Lá e de volta outra vez: algumas reflexões sobre os preços das commodities
A reabertura econômica, uma nova ótica para o comércio global e os estímulos lançaram luz novamente sobre o tema, como ocorreu há 20 anos

Quem conhece as histórias de J. R. R. Tolkien está acostumado com as grandes jornadas retratadas em seus clássicos. Longos caminhos percorridos pelos heróis sempre possuem começo, meio e fim.
Curiosamente, em Tolkien, inclusive, de maneira similar aos ativos no mercado financeiro, as trilhas não são lineares, com os caminhos tendo de ser alterados com certa frequência, surpresas e reviravoltas.
Ainda assim, sempre depois do longo percurso, nossos heróis precisam voltar para casa - Bilbo, Frodo e Sam voltam para o Condado ao final de suas respectivas viagens.
Lá e de volta outra vez. Nossos investimentos, em grande parte, mimetizam esse ciclo, com começo, meio e fim, sujeito a bastante volatilidade no meio do caminho.
Observe abaixo uma ilustração sobre ciclos econômicos no mercado financeiro e no mercado de bens. Perceba que os ciclos financeiros costumam ser mais rápidos que o de bens, em uma antecipação do processo – trazer a valor presente.

Paralelamente a este raciocínio, já faz algum tempo que tenho falado de commodities, uma classe que se encaixa perfeitamente com este contexto cíclico.
Leia Também
A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje
Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?
Depois de um grande momento entre a década de 90 e o início dos anos 2000, os investimentos em matérias-primas enfrentaram uma fase ruim por bastante tempo, muito por conta de dois choques: i) a crise do subprime, em 2008; e ii) a crise da Zona do Euro, entre 2012 e 2014.
De lá para cá, até o final de 2019, os preços do setor flertaram com mínimas históricas, enquanto as empresas envolvidas no segmento se tornaram indiscutivelmente baratas.
Em 2020, porém, houve uma mudança de rota. A grave crise peculiar da covid-19, a paralisação temporária das cadeias de suprimento globais e o subsequente reaquecimento das economias, com a vacinação e a normalização das condições sociais, pressionaram novamente os ofertantes, que voltaram a demandar desregradamente as commodities.
O resultado foi um grande choque de preço, os quais têm pressionado não só o setor, mas toda a inflação mundial.
Note abaixo a evolução dos preços das commodities (medidas pelo CRB Index no eixo da direita) versus a inflação implícita americana para cinco anos (linha amarela no eixo da esquerda).

A reabertura econômica, uma ótica mais multilateral para o comércio global e os estímulos fiscais e monetários lançaram a possibilidade das commodities voltarem a ser um tema quentíssimo no mercado, assim como o fizeram há 20 anos. Lá e de volta outra vez. O herói volta à casa.
Nas últimas semanas, porém, tamanha foi a alta dos preços vista do último trimestre de 2020 até hoje, que o mercado começou a experimentar uma correção considerável.
Naturalmente, alguns preços pareciam de fato esticados. Não à toa, verifica-se um contraste considerável entre a performance dos últimos 12 meses e os da última semana, como podemos ver abaixo.

