🔴 A TEMPORADA DE BALANÇOS DO 1T25 JÁ COMEÇOU – CONFIRA AS NOTÍCIAS, ANÁLISES E RECOMENDAÇÕES

Como uma possível invasão da Ucrânia pela Rússia pode afetar seus investimentos

Não se trata de uma situação trivial e dificilmente haverá um desfecho pacífico, mas um cenário catastrófico é improvável

15 de fevereiro de 2022
6:08 - atualizado às 12:24
Bandeiras da Ucrânia e da Rússia com armas, simbolizando as tensões entre os dois países
Bandeiras da Ucrânia e da Rússia com armas, simbolizando as tensões entre os dois países - Imagem: FabrikaPhoto/Envato

Não se fala sobre outra coisa. A crise na fronteira entre Rússia e Ucrânia, que na verdade já existe desde 2014, se aprofundou consideravelmente nas últimas semanas, em especial mais recentemente, quando o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, alertou que uma invasão russa poderia ocorrer “a qualquer momento”.

Uma ligação durante o fim de semana entre o presidente Joe Biden e Vladimir Putin não produziu nenhum avanço significativo sobre a situação. Os EUA não estão cedendo às exigências russas e, com isso, entendem que uma invasão pode ser iminente.

Foi o suficiente para que muitos investidores ao redor do mundo colocassem seus chapéus de especialistas em geopolítica avançada para opinar sobre os diferentes cenários que se apresentam para a situação. Não é trivial; aliás, muito pelo contrário, o tema é extremamente complexo e delicado. Neste sentido, não podemos ser levianos ao tratarmos dele.

Em busca de um entendimento coeso

Tenho me debruçado junto de meus colegas sobre os posicionamentos dos verdadeiros estudiosos do tema, de modo a formarmos um entendimento coeso, coerente e robusto o suficiente para suportar eventuais elucubrações relacionadas aos desdobramentos sobre os mercados financeiros globais. É tal parecer que quero expor neste texto.

Antes de prosseguirmos, vale recapitular um pouco o que está acontecendo.

O governo russo vem acumulando mais de 130 mil soldados ao longo dos últimos dias na fronteira ucraniana, mesmo que ainda negue que esteja planejando algo.

Leia Também

Mas qual a razão disso?

Não se trata de uma simplista ambição expansionista, até mesmo porque a Rússia já é o maior país do mundo em extensão territorial. Neste caso, listei a seguir alguns motivos que provocam a movimentação agressiva de Putin frente ao vizinho, desafiando a estabilidade internacional.

i) Reafirmar a influência russa perdida com o colapso da União Soviética;

A Ucrânia foi membro da União Soviética até 1991 e, desde então, tem sido uma democracia soberana dotada de uma política externa que oscila entre posições pró-russas e pró-europeias. A seguir, um mapa do The Washington Post ilustrando o tamanho da antiga URSS.

Fonte: The Washington Post

ii) Impedir que os governos ocidentais, particularmente os EUA, aumentem sua influência pró-democracia e pró-valores ocidentais na Europa Oriental, com o compromisso de que a Ucrânia nunca se juntará à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan);

A Rússia enxerga a Ucrânia como um importante pivô da influência da Otan na região. Lembre-se de que maior influência sobre a região do Leste Europeu pode se traduzir em maior influência sobre a Eurásia.

Diluir um maior alinhamento da Ucrânia à União Europeia e à Otan, ao mesmo tempo que expande o território russo em uma região tão estratégica, é extremamente interessante para Putin.

A seguir, note como a Otan vem avançando sobre as proximidades do território russo desde a queda da União Soviética.

Fonte: The Economist

iii) De todas as ex-repúblicas soviéticas, a Ucrânia é a mais culturalmente ligada à Rússia, e Putin até afirmou que a Rússia e a Ucrânia são “uma só nação”;

Como podemos ver a seguir, a Rússia teria controle étnico relevante de boa parte da Ucrânia — de acordo com um censo de 2001 (o mais recente), mais de 50% da população da Crimeia e de Donetsk identificou o russo como sua língua nativa. O número deve ter crescido com os incidentes dos últimos dez anos.

