de 2023, está programada para 14 de março. A reportagem do Seu Dinheiro procurou a varejista, que preferiu não dar entrevista.
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