🔴 A TEMPORADA DE BALANÇOS DO 1T25 JÁ COMEÇOU – CONFIRA AS NOTÍCIAS, ANÁLISES E RECOMENDAÇÕES

Felipe Miranda: A banalidade do bem, a zona de desinteresse e o elogio do vira-lata

Três coisas que precisam ser ditas sobre a política monetária de Lula antes do resultado da reunião do Copom.

18 de junho de 2024
20:15 - atualizado às 18:48
brasil bolsa ibovespa ações expectativas gestores
Imagem: Shutterstock/Montagem: Giovanna Figueredo

O arcabouço fiscal, tal como nós conhecemos, acabou.

Chegamos a uma encruzilhada.

O conjunto de regras fiscais trazia inconsistências desde a largada, mas a brevidade de sua vida surpreendeu.

Ao vincular os gastos com saúde e educação à receita, que por sua vez cresce, por construção, mais rápido do que a média da despesa, contratamos uma expansão mais acelerada desses dispêndios frente aos demais.

Ao mesmo tempo, as linhas de previdência são reajustadas pelo salário mínimo, assim como outros benefícios sociais. Como há ganhos reais na política do salário mínimo, esses gastos obrigatórios também cresceriam mais rápido. Em pouco tempo, as despesas discricionárias seriam esmagadas. Cedo ou tarde, teríamos de rever a dinâmica.

O framework já emitia sinais mais tangíveis de fraqueza desde a criação de crédito extraordinário de R$ 15,8 bilhões e da revisão das metas fiscais para 2025 e 2026. Sofreu um golpe de misericórdia com a MP da monetização dos créditos de PIS/Cofins. Não que ela fosse algo muito diferente da tradição brasileira.

Leia Também

Os puxadinhos tributários e a alteração de regras fiscais, para tristeza geral da nação, é figurinha repetida no álbum de jabuticabas. Mas parece haver chegado um limite para a tolerância da sociedade civil a aumento de impostos e mudanças súbitas de regras. A MP foi devolvida e ninguém quer embalar o filho gerido com o rombo de R$ 25,8 bilhões no orçamento a partir da continuidade da desoneração da folha de pagamento.

Os empresários se organizaram. O Congresso entendeu. Quase toda a imprensa mais institucionalizada aponta a necessidade de revisar o gasto público. Os mercados, que somos todos nós, manifestam o desconforto com os níveis de preço dos ativos – nossa moeda está entre as piores performances do mundo em 2024, assim como nossa Bolsa.

Não há mais como continuar o ajuste fiscal pela via da receita. Precisaremos entrar na linha dos gastos. Se o modelo em curso não é mais viável, teremos de mudar, ainda que seja para continuarmos os mesmos.

Como não há mais espaço para brigar por receita, a bifurcação se coloca: ou reduzimos os gastos, ou não fazemos ajuste algum. O Brasil está neste momento escolhendo qual caminho seguir.

Na sexta-feira, encontramos uma boa notícia. Fernando Haddad e Simone Tebet explicitaram uma avenida potencial de corte de custos, numa revisão “ampla, geral e irrestrita” da despesa pública. A animação “ampla, geral e irrestrita” não foi muito longe.

No final de semana, a demagogia e as platitudes entraram em cena. O presidente Lula afirmou que não faria ajuste fiscal em cima dos pobres, que precisariam entrar no orçamento. A desvinculação das despesas com saúde e educação da receita tributária estaria descartada.

Hannah Arendt cunhou a expressão “banalidade do mal” ao testemunhar o julgamento de Karl Eichmann em Jerusalém. Identificou que as atrocidades cometidas pelos nazistas não decorriam necessariamente de uma postura demoníaca deliberada, mas de uma espécie de rotina de trabalho, algo comum e prático.

Ao defender-se dizendo que apenas cumpria ordens, seguindo as leis vigentes e obedecendo a oficiais superiores, Eichmann banalizava a razão e a coerência do ser humano. A mensagem principal do filme “Zona de Interesse”, vencedor do Oscar em 2024, se conecta umbilicalmente com o conceito de Hannah Arendt.

A Zona de Desinteresse

Com sua vitalidade iorubá e sua criatividade macunaímica, o Brasil quer criar a banalidade do bem. A retórica populista e o desrespeito à aritmética elementar no orçamento não estão incluindo o pobre no orçamento. Ao contrário, quando as expectativas de inflação ficam desancoradas, o dólar sobe e os juros futuros disparam, estamos contratando perda do poder de compra do pobre. Ele está sendo cada vez mais alijado do orçamento público.

É legítima a discussão do nível de juros no Brasil, pelo presidente da República ou seus ministros. Mas flertes com tentativas de imposição de uma Selic mais baixa na marra apenas significam uma Selic mais alta no futuro.

O processo inflacionário obedece a uma profecia autorrealizável. Se a expectativa de inflação está subindo, os agentes econômicos se antecipam ao esperado incremento dos preços no futuro e já alimentam a inflação de hoje.

O medo de uma política fiscal muito frouxa e de uma política monetária subserviente ou muito tomadora de risco disparam o dólar, que afeta os preços dos importados primeiro e, depois, pelo repasse cambial, contaminam os demais produtos daquela economia. O Banco Central precisa reagir e acaba subindo o juro lá na frente.

Como na mensagem tropicalista, “o mal é bom, e o bem cruel”. Ou, como insiste Luiz Felipe Pondé, aquele que se diz muito do bem com certeza é do mal. A virtude é silenciosa.

Se queremos fazer política social, primeiro precisaremos arrumar o fiscal. Não há milagre da multiplicação do dinheiro público. Ou melhor: até pode haver, com a impressão de moeda gerando a óbvia consequência da inflação, que concentra renda e aleija o pobre.

Se queremos juros mais baixos, havemos de deixar o Banco Central fazer seu trabalho estritamente técnico. É isso que promoverá a reancoragem das expectativas e abrirá caminho para flexibilização monetária.

Curiosamente, depois do dissenso na última reunião do Copom, se queremos uma postura mais dovish na próxima presidência do Banco Central, não podemos nomear um presidente dovish! Credibilidade importa e, a esta altura, a nomeação de um nome heterodoxo vai cobrar mais prêmio de risco, com elevação do breakeven inflation e, no final do dia, exigência de juros maiores.

A recuperação do respeito institucional do Copom precisa começar já nesta quarta-feira, com a manutenção da taxa Selic e unanimidade na decisão. Na ótica monetária, o governo ainda dispõe de uma carta supertrunfo para recuperar instantaneamente a credibilidade: a nomeação de um economista ortodoxo.

Há duas coisas a se lembrar: i) não está escrito em lugar algum que Gabriel Galípolo será o próximo presidente do BC; e ii) Lula já governou, com muito êxito, tendo Henrique Meirelles, à época chamado de “a raposa no galinheiro”, na liderança do Banco Central.

A semana também pode ser decisiva na esfera fiscal. Precisamos desvincular e desindexar uma série de gastos públicos. Uma discussão eventual sobre reforma administrativa, sob a retórica popularesca (e de esquerda) de caça a privilégios do funcionalismo, poderia ser outra ferramenta fora do radar neste momento. A cartilha para arrumar a casa é muito bem conhecida e documentada.

A História está sendo escrita justamente agora, com consequências severas. De maneira curiosa, poucas vezes estive tão otimista com o futuro de longo prazo do Brasil.

Se optarmos por finalmente respeitar a aritmética básica das contas públicas e adotarmos o caminho do ajuste, este será o caminho bom. E o cenário bom é… o cenário bom. Prescinde de maiores explicações.

Como estamos apreçados para níveis de crise e ruptura, numa zonal de completo desinteresse e abandono, a recuperação dos mercados brasileiros poderia ser bastante intensa, em especial porque o cenário externo emite sinais favoráveis, com boas chances de cortes de juro nos EUA no segundo semestre.

Já se a opção for pelo caminho do desajuste, o curto prazo seria muito ruim. Precisamos nos preparar, dilatar o horizonte temporal dos investimentos e sermos capazes de atravessar a crise.

No entanto, aqueles com capacidade de olhar para o longo prazo, precisariam agradecer. Teríamos um ano e meio aproximadamente de sofrimento, vivendo uma espécie de “O Fim do Brasil 2”. A partir daí, há chances de uma inflexão destacada e de um dos maiores ciclos de apreciação já conhecidos.

E o que aguarda o futuro...

O ano de 2026 será dominado pela disputa presidencial e pela possibilidade grande de um expressivo rali eleitoral. Se confirmado, teríamos, então, os primeiros quatro anos de um governo reformista e fiscalista, pró-mercado.

Não haveria herdeiros políticos competitivos óbvios para a esquerda nas eleições de 2030. E dado o ciclo do primeiro mandato positivo entre 2027 e 2030, uma re-eleição seria muito provável. Contrataríamos uma jornada de nove anos positivos de Brasil. É tempo suficiente para fazer muita coisa boa.

Quem sabe o vira-lata, miscigenado, sincretista e com uma posição geográfica privilegiada diante de um ambiente geopolítico bastante tenso, finalmente não possa almejar voos mais ambiciosos?

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Quando o plano é não ter plano: Ibovespa parte dos 135 mil pontos pela primeira vez em 2025 em dia de novos dados sobre mercado de trabalho dos EUA

29 de abril de 2025 - 8:25

Investidores também se preparam para o relatório de produção e vendas da Petrobras e monitoram entrevista coletiva de Galípolo

PESQUISA

Desaprovação a Lula cai para 50,1%, mas é o suficiente para vencer Bolsonaro ou Tarcísio? Atlas Intel responde

28 de abril de 2025 - 18:13

Os dados de abril são os primeiros da série temporal que mostra uma reversão na tendência de alta na desaprovação e queda na aprovação que vinha sendo registrada desde abril de 2024

VAI PAUSAR OU AUMENTAR?

Copom busca entender em que nível e por quanto tempo os juros vão continuar restritivos, diz Galípolo, a uma semana do próximo ajuste

28 de abril de 2025 - 14:02

Em evento, o presidente do BC afirmou que a política monetária precisa de mais tempo para fazer efeito e que o cenário internacional é a maior preocupação do momento

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços

28 de abril de 2025 - 8:06

Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana

conteúdo EQI

FI-Infras apanham na bolsa, mas ainda podem render acima da Selic e estão baratos agora, segundo especialistas; entenda

26 de abril de 2025 - 12:00

A queda no preço dos FI-Infras pode ser uma oportunidade para investidor comprar ativos baratos e, depois, buscar lucros com a valorização; entenda

FGC EM RISCO?

Normas e tamanho do FGC entram na mira do Banco Central após compra do Banco Master levantar debate sobre fundo ser muleta para CDBs de alto risco

25 de abril de 2025 - 14:30

Atualmente, a maior contribuição ao fundo é feita pelos grandes bancos, enquanto as instituições menores pagam menos e têm chances maiores de precisar acionar o resgate

JÁ PODE PEDIR MÚSICA

Fernando Collor torna-se o terceiro ex-presidente brasileiro a ser preso — mas o motivo não tem nada a ver com o que levou ao seu impeachment

25 de abril de 2025 - 11:01

Apesar de Collor ter entrado para a história com a sua saída da presidência nos anos 90, a prisão está relacionada a um outro julgamento histórico no Brasil, que também colocou outros dois ex-presidentes atrás das grades

DE OLHO NA VIRADA

Vai dar zebra no Copom? Por que a aposta de uma alta menor da Selic entrou no radar do mercado

25 de abril de 2025 - 10:27

Uma virada no placar da Selic começou a se desenhar a pouco mais de duas semanas da próxima reunião do Copom, que acontece nos dias 6 e 7 de maio

