Os ventos de um novo Copom: o que esperar da decisão do BC sobre a Selic com o teto rompido
A Selic deveria caminhar para mais uma alta de 1 ponto percentual. Mas com os eventos recentes, as coisas mudaram um pouco de tom
Começa hoje a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BCB), que apresentará amanhã, depois do mercado, a nova taxa de juros básica de curto prazo da economia brasileira.
A Selic, hoje em 6,25% ao ano, deveria caminhar para mais uma alta de 100 pontos base (ou 1 ponto percentual), como aconteceu nas últimas reuniões, para 7,25% ao ano. Mas com os eventos recentes, em especial da última semana, as coisas mudaram um pouco de tom.
O panorama de deterioração fiscal verificado desde o último encontro da autoridade monetária, que culminou no estouro do teto de gastos proposto pela PEC dos precatórios, desencadeou um descontrole do dólar.
Nem mesmo a atuação por parte do BC, que torrou em duas semanas mais de US$ 4 bilhões em leilões extraordinários de swaps cambiais, conseguiu estabilizar a moeda. Ao final do dia, a tentativa era como enxugar gelo.
Hoje, terça-feira (26), deveremos assistir à votação em plenário do texto que ultrapassa em R$ 83 bilhões o teto de gastos públicos. Isso segundo o governo. A Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal tem uma leitura diferente, na qual o rombo é de mais de R$ 95 bilhões.
Inevitavelmente, o desmantelo da principal âncora fiscal dos últimos anos levaria a um movimento de aversão ao risco por parte do mercado financeiro.
Leia Também
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
A consequente debandada do Ministério da Economia, que viu secretários importantes pedindo exoneração após perderem o cabo de guerra com o Congresso, só ajudou a piorar a situação, diante do entendimento que a manobra para burlar o teto teria cunho populista à medida em que financia o Auxílio Brasil (o novo Bolsa Família) em ano de eleição.
A falta de responsabilidade fiscal joga o dólar para cima e, na sequência, a expectativa de inflação.
Juros e PIB sob pressão
Mais inflação e menor credibilidade fiscal pressionam a curva de juros, o que piora as perspectivas para 2022 e 2023.
Depois de crescer algo entre 4% e 5% neste ano, deveremos crescer apenas algo entre 0,5% e 1,5% no ano que vem. E com possibilidade de a deterioração fiscal ser tamanha que até o crescimento para 2023 pode ser impactado, a depender da resposta monetária que veremos nos próximos meses.
Não somente isso, mas a inflação não tem parado de nos assustar. Em 2021, o indicador oficial de inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acumula alta de 6,90% e, nos últimos 12 meses, alcançou a marca de dois dígitos em 10,25%.
Há previsão de certa acomodação até dezembro, de modo a fecharmos o ano em algo como 8,96% em 2021, um patamar ainda elevado.
A alta dos combustíveis, da energia elétrica, do petróleo e do dólar em nada ajudam no processo. Abaixo, podemos ver a escalada da inflação desde setembro de 2017 até hoje, com a queda de algumas das categorias no interior do indicador.
Note como há um esgarçamento inflacionário no país, o qual precisará ser respondido com política monetária à altura, justificando uma precificação neutra de alta de 1,25 ponto percentual para a reunião desta semana.
Se antes havia um entendimento de que o Banco Central não reagiria aos dados de alta frequência, agora resta a noção de que a autoridade monetária buscará tornar mais agressivo seu tom, dada a volatilidade com a mudança recente de cenário.
Os três caminhos do Copom
Por isso, três são as possibilidades para a reunião do Copom, entre as quais consideramos o contexto intermediário como sendo o mais provável e, portanto, o de base para as movimentações.
- Desfecho mais expansionista: o Banco Central segue o que havia contratado e aumenta a Selic em 1 ponto percentual, de 6,25% para 7,25%. É o cenário contratado anteriormente, antes de toda a degradação fiscal recentemente exposta pelo desmantelo do teto de gastos;
- Desfecho base/neutro: alta de 1,25 ponto percentual, o que colocaria a Selic em 7,5% no encontro de outubro, indicando uma preocupação adicional com o panorama fiscal apresentado por parte da autoridade monetária;
- Desfecho mais contracionista: cenário mais agressivo no qual a alta da taxa de juros será de 1,5 ponto, colocando a Selic em 7,75% e elevando a possibilidade de uma Selic de dois dígitos ao final do ciclo de aperto monetário ganhem espaço.
Entendo que a alta de 1,25 p.p. seja a mais provável, não invalidando a possibilidade de nos defrontarmos com os dois outros cenários.
Um ajuste maior do que o contratado anteriormente (100 pontos-base) mostrará comprometimentos por parte de Bacen, elevando a credibilidade da instituição e aprimorando as chances de ancoragem da inflação para o ano que vem, tendo como objetivo a convergência para a meta em 2023.
Adicionalmente, uma Selic mais próxima de 9% ainda neste ano, ainda que por volta de 8,5% a.a., poderá servir para sedimentar uma conjuntura na qual não precisemos flertar com mais de 10% de juros no primeiro semestre do ano que vem.
Ainda assim, mais juros significam potencialmente menor crescimento, o que em um país com mais de 13% de desemprego é bem prejudicial estruturalmente.
A saída monetária para o Brasil não será fácil, principalmente em meio a uma crise hídrica e um ano eleitoral. Ainda assim, não é porque não enxergamos saída que ela não existe. Ausência de evidência não é evidência de ausência.
Há caminhos para navegarmos, principalmente em títulos do tesouro nacional indexados à inflação com vencimento curto. Um juro real maior que 5% em risco soberano não é uma má pedida.
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional
Felipe Miranda: O paradoxo do banqueiro central
Se você é explicitamente “o menino de ouro” do presidente da República e próximo ao ministério da Fazenda, é natural desconfiar de sua eventual subserviência ao poder Executivo
Hapvida decepciona mais uma vez, dados da Europa e dos EUA e o que mais move a bolsa hoje
Operadora de saúde enfrenta mais uma vez os mesmos problemas que a fizeram despencar na bolsa há mais dois anos; investidores aguardam discurso da presidente do Banco Central Europeu (BCE) e dados da economia dos EUA
CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3), o ‘terror dos vendidos’ e mais: as matérias mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matéria sobre a exposição da Oncoclínicas aos CDBs do Banco Master foi a mais lida da semana; veja os destaques do SD
A debandada da bolsa, pessimismo global e tarifas de Trump: veja o que move os mercados hoje
Nos últimos anos, diversas empresas deixaram a B3; veja o que está por trás desse movimento e o que mais pode afetar o seu bolso
Planejamento, pé no chão e consciência de que a realidade pode ser dura são alguns dos requisitos mais importantes de quem quer ser dono da própria empresa
Milhões de brasileiros sonham em abrir um negócio, mas especialistas alertam que a realidade envolve insegurança financeira, mais trabalho e falta de planejamento
Rodolfo Amstalden: Será que o Fed já pode usar AI para cortar juros?
Chegamos à situação contemporânea nos EUA em que o mercado de trabalho começa a dar sinais em prol de cortes nos juros, enquanto a inflação (acima da meta) sugere insistência no aperto
A nova estratégia dos FIIs para crescer, a espera pelo balanço da Nvidia e o que mais mexe com seu bolso hoje
Para continuarem entregando bons retornos, os Fundos de Investimento Imobiliários adaptaram sua estratégia; veja se há riscos para o investidor comum. Balanço da Nvidia e dados de emprego dos EUA também movem os mercados hoje
O recado das eleições chilenas para o Brasil, prisão de dono e liquidação do Banco Master e o que mais move os mercados hoje
Resultado do primeiro turno mostra que o Chile segue tendência de virada à direita já vista em outros países da América do Sul; BC decide liquidar o Banco Master, poucas horas depois que o banco recebeu uma proposta de compra da holding Fictor
Eleição no Chile confirma a guinada política da América do Sul para a direita; o Brasil será o próximo?
Após a vitória de Javier Milei na Argentina em 2023 e o avanço da direita na Bolívia em 2025, o Chile agora caminha para um segundo turno amplamente favorável ao campo conservador
Os CDBs que pagam acima da média, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Quando o retorno é maior que a média, é hora de desconfiar dos riscos; investidores aguardam dados dos EUA para tentar entender qual será o caminho dos juros norte-americanos
Direita ou esquerda? No mundo dos negócios, escolha quem faz ‘jogo duplo’
Apostar no negócio maduro ou investir em inovação? Entenda como resolver esse dilema dos negócios
Esse número pode indicar se é hora de investir na bolsa; Log corta dividendos e o que mais afeta seu bolso hoje
Relação entre preço das ações e lucro está longe do histórico e indica que ainda há espaço para subir mais; veja o que analistas dizem sobre o momento atual da bolsa de valores brasileira
Investir com emoção pode custar caro: o que os recordes do Ibovespa ensinam
Se você quer saber se o Ibovespa tem espaço para continuar subindo mesmo perto das máximas, eu não apenas acredito nisso como entendo que podemos estar diante de uma grande janela de valorização da bolsa brasileira — mas isso não livra o investidor de armadilhas
Seca dos IPOs ainda vai continuar, fim do shutdown e o que mais movimenta a bolsa hoje
Mesmo com Regime Fácil, empresas ainda podem demorar a listar ações na bolsa e devem optar por lançar dívidas corporativas; mercado deve reagir ao fim do maior shutdown da história dos EUA, à espera da divulgação de novos dados
Rodolfo Amstalden: Podemos resumir uma vida em uma imagem?
Poucos dias atrás me deparei com um gráfico absolutamente pavoroso, e quase imediatamente meu cérebro fez a estranha conexão: “ora, mas essa imagem que você julga horripilante à primeira vista nada mais é do que a história da vida da Empiricus”
Shutdown nos EUA e bolsa brasileira estão quebrando recordes diariamente, mas só um pode estar prestes a acabar; veja o que mais mexe com o seu bolso hoje
Temporada de balanços, movimentos internacionais e eleições do ano que vem podem impulsionar ainda mais a bolsa brasileira, que está em rali histórico de valorizações; Isa Energia (ISAE4) quer melhorar eficiência antes de aumentar dividendos