As commodities voltaram a sofrer. Para ilustrar, o minério de ferro chegou a cair quase 5% na semana encerrada no dia 18 de junho, ainda se ajustando à perspectiva de aperto monetário no mundo e aos esforços chineses de conter movimentos especulativos.
A noção de ajuste nos preços, contudo, pode ser confundida com um eventual fim de ciclo para as empresas de commodity. Os investidores se perguntam: deveríamos abandonar as commodities novamente? Este entendimento não se verifica, entretanto.
Vamos separar duas coisas: i) provavelmente haverá uma pressão vendedora no curto prazo, muito derivada de notícias negativas sobre os preços, o que ensejaria uma correção; e ii) mesmo passando por volatilidade no curto prazo, durante a correção do preço da commodity, a ação que opera a matéria-prima não deixa de ser atrativa.
O motivo? Em grande parte porque mesmo com uma correção de preços frente ao patamar atual, muitas empresas ainda estariam baratas – o preço ainda estaria acima da curva de custos, provocando geração de caixa robusta.
Olhe a Vale, por exemplo: mesmo se o minério caísse mais de 35%, a companhia ainda estaria negociando a 3,5 vezes EV/Ebitda para 2022, patamar que consideramos barato.
Ou seja, precisaremos agora apenas ser mais seletivos, buscando principalmente fluxos de caixa.
Busque fluxos de caixa foi a lição que Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus, a maior casa de análise independente de ações, passou para seus assinantes leituras da série best-seller “Palavra do Estrategista”.
Se o momento atual requer seletividade, precisamos estar bem acompanhados, com quem verdadeiramente entende de selecionar ativos. Por isso, deixo aqui o convite para conferir a Palavra do Estrategista e ler de Felipe Miranda seus principais nomes para o segundo semestre.
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell
Rodolfo Amstalden: No news is bad news
Apuração da Bloomberg diz que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias
Pão de queijo, doce de leite e… privatização, e o que mexe com os mercados nesta quarta-feira (8)
No Brasil, investidores de olho na votação da MP do IOF na Câmara e no Senado; no exterior, ata do Fomc e shutdown nos EUA
O declínio do império americano — e do dólar — vem aí? Saiba também o que mexe com os mercados hoje
No cenário nacional, investidores repercutem ligação entre Lula e Trump; no exterior, mudanças políticas na França e no Japão, além de discursos de dirigentes do Fed
O dólar já não reina sozinho: Trump abala o status da moeda como porto seguro global — e o Brasil pode ganhar com isso
Trump sempre deixou clara sua preferência por um dólar mais fraco. Porém, na prática, o atual enfraquecimento não decorre de uma estratégia deliberada, mas sim de efeitos colaterais das decisões que abalaram a confiança global na moeda
Felipe Miranda: Lições de uma semana em Harvard
O foco do curso foi a revolução provocada pela IA generativa. E não se engane: isso é mesmo uma revolução
Tudo para ontem — ou melhor, amanhã, no caso do e-commerce — e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (6)
No cenário local, investidores aguardam a balança comercial de setembro; no exterior, mudanças de premiê na França e no Japão agitam as bolsas
Shopping centers: é melhor investir via fundos imobiliários ou ações?
Na última semana, foi divulgada alteração na MP que trata da tributação de investimentos antes isentos. Com o tema mais sensível retirado da pauta, os FIIs voltam ao radar dos investidores
A volta do campeão na ação do mês, o esperado caso da Ambipar e o que move os mercados nesta sexta-feira (3)
Por aqui, investidores ainda avaliam aprovação da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil; no exterior, todos de olho no shutdown nos EUA, que suspendeu a divulgação de dados econômicos
Tragédia anunciada: o que a derrocada da Ambipar (AMBP3) ensina sobre a relação entre preço e fundamento
Se o fundamento não converge para o preço, fatalmente é o preço que convergirá para o fundamento, como no caso da Ambipar
As críticas a uma Petrobras ‘do poço ao posto’ e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (2)
No Brasil, investidores repercutem a aprovação do projeto de isenção do IR e o IPC-Fipe de setembro; no exterior, shutdown nos EUA e dados do emprego na zona do euro
Rodolfo Amstalden: Bolhas de pus, bolhas de sabão e outras hipóteses
Ainda que uma bolha de preços no setor de inteligência artificial pareça improvável, uma bolha de lucros continua sendo possível
Um ano de corrida eleitoral e como isso afeta a bolsa brasileira, e o que move os mercados nesta quarta-feira (1)
Primeiro dia de outubro tem shutdown nos EUA, feriadão na China e reunião da Opep
Tão longe, tão perto: as eleições de 2026 e o caos fiscal logo ali, e o que mexe com os mercados nesta terça-feira (30)
Por aqui, mercado aguarda balança orçamentária e desemprego do IBGE; nos EUA, todos de olho nos riscos de uma paralisação do governo e no relatório Jolts
Eleições de 2026 e o nó fiscal: sem oposição organizada, Brasil enfrenta o risco de um orçamento engessado
A frente fiscal permanece como vetor central de risco, mas, no final, 2026 estará dominado pela lógica das urnas, deixando qualquer ajuste estrutural para 2027