Se você está esperando ler sobre mais um dia de reviravoltas e surpresas no mercado financeiro brasileiro pode ficar um pouco decepcionado com as movimentações desta terça-feira (09). Comparado com ontem, as últimas horas foram bem menos emocionantes.
Um dia após serem pegos no contrapé pela notícia de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve os seus direitos políticos restaurados - pesando ainda mais o conturbado cenário doméstico e antecipando os burburinhos em torno da corrida presidencial de 2022 - os investidores optaram por um movimento de recuperação parcial.
As notícias que alimentaram esse movimento foram as bolsas americanas em um dia fortemente positivo e reafirmações em Brasília de que a PEC emergencial não será desidratada, o que aliviou o temor fiscal do mercado.
Ainda que o saldo do dia tenha sido positivo, o dia foi mais uma vez de alta volatilidade - como tem sido a norma - e, segundo os analistas, deve seguir assim por mais um bom tempo. A bolsa brasileira variou de uma alta de 1,73% até uma queda de 1,75%, fechando o dia em alta de 0,65%, aos 111.330 pontos - desempenho insuficiente para apagar a queda de 4% registrada ontem, no calor da emoção.
A cautela com o cenário de incertezas recaiu então sobre a valorização do dólar perante o real - o que costuma ser um bom termômetro do risco que os investidores estão dispostos a encarar. A moeda americana também teve um dia alta volatilidade, indo de uma queda de 0,15% até uma alta de 1,66%. No fim, a moeda americana avançou 0,33%, aos R$ 5,7974, na contramão do exterior. Lá fora, a divisa teve um dia de queda perante outras moedas emergentes.
O Credit Default Swap (CDS) de 5 anos, outro indicador importante de risco-país, também desacelerou a alta com a melhora no exterior e a sinalização com o compromisso fiscal. O mercado de juros futuros, que operava em forte alta, também passou por um alívio. Ainda assim, a curva de juros já precifica uma Selic próxima de 6% ao fim de 2021. Confira o fechamento das principais taxas de hoje:
- Janeiro/2022: de 3,99% para 4,00%
- Janeiro/2023: de 5,78% para 5,78%
- Janeiro/2025: de 7,40% para 7,35%
- Janeiro/2027: de 8,01% para 7,99%
Um olho no peixe...
Desde o começo das negociações os investidores ficaram monitorando principalmente o clima em Brasília, já que ontem o presidente Jair Bolsonaro falou sobre uma possibilidade de desidratação da PEC emergencial. Além disso, o caos no sistema de saúde, com o agravamento da pandemia, também preocupa - há pouco foi divulgado um boletim com 70.764 novos casos e 1.972 óbitos.
O Ibovespa, que abriu o dia em queda, só ganhou força quando os primeiros sinais de que as vontades do presidente não iriam prevalecer no texto final começaram a aparecer. Primeiro foi uma fala do deputado Daniel Silveira, relator da PEC Emergencial na Câmara, que disse que o texto que será votado amanhã (10) deve ser "exatamente o que veio do Senado".
Ontem, o presidente Jair Bolsonaro gerou mais ruídos ao dizer que uma PEC paralela poderia ser criada e que a pauta só passaria pela Câmara se houvesse a retirada de três dispositivos. O movimento tinha o apoio da bancada da segurança pública na Câmara, já que um desses trechos liberaria a progressão e promoção de servidores públicos em novas situações de crise.
Mais tarde, o presidente da Câmara, Arthur Lira, confirmou que a PEC não será desidratada. Lira afirmou que o relator da PEC deve manter a "ideia base" do texto aprovado pelo Senado, após reunião com líderes governistas para convencer o relator a não desidratar o texto com a proposta feita por Jair Bolsonaro e manter uma "previsibilidade das ações".
As declarações aliviaram a tensão do mercado com relação ao cenário fiscal, que poderia ficar ainda pior sem os gatilhos propostos pelo texto para balancear as despesas com o auxílio emergencial, comprometendo o ajuste fiscal, tema sensível que tem persistido durante toda a crise do coronavírus.
… E outro no gato!
A reação hoje pode ter sido mais comportada, mas o mercado ainda está de olho nos desdobramentos da ordem do ministro do Superior Tribunal Eleitoral (STF) Edson Fachin que foi tomada ontem (08) e que anulou todas as decisões tomadas pela 13ª Vara Federal de Curitiba que envolviam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava Jato, devolvendo assim os seus direitos políticos.
Com o retorno de Lula ao cenário político, o mercado teme uma guinada populista na agenda do presidente Jair Bolsonaro, o que pode comprometer a saúde fiscal do país em um momento de crise. A polarização e a antecipação do cenário eleitoral também podem acabar atrapalhando o andamento de temas prioritários no Congresso - como as reformas.
Fábio Galdino, sócio da Vero Investimentos, acredita que ainda é muito cedo para julgar os efeitos da decisão sobre Lula ou afirmar uma tendência para a bolsa brasileira, mas é possível destacar a influência de todas essas incertezas quando observamos o dólar. “A reação do mercado é sempre um pouco exagerada com notícias políticas. Hoje a bolsa reagiu da forma que deveria reagir: não corrigindo toda a queda de ontem, mas com uma mudança de humor importante”.
De carona com Elon Musk
Em meio a tantas incertezas locais, o mercado financeiro doméstico recebeu com alívio os ventos positivos que chegaram de Nova York.
Em dia de trégua na alta dos rendimentos dos títulos públicos americanos, e que contou com leilões do Tesouro, as bolsas em Wall Street aproveitaram para engatar uma recuperação. Além disso, existe a expectativa de que o pacote de US$ 1,9 trilhão seja aprovado na Câmara dos Representantes nos próximos dias.
O Nasdaq, que vem sendo bem castigado nas últimas semanas, pegou carona no desempenho de gala registrado pelas ações da Tesla nesta tarde e registrou ganhos de 3,69%. Enquanto isso, o Dow Jones teve uma alta de 0,10% e o S&P 500 avançou 1,42%.
As ações da empresa do bilionário Elon Musk subiram mais de 19% após sinais de que a companhia vem ganhando mercado na China. Os papéis amargam perdas significativas nas últimas semanas.
Sobe e desce
A cotação do dólar impulsionou as ações dos frigoríficos e também da Suzano. Além disso, o setor de proteínas tem registrado uma série de balanços trimestrais fortes.
A Totvs confirmou há pouco a compra da empresa de marketing digital RD Station por R$ 1,8 bilhão. Confira as maiores altas do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
BEEF3 | Minerva ON | R$ 10,20 | 6,14% |
BRFS3 | BRF ON | R$ 24,65 | 5,98% |
SUZB3 | Suzano ON | R$ 79,18 | 5,06% |
BRKM5 | Braskem PNA | R$ 31,49 | 4,27% |
TOTS3 | Totvs ON | R$ 29,52 | 4,05% |
Na ponta contrária, o destaque negativo fica com o setor de varejo e o de construção, que refletem o temor com as novas medidas de isolamento social e a progressão da pandemia em solo brasileiro. Além disso, Lojas Americanas e B2W apresentaram resultados que não agradaram o mercado recentemente. Confira as maiores quedas:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
LAME4 | Lojas Americanas PN | R$ 21,00 | -5,70% |
BTOW3 | B2W ON | R$ 63,14 | -5,25% |
VVAR3 | Via Varejo ON | R$ 10,98 | -4,85% |
HGTX3 | Cia Hering ON | R$ 14,40 | -4,06% |
EZTC3 | EZTEC ON | R$ 28,87 | -3,93% |