Há dias nos mercados financeiros em que pouco resta a fazer a não ser esperar pelo inevitável, seja naqueles pregões nos quais o céu é o limite ou naqueles em que o fundo do poço parece equipado com um alçapão frio e úmido.
Hoje foi um dia assim. Mal a segunda-feira amanheceu chuvosa e nublada e já era possível antecipar que os principais índices de ações do planeta iriam levar um tombo. Não por causa da meteorologia, claro.
Considerando-se o clima azedo que prevaleceu durante todo o dia, o resultado final até que nem foi tão ruim na B3, mas pra bom também não serve.
O Ibovespa iniciou a semana em queda e o dólar subiu em relação ao real repercutindo principalmente a forte aversão ao risco observada nos mercados internacionais.
Tenebrosas transações
A revelação de que JPMorgan, Deutsche Bank, HSBC, Standard Chartered Bank e Bank of New York Mellon teriam movimentado mais de US$ 2 trilhões em operações sinalizadas como suspeitas pelos organismos de controle das próprias instituições financeiras, entre 1999 e 2017, abalou os mercados financeiros em escala global nesta segunda-feira.
As operações suspeitas denunciadas em reportagem do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos incluem lavagem de dinheiro e diversos outros crimes financeiros.
Apesar do impacto visto hoje nas ações do setor financeiro, analistas consideram que a denúncia não deve levar a um aperto regulatório no Brasil pelo fato de as medidas de combate à lavagem de dinheiro por aqui serem consideradas mais rigorosas do que em outros países.
Também causaram preocupação o novo aumento de casos do novo coronavírus na Europa e a notícia do falecimento da juíza federal norte-americana Ruth Bader Ginsberg.
O aumento dos casos de covid-19 na Europa teve impacto principalmente sobre as ações ligadas a viagens e turismo. Já os papéis relacionados com comércio eletrônico subiram em bloco diante da perspectiva de aumento de vendas em caso de novas medidas de restrição.
Enquanto isso, a vaga aberta na Suprema Corte dos EUA com a morte da magistrada tende a dar início a uma acirrada disputa pela nomeação restando apenas algumas semanas para as eleições presidenciais norte-americanas.
Com isso, as bolsas europeias fecharam em queda acentuada. Já os principais índices de ações de Wall Street encerraram no vermelho, mas longe das mínimas da sessão. O índice Dow Jones recuou 1,84%, o S&P-500 caiu 1,16% e o dólar oscilou 0,13% para baixo.
O Ibovespa, por sua vez, passou a sessão quase inteira disputando o nível de suporte de 96 mil pontos até terminar perto dos 97 mil. Na conclusão dos negócios, o principal índice do mercado brasileiro de ações recuava 1,32%, aos 96.990,72 pontos, também distante das mínimas do dia, mas no menor nível desde 3 de julho.
Confira a seguir as maiores altas e as maiores quedas do dia entre os componentes do Ibovespa
MAIORES ALTAS
- B2W Digital ON (BTOW3) +4,01%
- SulAmérica Unit (SULA11) +2,86%
- Weg ON (WEGE3) +2,27%
- Magalu ON (MGLU3) +1,77%
- Braskem PN (BRKM5) +1,47%
MAIORES QUEDAS
- Gol PN (GOLL4) -8,46%
- Azul PN (AZUL4) -7,80%
- Embraer ON (EMBR3) -4,79%
- EcoRodovias ON (ECOR3) -4,54%
- Iguatemi ON (IGTA3) -4,51%
Dólar e juro
Enquanto o Ibovespa caía, o dólar subia em relação ao real repercutindo a aversão ao risco vinda de fora.
O movimento fortaleceu a moeda norte-americana praticamente ante todas as divisas mais líquidas, mas passou a perder um pouco de força no meio da tarde desta segunda-feira.
Ao término da sessão, o dólar era cotado a R$ 5,4005, distante das máximas, registrando um avanço de 0,43% em relação ao fechamento anterior.
Já os contratos de juros futuros subiram acompanhando o dólar, especialmente nos trechos mais longos, mas encerraram perto das mínimas da sessão.
Confira as taxas negociadas de alguns dos principais contratos negociados na B3:
- Janeiro/2022: de 2,970% para 3,000%;
- Janeiro/2023: de 4,380% para 4,440%;
- Janeiro/2025: de 6,300% para 6,400%;
- Janeiro/2027: de 7,280% para 7,340%.
Agenda da semana inspira cautela
O noticiário negativo do dia somou-se a uma agenda que tem todos os ingredientes para inspirar cautela tanto no Brasil quanto no exterior no restante da semana.
Nos EUA, o presidente do Federal Reserve Bank (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, prestará testemunhos perante o Congresso dos EUA amanhã, na quarta e na quinta-feiras.
Por aqui, o Banco Central (BC) divulgará amanhã a ata da reunião do Comitê de Política Monetária realizada na semana passada. Na quinta-feira, o BC publicará seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que será seguido de uma entrevista coletiva do presidente da autoridade monetária brasileira, Roberto Campos Neto.
A agenda envolvendo o Fed e o BC coincide com um momento no qual a fé dos investidores nos banqueiros centrais está sendo testada em meio a temores de que os estímulos financeiros concedidos até agora não sejam suficientes para fazer frente à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.