Novembro terminou com uma saída líquida de dólares do país de US$ 5,7 bilhões, elevando o saldo negativo do ano no fluxo cambial para cima dos US$ 27 bilhões (US$ 27,156 bilhões). Assim, 2019 caminha para marcar a maior fuga de dólares desde 1982, como já tínhamos alertado em outubro.
A tendência é de novas saídas agora em dezembro, pois historicamente empresas e fundos fecham balanços e elevam as remessas de lucros e dividendos para fora do país. Para dar um parâmetro, todos os meses de dezembro, desde 2010, têm fluxo negativo. No ano passado, apenas o último mês do ano teve saída de US$ 12,7 bilhões.
O que poderemos ter é uma repetição do visto em novembro, que foi uma redução no ritmo de saídas. Em novembro do ano passado, o fluxo cambial tinha sido negativo em US$ 6,614 bilhões, acima dos US$ 5,7 bilhões registrados neste ano.
Olhando os saldos em 12 meses, o fluxo cambial total é negativo em US$ 40 bilhões, sendo reflexo de uma saída de US$ 57 bilhões na conta financeira e um tímido ingresso comercial de US$ 17 bilhões, menor leitura desde os 12 meses findos em julho de 2015.
De volta aos dados de novembro, apenas na última semana do mês, o fluxo foi negativo em US$ 4,5 bilhões. A semana dos dias 25 a 29 foi marcada por forte instabilidade cambial, com o BC tendo de fazer atuações à vista, além dos leilões de rolagens. Parte do movimento de compra foi colocado na conta do ministro da Economia, Paulo Guedes, que falou que teríamos de nos acostumar com dólar mais alto e juro mais baixo.
Virado o mês, o dólar saiu das máximas históricas nominais na linha dos R$ 4,26 e caminha para um novo pregão de baixa, nesta quarta-feira – veja nossa cobertura de mercados. Alguns operadores chamam atenção para a movimentação do investidor estrangeiro no mercado futuro de dólar, onde venderam mais de US$ 2,5 bilhões nos últimos dois dias.
O que acontece?
O diagnóstico não é novo e já falamos dele em outras ocasiões. De fato, o próprio BC vem alertando sobre uma mudança estrutural no mercado de câmbio brasileiro desde abril, quando o diretor de Política Monetária, Bruno Serra Fernandes, fez importante palestra falando da perda relativa de atratividade do financiamento externo e de com isso afetava a liquidez em dólares no país.
Resumindo a questão. O comprometimento com uma agenda de ajuste fiscal, proporcionou a queda da inflação e dos juros. Com isso, o Brasil deixou de ser o paraíso das operações de arbitragem de taxa de juros (carry-trade). Leia-se, pegar dólar no mercado externo a custo quase zero e virar ganhar Selic de 14% ou mais.
Além disso, as reformas no mercado de crédito, notadamente a redução do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no crédito direcionado, proporcionaram um rápido crescimento do mercado de capitais doméstico. Temos empresas domésticas – Petrobras notadamente – pré-pagando dívidas que foram tomadas no mercado externo e contratando financiamentos em moeda local.
Grosso modo, somando as duas coisas, não temos o dólar de curto prazo vindo arbitrar juros e, além disso, temos maior demanda pela moeda para pagamentos externos.
Também tivemos eventos pontuais que pesaram sobre a formação de preço nas últimas semanas, como a frustração com a participação estrangeira nos leilões do pré-sal, o aumento da instabilidade política na América Latina e uma revisão nas contas externas de 2018.
Apesar da enorme saída de dinheiro, podemos avaliar que o quadro não é preocupante. Como o próprio BC vem destacando, a alta do dólar acontece em um ambiente de queda do risco-país e juros longos em movimento de baixa. A desvalorização não está associada a uma crise de balanço de pagamentos e o mercado também não está pedindo mais juros para financiar a dívida brasileira.
Como o juro não deve mudar de lugar tão cedo, seguiremos fora do radar do chamado “hot money”, ou dinheiro de curto prazo. No entanto, com progresso na agenda de reformas e elevação no ritmo de crescimento, poderemos ver um aumento no fluxo de investimentos externos produtivos.