Os unicórnios estão em extinção? Por que as startups bilionárias sofrem com a alta dos juros e precisam se adaptar para sobreviver
Apesar do cenário adverso, especialistas consultados pelo Seu Dinheiro descartam possibilidade de hecatombe no setor, e uma gestora aposta nos unicórnios para crescer
Cerca de 66 milhões de anos depois do evento cataclísmico que levou os dinossauros à extinção, um meteoro de dimensões descomunais ameaça provocar a extinção de uma espécie existente apenas nas histórias de fantasia e na mitologia do mercado financeiro: os unicórnios.
Se os dinossauros teriam sucumbido a um meteoro de dimensão estimada entre 5km e 15km de diâmetro, os unicórnios parecem estar à mercê de outra espécie de cataclismo: o fim da era do dinheiro quase de graça nos países desenvolvidos.
Caso você não tenha familiaridade com o termo, recebe o nome de unicórnio a startup cujo valor de mercado atinge a casa do bilhão de dólares.
Essa espécie povoa principalmente o setor de tecnologia e tem lugar cativo no imaginário — nem tão popular assim — de quem ambiciona ganhos estratosféricos no mundo dos investimentos.
Em anos recentes, a abundância de liquidez nos mercados financeiros fez com que os investidores concentrassem os recursos em empresas que prometiam crescimento exponencial, mesmo que não apresentassem lucro. Os principais expoentes estavam no setor de tecnologia.
O Brasil conta hoje com pouco mais de 20 unicórnios. A lista de empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão inclui nomes como QuintoAndar, 99, C6 Bank, Hotmart e Mercado Bitcoin. O mais famoso desses unicórnios é certamente o Nubank, que agora busca uma nova forma depois de ter ido à bolsa.
Leia Também
Bolsonaro é preso preventivamente a pedido da PF
Leia também
- Coinbase desiste de fusão com a 2TM, controladora do unicórnio brasileiro de criptomoedas Mercado Bitcoin; entenda o caso
- Unicórnio brasileiro, Neon capta R$ 1,6 bilhão com o BBVA de olho em públicos de média e baixa renda
- Na “caça aos unicórnios”, Itaú lança fundo para aplicar em gestores de investimentos alternativos
Agora, a tendência de liquidez cada vez menor deve fazer com que os donos do dinheiro se tornem menos tolerantes a riscos. E isso atinge em cheio o chamado venture capital, do qual tanto dependem as startups e as soluções por elas prometidas.
Saímos então em busca de uma resposta para uma pergunta simples: o meteoro dos juros realmente vai levar os unicórnios à extinção?
Nos próximos parágrafos, compartilhamos com você nossas descobertas e já adiantamos: uma gestora pretende mais do que dobrar de tamanho investindo em… unicórnios.
Especialistas descartam extinção dos unicórnios
Vamos entregar a resposta cedo, mas não é spoiler. É que realmente surgiram elementos mais interessantes do que a resposta que buscávamos originalmente.
Dentre os muitos efeitos da alta dos juros sobre os mercados financeiros, dois movimentos chamam mais a atenção: a “ressurreição” da renda fixa e, no caso das ações, o redirecionamento do foco dos investidores para as empresas geradoras de valor — em detrimento das chamadas ações de crescimento.
Já no mundo das startups, os especialistas consultados pelo Seu Dinheiro observam uma mudança de comportamento diante do enxugamento da liquidez, principalmente por parte dos investidores, mas descartam a possibilidade de uma hecatombe no setor.
Em suma, ainda veremos unicórnios circulando no mundo financeiro, mas eles podem ser de uma espécie diferente daquela que se proliferou nos anos de juro zero.
Investidores e startups precisam se adaptar ao novo momento
André Luiz Barbosa, professor de empreendedorismo no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), diz que a alta dos juros e a instabilidade política — tanto no Brasil quanto no exterior — inauguraram uma nova fase na relação entre investidores e startups.
“Não é que exista uma crise. Agora é um momento em que esses investidores vão passar a cobrar os resultados prometidos anteriormente por essas startups”, afirma.
Mas não são apenas os investidores que precisam se adaptar ao novo momento. As startups também vão precisar mostrar mais do que projetos ambiciosos. É a hora, segundo ele, de começar a dar retorno ao investidor.
“Os gestores que criaram as startups agora precisam fazer ajustes na rota, reduzir custos, melhorar o processo para começar a entregar a rentabilidade prometida”, afirma Barbosa.
Um dos desdobramentos dessa nova relação dos unicórnios com o mercado é o corte de pessoal.
Recentemente, os principais unicórnios brasileiros promoveram demissões em massa.
Gestora lança fundo de unicórnios
Enquanto muitos participantes do mercado olham para as startups com apreensão, temerosos de uma iminente extinção dos unicórnios, uma gestora vem na contramão e está prestes a fechar um fundo para investir em unicórnios.
Estamos falando da Catarina Capital. A gestora está na reta final da estruturação jurídica — e também da captação dos recursos.
Fundador da Catarina Capital, José Augusto Albino disse que planeja lançar o fundo assim que concluir a captação de US$ 50 milhões (R$ 240 milhões). Segundo ele, isso deve ocorrer em algum momento no segundo semestre deste ano.
E esses 50 milhões de dólares são apenas a meta inicial. Caso seja alcançada, a Catarina vai mais do que dobrar o volume de dinheiro mantido atualmente sob sua custódia — cerca de R$ 200 milhões — em uma tacada só.
Albino não abriu todos os detalhes, até pelo fato de a operação ainda estar em fase de estruturação, mas adiantou que a aposta da Catarina Capital é direcionada a startups cujas operações estão mais maduras, onde se enquadram as empresas candidatas a virar unicórnio.
Até por isso, o fundo terá duração mais curta (6 anos) do que a média, que varia entre 10 e 12 anos.
Leia também
- Ânima (ANIM3) cria fundo de R$ 150 milhões para investir em startups de educação e outros segmentos; saiba mais
- Além da bolsa: B3 lança fundo de R$ 600 milhões para investir em startups
- Americanas (AMER3) lança plataforma para aceleração de startups; veja como participar
Rentabilidade menor, mas menos risco (e vice-versa)
Um dos fatores a afastarem os investidores das startups neste momento de liquidez menor é o elevado risco do negócio.
Em um cenário normal, a estimativa é que metade das empresas agraciadas com seed money por investidores venha a quebrar num prazo relativamente curto. “Claro que as que derem certo vão dar um retorno de 10, 20, 30 vezes o capital investido. Porém um fundo seed teria um prazo mais elevado e com um risco muito mais alto”, afirma Albino.
Ele avalia que a busca por empresas mais maduras e o prazo mais curto podem até reduzir a rentabilidade, mas diminuem drasticamente o risco.
“Um fundo como o nosso não vai dar 100% de retorno ao ano. Nosso foco é um retorno mais próximo do que é o private equity [que investe em empresas maiores], de 25% a 30% ao ano.”
- SIGA A GENTE NO INSTAGRAM: análises de mercados, insights de investimentos e notícias exclusivas sobre finanças
O mercado vai filtrar os unicórnios
O gestor acredita que o mercado vai acabar “filtrando” os unicórnios e considera essa discussão um tema natural em um momento de baixa do mercado. No entanto, ele não vê um risco de extinção dessa espécie de empresa.
Ao mesmo tempo em que há empresas que cresceram exclusivamente à base de muito dinheiro, também existem bons unicórnios. Essas empresas seguem com potencial enorme para crescer, endereçando problemas, fazendo entregas boas, com uma base tecnológica por trás, segundo Albino.
”O mercado vai filtrar quem está bem, quem está mal, quem faz sentido e quem não faz.”
Janela para IPOs de startups está fechada
Quando se fala em unicórnios, um tema que não pode faltar é a possibilidade de abertura de capital.
Entretanto, não existe espaço neste momento para o IPO de startups. Trata-se de um consenso entre os analistas ouvidos pelo Seu Dinheiro.
“Falar hoje de IPO de uma empresa tech no Brasil não existe”, resume Albino.
Na avaliação do cofundador da Catarina, é improvável que essa janela reabra tão cedo. “Empresas que estavam se preparando para fazer isso em 2022 deixaram os planos de lado. Talvez possa acontecer em 2023, mas está mais para 2024.”
E mesmo que a janela de oportunidades estivesse aberta, neste momento, não seria uma das melhores. Na visão de Richard Camargo, analista da Empiricus e colunista do Seu Dinheiro, o cenário de perda de liquidez e alta de juros retém os IPOs.
“Hoje, se eu fosse um empreendedor de uma empresa de tecnologia, dentro de um bom segmento, crescendo, gerando caixa, mesmo preenchendo todos os checklists para buscar um IPO, eu não faria.”
Afinal, o IPO não é um fim em si e nem deve ser visto dessa forma. Para Pedro Sirotsky Melzer, cofundador e sócio-diretor da Igah Ventures, a abertura de capital em bolsa “é um meio, uma fonte de capitalizar a empresa no mercado aberto”.
O Softbank e seus unicórnios
O Softbank sofreu um tombo e tanto no primeiro trimestre deste ano. O foco da instituição no mercado de tecnologia intensificou o alarme em relação ao futuro dos unicórnios.
No Brasil, o Softbank entrou como investidor-âncora de um fundo de US$ 130 milhões da Igah Ventures no início de 2021.
O plano da Igah era investir em 17 startups. Pouco mais de um ano depois, 16 investimentos já foram concluídos.
“Ainda temos mais de US$ 40 milhões desse fundo que ainda não foram investidos”, diz Melzer.
Os unicórnios do futuro
Para o gestor, um dos precursores no investimento em startups no Brasil, houve uma mudança de paradigma no mercado de capitais. Mas isso não significa o fim dos unicórnios.
“Os investidores continuarão valorizando empresas de alto crescimento, mas não a qualquer custo”, afirma Pedro Sirotsky Melzer.
Na avaliação do cofundador da Igah Ventures, essa nova abordagem proporcionará mais oportunidade para empresas que, de fato, tenham solidez econômica.
Para Richard Camargo, da Empiricus, os dinossauros das fintechs — o Nubank, por exemplo — são os mais ameaçados quando colocados lado a lado com os unicórnios do futuro: empresas de cibersegurança e inteligência artificial.
“Hoje, temos que encontrar quem são esses possíveis unicórnios e fazer investimentos a longo prazo, porque eles estão sendo igualmente penalizados [pelo cenário atual], mesmo que, talvez, nunca tenha havido um momento tão interessante para investir.”
Então, depois de todos os insights e conversas que tivemos ao longo desta reportagem, será mesmo que os unicórnios deixarão essa terra de vez?
Ficamos com as palavras de Melzer, da Igah Ventures: “Não teremos extinção dos unicórnios. Teremos novos unicórnios, unicórnios mais robustos, unicórnios de verdade. Teremos unicórnios com fundamento econômico”.
Leia também
- Advent International capta US$ 25 bilhões para fundo global. E pode usar uma parte desse dinheiro para comprar empresas no Brasil
- Não é Star Wars nem coisa do futuro: Viveo (VVEO3) compra startup farmacêutica que usa robôs para produzir remédios
Adeus, tarifas: governo Trump retira sobretaxa de 40% sobre importações brasileiras de mais de 200 produtos
EUA retiram a tarifa adicional de 40% sobre carne, café, suco de laranja, petróleo e peças de aeronaves vindos do Brasil
Vai precisar de CNH para andar de bicicleta? Se for ela motorizada, a resposta está aqui
Contran atualiza as regras para bicicletas elétricas, ciclomotores e equipamentos motorizados; entenda quando será obrigatório ter CNH, placa e licenciamento.
