Em época de sobe e desce constante do dólar, alguns indicadores da economia acabam fugindo da curva normal. Em agosto foi a vez das transferências pessoais - aquelas em que uma pessoa física no exterior remete recursos para sua família no Brasil - registrarem um salto.
Somente no mês passado, US$ 72,1 milhões líquidos entraram no país via essas transferências. Aí você pode me falar que um número isolado não te diz nada. Pois bem: só a título de comparação, de janeiro a julho deste ano, a soma de todas as entradas mensais era de US$ 36,6 milhões. O número de agosto é 13 vezes maior do que os US$ 5,4 milhões registrados no mesmo mês do ano passado.
Vale lembrar que esses números, que foram publicados pelo Banco Central nesta segunda-feira, 24, são líquidos, ou seja, o número equivale aos envios de dinheiro ao Brasil já descontados as remessas feitas por estrangeiros que estão aqui para suas famílias no exterior.
A culpa é toda do dólar
Em coletiva de imprensa mais cedo, para apresentar as Estatísticas do Setor Externo, o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, destacou o aumento das remessas para o Brasil. "Este impacto muito pontual tem mais a ver com o câmbio do que com o aumento do número de brasileiros que moram no exterior", afirmou Rocha.
Na prática, com a moeda americana mais cara, quem remete recursos para o Brasil consegue trocar uma mesma quantidade de dólares por um montante maior de reais. Isso acaba estimulando as remessas de quem trabalha fora para as famílias no Brasil.
E os próximos meses prometem
É curioso esse dado do BC ter saído alguns dias depois de uma nova norma do banco sobre esse tipo de repasse. Na última quinta-feira, 20, o BC alterou regras com o objetivo de facilitar este tipo de operação e que passam a valer a partir de 1º de novembro.
Nessa nova normal, toda a burocracia para o envio de moeda e câmbio poderá ser feita no exterior, pelo remetente dos recursos, em seu próprio banco. O destinatário receberá o dinheiro em sua conta corrente, em reais, sem a necessidade de fazer operações de câmbio ou arcar com custos adicionais. A novidade valerá para transferências equivalentes a até R$ 10 mil.
*Com Estadão Conteúdo.