Fitch diz que Previdência pode diluir mais do que o esperado e já fala em cortar rating do Brasil
Agência de risco alertou o governo que pode optar por dois caminhos: ou reduzir o rating ou mudar a perspectiva da avaliação

O diretor executivo da Fitch Ratings, Rafael Guedes, afirmou nesta quarta-feira, 17, na abertura de evento da instituição, que os recentes eventos em Brasília e o aumento do ruído político indicam que a reforma da Previdência pode demorar mais tempo para ser aprovada e ser mais diluída que o inicialmente esperado.
Guedes disse que a oposição sozinha não tem condições de barrar as reformas do presidente Jair Bolsonaro, incluindo a da Previdência. Ao mesmo tempo, os partidos aliados ao governo também não têm condições de aprovar as medidas sozinhos.
"Bolsonaro está perdendo seu capital político, em apenas três meses", disse ele, destacando que no governo mudou o jeito de fazer política, mas mostra inexperiência ao lidar com o Congresso.
"A reforma da Previdência é necessária, mas certamente não suficiente para a estabilização da dívida brasileira", disse Guedes. O diretor da Fitch ressaltou que a forte deterioração das contas do governo e o fraco crescimento econômico levaram a cortes rápidos do rating soberano brasileiro desde 2015, quando o País perdeu a classificação grau de investimento.
Novos cortes no radar?
Em sua avaliação, o diretor executivo da Fitch soltou um alerta ao governo com relação ao rating soberano do Brasil. Segundo ele, a agência pode fazer uma "ação negativa" na nota brasileira, seja através de uma redução do rating ou uma mudança na perspectiva da avaliação, caso o governo Bolsonaro mostre "inércia ou inabilidade ou falta de vontade" para avançar na aprovação das reformas.
"A Fitch vai monitorar a vontade política e a capacidade de se passar estas reformas", disse o executivo. Entre os pontos, Guedes destacou que os analistas vão avaliar se o governo avança em medidas como a independência do Banco Central e a melhora do ambiente de negócios, que faça o Brasil voltar a crescer de forma mais sustentável.
"O que seria positivo para o rating do Brasil? Uma melhora do ambiente que facilite a aprovação das reformas que endereçassem o problema da sustentabilidade da dívida", disse o executivo. Guedes ressaltou que é essencial no Brasil uma consolidação fiscal que mostre melhora do endividamento ao longo do tempo e crie nos agentes uma perspectiva de crescimento sustentável.
Entre os riscos para o cenário, Guedes observou que as investigações de corrupção podem atrasar o processo de tramitação das reformas, incluindo a da Previdência.
"Todas as reformas são desafiadoras e a sociedade brasileira demonstra que não quer enfrentar este problema", disse ele, citando recentes pesquisas de opinião que mostram baixa aprovação para as privatizações e as mudanças previdenciárias. "Isso tem um certo eco no Congresso, mesmo que o Congresso esteja claramente ciente da necessidade das reformas."
Dívida estável só em 2022
Guedes também ressaltou que, por conta da forte deterioração das contas públicas brasileiras, mesmo no cenário mais positivo, a dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) pode se estabilizar só a partir de 2022.
A Fitch prevê que a relação dívida/PIB deve seguir em alta, de 77% no ano passado, para 81% em 2019 e 84% em 2020, um dos piores níveis entre países emergentes pares do Brasil.
O executivo disse que, além da reforma da Previdência, é preciso ações adicionais do governo para fazer a dívida parar de crescer, incluindo outras medidas para cortar gastos e ainda medidas para ampliar as receitas. "A Previdência é necessária, mas certamente não suficiente para a estabilização da dívida brasileira", disse Guedes.
Vale lembrar que a nota do Brasil pela Fitch tem perspectiva estável, que reflete fortes reservas internacionais, redução do déficit da conta corrente e moderada recuperação da economia. Ao mesmo tempo, o endividamento crescente limita uma melhora da nota.
*Com Estadão Conteúdo.
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