O vento da mudança: Entenda como o Copom deve começar o ciclo de queda dos juros no Brasil
Reunião do Copom pode marcar início de ciclo de flexibilização monetária no Brasil; projeções para inflação caíram e há otimismo em relação ao crescimento do PIB

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) começa hoje e tem previsão para acabar amanhã. A novidade da vez não estará na decisão em si, mas no comunicado. Na verdade, podemos estar diante de um ponto de inflexão importante no Brasil, no qual começaremos a flexibilizar a política monetária — primeiro por meio do tom do comunicado e, posteriormente, com a queda da Selic propriamente dita.
Desde o último encontro da autoridade monetária, bastante coisa aconteceu, em especial com as expectativas para o país.
Não que estejamos super construtivos com as coisas e que o Brasil deva virar uma Suíça. Não é disso que estamos tratando. Mas talvez a situação não acabe sendo tão ruim pensávamos.
Perspectivas para a economia brasileira estão melhores
Isso pode ser observado semanalmente no Relatório Focus do Banco Central, conforme abaixo.
No boletim desta semana, foram observadas várias alterações significativas, resultando em melhorias gerais. A expectativa para o IPCA, índice de inflação, foi reduzida de 5,42% para 5,12%, indicando uma perspectiva mais favorável em relação à estabilidade dos preços em 2023.
Para melhorar, houve um aumento na estimativa para o crescimento do PIB deste ano, que passou de 1,84% para 2,14%, sinalizando um otimismo em relação ao desempenho da economia.
Leia Também
O salvador da pátria para a Raízen, e o que esperar dos mercados hoje
Felipe Miranda: Um conto de duas cidades
Além disso, a projeção para o dólar foi revisada para baixo, de R$ 5,10 para R$ 5,00 (valorização da moeda brasileira).
É digna de destaque a queda nas projeções do IPCA para o período de 2023 a 2026 (fora da tabela acima).
Adicionalmente, a projeção de inflação de longo prazo foi reduzida para no máximo 4% (2024), e houve uma queda no valor do dólar.
Como isso pode mudar o tom do Copom
Esses fatores apontam para uma possível mudança no discurso, indicando que os cortes de juros podem começar em agosto, conforme já estamos falando há algum tempo.
Caminhamos rapidamente de um país com menos de 1% de crescimento do PIB e mais de 7% de inflação para um com mais de 2% de crescimento de menos de 5% de inflação.
Os desdobramentos disso são notáveis, tanto para a curva de juros, que vem fechando com a devolução de prêmio acumulados entre junho de 2021 e o primeiro trimestre de 2023, como para as ações, com o Ibovespa de volta aos 120 mil pontos.
O movimento foi referendado na semana passada pela própria agência de rating (avaliação de risco) Standard and Poor's (S&P), que melhorou a perspectiva para a economia brasileira de neutra para positiva.
Ainda que possamos ter infinitas críticas a eles, a sinalização é importante, especialmente para o investidor estrageiro, colocando o Brasil em uma trajetória para recuperar o grau de investimento perdido durante a gestão de Dilma Rousseff em até 18 meses, caso os ventos positivos se mantenham.
VEJA TAMBÉM - ELETROBRAS (ELET3): UM ANO APÓS A PRIVATIZAÇÃO, A EMPRESA ENTREGOU O PROMETIDO?
O que devemos esperar do Copom a partir de agora
Com as novas informações, diante da célere tramitação do arcabouço fiscal, da ancoragem das expectativas, da pacificação das discussões fiscais, ao menos no curto prazo, e da desaceleração da inflação corrente, o Banco Central tem vários argumentos para dar início ao ciclo de flexibilização.
Por isso, entendo como provável a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano nesta reunião de junho, mas já suavizando o tom do comunicado, abrindo espaço para queda dos juros em agosto.
Aliás, sobre a inflação, o anúncio de uma nova redução no preço da gasolina, a segunda em menos de um mês, alimenta a expectativa de deflação no IPCA de junho e reforça a necessidade de um novo ciclo de política monetária.
Sem falar que podemos ver mais descompressão da inflação por importação com o dólar caminhando para mais próximo de R$ 4,50 (o fator psicológico e a perspectiva da S&P ajudam neste sentido). Todo o contexto é permissivo para início de queda dos juros.
Leia também
- O fim da alta nos juros ou uma pausa estratégica? Veja como o Fed pode virar a página da política monetária nos Estados Unidos
- Corte de produção da Arábia Saudita não deve aumentar o preço do petróleo tanto quanto se temia, mas pode ser bom para a Petrobras
Se Copom não começar a agir em agosto, começa em setembro
Caso não seja em agosto (minha opinião), definitivamente em setembro.
Inclusive, vemos que o mercado começa a ficar mais confortável em projetar menos juros para 2023, indicando até mesmo no último Focus a chance de encerrarmos o ano em algo como 12,25% de Selic ao ano, o que seria um avanço interessante dos 13,75% atuais.
Haveria, portanto, um espaço de 150 pontos-base disponíveis para corte no atingimento do nível projetado (mediana das estimativas).
Teremos mais quatro reuniões no calendário do Copom no segundo semestre, abrindo espaço para múltiplas interpretações sobre como a autoridade monetária deverá conduzir cada encontro.
Debate sobre meta de inflação perdeu força
Além disso, a percepção de que o Conselho Monetário Nacional (CMN) irá manter inalterada a meta de inflação em 3% na reunião da próxima semana também traz segurança ao mercado para continuar reduzindo as estimativas inflacionárias.
Muito provavelmente, teremos uma alteração na forma de apuração da meta, passando de uma abordagem anual para uma apuração contínua, podendo também haver uma mudança na banda de tolerância ao redor da meta (menos provável, mas possível).
Grosso modo, se implementadas com cuidado, essas mudanças podem trazer benefícios adicionais ao regime de metas.
A decisão do CMN terá um impacto significativo na formação das expectativas de inflação e, consequentemente, na condução da política monetária.
Isso evidencia a importância da reunião que ocorrerá no final deste mês, para além da reunião do Copom entre os dias 20 e 21. Os ativos de risco devem responder bem a todo o processo, assim como fizeram até aqui.
- Tudo indica que a taxa básica de juros está prestes a cair, mas ainda dá tempo de buscar “travar” excelentes ganhos enquanto o corte da Selic não acontece. Tenha acesso às melhores oportunidades de renda fixa direto no seu celular, com títulos que rendem até 16% a.a. [CLIQUE AQUI para entrar no grupo gratuito]
Rodolfo Amstalden: Só um momento, por favor
Qualquer aposta que fizermos na direção de um trade eleitoral deverá ser permeada e contida pela indefinição em relação ao futuro
Cada um tem seu momento: Ibovespa tenta manter o bom momento em dia de pacote de Lula contra o tarifaço
Expectativa de corte de juros nos Estados Unidos mantém aberto o apetite por risco nos mercados financeiros internacionais
De olho nos preços: Ibovespa aguarda dados de inflação nos Brasil e nos EUA com impasse comercial como pano de fundo
Projeções indicam que IPCA de julho deve acelerar em relação a junho e perder força no acumulado em 12 meses
As projeções para a inflação caem há 11 semanas; o que ainda segura o Banco Central de cortar juros?
Dados de inflação no Brasil e nos EUA podem redefinir apostas em cortes de juros, caso o impacto tarifário seja limitado e os preços continuem cedendo
Felipe Miranda: Parada súbita ou razões para uma Selic bem mais baixa à frente
Uma Selic abaixo de 12% ainda seria bastante alta, mas já muito diferente dos níveis atuais. Estamos amortecidos, anestesiados pelas doses homeopáticas de sofrimento e pelo barulho da polarização política, intensificada com o tarifaço
Ninguém segura: Ibovespa tenta manter bom momento em semana de balanços e dados de inflação, mas tarifaço segue no radar
Enquanto Brasil trabalha em plano de contingência para o tarifaço, trégua entre EUA e China se aproxima do fim
O que Donald Trump e o tarifaço nos ensinam sobre negociação com pessoas difíceis?
Somos todos negociadores. Você negocia com seu filho, com seu chefe, com o vendedor ambulante. A diferença é que alguns negociam sem preparo, enquanto outros usam estratégias.
Efeito Trumpoleta: Ibovespa repercute balanços em dia de agenda fraca; resultado da Petrobras (PETR4) é destaque
Investidores reagem a balanços enquanto monitoram possível reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin
Ainda dá tempo de investir na Eletrobras (ELET3)? A resposta é sim — mas não demore muito
Pelo histórico mais curto (como empresa privada) e um dividendo até pouco tempo escasso, a Eletrobras ainda negocia com um múltiplo de cinco vezes, mas o potencial de crescimento é significativo
De olho no fluxo: Ibovespa reage a balanços em dia de alívio momentâneo com a guerra comercial e expectativa com Petrobras
Ibovespa vem de três altas seguidas; decisão brasileira de não retaliar os EUA desfaz parte da tensão no mercado
Rodolfo Amstalden: Como lucrar com o pegapacapá entre Hume e Descartes?
A ocasião faz o ladrão, e também faz o filósofo. Há momentos convidativos para adotarmos uma ou outra visão de mundo e de mercado.
Complicar para depois descomplicar: Ibovespa repercute balanços e início do tarifaço enquanto monitora Brasília
Ibovespa vem de duas leves altas consecutivas; balança comercial de julho é destaque entre indicadores
Anjos e demônios na bolsa: Ibovespa reage a balanços, ata do Copom e possível impacto de prisão de Bolsonaro sobre tarifaço de Trump
Investidores estão em compasso de espera quanto à reação da Trump à prisão domiciliar de Bolsonaro
O Brasil entre o impulso de confrontar e a necessidade de negociar com Trump
Guerra comercial com os EUA se mistura com cenário pré-eleitoral no Brasil e não deixa espaço para o tédio até a disputa pelo Planalto no ano que vem
Felipe Miranda: Em busca do heroísmo genuíno
O “Império da Lei” e do respeito à regra, tão caro aos EUA e tão atrelado a eles desde Tocqueville e sua “Democracia na América”, vai dando lugar à necessidade de laços pessoais e lealdade individual, no que, inclusive, aproxima-os de uma caracterização tipicamente brasileira
No pain, no gain: Ibovespa e outras bolsas buscam recompensa depois do sacrifício do último pregão
Ibovespa tenta acompanhar bolsas internacionais às vésperas da entra em vigor do tarifaço de Trump contra o Brasil
Gen Z stare e o silêncio que diz (muito) mais do que parece
Fomos treinados a reconhecer atenção por gestos claros: acenos, olho no olho, perguntas bem colocadas. Essa era a gramática da interação no trabalho. Mas e se os GenZs estiverem escrevendo com outra sintaxe?
Sem trégua: Tarifaço de Trump desata maré vermelha nos mercados internacionais; Ibovespa também repercute Vale
Donald Trump assinou na noite de ontem decreto com novas tarifas para mais de 90 países que fazem comércio com os EUA; sobretaxa de 50% ao Brasil ficou para a semana que vem
A ação que caiu com as tarifas de Trump mas, diferente de Embraer (EMBR3), ainda não voltou — e segue barata
Essas ações ainda estão bem abaixo dos níveis de 8 de julho, véspera do anúncio da taxação ao Brasil — o que para mim é uma oportunidade, já que negociam por apenas 4 vezes o Ebitda
O amarelo, o laranja e o café: Ibovespa reage a tarifaço aguado e à temporada de balanços enquanto aguarda Vale
Rescaldo da guerra comercial e da Super Quarta competem com repercussão de balanços no Brasil e nos EUA