🔴 IPCA-15 DE ABRIL DESACELERA – VEM AÍ SELIC A 10,50% OU 10,25? SAIBA ONDE INVESTIR

Felipe Saturnino
Felipe Saturnino
Graduado em Jornalismo pela USP, passou pelas redações de Bloomberg e Estadão.
Entrevista exclusiva

“Estamos patinando sobre gelo fino”, diz Ana Paula Vescovi, do Santander

Corte de juros de 0,75 ponto percentual na última reunião do Copom seguiu regime de metas de inflação, mas risco fiscal exige “delicadeza” do BC, segundo a economista-chefe do banco e ex-secretária do Tesouro Nacional

Felipe Saturnino
Felipe Saturnino
13 de maio de 2020
6:01 - atualizado às 20:51
Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil e ex-secretária do Tesouro Nacional
Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil e ex-secretária do Tesouro Nacional - Imagem: Renato Costa

Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil, faz parte do grupo dos que se surpreenderam com o corte de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) promovido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada.

A ex-secretária do Tesouro Nacional esperava por uma redução menor, de meio ponto percentual. Mas avalia que o Banco Central se manteve dentro do seu mandato de metas de inflação ao tomar decisão mais ousada e reduzir a Selic para 3% ao ano.

De todo modo, ela crê que a partir de agora um risco fiscal ainda maior — reflexo do incremento do gasto exigido pela pandemia — vai entrar na ponderação do colegiado e exigir "delicadeza" do BC.

Em entrevista ao Seu Dinheiro, a ex-secretária do Tesouro entre 2016 e 2018 disse que “está cada vez mais claro” que, dada a extensão da crise do novo coronavírus, a dívida pública irá “saltar” para perto de 100% do PIB.

“Isso demandará um esforço fiscal pós-pandemia ainda maior do que aquele que já estava em curso desde 2016”, observa Vescovi. Nesta perspectiva, os riscos sobre o cenário fiscal tendem a “aumentar sobremaneira”.

O balanço de riscos do BC, presente no comunicado do Copom, mede os riscos inflacionários, que orientam os movimentos da autoridade monetária.

Ali são elencados diversos fatores: o nível de ociosidade da economia, por exemplo, pesa do lado desinflacionário. Enquanto isso, a deterioração das contas públicas e a frustração em relação a reformas estimula reações inflacionárias.

Neste contexto, a economista apresenta dúvidas se haverá condições políticas suficientes para permitir a retomada da agenda de reformas, sustentar o teto de gastos e garantir, no mínimo, e aprovar medidas para estabilizar a dívida pública.

“E como o BC irá interpretar esse risco na próxima reunião do Copom?”, questiona.

Cuidado com a curva empinada

Um juro menor em um cenário em que a dívida pública cresce fortemente, segundo Vescovi, gera o chamado “empinamento da curva de juros” — ou seja, a ponta curta dos juros se firma em um patamar mais baixo, enquanto a ponta longa, em um nível mais alto.

Esse fenômeno, por sua vez, tende a intensificar o "encurtamento" da dívida. Como o risco (demonstrado pelo juros cobrados) é crescente conforme avança o vencimento da dívida, o país começa a se endividar em prazos cada vez menores.

Com um juro curto menor e um juro longo maior, é retroalimentada a incerteza sobre a rolagem da dívida — quer dizer, a capacidade de um país “esticar” os prazos da dívida. A reação “empinada” do mercado de juros futuros ocorreu no dia seguinte à decisão do Copom.

“Aí fica prejudicada a própria financiabilidade da dívida, que precisa ficar muito curta”, diz Vescovi.

Segundo a ex-secretária do Tesouro, a atual situação exige “delicadeza ” do BC. O dilema é haver o espaço para cortes de juros e, ao mesmo, tempo riscos ponderáveis. “Estamos patinando sobre gelo fino”, sintetiza.

O Santander projeta atualmente que a Selic terminará 2020 a 3%, segundo relatório de abril. A expectativa para o último Copom era de um corte menor, de 0,5 ponto percentual. Enquanto isso, tinha como cenário-base que a dívida pública terminaria 2020 a 83,9% do PIB. Os números devem ser revisados ainda nesta semana.

Reformas e investimento

Vescovi defende a retomada de uma agenda ampla de reformas por parte do governo e do Congresso para aumentar o nível de investimentos e atratividade do Brasil.

Ela cita que reformas como a tributária — com o intuito de simplificar e não mudar a carga de impostos — e administrativa têm de voltar à pauta dos agentes políticos, embora apenas após o fim da pandemia. Por ora, ela crê que o mais importante a fazer é levar a cabo as medidas anunciadas pelo governo de Jair Bolsonaro.

“Neste momento, fazer mais é dar efetividade ao que já está construído, é dar liquidez a quem precisa”, disse Vescovi.

Perguntada se acreditava que havia possibilidade de uma guinada da política econômica liberal para intervencionista e sobre o Plano Pró-Brasil, a economista me disse que a reflexão correta não passa pela chance e pela probabilidade.

“A questão é colocar dinheiro público que a gente não tem em coisas que não gerem resultados do capital investido — aí, a gente vai estar desperdiçando recursos” – Ana Paula Vescovi, Santander

A ex-secretária do Tesouro também se mostrou contrária à hipótese aventada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de emissão de moeda e compra da dívida interna por parte do Banco Central.

Segundo ela, uma atuação nesse sentido pode distorcer o preço dos ativos (os títulos públicos, no caso) e diminuir a atratividade da dívida aos investidores, dificultando o seu financiamento.

Compartilhe

De olho na bolsa

Esquenta dos mercados: Bolsas operam mistas antes do payroll dos EUA e paralisação dos auditores da Receita pressiona governo federal

7 de janeiro de 2022 - 7:57

O Ibovespa ainda registra queda na casa dos 3% e o exterior morno não deve ajudar o índice brasileiro

De olho na bolsa

Esquenta dos mercados: Bolsas e bitcoin (BTC) caem após ata do Fed, e Ibovespa deve aprofundar queda com risco fiscal do cenário doméstico

6 de janeiro de 2022 - 8:00

Os índices dos Estados Unidos tiveram uma queda expressiva ontem (05) após a divulgação do documento, e o Ibovespa, que já ia mal, piorou ainda mais

De olho na bolsa

Esquenta dos mercados: Bolsas operam com cautela no exterior antes da ata do Fed e cenário doméstico permanece atento ao risco fiscal; ações de tecnologia caem lá fora após cerco da China contra setor

5 de janeiro de 2022 - 7:56

O coronavírus se espalha pelos países, que batem recordes de casos registrados nas últimas 24h e situação pode comprometer a retomada das atividades

ESPECIAL SEU DINHEIRO

Relembre os principais eventos que fizeram você ganhar e perder dinheiro em 2021

31 de dezembro de 2021 - 8:30

Se você chorou ou sorriu em 2021, o importante é que, como sempre, não faltaram emoções durante o ano. E isso inclui os seus investimentos.

E o teto de gastos?

‘Responsabilidade social não significa irresponsabilidade fiscal’, diz Goldfajn, ex-presidente do BC

1 de novembro de 2021 - 7:06

Atual presidente do conselho do Credit Suisse no país, Ilan Goldfajn vê com preocupação os recentes movimentos do governo no front fiscal

buscando saídas

Bolsonaro diz que governo trabalha com alternativas para financiar Auxílio Brasil

31 de outubro de 2021 - 7:36

O Ministério da Cidadania já confirmou que o reajuste no Bolsa Família será apenas para R$ 240 em novembro e o governo conta com a aprovação da PEC dos precatórios para fazer um pagamento maior a partir de dezembro.

SOB PRESSÃO

Furo no teto e Guedes na corda bamba elevam apostas para os próximos passos da Selic; contratos de DI atingem oscilação máxima

22 de outubro de 2021 - 13:15

Hoje os olhos do mercado se voltam para o próprio Guedes, com temores de que o ministro seja o próximo a pular fora do barco. A curva de juros reage

Renda fixa vive

Com lambança fiscal do Auxílio Brasil, taxa dos títulos do Tesouro Direto já rende quase 1% ao mês

21 de outubro de 2021 - 11:13

Quem investir hoje no título do Tesouro Direto prefixado com vencimento em 2031 leva para casa um retorno de 12,10% ao ano, o equivalente a 0,9563% ao mês

Vamos com calma

Cuidado fiscal: Presidente da Câmara quer PEC dos Precatórios dentro do teto de gastos

24 de agosto de 2021 - 13:06

Arthur Lira (PP-AL) afirma que vai conversar com o STF para que a corte faça a intermediação com o governo para encontrar uma solução

Tendência da bolsa

AGORA: Ibovespa futuro abre em queda de mais de 1% enquanto dólar avança hoje

19 de agosto de 2021 - 9:04

Os bons dias da bolsa brasileira parecem ter ficado para trás e o clima da eleição de 2022 tomou conta das decisões do Congresso

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar