🔴VEM AÍ ONDE INVESTIR NO 2º SEMESTRE – DE 1 A 4 DE JULHO – INSCREVA-SE GRATUITAMENTE

Felipe Miranda: Bizarre love triangle

Há um triângulo amoroso meio bizarro entre os indicadores macroeconômicos clássicos, as relações institucionais e as relações microeconômicas

14 de agosto de 2023
20:22 - atualizado às 19:09
triângulo amoroso
Imagem: Shutterstock

"A briga de infantaria ou na guerra de trincheiras eram imagens que nos acostumamos a usar para descrever o aspecto cotidiano da briga contra a inflação. E este é o aspecto mais infernal dessa fase da guerra: todos os dias tem uma briga, mais ou menos como um longo campeonato de basquete. Todo dia tem jogo, todo dia é 102 x 101, 98 x 97; você ganha 84 coisas, perde 87; tem dias que você perde, vai dormir irritado. É sempre jogo duro, todo dia. Todo dia tem 500 ações. Está bem, 500 é exagero, mas umas 100 ações por fazer. Você ganha mais ou menos a metade, perde mais ou menos a outra metade e, com o tempo, vai ganhando mais do que perdendo. Isso inclui pequenas coisas no Ministério da Fazenda, no Banco Central e no plano administrativo, como dizer ‘não' ou ‘sim’ para determinadas demandas. Como no mercado, quando o Banco Central atua em juro, em câmbio, todo dia tem uma encrencazinha, uma queda de braço. Então, todo dia você sai de capacete. E foi assim durante quatro anos.”

“'Mas quem manda aqui? É o Bacha?’ Pois eles mostraram que quem mandava lá eram eles. Serviu de lição — de vez em quando, devemos ser duros. Mas em política não há inimigos. Há adversários. Você briga ali, sai na pancadaria diante do palanque, e de noite está todo mundo jantando no Tarantela. Não tem essa conversa. É preciso também compreender o momento da negociação. Um congressista me alertou: ‘ô Bacha, em política o relógio zera todo dia. Não entregue nada hoje para ganhar alguma coisa amanhã. O que você quer hoje, pega de volta hoje também, entendeu?’ Há essas questões de saber negociar. Saber o que é definitivo ou não, ruim de verdade ou não. E de vez em quando você tem de aceitar que não tem jeito.”

“Uma grande lição, que aprendi na época do Alan Greenspan, tanto no Banco Garantia quanto no fundo do Soros depois, mas principalmente no Soros, é que uma boa estratégia de investimento tem que cruzar as informações macroeconômicas com as microeconômicas. As microeconômicas vêm das empresas, dos setores e do comportamento cíclico de cada setor, que é algo hoje bem entendido. Na época, já era um pouco, contudo houve aprendizados ao longo do caminho. E esse olhar para o qualitativo foi, pra mim, sempre da maior importância.”

Os três parágrafos acima estão no livro “A arte da política econômica” e descrevem, na ordem, palavras de Gustavo Franco, Edmar Bacha e Armínio Fraga. Além da dica cultural, tomo os dizeres emprestados pois eles me parecem oferecer lições valiosas para o momento do Brasil e, até surpreendentemente, para as decisões de investimento envolvendo Brasil.

O Ibovespa acumula dez quedas consecutivas — uma regularidade de fazer inveja até para o time do Santos. Todos torcíamos pelo início do ciclo de cortes da Selic em agosto, com uma redução de 50 pontos-base, que seria, supostamente pelo menos, um catalisador importante para nossa bolsa.

Cuidado com o que você deseja. Veio o corte, tal como o desejado, e nosso principal índice de ações ainda não conheceu uma alta diária sequer neste mês.

Leia Também

O que está acontecendo? Além do diagnóstico em si, o que poderíamos traçar de prognóstico? A tendência de alta teria se esgotado? Ou estamos apenas diante de um natural tropeço numa caminhada mais longa e profícua.

  • Sua carteira de investimentos está adequada para o 2º semestre do ano? O Seu Dinheiro preparou um guia completo e totalmente gratuito com indicações de ativos para os próximos seis meses. Confira na íntegra, clicando aqui.

Selic e o Ibovespa

Há uma coisa interessante sobre essa correlação entre ciclo de corte da Selic e comportamento do Ibovespa. É verdade que, a julgar por comportamentos históricos, as ações tendem a subir durante ciclos de afrouxamento monetário — nos últimos seis ciclos ao longo dos últimos 20 anos, a alta acumulada média foi de 35%, com mediana semelhante.

No entanto, é curioso que, na média, o mês em que ocorre o primeiro corte da Selic costuma trazer uma queda para o Ibovespa. Talvez seja aquela história de “sobe no boato, cai no fato”, com agentes antecipando o ciclo de cortes. Mas talvez seja também apenas um ruído aleatório de curto prazo.

Uma amostra de seis períodos ainda é muito pequena e oferece uma variância grande. Certamente, o mundo não é ceteris paribus e há uma enormidade de outras variáveis se mexendo além da Selic.

Aqui, é prudente reler o primeiro parágrafo desta coluna. Seja para um país em processo de crescimento ou desenvolvimento, seja para uma tendência de alta do mercado, as coisas são mais “brigadas”.

Mesmo os ciclos de maior valorização das ações em longo prazo são marcados por importantes drawdowns no meio do caminho, de 20%, 30%, até 50%. Depois, quando passa, vira um soluço quase imperceptível no gráfico de longo prazo. Mas, no momento em que você está vivendo, é sofrido. Testa convicção todo dia.

Uma das aulas do curso presencial de Nassim Taleb é quase integralmente dedicada a um paper publicado por um amigo dele, ex-Renaissance, mostrando, entre outras coisas, que o mercado passa 75% em drawdown. Ou seja, é sempre uma sofrência.

Veja: não sou daqueles que “dormem como um príncipe” diante de uma sequência negativa extensa. Na verdade, nunca durmo como um príncipe. Nem acho que deveria. Prefiro o velho clichê de “nós estamos sem dormir para que os clientes possam dormir bem”. Aqui, ele é verdadeiro.

Sabemos que performances negativas, ainda que de curtíssimo prazo, podem incomodar os clientes. E vê-los incomodados e permanecer incólume me soa quase como desrespeito.

Mas esse incômodo intelectual ou emocional, sei lá, jamais pode se transformar numa atitude irracional propriamente dita, que implique entrar em pânico e se desfazer de ativos por conta de ruídos e volatilidade de curto prazo. “Every time I see you falling, I get down on my knees and pray.” Pode chorar e rezar, mas guarde isso com você. Não saia apertando botões antes da hora.

VEJA TAMBÉM — Pensão alimentícia: valor estabelecido é injusto! O que preciso para provar isso na justiça? Veja em A Dinheirista

Agosto sem fim

O momento nos leva agora ao segundo parágrafo deste texto. Existe algo tipicamente ruim no mês de agosto, além do fato de ele ser infinito (não é que eu ganho pouco, o mês é que é longo).

Normalmente, começamos o debate de orçamento e da LDO. Com a transferência de poder em favor do Legislativo nos últimos anos, sabemos que sobram pressões por mais emendas parlamentares, num momento de fragilidade fiscal brasileira, quando já está clara a dificuldade de alcance das metas fiscais. Algumas derrotas já estão contratadas.

O mercado não é purista, nem ascético. Se você furasse a meta em R$ 50 bilhões, mas tivesse um plano de voo claro, de estabilização da trajetória do indicador dívida sobre PIB no horizonte tangível, não teríamos grandes problemas. Poderíamos, claro, ter algum ruído ali um ou dois dias. Mas seria de fácil digestão.

Ocorre, porém, que o buraco (fiscal) parece ser mais embaixo. Mais do que isso, ninguém consegue identificá-lo com precisão. Existe uma incerteza enorme sobre como será fechado o rombo no orçamento. E se você não consegue identificar o problema em si, fica muito mais difícil dimensionar o risco e fazer conta. Daí o mercado bate.

Triângulo amoroso

Há um triângulo amoroso meio bizarro entre os indicadores macroeconômicos clássicos, as relações institucionais e as relações microeconômicas.

De alguma maneira, o macro foi razoavelmente ajustado. A inflação está sendo domada, inclusive num processo mais acelerado do que no resto do mundo. Os juros estão caindo. A atividade tem, no geral, superado as projeções. E o arcabouço fiscal afastou a hipótese de completo desrespeito à aritmética elementar das contas públicas, depois de termos flertado de maneira entusiasmada com algo nessa direção horrível.

As relações institucionais também melhoraram, diante de maior harmonia entre os poderes e uma eleição que, a despeito de ruídos aqui e ali, respeitou o trâmite democrático e emitiu importante sinal ao gringo (sim, parte dele tinha medo do desfecho).

Mas justamente porque há um rombo no orçamento, faltando algo entre R$ 100 bi e R$ 150 bi, e o governo optou por fazer um ajuste fiscal pela receita, existe uma incerteza microeconômica enorme.

Quem vai pagar a conta? A economia como um todo conseguirá suportar uma elevação adicional na já elevada carga tributária? “Ah, mas a reforma tributária vai ser neutra…”

Desculpe, tente explicar para algum empresário que está saindo de um regime especial para outro de alíquota cheia e que isso é apenas o fim de regimes específicos…. Para o Seu João, aquilo é aumento de carga, meu caro…

Esse desconhecimento sobre o plano e sobre eventual pacote tributário cria o medo do que pode vir uma espécie de “lobo atrás da porta” que tira o sono de qualquer um, até dos príncipes… E vem nos acometer num momento em que voltamos a temer os efeitos potenciais de um estouro da bolha imobiliária na China e as taxas de juro de mercado voltam a subir lá fora.

As ações brasileiras ainda são baratas, frente a um mundo desenvolvido que, no geral, é caro e à falta de opções viáveis entre outros mercados emergentes (México é a exceção, mas já andou). A posição técnica ainda é razoavelmente convidativa. Mas a caminhada não será um passeio no parque, principalmente se olharmos o Ibovespa como um todo.

Os bancos são uma espécie de “malvado favorito típico”, alvo usual de pacotes tributários e não seria surpresa se, de novo, viessem a ser chamados a pagar a conta. Vale (siderurgia e mineração em geral) sofre com o medo da China. E Petrobras não sabe o que faz da vida: se participa do PAC, se explora a Foz do Amazonas, se reajusta o combustível ou se chama o Gabrielli de volta. Aí já foi mais da metade do índice.

A tendência de alta está preservada, mas ela deve exigir um pouco mais de seletividade, além de um estômago de avestruz.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Um longo caminho: Ibovespa monitora cessar-fogo enquanto investidores repercutem ata do Copom e testemunho de Powell

24 de junho de 2025 - 7:58

Trégua anunciada por Donald Trump impulsiona ativos de risco nos mercados internacionais e pode ajudar o Ibovespa

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Um frágil cessar-fogo antes do tiro no pé que o Irã não vai querer dar

24 de junho de 2025 - 6:15

Cessar-fogo em guerra contra o Irã traz alívio, mas não resolve impasse estrutural. Trégua será duradoura ou apenas mais uma pausa antes do próximo ato?

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Precisamos (re)conversar sobre Méliuz (CASH3)

23 de junho de 2025 - 14:30

Depois de ter queimado a largada quase literalmente, Méliuz pode vir a ser uma opção, sobretudo àqueles interessados em uma alternativa para se expor a criptomoedas

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Nem todo mundo em pânico: Ibovespa busca recuperação em meio a reação morna dos investidores a ataque dos EUA ao Irã

23 de junho de 2025 - 8:18

Por ordem de Trump, EUA bombardearam instalações nucleares do Irã na passagem do sábado para o domingo

DÉCIMO ANDAR

É tempo de festa junina para os FIIs

22 de junho de 2025 - 8:00

Alguns elementos clássicos das festas juninas se encaixam perfeitamente na dinâmica dos FIIs, com paralelos divertidos (e úteis) entre as brincadeiras e a realidade do mercado

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Tambores da guerra: Ibovespa volta do feriado repercutindo alta dos juros e temores de que Trump ordene ataques ao Irã

20 de junho de 2025 - 8:23

Enquanto Trump avalia a possibilidade de envolver diretamente os EUA na guerra, investidores reagem à alta da taxa de juros a 15% ao ano no Brasil

SEXTOU COM O RUY

Conflito entre Israel e Irã abre oportunidade para mais dividendos da Petrobras (PETR4) — e ainda dá tempo de pegar carona nos ganhos

20 de junho de 2025 - 6:03

É claro que a alta do petróleo é positiva para a Petrobras, afinal isso implica em aumento das receitas. Mas há um outro detalhe ainda mais importante nesse movimento recente. 

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Não foi por falta de aviso: Copom encontra um sótão para subir os juros, mas repercussão no Ibovespa fica para amanhã

19 de junho de 2025 - 9:29

Investidores terão um dia inteiro para digerir as decisões de juros da Super Quarta devido a feriados que mantêm as bolsas fechadas no Brasil e nos Estados Unidos

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: São tudo pequenas coisas de 25 bps, e tudo deve passar

18 de junho de 2025 - 14:40

Vimos um build up da Selic terminal para 15,00%, de modo que a aposta em manutenção na reunião de hoje virou zebra (!). E aí, qual é a Selic de equilíbrio para o contexto atual? E qual deveria ser?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Olhando para cima: Ibovespa busca recuperação, mas Trump e Super Quarta limitam o fôlego

18 de junho de 2025 - 8:22

Enquanto Copom e Fed preparam nova decisão de juros, Trump cogita envolver os EUA diretamente na guerra

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Do alçapão ao sótão: Ibovespa repercute andamento da guerra aérea entre Israel e Irã e disputa sobre o IOF

17 de junho de 2025 - 8:24

Um dia depois de subir 1,49%, Ibovespa se prepara para queimar a gordura depois de Trump abandonar antecipadamente o G-7

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Acima do teto tem um sótão? Copom chega para mais uma Super Quarta mirando fim do ciclo de alta dos juros

17 de junho de 2025 - 6:45

Maioria dos participantes do mercado financeiro espera uma alta residual da taxa de juros pelo Copom na quarta-feira, mas início de cortes pode vir antes do que se imagina

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: O fim do Dollar Smile?

16 de junho de 2025 - 20:00

Agora o ouro, e não mais o dólar ou os Treasuries, representa o ativo livre de risco no imaginário das pessoas

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

17 X 0 na bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje, com disputa entre Israel e Irã no radar

16 de junho de 2025 - 8:18

Desdobramentos do conflito que começou na sexta-feira (13) segue ditando o humor dos mercados, em semana de Super Quarta

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Sexta-feira, 13: Israel ataca Irã e, no Brasil, mercado digere o pacote do governo federal

13 de junho de 2025 - 8:16

Mercados globais operam em queda, com ouro e petróleo em alta com aumento da aversão ao risco

SEXTOU COM O RUY

Labubu x Vale (VALE3): quem sai de moda primeiro?

13 de junho de 2025 - 7:11

Se fosse para colocar o meu suado dinheirinho na fabricante do Labubu ou na mineradora, escolho aquela cujas ações, no longo prazo, acompanham o fundamento da empresa

Insights Assimétricos

Novo pacote, velhos vícios: arrecadar, arrecadar, arrecadar

13 de junho de 2025 - 6:03

O episódio do IOF não é a raiz do problema, mas apenas mais uma manifestação dos sintomas de uma doença crônica

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Bradesco acerta na hora de virar o disco, governo insiste no aumento de impostos e o que mais embala o ritmo dos mercados hoje

12 de junho de 2025 - 8:19

Investidores avaliam as medidas econômicas publicadas pelo governo na noite de quarta e aguardam detalhes do acordo entre EUA e China

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Mais uma anomalia para chamar de sua

11 de junho de 2025 - 20:37

Eu sou um stock picker por natureza, mas nem precisaremos mergulhar tanto assim no intrínseco da Bolsa para encontrar oportunidade; basta apenas escapar de tudo o que é irritantemente óbvio

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Construtoras avançam com nova faixa do Minha Casa, e guerra comercial entre China e EUA esfria

11 de junho de 2025 - 8:20

Seu Dinheiro entrevistou o CEO da Direcional (DIRR3), que falou sobre os planos da empresa; e mercados globais aguardam detalhes do acordo entre as duas maiores potências

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar