Está pensando em comprar ou trocar de carro? Pois saiba que os preços podem subir ainda mais diante do conflito entre Rússia e Ucrânia. Mesmo com a baixa relação direta com a indústria automotiva dos dois países, o mercado brasileiro corre risco de sofrer com esse conflito.
Isso porque uma guerra provoca um desarranjo na cadeia econômica global, principalmente se tiver efeitos sobre o câmbio. Os preços dos carros já passaram por uma forte alta nos últimos dois anos como efeito da pandemia da covid-19.
“Um aumento do dólar impacta os custos diretos e indiretos dos automóveis. As commodities de um veículo são indexadas na moeda estrangeira”, afirma Milad Kalume Neto, diretor de Desenvolvimento de Negócios da consultoria Jato Dynamics.
Entre os componentes afetados pelo câmbio estão o ferro, a borracha e o silício. “Então, nesse contexto, a instabilidade do dólar tende a aumentar os custos de frete e dos insumos, o que interfere diretamente no preço do nosso automóvel”, afirma.
Preço dos carros varia além do dólar
Os aumentos de preços não devem ser rápidos, mas quem pretende comprar um carro este ano precisa ficar atento. Não é porque o dólar aumenta 10% que o preço do veículo sobe na mesma proporção.
“Existem outras variáveis. A moeda estrangeira provoca um reajuste de preços, mas a produção de carros pode ser afetada, novamente, pela falta de peças em estoque, caso de alguns insumos importados”, diz o consultor.
O aumento do preço do barril de petróleo também provoca uma alta dos custos indiretos de transportes, que pressionam os custos de alimentos e nos forçam ao avanço da inflação, que chega também no carro.
“Passamos os últimos sete anos por quatro crises no setor automotivo. A gente vai ter, basicamente, cinco crises em oito anos. Isso gera, para o setor, desemprego e incerteza, que levam ao aumento de juros e à falta de confiança do consumidor e reduzem as vendas”, avalia o especialista.
As empresas trabalham com número próximo de 2 milhões nas vendas de veículos em 2022, fechamento muito parecido com o dos dois anos anteriores.
Se já não seria um ano tão positivo para o Brasil, ainda considerando as eleições, uma guerra seria bastante nociva ao mercado. No mês de janeiro, a produção foi afetada pela alta de casos de covid e falta de peças.
A Anfavea, que representa as montadoras no Brasil, ainda não se pronunciou diante da crise e informou que vai comunicar seu posicionamento nos próximos dias.
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Os componentes que dependem da Rússia e Ucrânia
Do ponto de vista global, o presidente de operações nas Américas da LMC Automotive, Jeff Schuster, observa que a invasão russa à Ucrânia afetará negativamente o fechamento de fevereiro e adicionará outra camada de risco substancial à recuperação em 2022.
“Uma oferta já apertada de veículos e preços altos em todo o mundo estarão sob pressão adicional com base na gravidade e duração do conflito na Ucrânia.”
O aumento dos preços do petróleo e do alumínio provavelmente afetará a disposição e a capacidade dos consumidores de comprar carros, mesmo que o estoque melhore, segundo Schuster. A Europa reduziu as perspectivas para as vendas globais de veículos leves em 400 mil unidades.
De acordo com reportagem publicada pelo jornal Financial Times, Rússia e Ucrânia são as principais fontes dos gases químicos na produção de semicondutores, o que pode prolongar a crise de abastecimento desses componentes.
Micron e Intel, contudo, informaram ao FT que possuem fornecedores globais e bom estoque, suficientes para que a crise não afete suas operações.
No segmento automotivo, embora Bosch e Aptiv tenham fábricas de autopeças na Ucrânia, uma interrupção de fornecimento não interferiria na cadeia global. Mas o fornecimento de paládio (usado em conversores catalíticos e semicondutores) e níquel para baterias gera preocupação.
Kia, Nissan, Renault, Stellantis, Toyota e Volkswagen possuem fábrica de automóveis na Rússia. A montadora de origem francesa produz veículos pela Avtovaz, que busca, diante das sanções internacionais, garantir suprimento de peças.
Diante de uma crise mais séria, a Stellantis, que monta veículos Peugeot, Citroën, Opel e Fiat na Rússia, estuda limitar ou transferir sua produção para outras plantas.
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