Naturalmente, há laços históricos, culturais e econômicos com o país, que estava sob o domínio russo durante o governo soviético (historicamente, aliás, Kiev foi a primeira capital dos russos).

Fontes: Censo demográfico ucraniano de 2001; The Washington Post

iv) Por fim, temos o interesse de domínio sobre o poderio econômico e, principalmente, energético da região.

A Rússia é um dos maiores produtores mundiais de petróleo e gás natural. Com isso, os investidores estão preocupados que o conflito com a Ucrânia possa danificar a infraestrutura de energia na região e que as sanções à Rússia por nações ocidentais possam afetar as exportações do país, até mesmo porque a Ucrânia é rota para alimentar a Europa com gás.

Dessa forma, há preocupações de que Putin possa usar as exportações de petróleo e gás para pressionar a Europa, que depende da Rússia para seus suprimentos de energia (a Rússia fornece cerca de 40% do fornecimento de gás natural da UE via gasoduto). A situação é especialmente delicada, dada a tensão já existente nos mercados de petróleo.

Olhando para a frente

Avançando para as últimas semanas, os avisos de que a Rússia poderia iniciar uma ação militar na Ucrânia “a qualquer momento” chamaram a atenção para como os mercados poderiam reagir, especialmente nos preços da energia. São três os cenários mais plausíveis com os quais os especialistas têm trabalhado:

  • i) Invasão direta a Kiev cujo objetivo seria a troca do governo: tomar a capital é tomar o país, com a consequente queda do governo. Seria a situação mais agressiva, com a possibilidade, inclusive, de o exército ucraniano resistir.
  • ii) Confirmar aquilo que na prática já existe (anexar regiões já tomadas por separatistas): seria parecido com o que foi feito em 2014, quando a sucessão de crises iniciada em novembro de 2013 culminou na anexação da Crimeia pela Rússia em março de 2014. Notadamente, seria o cenário mais fácil para os russos, dado que se trata de regiões já controladas por rebeldes. Contudo, se fosse esse o objetivo, toda a movimentação do Putin estaria além do salutar.
  • iii) Criar um corredor que ligasse Rostov até a Crimeia: a ideia seria a de estabelecer contiguidade territorial entre a Rússia e a Crimeia, circundando o Mar de Azov. O problema é que, se fosse o objetivo principal, já teria acontecido, e a narrativa seria prevalecente entre os diplomatas russos, o que não parece ser o caso.

As consequências para os mercados

Se a invasão se concretizasse, os europeus de repente estariam vivendo em um mundo no qual a Rússia teria o direito de intervir em qualquer lugar próximo sempre que sentisse que interesses importantes estavam em jogo. É por isso que os líderes ocidentais têm tentado freneticamente elaborar uma solução diplomática para o problema.

Em resposta, os EUA continuam a ameaçar com sanções econômicas caso Moscou avance com uma invasão, embora não envie tropas em caso de conflito.

Os piores dos casos seriam cortar a Rússia do sistema internacional de pagamentos SWIFT e o impedimento completo do Nord Stream 2 — um gasoduto que sai direto da Rússia em direção à Alemanha e dobra a capacidade do pipeline Nord Stream 1 já em uso, enfraquece relativamente a Ucrânia (o gás antes tinha que passar pela Ucrânia e pela Polônia para chegar à Europa Ocidental, o que encarecia o custo do gás).

Vendo tais desdobramentos, Kiev alertou que Moscou já havia iniciado uma "guerra híbrida", que inclui ataques cibernéticos, pressão econômica e falsas ameaças.

Incerteza deixa mercados financeiros no limite

No setor de energia, por exemplo, os preços do gás europeu subiram até 14% na segunda-feira devido a preocupações de que um conflito possa abalar a oferta, enquanto o petróleo bruto continuou a subir, superando os US$ 95 pela primeira vez desde 2014, devendo buscar em breve os US$ 100 por barril.

