🔴 META: ATÉ R$ 334,17 POR NOITE – CONHEÇA A ESTRATÉGIA

Felipe Miranda: Dilema do prisioneiro, versão brasileira

Como um dilema proposto em 1950 nos ajuda a entender o que está acontecendo no Brasil

3 de junho de 2024
20:01 - atualizado às 17:32
Homem parado olhando para uma parede preta com pontos de interrogação e exclamação
Imagem: Shutterstock

“Dilema do prisioneiro” é aquele tipo de equilíbrio de Nash (sim, do filme “Uma Mente Brilhante”) em que a falta de coordenação entre os envolvidos leva a um resultado pior frente ao que seria o ótimo social.

Se você já conhece o problema, pode pular os próximos três parágrafos.

Originalmente, o dilema foi proposto em 1950 por Merrill Flood e Melvin Dresher, apresentado assim:

Dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia tem provas insuficientes para os condenar, mas, separando os prisioneiros, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença.

Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos traírem o comparsa, cada um leva 5 anos de cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro.

  • As melhores recomendações da Empiricus na palma da sua mão: casa de análise liberou mais de 100 relatórios gratuitos; acesse aqui

A questão que o dilema propõe é: o que vai acontecer? Como o prisioneiro vai reagir?

O melhor para os dois seria ambos negarem, claro. No entanto, movido pelo autointeresse e sem saber se o colega vai cooperar, um resultado típico costuma ser os dois delatarem, com medo de chegarem ao pior resultado para si.

“Delatar" é a chamada estratégia dominante para ambos os jogadores. Se "B" negar, a decisão de “A" deveria ser, pensando em si, mesmo, delatar (“A” sai livre, contra a alternativa de ser condenado a seis meses).

Já se “B” delatar, o melhor para “A" também seria delatar (“A" é condenado a cinco anos, contra a alternativa de pegar 10 anos). Vale o mesmo raciocínio para as decisões de “B”. Assim, chegamos ao resultado indesejável para os dois, mesmo com uma postura estritamente racional.

Como aplicamos esse dilema na economia do Brasil de hoje?

Há uma série de aplicações do Dilema do Prisioneiro e do tema mais geral de Teoria dos Jogos à Economia. A maior parte delas está centrada na Microeconomia e dinâmicas competitivas, mas não é só isso.

Paul Krugman, por exemplo, tem um artigo clássico sobre coordenação entre política fiscal e monetária na esfera macro. A melhor combinação possível entre as políticas seria um fiscal apertado, com um monetário frouxo.

Ocorre que, sem conseguir confiar na capacidade dos governos se manterem austeros diante do claro viés populista, costumamos morrer exatamente no oposto: uma política fiscal frouxa, que força um monetário apertado. Qualquer semelhança com o caso brasileiro não é mera coincidência.

É curioso como governos de esquerda costumam criticar os juros altos, mas acabam sendo seus principais causadores. O governo gasta mais e impõe uma trajetória não-convergente para a dívida pública. Investidores cobram mais juros para financiar o país.

As expectativas de inflação sobem com medo de o Banco Central perder a moeda. A política monetária se vê obrigada a reagir. Voltando à teoria dos jogos, é como se estivéssemos numa dinâmica de Stackelberg em que o Copom, embora seja quem define a Selic, apenas reage à escolha do líder.

Outra aplicação bem típica à Pindorama se verifica na reforma tributária. O melhor para todo mundo seria ninguém ter alíquota privilegiada.

Todos pagam o mesmo imposto, chegando a isonomia tributária, simplificação e eficiência produtiva. O capital não é alocado a partir de planejamentos tributários e não precisamos submeter o produto à Zona Franca de Manaus, enfrentando a logística do labirinto do Minotauro, para ter uma determinada isenção.

Mas sabemos que o setor X da economia, que é muito estratégico e tem efeitos sociais enormes, vai lá fazer seu lobby. Então, o setor Y também se motiva a fazer o mesmo. Em pouco tempo, todo o alfabeto, que gostaria de ter uma alíquota geral menor, está lá barganhando seu próprio benefício.

Assim se forma o país da meia-entrada. Uma porção enorme de setores fica com uma alíquota diferenciada. O resto da sociedade paga a conta. Morremos com a maior alíquota de IVA do mundo.

Do outro lado, na política...

Tudo isso é conhecido, sem grandes novidades. Agora, porém, entra uma nova dinâmica em cena. Na teoria dos jogos, a prática é outra. No equilíbrio entre Executivo e Legislativo, encontramos um desastre para os verdadeiros liberais.

O governo teoricamente progressista perde todas as pautas de costumes, seja a PEC das Drogas, os vetos da saidinha ou a manutenção da decisão de Bolsonaro para a Lei de Segurança Nacional. Não há progressismo algum na agenda de costumes.

Ao mesmo tempo, observamos um governo deliberadamente reacionário na economia, tentando recuperar pautas de 20 anos atrás.

O problema não é exatamente que as ideias sejam velhas, mas que sejam velhas e ruins. Não deu certo antes e não há nenhuma evidência de que possam dar certo agora. Dizem que repetir o mesmo procedimento esperando um resultado diferente é uma das definições de loucura.

Vivemos um ambiente de contrarreforma ou de restauracionismo, em que buscamos voltar a um passado anterior à Lei das Estatais, menor independência do Banco Central, leis de conteúdo nacional para o setor petróleo, insistência obsessiva por refinarias como Abreu e Lima, nova tentativa de revitalizar a fracassada indústria naval.

Poderíamos chegar a uma espécie de ótimo social em que Paulo Guedes conduziria a economia e Haddad tocaria a pauta dos costumes. Estamos com o risco de ter Galípolo definindo boa parte da política econômica e Silas Malafaia pregando os costumes.

Reclamamos da polarização entre Lula e Bolsonaro, mas precisamos tomar cuidado com o que desejamos. Do jeito que as coisas vão, o reacionarismo do governo na economia e do Congresso nos costumes pode nos levar a um resultado ainda pior.

Com uma ala do PT cogitando outro candidato em 2026 e Bolsonaro impedido, podemos fugir da atual polarização para cair em outra, num grande embate entre primeiras damas.

Você já está preparado para Janja contra Michele? E para quem achar São Paulo mais avançada e “leading" para o restante do Brasil, conseguiremos conviver com o prefeito Pablo Marçal?

Bom, quem sabe assim possamos aprender a subitamente pilotar um helicóptero diante de uma pane no ar, nos preparar para um Ironman em cinco dias, lutar contra um rinoceronte. Estamos perdendo o senso do ridículo e, com ele, a esperança.

Este é um novo risco do Brasil: deixarmos até mesmo o título de país do futuro. Veja o que aconteceu com a Argentina quando a elite intelectual e empresarial desistiu de seu país.

Ainda há tempo de evitar o pior, com foco de curto prazo em encerrar a desancoragem das expectativas de inflação. Um primeiro passo importante seria Fazenda e BC voltarem a se falar diretamente.

Reclamar na imprensa que o outro só fala com o mercado não vai ajudar muito.

Compartilhe

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Com mundo de olho na abertura dos Jogos Olímpicos, mercado aguarda PCE para o pontapé inicial na bolsa

26 de julho de 2024 - 7:52

Além de Wall Street, Ibovespa também repercute hoje os números do Governo Central e o balanço da Vale no segundo trimestre

SEXTOU COM O RUY

“Caçadores de ações”: a empresa que ainda está fora do radar dos investidores, mas é por pouco tempo

26 de julho de 2024 - 6:08

A ótima prévia operacional nos deixa mais confiantes de que essa companhia está no caminho certo para voltar a dar lucro ainda em 2024, podendo inclusive se tornar uma boa pagadora de dividendos para quem tem paciência e pensa no longo prazo

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Bugs, bolhas e tecnologia: Big techs azedam o clima nas bolsas em dia de PIB dos EUA e de IPCA-15

25 de julho de 2024 - 8:07

Ibovespa ainda tem que lidar com petróleo e minério de ferro em queda e dólar em alta com mercado à espera do balanço da Vale

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Obrigado, mas não, obrigado

24 de julho de 2024 - 20:30

Recentemente, a startup de cibersegurança Wiz deixou passar uma oferta de US$ 26 bilhões feita pela dona do Google

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A maionese desanda na bolsa: Big techs e minério de ferro pesam sobre os mercados internacionais e Ibovespa paga a conta

24 de julho de 2024 - 7:47

Enquanto resultados trimestrais da Tesla e da dona do Google desapontam investidores, Santander Brasil dá início à safra de balanços dos bancões por aqui

CRYPTO INSIGHTS

Tudo o que você precisa saber sobre os ETFs de Ethereum (ETH) que acabaram de ser lançados

23 de julho de 2024 - 17:36

Segue um dashboard da Bloomberg mostrando as gestoras que estão criando seus respectivos ETF´s de Ether, tickers, taxas, exchanges de negociação e custodiantes

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Ibovespa fica a reboque do exterior antes dos balanços das big techs

23 de julho de 2024 - 8:02

Enquanto temporada de balanços ganha tração em meio a agenda fraca, Ibovespa se prepara para os resultados dos bancões

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Uma rotação setorial está em andamento — e ela conversa com o ‘Trump Trade’

23 de julho de 2024 - 6:37

Rotação setorial coincide com esgotamento da valorização das ‘big techs’ em Wall Street e inflação desacelerando nos EUA

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Erro de design na indústria de multimercados

22 de julho de 2024 - 20:03

O que aconteceu para os conhecedores de política monetária restritiva perderem tanto dinheiro no começo de 2024?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

O poder dos fatos novos: Ibovespa reage a desistência de Biden e corte de juros na China

22 de julho de 2024 - 8:04

A bolsa brasileira tem pela frente uma agenda carregada, com os balanços da Vale e do Santander e o IPCA-15; lá fora, PCE é o destaque

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar