O que separa os meninos dos homens?
Os fundamentos estão postos. É um bull market estrutural. Ele tem alguma volatilidade, mas passa. E termina bem.
Dr. Burry escuta o sino da NYSE tocando em seu computador. É o fim do pregão naquele dia. Ele coloca seus fones de ouvido na altura máxima do Speed Metal, levanta-se calmamente, põe os pés descalços no chão, repousa as baquetas sobre a mesa depois de um breve “air drumming” e se dirige ao quadro negro no canto da sala. Dr. Burry vai marcar a cota diária de seu fundo: -7 por cento.
No dia seguinte, repete metodicamente o procedimento: -6 por cento. E depois, -2 por cento. Assim foi, por quase três anos, sem alívio. “Você ainda faz isso, todos os dias?” Ele apenas anui com a cabeça, encostando o queixo no peito.
A cada pregão, era como se uma águia viesse bicar-lhe o fígado, exatamente como no mito de Prometeu (etimologia precisa ao caso: premeditação), em que Zeus (ou os deuses do consenso de Wall Street) se vinga(m) por ter(em) sido desafiado(s).
Era pelos idos de 2005/06. As datas e as variações não obedecem a uma precisão rigorosa. Não importa. A essência está preservada e, no fim do dia, o relevante é a essência.
Até que... boom! A bolha imobiliária norte-americana explodiu e ele se tornou um dos mais bem-sucedidos e aclamados gestores da época. Por anos, ele esteve short (apostando na queda) do mercado imobiliário americano, identificando antes dos outros a podridão das hipotecas subprime e o esquema de pirâmide daquele tipo de alavancagem. Por anos, o excêntrico médico com síndrome de Asperges foi ridicularizado. De esdrúxulo e desajustado a gênio e premonitório, como num passe de mágica. Ou numa quebra do Lehman Brothers.
Tudo está narrado no livro “A Jogada do Século”, de Michael Lewis. Virou filme, concorreu ao Oscar e tal. “A Grande Aposta” conta esse e outros esquemas de Wall Street até a caminhada rumo à crise de 2008.
Leia Também
A história de Michael Burry é mesmo impressionante. Mas o que realmente atina minha alma quando penso a respeito não é seu sucesso. Eu me interesso por terceiros. Por outros igualmente geniais, talvez até mesmo mais geniais, que também identificaram os problemas da bolha imobiliária norte-americana lá por 2005 ou 2006, mas simplesmente não tiveram a estamina de persistir, de continuar em frente a despeito dos obstáculos. Abortaram a causa por algum motivo qualquer. Sabotaram a si mesmos.
Não importa a razão. Todos os dias o mercado vem testar sua convicção. Há uma notícia na capa do jornal mostrando o quanto você está errado, existe pressão de saques em seu fundo, seus concorrentes estão voando e você não foi convidado para a festa. A todo momento, existe um canto da sereia sussurrando em seu ouvido e boicotando a si mesmo: abandone a sua posição.
Veja o Stuhlberger falando para a Luciana Seabra no Seu Dinheiro: “Eu estava certo sobre China, rigorosamente certo, mas abandonei a posição antes da hora; eu capitulei e perdi dinheiro”. Cara, é o Stuhlberger, sacou? Imagina nós aqui fora do Olimpo… Aliás, caso ainda não tenha feito o cadastro na newsletter do Seu Dinheiro, fica aqui o convite. Está realmente especial.
A arte da gestão de patrimônio não está em acumular planilhas e analisar balanços. Também não se encontra nos melhores processos ou na melhor tecnologia. Tudo isso está commoditizado. Não gera edge, não o coloca à frente de ninguém.
O verdadeiro diferencial do investidor vem exatamente do mesmo desafio de casos cotidianos, da perseguição pelo equilíbrio tácito entre teimosia e convicção, entre perseverar sem ser cego para alternativas, entre Dionísio e Apolo, entre prazo e qualidade, entre os sistemas 1 e 2 de Daniel Kahneman, entre o Eu Superior e o Eu Inferior de Ray Dalio. A convivência harmoniosa com a ambivalência.
Quando persistir e quando capitular?
Por mais que me esforce para responder à questão, a verdade é que não darei conta de endereçá-la em sua integralidade. Muito nesse processo, talvez a maior parte, vem de conhecimento tácito, não formalizável, não estruturado, nem possível de ser escrito. A intuição é um monte de conhecimento que fica acumulado lá no fundo, sem a gente perceber.
Mas existe algo que faço capaz de ao menos ajudar no processo — sendo mais rigoroso: algo que ao menos tem ajudado até aqui. O futuro não nos pertence e a qualquer momento podemos entregar tudo. De vilões a heróis num passe de mágica e vice-versa. No mercado, você é tão bom quanto seu último trade.
Se você tem uma tese, escreva aquilo. Anote as razões fundamentais para justificar sua ideia ou sua posição. Não se perca em filigranas. Aponte somente o essencial. Com o passar do tempo, várias notícias chegarão para formar uma antítese à sua tese. “Mother do you think they will try to break my balls?" Verifique se aquilo, de fato, fere a essência da coisa, se a estrutura basal foi afetada ou se é apenas um mero obstáculo incapaz de desconstruir o que realmente importa.
Vivi na pele intensamente isso. Estava (e ainda estou) com a tese otimista para ativos de risco brasileiros. Ela se fundamentava em três coisas:
- crescimento ainda forte da economia mundial favorecendo preços de commodities;
- muita capacidade ociosa dos fatores de produção brasileiros, com prognóstico de vertiginosa expansão dos lucros corporativos;
- e migração do pêndulo político para o espectro da direita liberal.
Vieram a guerra comercial lá fora, a fragilidade da geopolítica internacional, o medo com a subida de juros nos EUA, os tuítes de Donald Trump, a incerteza com a eleição brasileira, a greve dos caminhoneiros (nossa, a greve dos caminhoneiros foi um momento difícil), as decepções com a atividade econômica doméstica, o clássico “sudden stop” em mercados emergentes. Por várias e várias vezes, eu estive prestes a capitular. Todos os dias era acometido pela dúvida: “Acho que não vai dar”. Pensei dia sim, e no outro também, em estopar algumas posições e estive muito perto de fazê-lo, admitindo o erro na tese original.
Por sorte, fomos teimosos, porque achávamos que a essência estava preservada. Ainda éramos os mesmos. No final, deu certo (ao menos até aqui). A Carteira Empiricus, que é como eu meço na prática e na pele meu próprio desempenho, entrega mais de 170 por cento do CDI no ano, depois de muito tiro, porrada e bomba. E, no meu chutômetro, acho que tem muito mais por vir.
Mas não conto isso para narrar uma situação passada. Abordo a questão porque seremos submetidos novamente nas próximas semanas a testes de nossa convicção. Haverá o Onyx Lorenzoni falando bobagem, o Bolsonaro tentando corrigir bobagens dizendo outras bobagens, o Datafolha sendo Datafolha, a Eurasia sendo Eurasia, momentos de estresse, realizações de lucro, correções pontuais. Precisamos separar o que é ruído do que é sinal. O galho vai balançar. Não abandone o navio antes da hora. Mais uma vez: os fundamentos estão postos. É um bull market estrutural. Ele tem alguma volatilidade, mas passa. E termina bem.
Mercados amanhecem sob realização de lucros, catalisada por declarações atabalhoadas da equipe de Jair Bolsonaro. “Essa reforma da Previdência não passa”, “a China está comprando o Brasil e não podemos privatizar a geração de Eletrobras”, “precisamos de cuidado com a política de preços da Petrobras” e por aí vai. Muita retórica eleitoral, pouco efeito prático.
Não há muitos drivers do exterior, onde Bolsas norte-americanas estão perto do zero a zero. Há alguma tensão com escalada do rendimento dos Treasuries.
Agenda doméstica trouxe alta de 1,06 por cento para o IGP-M, levemente abaixo do esperado, enquanto aguarda-se Datafolha à noite — embora já tenha virado piada. Nos EUA, saem preços ao produtor e estoques de petróleo.
Ibovespa Futuro abre em baixa de 1 por cento, dólar e juros futuros sobem
Disclaimer nas bolsas: Wall Street ganha uma ajudinha da inteligência artificial, enquanto mercado aguarda corte de juros na Europa
Durante o pregão regular de ontem (11), a Nvidia, joia da coroa do setor, chegou a saltar mais de 8% e animou os índices internacionais nesta quinta-feira
CVM abre consulta pública para regras que facilitam o acesso de empresas de menor porte à bolsa e ao mercado de emissão de dívida
Por meio do FÁCIL – Facilitação do Acesso a Capital e de Incentivo a Listagens – autarquia quer aumentar o acesso de empresas com faturamento até R$ 500 milhões ao mercado de capitais
B3 (B3SA3) na berlinda? Banco corta o preço-alvo das ações da dona da bolsa — e diz o que fazer com os papéis
O Bank of America também reduziu as projeções de lucro líquido recorrente e volume médio diário negociado (ADTV) de ações até 2026
CEO da Raízen (RAIZ4): Brasil tem condição única para vencer transição energética — mas união entre agro e setor elétrico é essencial
Na avaliação de Mussa, o etanol será fundamental para a transição — e o Brasil é o “lugar certo” para um hub de produção de combustível sustentável de aviação (SAF)
Raízen (RAIZ4): CEO diz por que empresa está há mais de três anos sem fazer grandes aquisições — e deve continuar assim
Em evento, Ricardo Mussa avaliou que atualmente não há “nenhum grande benefício” para ir a mercado em busca de novas aquisições
Em crise, Infracommerce (IFCM3) negocia financiamento de até R$ 70 milhões e anuncia novo responsável por operação no país
Infracommerce firmou memorando de entendimentos não vinculante com a Geribá Investimentos para reforçar o capital de giro; ações sobem na B3
O que dizer sobre Trump e Kamala? Em dia de inflação nos EUA, mercados reagem ao desempenho dos candidatos à presidência
Além disso, os investidores aguardam os dados do índice de inflação dos EUA, o CPI, serão divulgados nesta quarta-feira, às 9h30
Azul (AZUL4): banco corta preço-alvo, mas ações ensaiam reação e ficam entre as maiores altas do Ibovespa
Pela manhã, os papéis da companhia aérea chegaram a saltar mais de 6% após iniciarem a semana em queda; empresa enfrenta rumores de recuperação judicial
Petrobras (PETR4) volta ao ranking das maiores pagadoras de dividendos do mundo — e outras cinco brasileiras estão na lista
Os dividendos globais atingiram um novo recorde no segundo trimestre de 2024, com pagamentos combinados de US$ 606,1 bilhões, segundo a Janus Henderson
O Inter (INBR32) ficou caro? Por que a XP rebaixou o banco digital após lucro recorde no 2T24 — e o que esperar das ações
Na avaliação da XP, depois de mais do que dobrar de valor na B3 em um ano, o Inter agora confere uma “vantagem limitada” para quem quer investir na fintech
Ameaça chinesa apertou para a Apple: principal rival na China lança celular para bater de frente com o novo iPhone 16
Com preços equivalentes a mais que o dobro do iPhone 16 Pro Max, o novo Mate XT da Huawei de “dobra tripla” também chega ao mercado com recursos de inteligência artificial
Debates e embates: Ibovespa acompanha IPCA de agosto em dia de debate entre Donald Trump e Kamala Harris
Principal índice da B3 tenta manter os ganhos do dia anterior na esteira dos dados de agosto, que serão conhecidos às 9h desta terça-feira
‘It’s time!’: O tão aguardado dia do debate da eleição americana entre Donald Trump e Kamala Harris finalmente chegou
Antes da saída de Biden, muitos consideravam Kamala Harris uma candidata menos competitiva frente a Trump, mas, desde então, Harris surpreendeu com um desempenho significativamente melhor
Ações da dona da Hello Kitty sobem 99% no Japão, e o motivo é uma onda de calor em Tóquio; entenda
Clima extremo no verão da capital japonesa atrai mais visitantes para parques em ambiente fechado, como é o caso dos parques da Sanrio
Stuhlberger pessimista com a bolsa. Por que o fundo Verde reduziu exposição a ações brasileiras ao menor nível desde 2016 depois da pernada do Ibovespa em agosto
Para a gestora do lendário fundo, a situação fiscal do Brasil encontra-se na “era da política pública feita fora do Orçamento”
Fundo imobiliário dispara mais de 6% na bolsa e gestor conta por que as cotas estão subindo
Como são negociadas em bolsa, nem sempre é possível descobrir porque as cotas de um fundo imobiliário estão subindo ou caindo, mas a gestora do SHPH11 tem uma hipótese
Por que o Leão da Receita Federal foi atrás do Grupo Mateus (GMAT3) com cobrança de mais de R$ 1 bilhão contra a gigante do varejo
A gigante do varejo recebeu um auto de infração contra a Armazém Mateus, com questionamentos sobre as exclusões de créditos presumidos do ICMS
Round 2 da bolsa: Ibovespa acompanha inflação dos EUA em preparação para dados do IPCA
Nos EUA, aumentam as apostas por um corte de juros maior; por aqui, inflação persistente sinaliza aumento das taxa Selic
Depois de ‘comer poeira’ da Localiza (RENT3), o jogo virou para a Movida (MOVI3)? Gestores revelam o que esperar das locadoras daqui para frente
Na avaliação de analistas e gestores, o principal risco para as locadoras é o futuro do mercado de seminovos e da depreciação
Inflação dentro e juros fora: após forte queda, Ibovespa abre a semana de olho no IPCA e na taxa de juros na Europa
Depois de encerrar agosto comemorando sequência de recordes, principal índice da Bolsa brasileira fechou a primeira semana de setembro com queda acumulada de 1,