Os segredos da bolsa: o embate entre o externo e o local será decisivo para as ações
O cenário político parece passar por uma despressurização, mas o clima lá fora continua tenso — e essa dualidade vai dar o tom às negociações na bolsa
					A semana passada foi de alívio intenso na bolsa e no dólar — a moeda americana agora está abaixo de R$ 5,60, enquanto o Ibovespa zerou as perdas no mês e virou ao campo positivo. E a tendência de recuperação pode continuar nos próximos dias: tudo depende de como se dará a interação entre os fatores externos e domésticos.
Isso porque, ao menos nesse início de semana, há um cenário dual pela frente: por um lado, o clima parece mais ameno em Brasília, o que diminui a percepção de risco político no país; por outro, o cenário internacional está mais turbulento, especialmente no que diz respeito às relações entre EUA e China.
Dito isso, ainda há inúmeros fatores corporativos no radar: a temporada de balanços do primeiro trimestre continua por aqui, com empresas como Magazine Luiza, Eletrobras e Cosan reportando seus números; outras, como a Localiza, também podem ter uma semana mais movimentada, considerando o recente noticiário setorial.
Por fim, ainda teremos uma agenda econômica mais agitada pela frente: o PIB brasileiro no primeiro trimestre e novas manifestações por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) também devem ficar no radar dos investidores.
Sem pausa no exterior
Lá fora, são dois os focos de apreensão: o reaquecimento das tensões entre americanos e chineses e a postura mais firme do governo dos EUA em relação ao Brasil, considerando a escalada nos casos de coronavírus por aqui.
Essa retomada nos atritos entre Washington e Pequim se deve a uma série de fatores. De algumas semanas para cá, o presidente dos EUA, Donald Trump, tem dito que a culpa pela pandemia de coronavírus é da China — segundo ele, as autoridades do país asiático falharam na tarefa de conter a disseminação do vírus pelo mundo.
Leia Também
E, para Trump, essa tese justificaria retaliações comerciais — seja via novas tarifas de importação ou através do descumprimento dos acordos firmados no ano passado. A China, obviamente, não deixa barato: já afirmou que, caso os EUA reiniciem a guerra comercial, irá devolver na mesma moeda.
Um segundo ponto de estranhamento está relacionado a Hong Kong: a China quer retomar o controle da ex-colônia britânica, tirando a autoridade de um dos aliados dos EUA na Ásia — e a Casa Branca já ameaça impor sanções aos chineses caso prossigam com o plano.
Tudo isso serve apenas para criar mais uma camada de incertezas para a economia global, que já luta com os impactos da pandemia. Uma eventual nova fase da guerra comercial ocorreria num momento em que o nível de atividade no mundo já está fortemente deprimido — e, assim, as consequências do conflito seriam ainda maiores.
Caso as tensões entre EUA e China continuem aumentando nos próximos dias, não será surpreendente se os investidores optarem por assumir uma postura mais defensiva, realizando parte dos ganhos recentes nas bolsas — o que, consequentemente, poderia pressionar o Ibovespa e o mercado acionário brasileiro. O dólar também poderia voltar a ser pressionado.
Brasil em foco
Além disso, ainda há um fator específico para o Brasil: a proibição imposta pelos pelos EUA à entrada de viajantes que passaram pelo país nos últimos dias, considerando o aumento ainda expressivo nos casos de coronavírus por aqui.
"O potencial de transmissão do vírus por indivíduos infectados e que não foram identificados ameaça a segurança de nosso sistema de transporte e infraestrutura", disse Trump, ao determinar que pessoas que estiveram no Brasil até duas antes da viagem aos EUA estariam impedidas de entrar no país.
A determinação, que terá início a partir de 28 de maio, é semelhante à adotada pelo governo americano em relação a outros países: voos vindos da China e da Europa com destino aos EUA também foram suspensos, de modo a tentar conter o avanço do coronavírus.
De qualquer maneira, é uma medida que pode trazer desdobramentos ao mercado brasileiro por aumentar o nível de desconforto em relação à maneira como o governo Bolsonaro tem conduzido a pandemia de coronavírus no país.
E, mais especificamente, pode mexer diretamente com o setor de viagens e turismo: por mais que as conexões entre o Brasil e os EUA estejam praticamente zeradas atualmente, uma nova dose de cautela pode afetar as ações da Gol, Azul e CVC, que já têm sofrido imensamente desde o início do surto de coronavírus.
Dito tudo isso: ao menos nesta segunda-feira (25), os fatores domésticos tendem a prevalecer sobre as questões externas no mercado brasileiro. E isso porque Wall Street estará fechada neste início de semana, em comemoração a um feriado local — o que abre espaço para as questões locais dominarem as negociações.
E, por aqui, o clima está longe de ser dos mais pessimistas.
Um dia atrás do outro
No Brasil, a percepção de risco político diminuiu sensivelmente nos últimos dias: a reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e os governadores, contando com a presença dos presidentes da Câmara e do Senado, contribuiu para passar uma mensagem de maior alinhamento entre as diversas esferas do poder.
E, na sexta-feira passada (22), foi divulgado o tão aguardado vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril. Só que, nos minutos seguintes à publicação do material, o mercado mostrou-se pouco preocupado com o conteúdo.
O vídeo veio à público pouco antes das 17h, e, assim, não foi repercutido a tempo na sessão regular de sexta-feira. No entanto, o Ibovespa futuro e o dólar para junho, cujas negociações encerram-se apenas às 18h, conseguiram reagir de maneira imediata — e passaram por um alívio extra.
Eu conversei com alguns agentes financeiros, questionando o comportamento "otimista" do mercado. A percepção foi unânime: por mais que o vídeo mostre um comportamento muitas vezes desagradável do presidente, ele não mostra provas cabais quanto às acusações levantadas por Moro de que Bolsonaro estaria tentando interferir na Polícia Federal.
"Aparentemente, não tem coisa muito relevante", me disse um operador, ainda na noite de sexta-feira. "O mercado gostou porque não aparece nada muito crítico, ao menos num primeiro momento".
Enquanto o Ibovespa fechou o pregão de sexta-feira em baixa de 1,03%, o Ibovespa futuro para junho (INDM20) terminou em alta de 1,30% — a virada ocorreu entre 17h e 18h, período pós-vídeo. E, considerando que os mercados americanos estarão fechados, é razoável imaginar que a bolsa irá se ajustar positivamente a esse cenário.
Agenda cheia
No front da agenda econômica, teremos uma semana mais agitada, tanto no Brasil quanto no exterior. Por aqui, destaque para os dados do PIB no primeiro trimestre de 2020; lá fora, vale ficar atento às manifestações do Fed e aos dados de atividade e confiança na Europa:
- Segunda-feira (25)
- EUA: mercados fechados (feriado)
 - Alemanha:
- PIB no 1º trimestre
 - Índice IFO de sentimento das empresas em maio
 
