A Eve, subsidiária da Embraer (EMBR3) na área de mobilidade urbana, formalizou junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) o processo para a certificação do projeto do eVTOL (Electric Vertical Take-off and Landing) no país.
O eVTOL — uma espécie de "carro elétrico voador" — seguirá o processo de obtenção do Certificado de Tipo de aeronave classificada como “categoria normal”, considerando os requisitos estabelecidos pela ANAC.
Com isso, a Eve oficializa o compromisso de demonstrar cumprimento com os padrões técnicos internacionais e requisitos de aeronavegabilidade obrigatórios para a certificação.
Com o apoio da Anac, a Eve dará continuidade às interações com as principais autoridades aeronáuticas estrangeiras, formalizando em breve o processo de validação do certificado de acordo com a sua estratégia global de negócio.
"Do ponto de vista da regulação há muito trabalho a ser feito, não somente em relação à tecnologia da aeronave, mas na definição de todo ecossistema", diz Roberto Honorato, superintendente de aeronavegabilidade da Anac.
O eVTOL da Eve é uma aeronave de pouso e decolagem vertical totalmente elétrica. De acordo com a Embraer, a aeronave, projetada com foco nos usuários, proporcionará um transporte confortável, com baixo ruído e zero emissões de carbono.
"A formalização do processo de certificação do eVTOL é um passo importante para a continuidade das discussões que vêm sendo realizadas entre Eve e ANAC em direção à certificação do veículo para mobilidade urbana", aponta Luiz Felipe Valentini, diretor de tecnologia da Eve.
A Eve
A Embraer conseguiu obter a maior valorização do Ibovespa em 2021, e este desempenho pode ser atribuído, em grande medida, à Eve.
Fundada em 2018 como uma espécie de incubadora tecnológica, em pouco tempo tornou-se o principal ativo da empresa brasileira.
Isso porque os "carros elétricos voadores" passaram a ser vistos como uma das principais soluções para os crescentes problemas de mobilidade urbana. Sendo assim, não demorou muito para o projeto chamar a atenção de inúmeras empresas mundo afora.
É importante lembrar que o projeto ainda é um protótipo; ou seja, ainda não há carros elétricos decolando em lugar nenhum.
Mesmo assim, o conceito dos eVTOLs é poderoso para atrair tanto compradores, quanto investidores — a Eve já tem quase 20 clientes em sua carteira e encomendas para quase 2 mil eVTOLs, que somam mais de US$ 5 bilhões.
Exemplo do interesse dos compradores foi o que aconteceu em dezembro do ano passado, quando a Eve e a australiana Sydney Seaplanes decidiram se juntar visando a iniciar operações de táxi aéreo elétrico na cidade australiana, com uma encomenda inicial de 50 aeronaves a ser entregue a partir de 2026.
Aterrizando em NY
Todo esse sucesso chamou a atenção da Zanite Acquisition Corp., uma SPAC — tipo de empresa criada com objetivo de captar recursos na bolsa para investir em projetos de um setor específico — que decidiu embarcar no mundo dos carros voadores e investir na Eve.
A Eve foi avaliada em US$ 2,4 bilhões, cifra próxima ao valor de mercado da Embraer como um todo, que é de US$ 2,69 bilhões.
O aporte deve garantir à Eve em torno de US$ 512 milhões em dinheiro, o que deve resultar em um valor patrimonial pró-forma total de aproximadamente US$ 2,9 bilhões.
Com o investimento, a Eve ocupará o lugar da Zanite, na NYSE, e será negociada sob os tickers EVEX e EVEXW.
As duas empresas vão ser sócias, mas a Embraer não vai abrir mão do controle do negócio e permanecerá de posse de 82% das ações da Eve.
A operação já foi aprovada pelos conselhos da Embraer e da Zanite e deve ser concluída no segundo trimestre de 2022.
Metamorfose ambulante
Quando a Boeing decidiu celebrar parceria (que já não existe mais) com a Embraer, assumindo a divisão de aviação comercial da empresa, o valor de mercado da Embraer girava em torno de R$ 14,3 bilhões.
O problema é que o mercado de aviação mudou muito entre 2018 e 2022. Mesmo antes da pandemia, a Embraer já via uma desaceleração no ritmo de entrega de suas aeronaves. Essa tendência ganhou força a partir de 2019, especialmente no setor de aviação comercial.
Sendo assim, a Embraer “pré-Eve” tinha na aviação comercial seu carro-chefe. Hoje, o segmento como um todo diminuiu, principalmente pelo cenário de incertezas que a pandemia trouxe ao setor.
Se os carros voadores serão capazes de fechar esse buraco, só o tempo irá dizer.
*Com informações do Estadão Conteúdo.