‘BC deve relutar em reduzir juros’ diz chefe do Centro de Estudos Monetários da FGV
Para José Júlio Senna, não há garantia de que o corte de 0,5 ponto porcentual nos juros nos Estados Unidos tenha continuidade e o mais provável é que o Banco Central brasileiro não faça o mesmo na próxima reunião.

Para José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), não há garantia de que o corte de 0,5 ponto porcentual nos juros nos Estados Unidos, feito pelo Federal Reserve (Fed), tenha continuidade e o mais provável é que o Banco Central brasileiro não faça o mesmo na próxima reunião, nos dias 17 e 18 deste mês.
Com a redução, uma resposta aos impactos do coronavírus na economia, as taxas de juros americanas passaram para a faixa de 1% a 1,25%. Senna, que também foi diretor da Dívida Pública e Mercado Aberto do Banco Central (1985), diz acreditar que há limite para os cortes da Selic, os juros básicos, hoje em 4,25% ao ano. A seguir, trechos da entrevista.
A decisão do Fed, de corte de juros, surpreende?
Foi uma surpresa. Tudo começa com o comunicado que foi feito na última sexta-feira. Está longe de ser uma coisa comum o Fed fazer um comunicado tão firme entre duas reuniões. Isso não foi feito só pela cabeça do presidente da instituição, Jerome Powell. Mesmo assim, seria de se esperar um movimento efetivo como o de hoje? Acho que não.
O que levou a essa decisão?
O que estava acontecendo era uma piora bastante significativa das condições financeiras nos Estados Unidos. As Bolsas americanas caíram entre 10% e 12% na semana do comunicado. Como os Estados Unidos são vistos com um porto seguro, o dólar se fortaleceu. Muito provavelmente, o banco central americano também percebeu que houve uma piora de certos spreads de juros e de juros de longo prazo. Um banco central não tem controle direto sobre as condições financeiras, mas esse cenário acabou contribuindo para a decisão.
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O corte de juros nos EUA faz sentido agora?
Cortar juros, em si, é sempre uma decisão controversa. Neste caso, o fato concreto é que na entrevista coletiva, Powell teve dificuldade em explicar como houve uma mudança de atitude tão repentina. Há uma semana, eles haviam dito que o estado da política monetária americana era satisfatório. Essa mudança de rumo ajudou a trazer um pouco desse clima ruim. Tanto que as Bolsas começaram a cair em seguida.
Há uma justificativa, então, para o corte de juros?
Sim, a justificativa para o Fed ter agido é transparente. O que a gente não sabe é se haverá uma continuidade da política de corte de juros nos Estados Unidos. Ainda é cedo para saber. Essa é a questão mais importante. Em outros episódios, em que houve uma reunião extraordinária, não foi incomum ter uma continuidade. A diferença é que nesses casos havia um quadro recessivo e de desemprego em alta, como em 2008. Mas a situação da economia americana agora não é essa. O próprio presidente do Fed destacou que a geração de empregos é robusta.
E os EUA têm se saído melhor do que outros países desenvolvidos, certo?
Sim. Só para comparar, enquanto as economias da zona do euro e do Japão se arrastam, a dos EUA está indo bem. Essa situação não está mudando com a crise do coronavírus, por mais preocupante que ela seja. Mas pode ser que a crise se agrave e o Fed tenha de fazer novos cortes. Política monetária é assim mesmo, você vê o que está acontecendo e toma uma decisão.
Então, pode ter sido só um ajuste nos juros, sem continuidade?
Sim. Tenho sérias dúvidas se esse processo terá continuidade. O Fed tentou passar a ideia de que fez um ajuste mais forte do que o que tem sido comum, mas pode ser que não esteja no radar deles fazer outro corte de juros por agora.
O movimento nos Estados Unidos pode ter impacto no Brasil? O Banco Central pode estender o corte da Selic, os juros básicos?
Primeiro, é preciso lembrar que o BC tem uma preocupação importante com o câmbio, embora não o diga. Ele tem tido sucesso em manter a inflação baixa, há um apoio da política de governo desde a época em que foi implementado o teto de gastos, em 2016, e uma preocupação com o ajuste fiscal. A política do BC tem dado suporte à condução da política monetária.
E, mesmo com a depreciação do real, a inflação não se altera.
Sim, o repasse das altas do dólar para os preços tem sido mais contido, porque a atividade econômica ainda está deprimida. Agora, existem limites para o corte de juros - e esse limite não é o céu. Depreciações cambiais muito fortes, como a que estamos presenciando agora, podem atrapalhar esse processo. Se os juros forem ajustados muito para baixo, a pressão sobre o dólar aumentará.
Então, não necessariamente haverá um nove corte da Selic agora, na próxima reunião, dos dias 17 e 18?
Acredito que o BC deva relutar um pouco em reduzir os juros. Na entrevista coletiva, o presidente do Fed não respondeu se havia uma ação coordenada em outros bancos centrais para corte de juros, mas também não quer dizer que não haja. Se outros BCs seguirem o movimento do Fed, o Banco Central do Brasil pode ter de fazer o mesmo, embora tenha mostrado muito cuidado na administração dos juros até agora.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo e Estadão Conteúdo.
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