Paulo Guedes, que tal um road show no exterior para acalmar os gringos?
Uma rodada de conversas fora do país ou mesmo reuniões feitas aqui mesmo com grandes investidores globais ajudaria a afastar algumas preocupações do capital estrangeiro com relação ao novo governo

Uma leitura dos principais periódicos de economia do mundo, como “The Economist” e “Financial Times” mostra uma avalanche de adjetivos pouco lisonjeiros para caracterizar o presidente eleito Jair Bolsonaro e fazer prognósticos sobre seu governo. Mas até que ponto isso pode atrapalhar um esperado fluxo de investimento estrangeiro?
Jair Bolsonaro is Brazil's president-elect. Now voters are wondering what their choice will mean https://t.co/hlhQ9HDMnO
— The Economist (@TheEconomist) November 3, 2018
Apesar de algumas indicações de interesse e mesmo de que há dinheiro esperando para vir ao Brasil, ainda não se verifica, uma forte entrada de recursos externos. De fato, na Bolsa de Valores, os gringos foram grandes vendedores em outubro, somando quase R$ 7 bilhões, e já tiraram outro R$ 1,2 bilhão neste começo de novembro. Olhando o fluxo de investimento direto, os números seguem positivos, mas o comportamento dessa linha do balanço de pagamentos tem mostrado baixa correlação, até o momento, com a questão política.
Com informações adicionais que recebi após meu post sobre investimentos no Brasil, o montante do que vai ser investido no Brasil já chega a 3 bi de reais.
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— Murillo de Aragão (@murillodearagao) November 3, 2018
Tentando clarear um pouco esse debate conversei com investidores que ficam fora do Brasil, mas têm conhecimento profundo sobre a economia local. E a resposta à pergunta do primeiro parágrafo é que pode atrapalhar sim. A questão envolvendo a imagem e as famosas “narrativas” têm certo peso na comunidade financeira internacional.
Segundo o gestor de equities da LBV Asset Management, Pedro Baldaia, claramente o mercado está muito hesitante com o que se passa no Brasil. Pedro Baldaia fica em Londres e investe apenas pontualmente no Brasil, mas já trabalhou por aqui entre 2012 e 2015.
De acordo com o gestor, há uma avaliação sobre o lado econômico e o lado social do governo eleito. No campo econômico, o mercado compreende que há uma vertente mais liberal e que isso pode resultar em menor intervenção do Estado na economia e na redução da corrupção. Dois vetores que têm impacto sobre a confiança de investidores e consumidores e podem mostrar resultado no curto prazo. Mas o mercado tem algum receio de impacto negativo em termos sociais.
“A narrativa aqui na Europa e nos Estados Unidos é que Bolsonaro é de extrema direita. Quem está no Brasil não compreende assim. Mas aqui tem algum receio com algum tipo de convulsão social à medida que essa agenda seja implementada. O mercado mantém expectativa positiva, mas com algum receio”, diz.
O chefe de investimentos (CIO) da Sycamore Capital, Jean Van de Walle, escreveu um artigo recentemente na sua página do "Linkedin" sobre a avaliação do governo pelos veículos externos. Walle fica em Nova York, mas já morou aqui no Brasil nos anos 1980 e tem mais de 30 anos acompanhando emergentes.
Para Walle, o país passa por um "momento histórico fascinante", com a possibilidade de quebrarmos um modelo no qual sempre se aumenta o tamanho do Estado, tirando a iniciativa do setor privado.
“Isso é algo triste, pois o Brasil tem uma população empreendedora, com grande capacidade criativa que foi muito oprimida nas últimas décadas. É um momento histórico que pode trazer de volta a capacidade do empresário brasileiro. E falo dos pequenos empresários, não daqueles que vão sempre a Brasília”, diz Walle.
Baldaia pondera que a leitura do discurso de posse de Bolsonaro deixou alguns investidores mais tranquilos, pois o presidente eleito falou em inclusão, união e participação de todos os brasileiros.
Fora isso, as primeiras linhas de ação do governo são vistas de forma positiva. Os principais nomes não são conhecidos pelo mercado, mas a indicação de Sergio Moro para o Ministério da Justiça foi bem recebida, pois é um nome conhecido internacionalmente. Ademais, passado quase duas semanas da eleição não se vê problemas “nas ruas”, o que passa uma sensação de tranquilidade.
Os distintos públicos estrangeiros
Walle faz uma diferenciação entre os diferentes tipos de investidores estrangeiros. O investidor direto, como as multinacionais, por exemplo, conhece muito bem o país e a vitória de Bolsonaro deve ter sido bem-vista.
“Imagino que nas diretorias das multinacionais o discurso com relação ao Brasil já tenha melhorado muito. A subsidiária local já deve estar influenciado o ‘headquarter’. E neste ponto o Brasil tem bastante upside, pois estava deprimido faz tempo”, diz Walle.
No lado dos fluxos em portfólio, como ações e renda fixa, há dois atores no mercado. Os especializados, que muitas vezes têm presença local ou algum brasileiro trabalhando com eles. A percepção desse grupo tende a mudar muito rápido se já não mudou. “Tem um surto de otimismo com relação às perspectivas do país”, diz Walle.
Depois há uma grande massa de investimentos mais marginais, que demoram um pouco mais para entrar.
“É aquele pessoal que lê o ‘Financial Times’ e a ‘The Economist’. Eles devem estar meio assustados e demoram algum tempo para participar do mercado”, avalia Walle, em tom bem-humorado.
Segundo Walle, essa diferenciação é bem típica dos mercados, com os mais informados chegando primeiro e depois, pouco a pouco, a grande massa, que faz o mercado andar. "Se o governo realmente conseguir fazer as reformas, podemos ter anos positivos pela frente."
Para Baldaia, a postura da “The Economist” não o surpreende muito, pois a publicação "tem passado por uma guinada à esquerda” nos últimos anos. “O ´Financial Times´ me deixa mais surpreendido.”
Brazil's new finance minister says it's time for 'Pinochet-style’ policies in the country, a reference to Chile’s late dictator General Augusto Pinochet https://t.co/quaCHVWvzK
— Financial Times (@FinancialTimes) November 5, 2018
Walle acredita que dentro de cerca de dois anos, quando o mercado estiver em ponto de euforia e todo mundo já reconheceu os investimentos, a capa da “The Economist” será que o Brasil é novo país das maravilhas. “É sempre assim, um processo que se repete sempre”, diz ele.
O que o governo pode fazer?
Para o gestor LBV Capital, o governo pode trabalhar em alguns pontos no curto prazo para facilitar a relação com o investidor externo. Primeiro, a imagem do governo pode continuar a ser melhorada com a indicação de bons nomes para a equipe e o detalhamento da agenda de medidas econômicas estruturais.
Ainda de acordo com Baldaia, a relação com o mercado e a opinião pública internacional é muito importante e tem de ser passada a mensagem de que as pessoas que estão entrando no governo são inteligentes e com noção do que se passa.
“Acho esse ponto importante. Há um impacto muito grande sobre a opinião pública internacional, com consequente aumento de investimento estrangeiro no Brasil. A mudança de imagem é importante”, diz.
Baldaia também cita o exemplo de Portugal, onde mesmo as pessoas alinhadas à centro-direita têm uma avaliação bastante negativa sobre Bolsonaro.
“Uma imagem de extrema direita foi transmitida ao longo das últimas semanas. É necessário que essa imagem seja trabalhada”, avalia.
Perguntado sobre como trabalhar essa imagem, o gestor avalia que um road show dos principais membros da equipe econômica ou mesmo convites para importantes estrategistas visitarem o país para “uma conversa séria e longa” seria uma boa alternativa. “É importante ter esse encontro de ideias.”
