Próxima parada: 100 mil pontos — Exuberância irracional?
Se você estiver pesado demais em coisas arriscadas, não vai ter jeito. Nesse dia potencialmente trágico para a Bolsa, você vai entrar em pânico junto com todo mundo. Portanto, tenha um plano desde já.

“Claramente, a inflação sustentavelmente baixa implica menor incerteza sobre o futuro, e menores prêmios de risco implicam preços maiores para as ações e outros ativos de risco. Nós podemos ver isso na correlação histórica negativa exibida pelos múltiplos Preços sobre Lucros e a taxa de inflação. Mas como saber quando a exuberância irracional escalou indevidamente sobre os preços dos ativos, que, então, se tornariam sujeitos a inesperadas e prolongadas contrações, como aquela vista no Japão ao longo da década passada?”
Essa é minha porca tradução para o famigerado discurso de Alan Greenspan ao American Enterprise Institute, em 5 de dezembro de 1996. É fácil de lembrar por dois motivos. Primeiro, porque as Bolsas sofreram um banho de sangue subsequentemente ao alerta do então “maestro Greenspan”. Segundo, porque era aniversário do papai. Com a Bolsa de Tóquio caindo 3 por cento, não tivemos muitas razões para comemorar naquele dia.
O termo “exuberância irracional”, originalmente cunhado por Greenspan, viria a ser popularizado por Robert Shiller no livro homônimo, publicado no ano 2000. “Exuberância irracional é a base psicológica de uma bolha especulativa. Eu defino uma bolha especulativa como uma situação na qual notícias sobre aumentos de preço espalham entusiasmo do investidor, que, por sua vez, espraiam contágio psicológico de pessoa para pessoa, num processo que vai sendo amplificado por meio de histórias e narrativas supostamente capazes de justificar o aumento dos preços.”
Sabe o que eu acho mais curioso dessa história? A tal “exuberância irracional” virou termo cool, sinônimo de diligência, austeridade e alerta para eventuais bolhas, como se seus seguidores fossem os verdadeiros ganhadores de dinheiro, sempre mais moderados e comedidos que os demais, gananciosos em excesso e fadados ao fracasso. Dado que depois tivemos o estouro da bolha das pontocom, o próprio Greenspan seria um gênio, capaz de ter antevisto toda a especulação maquiavélica.
Tem um pequeno probleminha nessa versão…
Quando Greenspan fez o alerta sobre a exuberância do Nasdaq, naquele 5 de dezembro de 1996, a cotação do índice das empresas de tecnologia era de 1.300 pontos aproximadamente. A despeito da correção imediatamente posterior ao alerta do Maestro, o Nasdaq continuou subindo por anos, para fazer sua máxima local em 10 de março de 2000, aos 5.058 pontos. Somente então fomos ter o estouro da bolha, com o índice entrando num bear market entre 2000 e 2002, quando fez sua mínima local em 9 de outubro, aos 1.114 pontos.
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Em outras palavras, se você foi efetivamente impactado pelo alerta da “exuberância irracional” e montou uma posição short (aposta na queda) no Nasdaq naquele momento, muito provavelmente você quebrou. Dificilmente você sobreviveu à disparada dos 1.300 para os 5.000 pontos — foram quase quatro anos de alta mesmo depois do alerta de Greenspan, com juros e chamadas de margem corroendo sua suposta posição short.
Em termos de gestão, de aplicação do dinheiro propriamente dito, que é o que interessa (uma opinião sem exposição vale zero), a posição de Greenspan foi uma tragédia, ainda que tenha lhe rendido por anos a alcunha de “Maestro”.
Profetas do apocalipse
Eu lembrei dessa história ao ver profetas do apocalipse por aí autoproclamados acertadores diante da correção do Ibovespa nos últimos dois pregões. “Eu não disse que a Bolsa cairia depois da aprovação da reforma da Previdência. Caso clássico de sobe no boato, cai no fato.”
O que o sujeito não conta é que ele estava com esse call desde lá atrás. Ele estava pessimista aos 90 mil pontos. O índice vai aos 106 mil pontos, volta aos 104 mil pontos e o camarada vem a público para afirmar categórica e enfaticamente: “Não falei?”. Ou seja, se você seguiu a prescrição do tal especialista, perdeu lote de dinheiro.
Para mim, não há exuberância irracional alguma na Bolsa. Talvez haja no crédito e esse é um alerta que me parece importante. Tem acontecido uma lógica perversa em CRIs, CRAs, debêntures e crédito privado em geral. Pessoa física está ávida por um retorno excedente sobre o CDI. E, como não é boba nem nada, quer esse excesso de rendimento sem assumir risco. Esquecendo-se de que não há almoço grátis, acaba atraída pelo canto da sereia, muito bem cantado por gerentes, bankers e agentes autônomos, de que aqueles 110 por cento do CDI sem volatilidade significam ausência de risco. Esse é um problema da estrutura atual de distribuição das plataformas de varejo — com um pouquinho mais de rentabilidade e sem volatilidade, o vendedor (gerente ou agente autônomo) empurra o que quiser no investidor. Já está acontecendo e a pessoa física está se entupindo de crédito ruim sem nem saber ao certo o que está comprando.
Fique claro: a responsabilidade não é só do gerente ou do agente autônomo, que enfia no investidor coisas que não deveria. O investidor — vocês três que estão lendo agora — também é corresponsável. Dispenso o discurso de autopiedade e do vitimismo. Um pouco de estoicismo cai bem em qualquer um. No fim do dia, o dinheiro é seu. Você manda. Não queira ser o esperto da praça. Entenda, estruturalmente, pelo seu bem, que se você está atrás de um pouco mais de retorno, vai incorrer num pouco mais de risco. “Quero ganhar mais, mas não quero correr risco.” Ah, eu também quero, mas não funciona assim. Nem aqui, nem em nenhum lugar do mundo.
Risco ≠ Volatilidade
Há uma aceitação do crédito sem qualquer questionamento, simplesmente porque aqui não existe volatilidade. Mas risco e volatilidade são completamente diferentes. Na minha opinião, aos preços atuais, o risco das ações é muito menor do que o risco do crédito (risco aqui entendido como perda permanente do capital), se você souber o que comprar e estender o horizonte temporal de seus investimentos.
“Ora, mas então por que o título desta newsletter está sugerindo a possibilidade de o Ibovespa ir aos 100 mil pontos? Não era você que falava em 150 mil pontos?”
Sim, eu continuo vendo o Ibovespa indo aos 150 mil pontos, talvez até mais, e mais rápido do que todos supõem. Mas o problema da renda variável é que ela varia, por incrível que pareça. Depois de uma alta tão rápida, é natural alguma correção — e também ela costuma ser mais rápida e intensa do que todos supõem (um mínimo de coerência aqui; se vale para um lado, precisa valer para o outro). Mesmo os maiores bull markets da história passam por quedas importantes, que, no gráfico de longo prazo, mal aparecem, mas quando você está passando por aquilo é terrível. São correções de 10, 20, 30, até 50 por cento. Então, seria bem razoável supor que, em algum momento, antes de ir aos 150 mil, o Ibovespa vai voltar para os 95 mil pontos. Tudo estaria dentro do padrão.
Você precisa estar preparado para isso, tanto em termos psicológicos quanto na formação de seu portfólio, jamais tendo uma exposição excessiva a ativos de risco. Se você estiver pesado demais em coisas arriscadas, não vai ter jeito. Nesse dia potencialmente trágico para a Bolsa, você vai entrar em pânico junto com todo mundo. Portanto, tenha um plano desde já. Ninguém faz teste de evacuação de prédio para o caso de incêndio no dia do incêndio. Você treina e planeja antes.
Desculpe a seção autoajuda, mas o primeiro passo seria estar mentalmente forte. Já saiba que isso pode e deve acontecer. Haverá o dia dos 95 mil pontos (ou algo assim; esse nível é apenas uma referência metafórica, o ponto exato ninguém sabe, a não ser os charlatões, claro). Não se preocupe com ele. Não significa que abandonamos o bull market. A rigor, você pode até torcer por ele. Se estiver líquido nessa hora (e todo grande investidor deve manter ao menos uma parte em liquidez para aproveitar essas janelas de oportunidade que sempre são abertas no meio da travessia), será a chance de ficar rico de verdade.
O segundo é manter um portfólio equilibrado e balanceado, com muita diversificação e ativos negativamente correlacionados. Se você tiver 10 por cento da carteira em dólar e ouro, por exemplo, eles vão ser catapultados nesse dia do pânico. Então, você poderá vender metade dessa posição e comprar Bolsa na bacia das almas.
Por fim, eu gosto das opções de venda como um instrumento de proteção — pode não ser para todo mundo e fazer seguro é sempre caro. Mas, diante das altas brutais das ações nos últimos meses, você pode separar ali alguma coisa como 0,25 por cento da sua carteira para “queimar" em botes salva-vidas para dormir mais tranquilo, principalmente com a volatilidade amassada como a atual, o que barateia um pouco as puts. Aquelas em torno dos 95 mil pontos para seis meses à frente podem ser uma boa pedida, assumindo que você segue nossa sugestão de ter uma grande posição comprada em Bolsa (estruturalmente, estamos perto de 35 por cento na Carteira Empiricus).
Mercados
Depois da realização de lucros vista no fim da semana passada, mercados brasileiros retomam a tendência positiva na manhã desta segunda-feira, acompanhando otimismo no exterior. Sinais de estabilização do crescimento na China ajudam a estimular disposição a risco.
O PIB chinês cresceu ao menor ritmo em pelo menos 27 anos no segundo trimestre, ao avançar 6,2 por cento, mas a produção industrial (+6,3 por cento) e as vendas ao varejo (+9,8 por cento) em junho superaram com folga as projeções. Commodities e moedas emergentes se valorizam em reação aos dados.
Agenda internacional conta também com atividade industrial na região de Nova York, balanço do Citi e Prime Day da Amazon.
Por aqui, IBC-Br veio em linha com estimativas ao subir 0,54 por cento em maio, enquanto relatório Focus trouxe nova revisão para baixo nas estimativas para o crescimento de 2020. Vai se consolidando cenário para queda de 50 pontos da Selic já na próxima reunião do Copom. Com queda do juro básico para 5 por cento ao ano, ações de dividendos vão ficar especialmente atrativas.
Ibovespa Futuro abre em alta de 0,65 por cento. Juros futuros caem e dólar está perto da estabilidade.
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