Como era de se esperar, as ações ON da Embraer (EMBR3) apareceram entre os destaques da bolsa brasileira nesta segunda-feira (27), em meio ao cancelamento da parceria entre a empresa e a Boeing no setor de aviação comercial — e, mesmo após as fortes quedas da semana passada, os papéis da companhia continuaram afundando.
Os ativos da Embraer recuaram 7,49% hoje, a R$ 7,66, e apresentaram o pior desempenho de todo o Ibovespa nesta segunda-feira — o índice fechou em alta de 3,86%. Com a forte baixa de hoje, as ações da companhia já acumulam perdas de mais de 62% em 2020.
A operação entre Embraer e Boeing foi anunciada em 2018 — pelos termos originais do acerto, a empresa americana compraria 80% da divisão de aviação comercial da fabricante brasileira, por US$ 4,2 bilhões, numa negociação que se arrastou por muitos e muitos meses.
A negociação fazia sentido do ponto de vista estratégico para ambas as partes: a Embraer fabrica aviões de pequeno e médio porte, enquanto a Boeing tem foco nas aeronaves de grande capacidade. Juntas, elas conseguiriam atender a diferentes demandas das companhias aéreas globais e fariam frente à parceria firmada entre Airbus e Bombardier.
Só que, já na sexta-feira passada (24), começaram a surgir rumores de que as tratativas entre as partes não corriam bem — o que já fez as ações da Embraer despencarem mais de 10%. E, de fato, a Boeing confirmou o cancelamento da parceria no sábado pela manhã, afirmando que os brasileiros não cumpriram algumas pré-condições para a assinatura.
A Embraer, por outro lado, alega que a Boeing 'fabricou falsas alegações' para não cumprir com suas obrigações — a empresa americana vem sofrendo enorme pressão financeira, impactada pela crise do 737 Max e pela menor demanda global no setor aéreo por causa da pandemia de coronavírus.
Independente de quem esteja falando a verdade, fato é que a tão aguardada parceria não existe mais — e, após tanto tempo de expectativa, os investidores reagem negativamente ao cancelamento do acordo.
Em relatório, o analista Lucas Marquiori, do BTG Pactual, afirma que as perspectivas de curto prazo para a Embraer ficam mais turvas com o fim da parceria com a Boeing, considerando que toda a empresa já se organizava para uma realidade em que grande parte da divisão de aviação comercial seria vendida.
No entanto, o analista também pondera que as ações da Embraer já estão em níveis de preço bastante descontados — tanto o fim do acordo com a Boeing quanto o cenário de incertezas no setor aéreo já estariam mais que precificados. "O mercado, agora, irá reavaliar o valuation da Embraer enquanto uma empresa 'autônoma'".
Também em relatório, os analistas Myles Walton, Louis Raffetto e Emilee Deutchman, do UBS, ponderam que há a possibilidade de outras empresas se interessarem num potencial acordo com a Embraer — especialmente algum player da China que esteja interessado em ganhar terreno na indústria aérea global.

Via Varejo aposta no e-commerce
Na ponta oposta do Ibovespa, destaque para as ações ON da Via Varejo (VVAR3), em forte alta de 18,65%. Mais cedo, a companhia anunciou a compra da ASAPLog, uma empresa do setor de logística com foco no e-commerce.
A transação reforça a leitura de que a nova administração da Via Varejo está focada no desenvolvimento do comércio eletrônico, tentando recuperar o tempo perdido.
No passado, enquanto os rivais Magazine Luiza e B2W apostaram no e-commerce e obtiveram enorme sucesso na empreitada, a dona das Casas Bahia e do Ponto Frio ficou para trás, permanecendo focada num modelo de lojas físicas.
Em comunicado, a Via Varejo diz que a aquisição da ASAPLog é mais um passo importante no processo de transformação digital, dado o potencial de fortalecimento da malha logística — segundo a companhia, há a expectativa de redução de custos e do prazo de entrega das mercadorias vendidas on-line.
As ações do setor de varejo têm conseguido reportar bons desempenhos desde a semana passada, em meio à expectativa de reabertura gradual do comércio em São Paulo e outros grandes centros urbanos a partir de maio.
No acumulado de abril, os papéis da Via Varejo acumulam ganhos de mais de 46% — Magazine Luiza ON (MGLU3) avança 26%, B2W ON (BTOW3) tem alta de 56% e Lojas Americanas PN (LAME4) sobe 33%.
Lucro da Hypera em baixa
Voltando à ponta negativa, Hypera ON (HYPE3) recuou 2,27%. A empresa reportou lucro líquido de R$ 238,2 milhões, queda de 25,8% em relação ao mesmo período de 2019.
A receita líquida subiu 112,5% na mesma base de comparação, mas vale ressaltar que os três primeiros meses de 2019 foram marcados por diversos ajustes no balanço da empresa.
Em relatório, os analistas Luiz Guanais e Gabriel Savi, do BTG Pactual, destacam que a receita líquida ficou ligeiramente abaixo do projetado — eles ponderam que a Hypera tende a enfrentar pressão no curto prazo, mas que as recentes aquisições fortalecem o portfólio da companhia num horizonte mais longo.
Top 5
Veja abaixo as cinco ações de melhor desempenho do Ibovespa hoje:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
VVAR3 | Via Varejo ON | 7,57 | +18,65% |
BRKM5 | Braskem PNA | 21,49 | +13,52% |
BRFS3 | BRF ON | 20,56 | +10,84% |
TOTS3 | Totvs ON | 58,44 | +10,06% |
MRFG3 | Marfrig ON | 11,50 | +10,05% |
Confira também as maiores baixas do índice:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
EMBR3 | Embraer ON | 7,66 | -7,49% |
QUAL3 | Qualicorp ON | 25,05 | -2,45% |
HYPE3 | Hypera ON | 29,33 | -2,27% |
SMLS3 | Smiles ON | 13,90 | -0,36% |
COGN3 | Cogna ON | 4,60 | -0,22% |