Quem assistiu às sabatinas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na TV Globo à espera de algum deslize grave dos candidatos deve ter se frustrado. Políticos experientes, ambos escaparam relativamente ilesos das cascas de banana colocadas durante a entrevista ao Jornal Nacional.
Lula e Bolsonaro jogaram para suas torcidas, e as reações nas redes sociais dão uma amostra disso. As menções mais positivas ao petista ocorreram, por exemplo, quando ele falou de medidas anticorrupção adotadas em seu governo, de acordo com levantamento da Quaest.
Mas ao elogiar a fala, os eleitores de Lula optaram por “esquecer” que o ex-presidente reconheceu publicamente, ainda que de forma indireta, que houve corrupção nas gestões petistas na entrevista à TV Globo.
Os apoiadores de Bolsonaro foram na mesma linha quando reagiram positivamente nas redes ao comentário de que o jornalista William Bonner o estava “estimulando a ser ditador”.
A fala de Bolsonaro, contudo, foi uma resposta ao questionamento sobre a aliança com o Centrão. Ao se aliar a nomes da dita “velha política”, o presidente supostamente contrariou uma promessa feita a seus eleitores na eleição passada.
Paixões políticas à parte, tanto o atual como o ex-presidente alternaram bons e maus momentos no horário nobre da Globo. Longe de querer dar a palavra final sobre o assunto, separei alguns deles a seguir.
Onde Bolsonaro foi bem
Jair Bolsonaro abriu a série de sabatinas dos candidatos na TV Globo na última segunda-feira. Os jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos vieram preparados para um embate duro, mas o presidente contrariou a expectativa ao responder calmamente à maioria das perguntas.
Em pelo menos dois momentos Bolsonaro conseguiu se destacar na entrevista. Quando falou sobre economia, o presidente conseguiu tanto defender as medidas tomadas no governo como se esquivar dos problemas, ao atribuir o mau desempenho à pandemia e à guerra na Ucrânia.
Outro momento positivo para Bolsonaro foi o reconhecimento de que vai aceitar — com ressalvas — o resultado das urnas. “Serão respeitados os resultados das urnas desde que as eleições sejam limpas e transparentes”, respondeu, durante a transmissão na TV Globo. Assista abaixo:
Onde Bolsonaro foi mal
Jair Bolsonaro sabia que a polêmica atuação do governo durante a pandemia da covid-19 seria certamente um dos temas abordados pelos jornalistas da TV Globo. Mesmo assim, não conseguiu trazer uma resposta convincente durante a sabatina.
O questionamento da jornalista Renata Vasconcellos sobre a imitação do presidente de uma pessoa com falta de ar foi de longe o pior momento para o candidato à reeleição.
Bolsonaro destacou a campanha de imunização contra a covid. Mas quando foi perguntado sobre declarações contra a vacina, incluindo a afirmação de que as pessoas imunizadas poderiam “virar jacaré”, o presidente disse que se tratou de uma “figura de linguagem”.
Bolsonaro também foi confrontado ao dizer que nunca havia xingado ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em seguida, William Bonner lembrou que o presidente havia chamado Alexandre de Moraes de “canalha”.
Onde Lula foi bem
Na sabatina realizada nesta quinta-feira na Globo, Lula foi na contramão de Bolsonaro ao ir bem justamente nos temas em que sabia ser “vidraça”.
Foi o caso da “herança maldita” do governo de Dilma Rousseff. O ex-presidente elogiou a sucessora e tentou isentá-la de culpa, mas reconheceu os erros da gestão.
Ao se desvencilhar de Dilma, Lula ficou mais “livre” para destacar os feitos do próprio governo na economia. Isso inclui o controle da inflação, uma das atuais mazelas dos brasileiros, e os programas sociais.
A defesa enfática da chapa com o ex-governador Geraldo Alckmin, para a qual uma parte do PT torceu o nariz, foi outro bom momento do ex-presidente na entrevista da Globo. Ele inclusive aproveitou o momento para recuperar o tradicional bordão "nunca antes na história deste país". Assista abaixo:
Onde Lula foi mal
Líder das pesquisas, Lula manteve a estratégia de se esquivar o máximo possível de apresentar propostas concretas para o governo caso volte à Presidência.
Ao defender a apuração das denúncias de corrupção, por exemplo, o petista evitou se comprometer com a escolha do procurador-geral da República a partir de uma lista tríplice — uma prática adotada em seus mandatos passados.
Lula também foi evasivo na economia. O candidato não respondeu se vai adotar uma política mais próxima do primeiro mandato, quando teve uma postura pró-mercado, ou dos anos finais de governo, marcados pelo maior intervencionismo.