Powell guia um Fed dessincronizado e traz ruído e cautela aos mercados; dólar recua mais de 2% na semana e Ibovespa volta aos 125 mil pontos
Enquanto o parlamento brasileiro entra em recesso, o mercado internacional ganha ares cada vez mais cautelosos. Dados frustrantes da economia americana fizeram o Ibovespa recuar 1,18%, de volta aos 125 mil, enquanto o dólar se manteve estável em R$ 5,11
Não é raro ver a alcunha de ‘maestro’ sendo utilizada para definir o trabalho feito por Jerome Powell, presidente do banco central da maior economia do mundo. O significado é duplo. De um lado, temos Powell, comandante do Fed. Do outro, comandante dos movimentos do mercado financeiro.
Não importa onde e quando é o evento, os olhos dos investidores sempre estarão atentos aos movimentos do presidente do BC americano, com o mercado financeiro reagindo em tempo real ao tom de suas palavras. Parece, no entanto, que Powell está conduzindo uma orquestra cada vez mais dessincronizada.
Os dados de inflação nos Estados Unidos voltaram a assustar o mercado nesta semana, vindo pelo terceiro mês consecutivo acima do esperado. Primeiro, foi o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) que subiu 0,9% em junho ante maio. No dia seguinte foi a vez do índice de inflação ao produtor (PPI) subir 1% no período.
Powell teve uma agenda cheia em Washington nesta semana e aproveitou para endereçar o problema da inflação múltiplas vezes e, em certa medida, até mesmo se contradizer. O presidente do Fed acabou assumindo que a alta da inflação preocupa e pode se tornar um desafio para o BC, mas garantiu que os estímulos se manterão até que o país alcance o pleno emprego e as metas de inflação e que ainda não é hora de discutir a redução do ritmo de compra de ativos.
Mas isso não é o que pensam todos os membros do comitê de política monetária do Fed. Para Nicolas Borsoi, economista da Nova Futura Investimento, embora a política monetária de fato se mantenha inalterada, o discurso dos dirigentes fica cada vez menos consensual, levantando dúvidas sobre a transitoriedade da inflação e o futuro dos estímulos.
“Preocupa no sentido não só do Fed ter que reduzir estímulos, mas quando a gente pega o dado de confiança divulgado hoje vemos que a elevação dos preços já começa a afetar a forma que as famílias americanas estão consumindo”.
Leia Também
A sinfonia fora de tempo do Fomc traz grande volatilidade aos mercados. No começo do dia, as bolsas até tentaram reagir com entusiasmo bom número do varejo americano, mas os dados mistos da economia aumentaram a cautela dos investidores. Cautela essa que deve persistir refletindo na bolsa brasileira agora que o recesso parlamentar esvaziará as discussões em Brasília.
Marcio Lórega, gerente de research do Pagbank, lembra que as bolsas americanas registraram seguidos recordes nas últimas semanas, o que acaba tirando um pouco do brilho até mesmo da temporada de balanços do segundo trimestre, que já começa a ganhar força no exterior. Após a reação negativa ao sentimento do consumidor, as bolsas americanas não conseguiram se recuperar totalmente. O Nasdaq teve uma queda de 0,80%, o S&P 500 caiu 0,75% e o Dow Jones recuou 0,86%.
O Ibovespa acompanhou e fechou o dia em queda de 1,18%, aos 125.960 pontos. Os bons ventos do começo da semana garantiram um saldo positivo no período e o principal índice da bolsa avançou 0,42%.
Com a cautela reinando no exterior, as moedas emergentes acabaram conseguindo engatar um movimento de recuperação. Por aqui ainda tivemos um alívio na pressão do câmbio com um texto repaginado da reforma tributária e a intensa entrada de fluxo estrangeiro no país para a participação em IPOs.
Em dia de grande volatilidade, o dólar à vista fechou estável, com leve recuo de 0,01%, a R$ 5,1154, mas na semana a queda foi de 2,36%. Já o mercado de juros aproveitou para devolver parte do prêmio dos últimos dias. Confira as taxas do dia:
- Janeiro/22: de 5,81% para 5,79%
- Janeiro/23: de 7,30% para 7,25%
- Janeiro/25: de 8,28% para 8,20%
- Janeiro/27: de 8,67% para 8,60%
Não ficou no passado
Outro fator que ajuda a explicar o crescimento da cautela global está na pandemia do coronavírus. Embora muitos países já celebrem o “fim” da questão sanitária, a variante delta do vírus tem trazido preocupação e volta a inflar o número de casos registrados pelo mundo.
