12 de março de 2020: o dia em que os mercados entraram em curto-circuito
O Ibovespa entrou em circuit breaker duas vezes nesta quinta-feira, algo que não acontecia desde 2008. Ao fim do dia, caiu mais de 14%, marcando o terceiro pior pregão desde o início do plano Real

O Ibovespa e as bolsas globais já vinham numa semana terrível. Com o coronavírus se espalhando num ritmo cada vez maior, o temor quanto a um impacto violento na economia cresce minuto a minuto — o que, consequentemente, só eleva a aversão ao risco dos investidores.
No entanto, nem mesmo os mais pessimistas previam o curto-circuito visto nos mercados mundiais nesta quinta-feira (11). Em meio ao caos provocado pelo surto da doença — e à percepção de que as autoridades globais têm reagido de maneira pouco enfática, considerando a gravidade da situação —, os índices acionários desabaram numa magnitude poucas vezes vista na história.
O Ibovespa, por exemplo, abriu em forte baixa e, em poucos minutos, bateu os 10% de valorização, acionando o circuit breaker pela terceira vez somente nesta semana. Após a pausa de 30 minutos, o índice continuou em declínio, atingindo os 15% de queda ainda durante a manhã — e disparando o botão do pânico pela segunda vez no pregão.
Uma situação como essa, de dois circuit breakers numa mesma sessão, só havia acontecido duas vezes: em outubro de 2008, durante a crise financeira global; e em setembro de 1998, em meio à moratória da Rússia.
E olha que o Ibovespa ficou a um triz de uma terceira parada: no pior momento do dia, chegou a derreter 19,59%, indo aos 68.488,29 pontos — a menor pontuação intradiária desde 17 de agosto de 2017 (67.976,00 pontos).
As quedas só não foram ainda maiores porque, no meio da tarde, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou um programa de injeção de liquidez nos mercados de até US$ 1,5 trilhão, por meio da recompra de títulos. A sinalização foi suficiente para trazer algum alívio aos investidores, mas nem de longe reverteu o quadro de preocupação.
Leia Também
Ao fim do dia, o Ibovespa marcava 72.582,53 pontos, em baixa de 14,78% — segundo dados da Economatica levantados a pedido do Seu Dinheiro, foi o terceiro pior pregão da bolsa brasileira desde o início do plano Real. Agora, o índice acumula perdas de 25,93% na semana e de 37,24% em 2020.
Lá fora, a situação não foi muito diferente. Na Europa, as principais praças acionárias fecharam em baixa de mais de 10%; nos Estados Unidos — onde o circuit breaker também foi acionado — o Dow Jones fechou em baixa de 9,99%, o S&P 500 recuou 9,92%e o Nasdaq teve queda de 9,43%.
No câmbio, o dia também foi caótico: o dólar à vista disparou 6,47% logo na abertura, chegando ao nível de R$ 5,0280 — a moeda americana nunca havia ultrapassado a barreira de R$ 4,80.
No entanto, depois de muitas atuações do Banco Central (BC) e do alívio do Fed, o dólar à vista se afastou das máximas, fechando em alta de "apenas" 1,41%, aos R$ 4,7891.

Caos global
Os desdobramentos do surto de coronavírus continuaram trazendo enorme cautela aos mercados nesta quinta-feira. Lá fora, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a suspensão das viagens entre o país e a Europa, de modo a tentar conter o avanço do coronavírus — uma medida que gerou ainda mais preocupação e deu força à leitura de que o surto da doença causará fortes impactos à economia mundial.
Essa situação, obviamente, impacta diretamente as companhias aéreas do mundo — e gera reações imediatas por parte do mercado financeiro. Em Wall Street, as ações da Delta (DAL) despencaram 21%, as da American Airlines (AAL) caíram 17,28% e as da United Airlines (UAL) desabaram 24,85%.
Na Alemanha, os papéis da Lufthansa (LHA.DE) fecharam em baixa de 14,04%; na França, os ativos da Air France-KLM (AF.PA) recuaram 12,69%.
E, no Brasil, a tendência foi a mesma: por aqui, as ações PN da Gol (GOLL4) despencaram 36,29%, enquanto os ativos PN da Azul (AZUL4) derreteram 32,89%. Por mais que as companhias brasileiras não operem rotas entre os EUA e a Europa, o setor aéreo é altamente interligado — há alianças e acordos de compartilhamentos de voos em escala global.
Além disso, as ações das aéreas brasileiras também são diretamente impactadas pelo salto no dólar à vista, uma vez que uma fatia relevante de suas linhas de custos é denominada na moeda americana. Tanto o combustível de aviação quanto os gastos com manutenção em aeronaves são dolarizados.
O anúncio surpreendente de Trump, somado à percepção de que a doença continua a se espalhar pelo mundo — já são mais e 127 mil contaminados e 4,7 mil mortos —, foi decisivo para elevar o pessimismo dos investidores, que já começam a ver os impactos da pandemia na vida real.
No mundo todo, eventos esportivos têm sido cancelados, adiados ou, no máximo, disputados com portões fechados; shows, espetáculos e qualquer tipo de ocasião que possa juntar aglomerações também têm sido limadas do calendário, dado o clima de medo que toma conta do globo.
E, nesse cenário, já surgem dúvidas quanto à eficácia de eventuais medidas de estímulo econômico — afinal, não há crédito extra que resolva um ambiente que as pessoas não consomem ou não demandam serviços por causa de um problema de saúde pública.
Turbulência doméstica
Por aqui, o mercado mostra-se bastante tenso com os atritos entre governo e Congresso: ontem, foi derrubado o veto imposto pelo presidente Jair Bolsonaro à elevação do BPC, criando um gasto adicional da ordem de R$ 20 bilhões por ano ao orçamento do país.
Esse revés no Congresso ameaça diretamente o cumprimento do teto de gastos do governo, além de representar um grande passo para trás na questão do ajuste fiscal. Além disso, a deterioração na relação entre os poderes cria ainda mais incertezas no front das reformas e outras pautas econômicas.

Dia caótico
No câmbio, a situação foi igualmente tensa: o dólar à vista abriu em forte alta e chegou a bater os R$ 5,0280 no pico do estresse (+6,47%). O Banco Central, contudo, atuou de maneira rápida, promovendo leilões no segmento à vista, o que diminui parte da pressão.
Essa ação do BC brasileiro, somada à injeção de liquidez por parte do Fed, afastou a moeda americana das máximas: fechando na casa de R$ 4,78 — um novo recorde de encerramento, em termos nominais.
Entre as curvas de juros, o tom também foi de forte aversão ao risco, com um movimento amplo de abertura das curvas mais curtas. Os DIs com vencimento em janeiro de 2021, por exemplo, saltaram de 4,21% para 4,95% — o que, na prática, aponta para uma aposta na alta da Selic ao fim do ano.
Veja abaixo como ficaram os principais DIs hoje:
- Janeiro/2021: de 4,21% para 4,95%;
- Janeiro/2022: de 5,03% para 6,20%;
- Janeiro/2027: de 7,60% para 8,88%.
Perdas massivas
Nenhuma ação do Ibovespa fechou em alta nesta quinta-feira. Veja abaixo as cinco maiores quedas do índice:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
GOLL4 | Gol PN | 9,97 | -36,29% |
AZUL4 | Azul PN | 20,30 | -32,89% |
CVCB3 | CVC ON | 13,64 | -29,11% |
IRBR3 | IRB ON | 9,15 | -27,95% |
BPAC11 | BTG Pactual units | 32,48 | -26,86% |
O detalhe da inflação de abril que pode tirar o sono de Galípolo e levar o Copom a esticar ainda mais a corda dos juros
Inflação medida pelo IPCA desacelerou de 0,56% para 0,43% na passagem de março para abril de 2025, praticamente em linha com a mediana das estimativas dos analistas
Ações da Gol (GOLL4) derretem mais de 30% na B3 após aérea propor aumento de capital bilionário
A aérea anunciou nesta manhã que um novo aumento de capital entre R$ 5,32 bilhões e R$ 19,25 bilhões foi aprovado pelo conselho de administração.
“O Itaú nunca esteve tão preparado para enfrentar desafios”, diz CEO do bancão. É hora de comprar as ações ITUB4 após o balanço forte do 1T25?
Para Milton Maluhy Filho,após o resultado trimestral forte, a expressão da vez é um otimismo cauteloso, especialmente diante de um cenário macroeconômico mais apertado, com juros nas alturas e desaceleração da economia em vista
Uma janela para a bolsa: Ibovespa busca novos recordes em dia de IPCA e sinais de novo estágio da guerra comercial de Trump
Investidores também repercutem a temporada de balanços do primeiro trimestre, com destaque para os números do Itaú e do Magazine Luiza
Multiplicação histórica: pequenas empresas da bolsa estão prestes a abrir janela de oportunidade
Os ativos brasileiros já têm se valorizado nas últimas semanas, ajudados pelo tarifaço de Trump e pelas perspectivas mais positivas envolvendo o ciclo eleitoral local — e a chance de queda da Selic aumenta ainda mais esse potencial de valorização
Itaú (ITUB4) tem lucro quase 14% maior, a R$ 11,1 bilhões, e mantém rentabilidade em alta no 1T25
Do lado da rentabilidade, o retorno sobre o patrimônio líquido médio atingiu a marca de 22,5% no primeiro trimestre; veja os destaques
Ibovespa bate máxima histórica nesta quinta-feira (8), apoiado pelos resultados do Bradesco (BBDC4) e decisões da Super Quarta
Antes, o recorde intradiário do índice era de 137.469,27 pontos, alcançado em 28 de agosto do ano passado
Bradesco (BBDC4) salta 15% na B3 com balanço mais forte que o esperado, mas CEO não vê “surpresas arrebatadoras” daqui para frente. Vale a pena comprar as ações do banco?
Além da surpresa com rentabilidade e lucro, o principal destaque positivo do balanço veio da margem líquida — em especial, o resultado com clientes. É hora de colocar BBDC4 na carteira?
Muito acima da Selic: 6 empresas pagam dividendos maiores do que os juros de 14,75% — e uma delas bateu um rendimento de 76% no último ano
É difícil competir com a renda fixa quando a Selic está pagando 14,75% ao ano, mas algumas empresas conseguem se diferenciar com suas distribuições de lucros
Ambev (ABEV3) tem lucro estável no 1º trimestre e anuncia R$ 2 bilhões em dividendos; ações saltam na B3
Lucro no 1T25 foi de R$ 3,8 bilhões, praticamente estável na comparação anual e em linha com o consenso de mercado
Trump anuncia primeiro acordo tarifário no âmbito da guerra comercial; veja o que se sabe até agora
Trump utilizou a rede social Truth Social para anunciar o primeiro acordo tarifário e aproveitou para comentar sobre a atuação de Powell, presidente do Fed
Não há escapatória: Ibovespa reage a balanços e Super Quarta enquanto espera detalhes de acordo propalado por Trump
Investidores reagem positivamente a anúncio feito por Trump de que vai anunciar hoje o primeiro acordo no âmbito de sua guerra comercial
Itaú Unibanco (ITUB4) será capaz de manter o fôlego no 1T25 ou os resultados fortes começarão a fraquejar? O que esperar do balanço do bancão
O resultado do maior banco privado do país está marcado para sair nesta quinta-feira (8), após o fechamento dos mercados; confira as expectativas dos analistas
Retorno da renda fixa chegou ao topo? Quanto rendem R$ 100 mil na poupança, em Tesouro Selic, CDB e LCI com a Selic em 14,75%
Copom aumentou a taxa básica em mais 0,50 ponto percentual nesta quarta (7), elevando ainda mais o retorno das aplicações pós-fixadas; mas ajuste pode ser o último do ciclo de alta
Mesmo com apetite ao risco menor, Bradesco (BBDC4) supera expectativas e vê lucro crescer quase 40% no 1T25, a R$ 5,9 bilhões
Além do aumento na lucratividade, o banco também apresentou avanços na rentabilidade, com inadimplência e provisões contidas; veja os destaques
Selic chega a 14,75% após Copom elevar os juros em 0,5 ponto percentual — mas comitê não crava continuidade do ciclo de alta
Magnitude do aumento já era esperada pelo mercado e coloca a taxa básica no seu maior nível em quase duas décadas
Bitcoin (BTC) sobrevive ao Fed e se mantém em US$ 96 mil mesmo sem sinal de corte de juros no horizonte
Outra notícia, que também veio lá de fora, ajudou os ativos digitais nas últimas 24 horas: a chance de entendimento entre EUA e China sobre as tarifas
Não vai meter a colher onde não é chamado: Fed mantém taxa de juros inalterada e desafia Trump
Como era amplamente esperado, o banco central norte-americano seguiu com os juros na faixa entre 4,25% e 4,50%, mas o que importa nesta quarta-feira (7) é a declaração de Powell após a decisão
Klabin (KLBN11) avança entre as maiores altas do Ibovespa após balanço do 1T25 e anúncio de R$ 279 milhões em dividendos
Analistas do Itaú BBA destacaram a geração de fluxo de caixa livre (FCF) e a valorização do real frente ao dólar como motores do otimismo
Conselho de administração da Mobly (MBLY3) recomenda que acionistas não aceitem OPA dos fundadores da Tok&Stok
Conselheiros dizem que oferta não atende aos melhores interesses da companhia; apesar de queda da ação no ano, ela ainda é negociada a um preço superior ao ofertado, o que de fato não justifica a adesão do acionista individual à OPA