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Camille Lima

Camille Lima

Repórter de empresas no Seu Dinheiro. Formada em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Já passou pela redação do TradeMap.

REPORTAGEM ESPECIAL

O fim do ‘sonho grande’ da Cosan (CSAN3): o futuro da empresa após o fracasso do investimento na Vale e com a Selic em 15%

A holding de Rubens Ometto ainda enfrenta desafios significativos mesmo após zerar a participação na Vale. Entenda quais são as perspectivas para as finanças e as ações CSAN3 neste ano

Camille Lima
Camille Lima
22 de janeiro de 2025
6:09 - atualizado às 14:44
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Imagem: Shutterstock

Após um ciclo de forte crescimento e apostas ousadas — que, em muitos casos, trouxeram retornos frustrantes —, a Cosan (CSAN3) encontra-se em uma corrida contra o tempo para levantar caixa. O objetivo: reduzir o endividamento antes que a taxa básica de juros (Selic) suba ainda mais e asfixie as finanças do grupo.

Diante de uma dívida líquida estimada em R$ 21,7 bilhões no terceiro trimestre de 2024, a holding do empresário Rubens Ometto deu um passo concreto em direção à desalavancagem na semana passada e anunciou, enfim, a venda da participação de 4,05% que detinha na Vale (VALE3).

Essa operação foi considerada uma estratégia crucial para 2025, dado o desempenho insatisfatório da mineradora desde o investimento. 

No entanto, permanecem dúvidas: será que se desfazer das ações da Vale é suficiente para a Cosan enfrentar a elevação dos juros e possibilitar uma recuperação das ações CSAN3 na bolsa, após o tombo de 55% no acumulado de 12 meses?

O impacto da Selic e da aposta fracassada na Vale (VALE3) nas finanças da Cosan (CSAN3)

Os juros elevados no Brasil já cobraram um preço (deveras relevante, aliás) para a ambição de Ometto. Em 2024, as ações CSAN3 estiveram entre os piores desempenhos dentro do Ibovespa, pressionadas pelo aumento do custo da dívida no Brasil.

Vale lembrar que o Banco Central adotou uma postura mais agressiva e deixou contratados dois novos aumentos para a Selic neste ano, que devem elevar a taxa para 14,25% ao ano até março. O mercado, porém, já precifica os juros acima dos 15% no fim do ciclo de alta.

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Não bastasse a pressão dos juros, o “sonho grande” do investimento na Vale (VALE3) também se transformou em um verdadeiro pesadelo para a holding

Quando adquiriu a participação bilionária na Vale em outubro de 2022, a empresa esperava ter um “papel ativo em uma empresa muito estratégica no Brasil”. No entanto, a influência esperada sobre a gestão da mineradora não se materializou.

A aposta fracassada na Vale não só afetou as ações CSAN3, mas também trouxe perdas financeiras significativas para a holding

Após investir cerca de R$ 17 bilhões em 2022, a empresa agora embolsa apenas R$ 9 bilhões com a venda da fatia, resultando em uma perda estimada de 35%, segundo análises do Goldman Sachs.

O que esperar da Cosan (CSAN3) após a venda da fatia na Vale (VALE3)

A venda da participação na Vale é considerada pelo BTG Pactual como o ajuste de curso mais significativo da Cosan (CSAN3) e a primeira ação desde a recente rodada de mudanças na gestão, que tem demonstrado um senso de urgência cada vez mais forte. 

“A Cosan reconhece seu problema de estrutura de capital, e a equipe de gestão é altamente focada na execução. Este é um sinal importante. De certa forma, o pragmatismo prevaleceu sobre a ambição de controlar a Vale, o que é algo que os minoritários devem comemorar”, avaliaram os analistas.

Mas zerar a participação na Vale vem também com um contragosto. Embora a venda possa reduzir o custo anual de juros da Cosan em cerca de R$ 1,3 bilhão, há também uma perda de aproximadamente R$ 700 milhões em dividendos que eram recebidos da mineradora. 

O Itaú BBA vê essa ação como um "passo crítico para melhorar a posição financeira da holding", simplificando sua estrutura e tornando a tese de investimento em CSAN3 mais atraente para investidores. 

A expectativa é de que a venda resulte em uma entrada de caixa superior a R$ 9 bilhões, contribuindo para uma redução da alavancagem em 0,4 vez a relação dívida líquida sobre o Ebitda. 

De acordo com o Goldman Sachs, se a Cosan aplicar esse dinheiro para amortizar dívidas e se concentrar em melhorar seu fluxo de caixa de curto prazo, poderá economizar cerca de R$ 1,5 bilhão em juros anuais, elevando sua cobertura de juros para 1,7 vez, alinhada com os objetivos da administração.

A situação da Raízen e de outras subsidiárias 

Isso não significa, porém, que os problemas da Cosan (CSAN3) acabaram. 

A empresa continua enfrentando um desconto de holding significativo, estimado em cerca de 50% — o maior de sua história e acima da média do mercado brasileiro. Os analistas, porém, veem potencial para redução desse desconto após as recentes mudanças estratégicas.

Acontece que, na avaliação de Felipe Miranda, estrategista-chefe e CIO da Empiricus Research, as ações da Cosan “só têm tanto potencial porque o risco também é alto”, especialmente considerando a situação de suas subsidiárias, como a Raízen (RAIZ4). 

O cenário macroeconômico continua a preocupar nos próximos meses, já que o conglomerado de Ometto permanece relativamente alavancado — com destaque especial para a Raízen (RAIZ4) — em meio a um custo de capital cada vez mais arrojado. 

Afinal, conforme as controladas da Cosan pagarem mais despesa financeira, elas terão menos dividendos para distribuir e remunerar a holding — o que pressiona o ROIC (retorno sobre o capital investido).

É por isso que o CIO da Empiricus avalia que uma recuperação operacional da Cosan depende não só de um panorama macro favorável, como também de um turnaround para que a Raízen (RAIZ4) volte a ser uma empresa rentável.

Uma das principais preocupações dentro do portfólio da Cosan, a companhia investiu pesado em crescimento e se alavancou durante um período de juros baixos, impulsionada pela demanda por projetos de investimento sustentável, como o etanol de segunda geração (E2G). 

Com a recente alta dos juros e a diminuição da atratividade de teses de crescimento de longo prazo, a Raízen enfrenta dificuldades e não tem pagado dividendos, o que reflete diretamente no desempenho do conglomerado.

Sob nova direção desde outubro de 2024, o CEO Nelson Gomes chega com um mandato marcado pelo claro senso de urgência de colocar a empresa de volta numa trajetória de ganho de eficiência dos negócios que se traduza em desalavancagem. 

Algumas das alavancas apontadas pelo mercado para aliviar a pressão sobre o caixa são uma potencial venda da participação no Grupo Nós, dono da rede Oxxo no Brasil, e uma eventual parceria para o negócio de E2G, com a entrada de um sócio que esteja disposto a aportar capital para desenvolver uma nova unidade de negócios que reúna todos os ativos relacionados à operação.

Na visão de Monique Greco Natal, head de óleo e gás no Itaú BBA, buscar parceiros para compartilhar os investimentos no setor de E2G seria crucial para a desalavancagem da Raízen, já que cada planta demanda um investimento (capex) de aproximadamente R$ 1,2 bilhão.

Segundo Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, a recente interrupção da produção de E2G na Usina Costa Pinto pode sinalizar que a companhia não conseguiu compradores e/ou que a operação não é rentável. No entanto, a analista avalia que é "razoável esperar que a companhia continue buscando investidores para os ativos de E2G".

"Independentemente da reciclagem do portfólio, a companhia parece focada no seu turnaround operacional, que, na nossa opinião, é ainda mais importante que a venda de ativos, por ser estruturante", disse Quaresma, em nota.

Além disso, como as expectativas do mercado para a empresa já estão baixas, novidades positivas nesse sentido poderiam abrir espaço para a apreciação dos papéis RAIZ4 em 2025.

Já quanto às outras subsidiárias do grupo, as perspectivas são mais animadoras. Confira:

  • Rumo (RAIL3): A empresa de logística segue com boa performance, mas preocupações com investimentos acima do esperado pairam no horizonte.
  • Moove: A empresa de lubrificantes, que teve seu IPO nos EUA adiado em 2024, aguarda uma janela favorável para voltar ao mercado — e uma melhora na trajetória dos juros poderia reabrir as discussões de operações envolvendo a companhia.
  • Radar: A empresa agrícola, com foco em terras e gestão de plantio, deve se beneficiar do cenário favorável para o agronegócio brasileiro.

O que esperar da Cosan (CSAN3) em 2025?

É inevitável se questionar: depois de uma queda tão acentuada na bolsa, é possível que a Cosan (CSAN3) ainda tenha espaço para cair mais?

Com as instabilidades no cenário macroeconômico, particularmente no âmbito da política monetária restritiva, e pressões nas operações das subsidiárias, desvalorizações adicionais para as ações não podem ser descartadas.

Contudo, muitos desses riscos parecem já estar refletidos nos preços atuais, o que poderia limitar o potencial de quedas futuras. 

Considerando que a ação já apanhou bastante ao longo de 2024, parece consenso no mercado que a Cosan (CSAN3) está próxima das mínimas na bolsa — o que tende a se traduzir em ganhos daqui em diante, caso avance na estratégia de desalavancagem e otimização de portfólio. 

De acordo com a plataforma TradeMap, do total de 10 recomendações dos principais bancos e corretoras do mundo para as ações do conglomerado de Rubens Ometto, todas são de compra

Segundo a Empiricus Research, depois de uma enorme desvalorização na bolsa de valores, muito por conta da falta de celeridade para resolver problemas operacionais, podemos estar diante de uma fase bem mais promissora para ações CSAN3.

Marcelo Inoue, responsável pela área de análise de ações da gestora Perfin, vai na mesma linha, e aponta a figura de Rubens Ometto como um empreendedor visto pelo mercado como capaz de tirar “coelhos da cartola”.

“Ele criou um império partindo de uma empresa só de açúcar e etanol, encontrando maneiras de se reajustar e fazer o turnaround dos negócios. Por isso, acredito que a ação não tem muito mais espaço para cair.”

Na visão de analistas, um dos argumentos mais fortes a favor da Cosan é que, mesmo agora com um balanço mais pressionado, ela continua a contar com um vasto repertório de estratégias, o que pode abrir caminho para um ciclo arrojado de reciclagem do portfólio.

A expectativa é que a holding anuncie novos rearranjos com outras subsidiárias a fim de desbloquear valor, como a venda do Porto de São Luís, no Maranhão, e alguma operação envolvendo a participação na Moove.

Segundo Marcelo Inoue, porém, será difícil ver uma mudança drástica das perspectivas para Cosan no curto prazo. “Tudo pode mudar em questão de meses, mas creio que esse tende a ser um ano difícil para Cosan, com a vida da holding podendo começar a melhorar em 2026.”

Para um gestor com posição comprada em Cosan, o fundamento para investimentos em CSAN3 continua, mas o papel deve continuar numa situação apertada pelos próximos dois anos.
Procurada pela reportagem do Seu Dinheiro, a Cosan não quis dar entrevista.

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