Antes da crise generalizada, faça tudo que for impossível
Vejo pessoas inebriadas, extasiadas e absortas com os ganhos acumulados na renda fixa, sem perceber a crise que lhes aguarda à frente. Muitos ainda não se deram conta do tamanho do problema que têm às suas mãos.
“Há instantes, duram cinco ou seis segundos, em que sentimos de repente a presença da harmonia eterna, nós a atingimos. Não é uma coisa terrestre: não quero dizer que seja celeste, mas que o homem em seu aspecto terrestre é incapaz de suportar. Ele precisa se transformar fisicamente ou morrer. É um sentimento claro, indiscutível, absoluto. Abarcamos de repente a natureza inteira e dizemos: 'Sim, é exatamente isso, é verdade'. Não é enternecimento... é outra coisa, é alegria. (...) Não é nem mesmo amor; oh! é superior ao amor. O mais fantástico é que é assustadoramente claro. E vem uma alegria tão imensa junto! Se ela durasse mais de cinco segundos, a alma não suportaria e talvez desaparecesse. Nesses cinco segundos eu vivo toda uma vida e por eles daria toda a minha vida, pois eles valem isso. Um pouco embaraçado, seu interlocutor pergunta: 'Você não é epiléptico?'. Kirilov responde que não, mas o outro o previne: 'Pois vai ser. Cuidado, Kirilov, ouvi dizer que era precisamente assim que começava a epilepsia. Um epiléptico descreveu-me em detalhes as sensações que precediam suas crises: era exatamente o seu estado; ele também falava de cinco segundos e dizia que era impossível suportar aquilo por mais tempo. (...) Cuidado com a epilepsia, Kirilov'.”
Eis um alerta importante feito a Kirilov, o ateu místico e suicida de “Os Demônios”.
O tema da epilepsia era recorrente na obra de Dostoiévski. Em “O Idiota”, comentando a atividade onírica de Míchkin, o autor escreve assim:
“Ele sonhou com a fase em que se anunciavam os ataques epilépticos quando estes o surpreendiam em estado de vigília. Em plena crise de angústia, embrutecimento e opressão, parecia-lhe de repente que seu cérebro se agitava e que suas forças vitais tomavam um prodigioso impulso. Nesses instantes rápidos como um relâmpago, o sentimento da vida e da consciência se decuplicavam nele. Seu espírito e seu coração se iluminavam com uma claridade intensa; todas as suas emoções, todas as suas dúvidas, todas as suas preocupações se acalmavam ao mesmo tempo para se converterem numa serenidade soberana, feita de alegria luminosa, de harmonia e de esperança, em favor da qual sua razão se elevava à compreensão das causas finais. (...) Estes instantes, para defini-los numa palavra, se caracterizavam por uma fulguração da consciência e por uma suprema exaltação da emotividade subjetiva. Se nesse segundo, isto é, no último período de consciência antes do acesso, ele tivesse tempo de dizer a si mesmo clara e deliberadamente: 'Sim, por este momento dar-se-ia toda uma vida', é porque, para ele, este momento valeria de fato toda uma vida.”
Há forte suspeita de que o próprio Dostoiévski fosse epilético, embora não se forme consenso a respeito.
O tema é caro para mim também. Mamãe foi diagnosticada com essa mesma doença, embora também aqui não se possa ter certeza. As crises aconteceram tardiamente em sua vida, o que não costuma ser muito habitual, pelo que me disseram. Sei lá. Na incapacidade de um diagnóstico melhor, chegaram a essa conclusão.
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Acho a epilepsia uma doença um tanto perversa. Ela vai além da perda de consciência momentânea acompanhada de espuma nos lábios e convulsões. Em torno do “grande mal”, existe muito preconceito, ainda uma coisa quase do feudalismo e da Santa Inquisição, de uma suposta obsessão demoníaca — me sinto ridículo escrevendo isso, mas absurdo é verdade, sim. Poucos também conhecem os dias subsequentes às crises generalizadas mais graves, em que a pessoa demora a retomar a plenitude da consciência e a normalidade psíquica.
Há outro aspecto curioso ligado à epilepsia, documentado mais recentemente — e, mais uma vez, também para isso não existe consenso; o deus-ciência oferece poderes inferiores àqueles do Deus anterior ao Iluminismo. Antes de uma crise generalizada, alguns pacientes demonstram intensas sensações positivas, inundados por alegria, plenitude e satisfação existencial. Em determinadas situações, denomina-se “aura extática” — esse instante de nirvana que serviria de prenúncio para uma crise generalizada iminente.
Não se trata somente da famigerada calmaria que precede a tempestade. É mais do que isso. Há uma explosão psíquica a gerar felicidade, para posterior tempestade, marcada pela destruidora crise generalizada.
Momentos de euforia excessiva nunca costumam ser bom sinal. Nada em excesso, meu caro.
Se você se diverte com os comprimidos de Ecstasy nas festas em Trancoso ou está sempre próximo daquele amigo com camiseta branca escrito em preto “Michael Douglas”, goza da euforia promovida pela multiplicação da produção de serotonina e dopamina. Ao voltar da Bahia, terá de lidar com as mazelas da Blue Tuesday.
No mercado financeiro, existe um fenômeno semelhante conhecido como “melt up”, tradicionalmente associado à fase final de um bull market. Nela, a tendência de alta dos ativos encontra uma aceleração positiva, com a linha dos índices de ações ficando mais inclinada nos gráficos. É um sintoma da euforia, dos excessos e dos abusos que, logo na sequência, vão causar-lhe problemas.
