Olhando de cara, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) não é boa notícia. A leitura acima do previsto e uma inflação mais disseminada autorizariam um debate mais acalorado sobre aumento Selic. Mas todos estão de olho mesmo no dólar, que tem se afastado da linha dos R$ 4,0.
A inflação oficial foi de 0,48% em setembro, percentual não visto desde 2015, após deflação de 0,09%. O resultado ficou no teto do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo “Projeções Broadcast”, que oscilavam de queda de 0,28% a alta de 0,48%. Em 12 meses, o índice marcou 4,53%, maior resultado desde março de 2017. Além disso, o índice de difusão, que mostra quantos produtos tiveram alta, avançou de 49,6% para 62,1%.
A boa notícia está nos núcleos, medidas que tentam captar a tendência da inflação excluindo choques temporários. Duas novas medidas anunciadas pelo BC seguem abaixo do piso da meta de 3%. Outros indicadores estão, como diz o próprio BC, em “níveis apropriados”, ou seja, consistentes com as metas para a inflação.
Como o Comitê de Política Monetária (Copom) já acenou que pode subir a Selic para garantir inflação e projeções nas metas, esse resultado poderia reforçar a avaliação de alta do juro básico já no encontro de 31 de outubro.
No entanto, o foco do mercado é outro. O que deve ditar a reação do BC é o comportamento do dólar, que reflete a avaliação sobre as eleições. Confirmada uma taxa mais baixa, na linha de R$ 3,8, a percepção é de que haveria espaço para o BC conservar o juro no atual patamar de 6,5% ao ano por mais algum tempo.
Vale lembrar que tudo o que BC faz e comunica visa, principalmente, o ano de 2019. Isso ocorre em função da defasagem entre as decisões do Copom e o efeito no lado real da economia. A inflação de 2018, por assim dizer, já está na conta. Ainda assim, um dólar mais baixo pode ter algum reflexo nos preços ainda neste ano.