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Deixa a bolsa me levar: Ibovespa volta a flertar com máxima histórica em dia de IPCA-15 e repercussão de balanço da Vale

25 de abril de 2025 - 8:23

Apesar das incertezas da guerra comercial de Donald Trump, Ibovespa está a cerca de 2% de seu recorde nominal

CORRENDO CONTRA O RELÓGIO

Guido Mantega vai ficar de fora do conselho da Eletrobras (ELET3) e governo busca novo nome, diz jornal 

24 de abril de 2025 - 18:56

Há cinco dias da assembleia que elegerá os membros do conselho da empresa, começa a circular a informação de que o governo procura outra opção para indicar para o posto

PENDURADOS NO SAC

Bradesco dispara em ranking do Banco Central de reclamações contra bancos; Inter e PagSeguro fecham o pódio. Veja as principais queixas

24 de abril de 2025 - 18:04

O Bradesco saiu da sétima posição ao fim de 2024 para o primeiro colocado no começo deste ano, ao somar 7.647 reclamações procedentes. Já Inter e PagSeguro figuram no pódio há muitos trimestres

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar

24 de abril de 2025 - 8:11

China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Seu frouxo, eu mando te demitir, mas nunca falei nada disso

23 de abril de 2025 - 20:01

Ameaçar Jerome Powell de demissão e chamá-lo de frouxo (“a major loser”), pressionando pela queda da taxa básica, só tende a corromper o dólar e alimentar os juros de longo prazo

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Agora 2025 começou: Ibovespa se prepara para seguir nos embalos da festa do estica e puxa de Trump — enquanto ele não muda de ideia

23 de abril de 2025 - 8:06

Bolsas internacionais amanheceram em alta nesta quarta-feira diante dos recuos de Trump em relação à guerra comercial e ao destino de Powell

SELIC VS DÓLAR

Banco Central acionou juros para defender o real — Galípolo detalha estratégia monetária brasileira em meio à guerra comercial global

22 de abril de 2025 - 15:50

Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Gabriel Galípolo detalhou a estratégia monetária do Banco Central e sua visão sobre os rumos da guerra comercial

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Orgulho e preconceito na bolsa: Ibovespa volta do feriado após sangria em Wall Street com pressão de Trump sobre Powell

22 de abril de 2025 - 8:11

Investidores temem que ações de Trump resultem e interferência no trabalho do Fed, o banco central norte-americano

CONTAS DE PASSAGEM

O preço de um crime: fraudes no Pix disparam e prejuízo ultrapassa R$ 4,9 bilhões em um ano

21 de abril de 2025 - 16:08

Segundo o Banco Central, dados referem-se a solicitações de devoluções feitas por usuários e instituições após fraudes confirmadas, mas que não foram concluídas

ANOTE NO CALENDÁRIO

Agenda econômica: é dada a largada dos balanços do 1T25; CMN, IPCA-15, Livro Bege e FMI também agitam o mercado

21 de abril de 2025 - 8:15

Semana pós-feriadão traz agenda carregada, com direito a balanço da Vale (VALE3), prévia da inflação brasileira e reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN)

CASA PRÓPRIA

De olho na classe média, faixa 4 do Minha Casa Minha Vida começa a valer em maio; saiba quem pode participar e como aderir

21 de abril de 2025 - 7:00

Em meio à perda de popularidade de Lula, governo anunciou a inclusão de famílias com renda de até R$ 12 mil no programa habitacional que prevê financiamentos de imóveis com juros mais baixos

AVALIAÇÃO EM SP

Lula é reprovado por 59% e aprovado por 37% dos paulistas, aponta pesquisa Futura Inteligência

19 de abril de 2025 - 15:33

A condição econômica do país é vista como péssima para a maioria dos eleitores de São Paulo (65,1%), com destaque pouco satisfatório para o combate à alta dos preços e a criação de empregos

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar