Powell em Jackson Hole: um resumo dos principais pontos do discurso que abalou os mercados globais
Powell se despediu do evento mais importante da política monetária como presidente do Fed com uma sinalização sobre o corte de juros, um recado para Trump e as lições aprendidas sobre a inflação

Jerome Powell subiu ao palco do Simpósio de Jackson Hole pela última vez como presidente do Federal Reserve (Fed) nesta sexta-feira (22) com uma aparência calma e serena, que mascarou o peso que ele e outros membros do banco central norte-americano carregam nos ombros: a expectativa dos mercados e da Casa Branca pelo corte de juros.
No discurso de despedida como chefe do BC dos EUA, Powell chegou o mais perto até agora de declarar o início do afrouxamento monetário — uma sinalização que fez as bolsas aqui e lá fora dispararem, renovando recordes intradiários, enquanto o dólar perdeu força. Você pode conferir aqui o movimento dos mercados.
Não à toa, João Piccioni, CIO da Empiricus Asset, classificou o discurso de hoje de Powell em Jackson Hole como o mais importante do ano. “Jackson Hole pode ser o grande gatilho para os mercados daqui até o final do ano”, afirmou ele ao programa Giro do Mercado, do Money Times, portal que, junto com o Seu Dinheiro, faz parte da Empiricus.
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De olho no potencial que o discurso de Powell de hoje tem de mexer com as bolsas aqui e lá fora, o Seu Dinheiro separou as principais declarações do presidente do Fed no principal evento da política monetária internacional.
A principal pista de Powell sobre o corte de juros
No aguardado discurso do Simpósio de Jackson Hole, realizado em Wyoming, Powell citou mudanças radicais nas políticas tributária, comercial e de imigração e disse que o resultado disso é que "o equilíbrio de riscos parece estar se deslocando" entre os dois objetivos do Fed: pleno emprego e estabilidade de preços — o que significa inflação em 2% no longo prazo.
Embora tenha observado que o mercado de trabalho permanece em boa forma e a economia norte-americana tem demonstrado resiliência, ele disse que os perigos de queda estão aumentando. Ao mesmo tempo, Powell afirmou que as tarifas estão gerando riscos de que a inflação possa acelerar novamente nos EUA — um cenário de estagflação que o Fed precisa evitar.
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Com os juros um ponto percentual abaixo de onde estavam quando Powell fez seu discurso no simpósio há um ano, e a taxa de desemprego ainda baixa, as condições nos permitem "proceder com cautela ao considerarmos mudanças em nossa postura política", segundo ele. Desde dezembro, o banco central norte-americano vem mantendo a taxa referencial na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano.
“A política monetária em território restritivo, a perspectiva básica e a mudança no equilíbrio de riscos podem justificar um ajuste em nossa postura política”, afirmou.
Vale lembrar que a próxima reunião do comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) acontece nos dias 16 e 17 de setembro e as apostas do mercado para o corte de juros neste encontro passaram de 90% com o discurso de Powell.
A ferramenta FedWatch do CME Group mostrava que a probabilidade de uma redução de juros de 0,25 ponto percentual (pp) no mês que vem chegou a 91,5% logo depois que o discurso foi finalizado. Como consequência, a probabilidade de o Fed manter a taxa inalterada caiu para 8,5%.
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Powell mandou recado para Trump?
Um dos pesos nos ombros que Powell carrega vem da Casa Branca: há meses o presidente norte-americano, Donald Trump, vem pressionando o Fed e seu líder por cortes nos juros, com ataques públicos contundentes e até ameaças de demissão. Então, muita gente queria saber se, no último discurso em Jackson Hole, o chefe do BC cutucaria o republicano.
Embora não tenha abordado especificamente as demandas da Casa Branca por juros mais baixos, Powell destacou a importância da independência do Fed.
“Os membros do Fomc tomarão essas decisões [sobre o corte de juros] com base exclusivamente na avaliação dos dados e nas implicações para as perspectivas econômicas e o equilíbrio de riscos. Jamais nos desviaremos dessa abordagem”, afirmou.
Na visão de Trump, as tarifas não causarão inflação duradoura, justificando, portanto, cortes nos juros. Indicadores recentes mostram que os preços ao consumidor norte-americano estão subindo gradualmente, mas os custos no atacado estão subindo mais rapidamente.
A posição de Powell no discurso foi a de que uma série de resultados é possível. O “cenário base razoável”, segundo ele, é o de que os impactos tarifários serão “de curta duração — uma mudança pontual no nível de preços” que provavelmente não seria motivo para manter os juros mais altos. No entanto, Powell disse que nada é certo neste momento.
“Continuará a levar tempo para que os aumentos das tarifas se concretizem nas cadeias de suprimentos e redes de distribuição”, disse ele. “Além disso, as tarifas continuam a evoluir, potencialmente prolongando o processo de ajuste.”
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A revisão do arcabouço do Fed
O discurso de Powell deste ano também foi marcado pela revisão do arcabouço de políticas do Fed, que acontece a cada cinco anos, e que, desta vez, resultou em mudanças notáveis em relação a 2020.
Naquela época, em meio à pandemia de covid-19, o Fed adotou um regime de meta flexível de inflação que permitiu que a inflação nos EUA ultrapassasse o alvo de 2% do Fed, após um longo período abaixo desse nível. Na prática, a mudança permitiu que as autoridades monetárias pudessem ser tolerantes com uma inflação ligeiramente mais alta, se isso significasse garantir uma recuperação mais abrangente do mercado de trabalho.
No entanto, logo após a adoção da estratégia, a inflação começou a acelerar, atingindo o maior nível em 40 anos, desmentindo a tese de Powell e de outros membros do BC norte-americano de que aquele aumento de preços era transitório.
No discurso de hoje, ao falar da revisão das políticas do Fed, Powell reconheceu os impactos negativos da inflação naquele momento e as lições aprendidas com esse episódio.
“Como se viu, a ideia de uma inflação excessiva, moderada e intencional provou ser irrelevante. Não houve nada intencional ou moderado na inflação que surgiu alguns meses depois de anunciarmos nossas mudanças de 2020 na declaração de consenso, como reconheci publicamente em 2021”, disse Powell.
“Os últimos cinco anos foram um doloroso lembrete das dificuldades que a inflação alta impõe, especialmente para aqueles com menor capacidade de arcar com os custos mais altos das necessidades básicas.”
Na revisão de agora, o Fed reafirmou o compromisso com a meta de inflação de 2%. Segundo Powell, houve críticas de ambos os lados da questão, com alguns sugerindo que a taxa é muito alta e pode levar a um dólar mais fraco, enquanto outros veem a necessidade de flexibilidade do banco central.
“Acreditamos que nosso compromisso com essa meta é um fator-chave para manter as expectativas de inflação de longo prazo bem ancoradas”, afirmou.
"Nossa declaração revisada enfatiza nosso compromisso de agir de forma contundente para garantir que as expectativas de inflação de longo prazo permaneçam bem ancoradas, em benefício de ambos os lados de nosso duplo mandato", acrescentou.
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