Walle também acredita que acontecerão road shows e reuniões e que esse tipo de ação, na qual as pessoas se conhecem cara a cara, sempre tem um impacto muito forte.
Na semana surgiram convites para Bolsonaro e sua equipe participarem do Fórum Econômico Mundial em Davos, mas é possível agir antes do dia 22 de janeiro de 2019.
A agenda de governo
Os dois especialistas acreditam que há uma boa oportunidade de o país passar por um choque de política econômica que leve as coisas para o sentido correto. A base de partida, no entanto, é ruim já que os problemas fiscais e sociais são grandes e o setor industrial brasileiro parece não ter condição de sobreviver no mercado global sem ajuda do Estado.
“O país tem uma série de questões estruturais que não demoram anos, mas sim gerações para serem corrigidas. Então é bom que se comece a trabalhar já. Mas esse é um processo gradual, difícil e longo”, avalia Baldaia.
Walle também pontua que estamos muito cedo dentro desse processo de mudança e que a expectativa é se o governo vai conseguir implementar a agenda de reformas.
“Sabemos que não tem nada fácil no Brasil. Tem que lutar sempre. Vai depender muito da habilidade política do Bolsonaro e não sabemos exatamente quanta habilidade ele tem”, pondera.
O possível descolamento
Os dois gestores também concordam em apontar outro risco que o país enfrenta: a possibilidade de começarmos a fazer a coisa certa em termos de política econômica em um momento de desaceleração da economia mundial.
“Corremos esse risco de ter dificuldades. Os indicadores prospectivos para a economia global estão em fase de desaceleração. Isso é evidente na China e na Europa. Ainda não nos EUA. Essa desaceleração não ajuda o Brasil”, pontua Baldaia.
Segundo Walle, o ambiente global é ruim, a liquidez global está encolhendo e esse processo continuará por algum tempo. Assim, os emergentes vão continuar sofrendo.
O ponto positivo é que o Brasil apresenta inflação controlada e juros baixos e isso, aliado a um gigantesco mercado doméstico, pode fazer o país se sair um pouco melhor que o mundo, ainda mais se o governo conseguir levar adiante esse choque de política.
“É preciso se materializar essa agenda e aparecer medidas concretas. O mercado quer saber quais são essas medidas e avaliar a viabilidade das propostas”, diz Baldaia.
Para Walle, o país tem sim oportunidade de se separar um pouco do restante do mundo neste momento. O ciclo passado foi “horrível” e só de sair desse quadro já há algum espaço para crescimento.
Uma 'ilha' entre os emergentes
Walle afirma que seus portfólios estão muito “underweight” (abaixo da média) em emergentes, mas a visão dele é de que o Brasil pode ser uma exceção, rendendo resultados positivos em relação aos pares.
“Estou posicionado para dificuldades em mercados emergentes, mas otimista para o Brasil, que tem muito espaço para melhorar”, diz Walle.
Para Walle é possível ser otimista, mas é preciso manter alguma cautela, pois o risco fiscal ainda é muito elevado, com o país apresentando uma das maiores relações dívida/PIB do mundo.
“Essa dívida não pode piorar e tem de ser resolvida rápido. Dá para ser otimista, mas tem de se manter alguma cautela. Não dá para ser superagressivo nesse momento”, conclui.
Outro ponto relevante, segundo Baldaia, é que o investidor estrangeiro está muito acostumado a comprar Ibovespa como forma de exposição ao Brasil. Mas grosso modo, o índice reflete o comportamento de commodities e do setor financeiro.
“É preciso que o investidor tenha mais paciência, vá mais longe no 'stock picking', buscando empresas menores para sua carteira. O momento é de fazer uma pesquisa mais detalhada das ações”, afirma.
A lógica é simples. São nas ações de empresas “menores” que pode estar o maior potencial de valorização, ainda mais se confirmado um quadro de menor crescimento global e de um governo reformista por aqui.
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