Não acho que estejamos vivendo algo exatamente assim no momento. Mas algo parecido me preocupa. Vejo pessoas inebriadas, extasiadas e absortas com os ganhos acumulados na renda fixa, sem perceber a crise que lhes aguarda à frente. Muitos ainda não se deram conta do tamanho do problema que têm às suas mãos.
O que rolou nos últimos anos e meses?
Nego se entupiu de títulos indexados, prefixados e créditos privados quaisquer, na parte intermediária e um pouco mais longa da curva, e observou um fechamento absurdo da estrutura a termo das taxas de juro. Com a força da marcação a mercado, esse pessoal ganhou, sei lá, 15, 20 por cento em aplicações de renda fixa num intervalo de 12 meses. Agora, está tomada por esse amplo sentimento de harmonia, plenitude e felicidade, como se pudesse alcançar a prosperidade existencial, com altos lucros ad infinitum, sem incorrer em grandes riscos.
Minha preocupação é de que essa turma não tenha se dado conta da bucha. Isso acabou agora. Para a frente, podemos, sim, ter ganhos em aplicações prefixadas e indexadas, em especial na parte mais longa da curva, mas nem de perto teremos os retornos dos últimos meses. Acabou a mamata e, de maneira inexorável, o sujeito vai precisar comprar ações se quiser ter retornos de dois dígitos.
E é importante que o faça com o arcabouço mental certo, expondo-se, sim, à renda variável, mas se lembrando da insuperável tautologia: a renda variável varia. Este texto é uma defesa do investimento em ações, com seus benefícios e suas mazelas.
Bull market
Estamos num bull market — você talvez tenha visto ontem o relatório do Itaú BBA: “The Bull Market Is Back: Grab It by the Horns”, falando do Ibovespa em 132 mil pontos ao final do ano que vem (estou mais para 150 mil) e identificando um fluxo de cerca de 600 bilhões de reais para a Bolsa; achei particularmente interessante o destaque às small caps (finalmente, alguém falando disso!).
No entanto, mesmo os maiores bull markets passam por correções pontuais, algumas delas bem pronunciadas. Você precisa estar preparado para isso, tanto em termos de alocação (nunca vá além de certos limites, mantenha-se diversificado e com proteções em sua carteira, que poderão ser usadas taticamente para aproveitar oportunidades criadas por percalços no meio do caminho; acredite que as coisas podem dar errado, porque elas efetivamente dão), quanto no âmbito psicológico. Mentalmente forte, como diria o mestre Tite. Quando os outros entrarem em pânico, você não poderá entrar em pânico.
Freud tinha uma metáfora interessante para oferecer. Ele se referia aos espaços territoriais conquistados pelos Países Baixos junto ao mar para tentar mostrar aos pacientes como eles também poderiam avançar em suas conquistas psíquicas e não mais atacar certas premissas, interrompendo as ofensivas neuróticas e as psicopatologias. Apegue-se à premissa essencial: estamos num bull market. Nos dias ruins, coloque cera nos ouvidos, amarre-se ao mastro e blinde-se do canto da sereia de que você deve vender suas posições.
Ontem mesmo, tivemos um banho de sangue na B3. A frustração com o discurso de Mario Draghi e o balanço do Bradesco, considerado pouco inspirador, catalisaram a onda vendedora.
E o que faremos numa hora dessas? Nada. Não tentaremos pegar uma faca caindo. Até porque não houve ali nenhuma alteração estrita dos fundamentos balizadores do bull market.
Embora possa se criticar uma ou outra linha e tenha se criado uma visão muito otimista anteriormente para os números trimestrais do Bradesco, o resultado em si não foi tão trágico assim.
Em paralelo, Draghi, embora tenha mostrado o dissenso dentro do BCE sobre novas ações de política monetária, me pareceu ter começado a pavimentar a via para flexibilização adicional. Pela primeira vez, falou que o Banco Central Europeu pode perseguir uma meta de inflação superior a 2 por cento, tolerando pressões inflacionárias por um período.
Minha interpretação é de que o movimento de ontem foi mais no sentido de um pequeno atraso na ação, do que propriamente na não movimentação por parte do BCE.
Em 2012, quando se temia a desintegração da Europa unida, Mario Draghi foi enfático ao dizer que faria “tudo que fosse preciso” (no famoso bordão “whatever it takes”) para salvar o euro. Agora, porém, o mercado parece exigir que se faça o impossível. Aí nem mesmo o Super Mario parece dar conta. Teríamos de chamar Jean Cocteau: “Não sabendo que era impossível, foi lá e fez”.
Como resumiu Warren Buffett, “somente os vendedores líquidos devem se preocupar com ações em queda”. Os demais devem se alegrar com a possibilidade de comprar mais barato. Se voltarmos aos 100 mil pontos, essa será uma oportunidade rara de se reduzir um pouco as proteções e aumentar ainda mais a posição em Bolsa. São esses momentos que podem tornar-nos ricos de verdade. Não haveria por que reclamar.
Mercados
Mercados brasileiros iniciam a sexta-feira em clima ligeiramente otimista, recuperando-se do tombo da véspera e acompanhando os bons resultados trimestrais divulgados na noite de ontem em Wall Street. Intel e Alphabet (controladora do Google) soltaram números bem fortes e animam investidores nesta manhã. Twitter também divulga daqui a pouco.
PIB dos EUA acaba de sair, com crescimento de 2,1 por cento, acima do 1,8 por cento esperado. Dólar reagiu em alta ao dado.
Por aqui, temos dados fiscais do governo central e bandeira tarifária da Aneel para agosto.
Ibovespa Futuro registra leve alta de 0,1 por cento, dólar e juros futuros sobem marginalmente.
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