Caixa paga Bolsa Família a beneficiários com NIS final 5
A ordem de pagamento do benefício para famílias de baixa renda é definida pelo último número do NIS
Terceira indicação de Lula ao STF neste mandato: conheça Jorge Messias, o nome escolhido pelo presidente para a vaga de Barroso
Formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Messias ocupa o cargo de advogado-geral da União desde de janeiro de 2023
Grande incêndio na COP30: chamas se alastram e levam autoridades a evacuar área; veja vídeo
Chamas atingiram a BlueZone, área que reúne pavilhões de países; segurança evacuou o local e autoridades afirmam que o incêndio já foi controlado
Conselho do BRB elege novo presidente após afastar o antigo em meio à liquidação do Banco Master e prisão de Daniel Vorcaro
O Banco de Brasília (BSLI4) indicou Nelson Antônio de Souza como presidente da instituição bancária e destituiu, com efeito imediato, Paulo Henrique Costa do cargo de presidente
Botijão grátis? Confira se você tem direito ao vale-recarga do novo Programa Gás do Povo
Gás do Povo chega para substituir o Auxílio Gás; meta do governo é atender mais de 50 milhões de pessoas até março de 2026
Fome na colônia, fartura no Quilombo: Como era a economia de Palmares, da qual o líder Zumbi inspirou o Dia da Consciência Negra?
O Quilombo dos Palmares resistiu por quase um século graças à autossuficiência econômica da comunidade; entenda como funcionava a organização
Mais dinheiro e menos trabalho: as ilusões do empreendedorismo no Brasil
Milhões de brasileiros sonham em abrir um negócio, mas especialistas alertam que a realidade envolve insegurança financeira, mais trabalho e falta de planejamento
Golpistas surfam no caos do Banco Master; confira passo a passo para não cair nas armadilhas
Investidores do Banco Master agora têm direito ao FGC; saiba como evitar golpes e proteger o bolso
Black Friday: Apple chega a 70% OFF, Samsung bate 60%; quem entrega os melhores descontos?
A Apple entra com 70% OFF, pagamento dividido e entrega rápida; a Samsung equilibra o duelo com 60% OFF, mais categorias e descontos progressivos
Do Rio de Janeiro ao Amapá, ninguém escapou do Banco Master: fundos de pensão se veem com prejuízo de R$ 1,86 bilhão, sem garantia do FGC
Decisão do Banco Central afeta 18 fundos de previdência de estados e municípios; aplicações feitas não têm cobertura do FGC
Lotofácil vacila e Dia de Sorte faz o único milionário da noite; Mega-Sena encalha e volta só no sábado
Lotofácil acumula pelo terceira vez nos últimos cinco concursos e vai para último sorteio antes de pausa para o feriado com R$ 5 milhões em jogo
A B3 também vai ‘feriadar’? Confira o que abre e o que fecha no Dia da Consciência Negra
Bolsa, bancos, Correios, rodízio em São Paulo… desvendamos o que funciona e o que não funciona no dia 20
Caixa paga Bolsa Família nesta quarta (19) para NIS final 4; veja quem recebe
A ordem de pagamento do benefício para famílias de baixa renda é definida pelo último número do NIS
CDBs do Will Bank e do Banco Master de Investimento também serão pagos pelo FGC?
Ambas são subsidiárias do Banco Master S.A., porém somente o braço de investimentos também foi liquidado. Will Bank segue operando
Qual o tamanho da conta do Banco Master que o FGC terá que pagar
Fundo Garantidor de Créditos pode se deparar com o maior ressarcimento da sua história ao ter que restituir os investidores dos CDBs do Banco Master
Liquidação do Banco Master é ‘presente de grego’ nos 30 anos do FGC; veja o histórico do fundo garantidor
Diante da liquidação extrajudicial do Banco Master, FGC fará sua 41ª intervenção em três décadas de existência
Investiu em CDBs do Banco Master? Veja o passo a passo para ser ressarcido pelo FGC
Com a liquidação do Banco Master decretada pelo Banco Central, veja como receber o ressarcimento pelo FGC
Debate sobre renovação da CNH de idosos pode baratear habilitação; veja o que muda
Projetos no Congresso podem mudar regras da renovação da CNH para idosos, reduzir taxas e ampliar prazos para motoristas acima de 60 anos