 - Reino Unido: mercados fechados (feriado)
 
 - Terça-feira (26)
- Brasil: IPCA-15 em maio
 - EUA:
- Índice de atividade do Fed Chicago em abril
 - Confiança do consumidor em maio
 - Vendas de moradias novas em abril
 
 - Alemanha: índice GFK de confiança do consumidor em junho
 
 - Quarta-feira (27)
- EUA: Livro bege do Fed
 
 - Quinta-feira (28)
- Brasil: Pnad contínua (trimestre encerrado em abril)
 - EUA: 
- PIB no 1º trimestre (segunda estimativa)
 - Novos pedidos de seguro-desemprego na semana até 23/05
 
 - Alemanha: inflação (CPI) preliminar em maio
 - Reino Unido: Índice GFK de confiança do consumidor em maio
 - Zona do Euro: índice de confiança do consumidor em maio
 
 - Sexta-feira (29)
- Brasil: PIB no 1º trimestre
 - EUA: Jerome Powell, presidente do Fed, faz discurso
 - Alemanha: vendas no varejo em abril
 - Zona do Euro: Inflação (CPI) preliminar em maio
 
 
Ainda tem balanços
No lado corporativo, a temporada de balanços do primeiro trimestre continua em andamento no Brasil. E, ao contrário da semana passada, teremos um número relativamente alto de empresas do Ibovespa divulgando seus números.
Meu colega Kaype Abreu fez um resumo e conta o que esperar dos dados do Magazine Luiza, Cosan e Iguatemi — para ler a prévia, é só clicar aqui. Veja abaixo a agenda de balanços da semana:
- Segunda-feira (25): Magazine Luiza;
 - Terça-feira (26): Iguatemi;
 - Quarta-feira (27): Rumo;
 - Quinta-feira (28): Cia Hering, Eletrobras e MRV;
 - Sexta-feira (29): Cosan.
 
Sob pressão
Por fim, vale ficar atento às ações do setor de locação de veículos, como Localiza ON (RENT3), Movida ON (MOVI3) e Unidas ON (LCAM3). Isso porque a Hertz, uma das mais antigas empresas do segmento, entrou com um pedido de recuperação judicial nos EUA.
Não há consequências diretas para o Brasil, já que a Localiza comprou as operações da Hertz no país ainda em 2017. No entanto, a notícia pode mexer com a confiança dos investidores no setor e aumentar a cautela quanto às ações dessas empresas.
Ainda em relação à Localiza, é preciso ficar atento a um possível efeito secundário. O que o acordo firmado entre as partes também previa uma "cooperação de de marketing": no Brasil, passou a ser usada a marca 'Localiza Hertz'; no exterior, a marca 'Localiza' seria inserida nas lojas das Hertz em alguns aeroportos nos EUA e na Europa.
Ibovespa alcança o 5º recorde seguido, fecha na marca histórica de 149 mil pontos e acumula ganho de 2,26% no mês; dólar cai a R$ 5,3803
O combo de juros menores nos EUA e bons desempenhos trimestrais das empresas pavimenta o caminho para o principal índice da bolsa brasileira superar os 150 mil pontos até o final do ano, como apontam as previsões
Maior queda do Ibovespa: o que explica as ações da Marcopolo (POMO4) terem desabado após o balanço do terceiro trimestre?
As ações POMO4 terminaram o dia com a maior queda do Ibovespa depois de um balanço que mostrou linhas abaixo do que os analistas esperavam; veja os destaques
A ‘brecha’ que pode gerar uma onda de dividendos extras aos acionistas destas 20 empresas, segundo o BTG
Com a iminência da aprovação do projeto de lei que taxa os dividendos, o BTG listou 20 empresas que podem antecipar pagamentos extraordinários para ‘fugir’ da nova regra
Faltou brilho? Bradesco (BBDC4) lucra mais no 3T25, mas ações tombam: por que o mercado não se animou com o balanço
Mesmo com alta no lucro e na rentabilidade, o Bradesco viu as ações caírem no exterior após o 3T25. Analistas explicam o que pesou sobre o resultado e o que esperar daqui pra frente.
Montanha-russa da bolsa: a frase de Powell que derrubou Wall Street, freou o Ibovespa após marca histórica e fortaleceu o dólar
O banco central norte-americano cortou os juros pela segunda vez neste ano mesmo diante da ausência de dados econômicos — o problema foi o que Powell disse depois da decisão
Ouro ainda pode voltar para as máximas: como levar parte desse ganho no bolso
Um dos investimentos que mais renderam neste ano é também um dos mais antigos. Mas as formas de investir nele são modernas e vão de contratos futuros a ETFs
Ibovespa aos 155 mil pontos? JP Morgan vê três motores para uma nova arrancada da bolsa brasileira em 2025
De 10 de outubro até agora, o índice já acumula alta de 5%. No ano, o Ibovespa tem valorização de quase 24%
Santander Brasil (SANB11) bate expectativa de lucro e rentabilidade, mas analistas ainda tecem críticas ao balanço do 3T25. O que desagradou o mercado?
Resultado surpreendeu, mas mercado ainda vê preocupações no horizonte. É hora de comprar as ações SANB11?
Ouro tomba depois de máxima, mas ainda não é hora de vender tudo: preço pode voltar a subir
Bancos centrais globais devem continuar comprando ouro para se descolar do dólar, diz estudo; analistas comentam as melhores formas de investir no metal
IA nas bolsas: S&P 500 cruza a marca de 6.900 pontos pela 1ª vez e leva o Ibovespa ao recorde; dólar cai a R$ 5,3597
Os ganhos em Nova York foram liderados pela Nvidia, que subiu 4,98% e atingiu uma nova máxima. Por aqui, MBRF e Vale ajudaram o Ibovespa a sustentar a alta.
‘Pacman dos FIIs’ ataca novamente: GGRC11 abocanha novo imóvel e encerra a maior emissão de cotas da história do fundo
Com a aquisição, o fundo imobiliário ultrapassa R$ 2 bilhões em patrimônio líquido e consolida-se entre os maiores fundos logísticos do país, com mais de 200 mil cotistas
Itaú (ITUB4), BTG (BPAC11) e Nubank (ROXO34) são os bancos brasileiros favoritos dos investidores europeus, que veem vida ‘para além da eleição’
Risco eleitoral não pesa tanto para os gringos quanto para os investidores locais; estrangeiros mantêm ‘otimismo cauteloso’ em relação a ativos da América Latina
Gestor rebate alerta de bolha em IA: “valuation inflado é termo para quem quer ganhar discussão, não dinheiro”
Durante o Summit 2025 da Bloomberg Linea, Sylvio Castro, head de Global Solutions no Itaú, contou por que ele não acredita que haja uma bolha se formando no mercado de Inteligência Artificial
Vamos (VAMO3) lidera os ganhos do Ibovespa, enquanto Fleury (FLRY3) fica na lanterna; veja as maiores altas e quedas da semana
Com a ajuda dos dados de inflação, o principal índice da B3 encerrou a segunda semana seguida no azul, acumulando alta de 1,93%
Ibovespa na China: Itaú Asset e gestora chinesa obtêm aprovação para negociar o ETF BOVV11 na bolsa de Xangai
Parceria faz parte do programa ETF Connect, que prevê cooperação entre a B3 e as bolsas chinesas, com apoio do Ministério da Fazenda e da CVM
Envelhecimento da população da América Latina gera oportunidades na bolsa — Santander aponta empresas vencedoras e quem perde nessa
Nova demografia tem potencial de impulsionar empresas de saúde, varejo e imóveis, mas pressiona contas públicas e produtividade
Ainda vale a pena investir nos FoFs? BB-BI avalia as teses de seis Fundos de Fundos no IFIX e responde
Em meio ao esquecimento do segmento, o analista do BB-BI avalia as teses de seis Fundos de Fundos que possuem uma perspectiva positiva
Bolsas renovam recordes em Nova York, Ibovespa vai aos 147 mil pontos e dólar perde força — o motivo é a inflação aqui e lá fora. Mas e os juros?
O IPCA-15 de outubro no Brasil e o CPI de setembro nos EUA deram confiança aos investidores de que a taxa de juros deve cair — mais rápido lá fora do que aqui
Com novo inquilino no pedaço, fundo imobiliário RBVA11 promete mais renda e menos vacância aos cotistas
O fundo imobiliário RBVA11, da Rio Bravo, fechou contrato de locação com a Fan Foods para um restaurante temático na Avenida Paulista, em São Paulo, reduzindo a vacância e ampliando a diversificação do portfólio
Fiagro multiestratégia e FoFs de infraestrutura: as inovações no horizonte dos dois setores segundo a Suno Asset e a Sparta
Gestores ainda fazem um alerta para um erro comum dos investidores de fundos imobiliários que queiram alocar recursos em Fiagros e FI-Infras