Até o momento, a percepção é que a cobertura vacinal é suficiente para segurar o número de óbitos pela doença, mas ainda é cedo para saber o potencial devastador das novas cepas da covid-19 e se novas medidas de isolamento social precisarão ser adotadas. Para o economista da Nova Futura, uma reviravolta no quadro da pandemia é quase improvável, “mas dado que existe essa possibilidade, os investidores vão ser mais cautelosos”.
Com a demanda incerta e o impasse em torno da produção de petróleo por parte da Opep+, as cotações da commodity ficam pressionadas, o que pesa no Ibovespa com a queda da Petrobras.
Pausa para um respiro
Com o presidente Jair Bolsonaro afastado das atividades políticas para tratamento de saúde e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) aprovada, que mesmo com polêmicas garantiu o recesso parlamentar, os próximos dias prometem ser de maior calmaria na capital federal, o que dá ainda mais destaque para a situação que se desenrola lá fora.
Voltando para o Brasil, o Congresso Nacional só volta do recesso parlamentar no dia 31, mas, até lá, os ruídos em torno da reforma tributária devem seguir em alta. Nesta semana, o relator da pauta, Celso Sabino, conseguiu reverter parte da resistência com relação à pauta.
No substitutivo apresentado, o deputado manteve a isenção para rendimentos de fundos imobiliários no imposto de renda, um dos pontos mais delicados da proposta. Além disso, a alíquota do IRPJ deve ir de 15% para 2,5% até 2023, como forma de compensar a tributação de dividendos, mantida em 20%.
Mas ainda há nós que precisam ser desatados. A proposta de financiar a redução do IRPJ com o fim de isenções fiscais setoriais ainda promete causar dor de cabeça. O que também não deve ser bem digerido nos próximos dias é justamente a LDO de 2022.
O texto, que agora segue para sanção presidencial, prevê um déficit primário nas contas públicas de R$ 170 bilhões e aumentou o limite de verbas para o fundo eleitoral de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões, cifra que gera desconforto.
Sobe e desce
A notícia de que o Grupo Soma deverá realizar uma oferta de ações de até R$ 750 milhões impulsionou as ações da Cia. Hering nesta semana. A cifra obtida deve ser utilizada justamente no pagamento da aquisição da Hering, que foi aprovada pelo Cade no início de julho.
Já a JHSF repercutiu os bons números da sua prévia operacional e a compra de uma área adicional ao Complexo da Boa Vista por R$ 140 milhões. O Magazine Luiza também foi às compras e entrou de vez no ramo de games, com a aquisição da KaBuM, em uma transação bilionária. Confira as maiores altas da semana:
| CÓDIGO | NOME | ULT | VARSEM |
| HGTX3 | Cia Hering ON | R$ 40,60 | 14,11% |
| JHSF3 | JHSF ON | R$ 7,78 | 12,27% |
| MGLU3 | Magazine Luiza ON | R$ 23,90 | 9,03% |
| BIDI11 | Banco Inter unit | R$ 82,08 | 8,04% |
| CSAN3 | Cosan ON | R$ 26,44 | 7,26% |
Com o recuo do câmbio e do preço da celulose, Suzano e Klabin acabaram sofrendo as maiores baixas do período. Confira as principais quedas:
| CÓDIGO | NOME | ULT | VARSEM |
| SUZB3 | Suzano ON | R$ 56,35 | -7,59% |
| PRIO3 | PetroRio ON | R$ 18,85 | -3,73% |
| KLBN11 | Klabin units | R$ 26,00 | -3,70% |
| EMBR3 | Embraer ON | R$ 17,54 | -3,68% |
| PETR3 | Petrobras ON | R$ 27,17 | -3,52% |
Ouro cai mais de 5% com correção de preço e tem maior tombo em 12 anos — Citi zera posição no metal precioso
É a pior queda diária desde 2013, em um movimento influenciado pelo dólar mais forte e perspectiva de inflação menor nos EUA
Por que o mercado ficou tão feliz com a prévia da Vamos (VAMO3) — ação chegou a subir 10%
Após divulgar resultados operacionais fortes e reforçar o guidance para 2025, os papéis disparam na B3 com investidores embalados pelo ritmo de crescimento da locadora de caminhões e máquinas
Brava Energia (BRAV3) enxuga diretoria em meio a reestruturação interna e ações têm a maior queda do Ibovespa
Companhia simplifica estrutura, une áreas estratégicas e passa por mudanças no alto escalão enquanto lida com interdição da ANP
Inspirada pela corrida pelo ouro, B3 lança Índice Futuro de Ouro (IFGOLD B3), 12° novo indicador do ano
Novo indicador reflete a crescente demanda pelo ouro, com cálculos diários baseados no valor de fechamento do contrato futuro negociado na B3
FII RCRB11 zera vacância do portfólio — e cotistas vão sair ganhando com isso
O contrato foi feito no modelo plug-and-play, em que o imóvel é entregue pronto para uso imediato
Recorde de vendas e retorno ao Minha Casa Minha Vida: é hora de comprar Eztec (EZTC3)? Os destaques da prévia do 3T25
BTG destaca solidez nos números e vê potencial de valorização nas ações, negociadas a 0,7 vez o valor patrimonial, após a Eztec registrar o maior volume de vendas brutas da sua história e retomar lançamentos voltados ao Minha Casa Minha Vida
Usiminas (USIM5) lidera os ganhos do Ibovespa e GPA (PCAR3) é a ação com pior desempenho; veja as maiores altas e quedas da semana
Bolsa se recuperou e retornou aos 143 mil pontos com melhora da expectativa para negociações entre Brasil e EUA
Como o IFIX sobe 15% no ano e captações de fundos imobiliários continuam fortes mesmo com os juros altos
Captações totalizam R$ 31,5 bilhões até o fim de setembro, 71% do valor captado em 2024 e mais do que em 2023 inteiro; gestores usam estratégias para ampliar portfólio de fundos
De operário a milionário: Vencedor da Copa BTG Trader operava “virado”
Agora milionário, trader operava sem dormir, após chegar do turno da madrugada em seu trabalho em uma fábrica
Apesar de queda com alívio nas tensões entre EUA e China, ouro tem maior sequência de ganhos semanais desde 2008
O ouro, considerado um dos ativos mais seguros do mundo, acumulou valorização de 5,32% na semana, com maior sequência de ganhos semanais desde setembro de 2008.
Roberto Sallouti, CEO do BTG, gosta do fundamento, mas não ignora análise técnica: “o mercado te deixa humilde”
No evento Copa BTG Trader, o CEO do BTG Pactual relembrou o início da carreira como operador, defendeu a combinação entre fundamentos e análise técnica e alertou para um período prolongado de volatilidade nos mercados
Há razão para pânico com os bancos nos EUA? Saiba se o país está diante de uma crise de crédito e o que fazer com o seu dinheiro
Mesmo com alertas de bancos regionais dos EUA sobre o aumento do risco de inadimplência de suas carteiras de crédito, o risco não parece ser sistêmico, apontam especialistas
Citi vê mais instabilidade nos mercados com eleições de 2026 e tarifas e reduz risco em carteira de ações brasileiras
Futuro do Brasil está mais incerto e analistas do Citi decidiram reduzir o risco em sua carteira recomendada de ações MVP para o Brasil
Kafka em Wall Street: Por que você deveria se preocupar com uma potencial crise nos bancos dos EUA
O temor de uma infestação no setor financeiro e no mercado de crédito norte-americano faz pressão sobre as bolsas hoje
B3 se prepara para entrada de pequenas e médias empresas na Bolsa em 2026 — via ações ou renda fixa
Regime Fácil prevê simplificação de processos e diminuição de custos para que companhias de menor porte abram capital e melhorem governança
Carteira ESG: BTG passa a recomendar Copel (CPLE6) e Eletrobras (ELET3) por causa de alta no preço de energia; veja as outras escolhas do banco
Confira as dez escolhas do banco para outubro que atendem aos critérios ambientais, sociais e de governança corporativa
Bolsa em alta: oportunidade ou voo de galinha? O que você precisa saber sobre o Ibovespa e as ações brasileiras
André Lion, sócio e CIO da Ibiuna, fala sobre as perspectivas para a Bolsa, os riscos de 2026 e o impacto das eleições presidenciais no mercado
A estratégia deste novo fundo de previdência global é investir somente em ETFs — entenda como funciona o novo ativo da Investo
O produto combina gestão passiva, exposição internacional e benefícios tributários da previdência em uma carteira voltada para o longo prazo
De fundo imobiliário em crise a ‘Pacman dos FIIs’: CEO da Zagros revela estratégia do GGRC11 — e o que os investidores podem esperar daqui para frente
Prestes a se unir à lista de gigantes do mercado imobiliário, o GGRC11 aposta na compra de ativos com pagamento em cotas. Porém, o executivo alerta: a estratégia não é para qualquer um
Dólar fraco, ouro forte e bolsas em queda: combo China, EUA e Powell ditam o ritmo — Ibovespa cai junto com S&P 500 e Nasdaq
A expectativa por novos cortes de juros nos EUA e novos desdobramentos da tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo mexeram com os negócios aqui e lá fora nesta terça-feira (14)