Entretanto, gás, petróleo e pressões inflacionárias são os desdobramentos mais fáceis de verificarmos. Há também as consequências sobre os mercados agrícolas, já que a Rússia e Ucrânia correspondem a 29% de todo o mercado global de trigo, e no segmento de minerais, uma vez que a Rússia exporta muito alumínio, paládio e níquel para grande parte do mundo — eventuais sanções poderiam afetar o mundo inteiro, que depende de tais materiais russos.

Para o Brasil, além desse quadro, que já poderia ser problemático, temos a questão do potássio, do qual a Rússia é grande exportadora e que serve de base para a fabricação de fertilizantes.

Restrições no mercado internacional de potássio pressionariam outras commodities, principalmente as alimentícias (fertilizantes mais caros), afetando nosso país.

Dito isso, o que fazer?

Naturalmente, haveria uma migração para os tradicionais portos seguros, como metais preciosos, a exemplo do ouro, que já voltou a ser demandado nos últimos dias por investidores europeus. Adicionalmente, vemos aqui um mundo no qual as commodities continuarão em bom momento de preço, com grande espaço para valorização.

Gosto do investimento em commodities, em especial as energéticas (petróleo e gás), com destaque para a compra de fluxo de caixa nas matérias-primas; isto é, comprar empresas que se beneficiam da alta dos preços e que estão baratas para os padrões atuais. Neste contexto, tais companhias poderiam até mesmo se beneficiar da rotação setorial em meio à maior inflação.

Aliás, em um contexto de continuidade dos preços altos, nossos títulos indexados à inflação (os famosos IPCA+) continuam bastante apetitosos para o momento atual. Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.

A situação da Ucrânia não é trivial e dificilmente terá um desfecho pacífico. Ainda assim, dificilmente estamos falando aqui de um horizonte catastrófico. Há espaço para que a deterioração da percepção atual seja normalizada até o final do ano.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
VISÃO 360

Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso

9 de março de 2025 - 7:50

O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

A nova corrida do ouro? Cotação dispara em meio a busca por proteção e passa de US$ 2.900, mas pode subir mais

11 de fevereiro de 2025 - 6:04

Fortalecimento da cotação do ouro é acentuado por incertezas sobre a política tarifária de Trump e pela persistente tensão geopolítica

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Trump restabelece a política externa do ‘grande porrete’ nos EUA, mas deixa de lado uma parte importante dessa doutrina

4 de fevereiro de 2025 - 7:01

Mercado financeiro segue atento à escalada tarifária de Donald Trump e ao potencial inflacionário da guerra comercial do novo presidente dos EUA

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Donald Trump está de volta com promessa de novidades para a economia e para o mercado — e isso abre oportunidades temáticas de investimentos

21 de janeiro de 2025 - 6:48

Trump assina dezenas de ordens executivas em esforço para ‘frear o declínio americano e inaugurar a Era de Ouro da América’.

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

O porrete monetário, sozinho, não será suficiente: é necessário um esforço fiscal urgente

17 de dezembro de 2024 - 6:28

Crescente desconfiança sobre a sustentabilidade fiscal agrava desequilíbrios macroeconômicos e alimentam ainda mais o pessimismo

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Os juros vão subir ainda mais? Quando a âncora fiscal falha, a âncora monetária precisa ser acionada com mais força

10 de dezembro de 2024 - 7:08

Falta de avanços na agenda fiscal faz aumentar a chance de uma elevação ainda maior dos juros na última reunião do Copom em 2024

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

A dura realidade matemática: ou o Brasil acerta a trajetória fiscal ou a situação explode

3 de dezembro de 2024 - 7:01

Mercado esperava mensagem clara de responsabilidade fiscal e controle das contas públicas, mas o governo falhou em transmitir essa segurança

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Um nome agrada o mercado: como a escolha de Trump para o Tesouro afeta o humor dos investidores

26 de novembro de 2024 - 7:01

Escolhido por Trump para chefiar o Tesouro dos EUA, Scott Bessent associa ortodoxia, previsibilidade e consistência na condução da economia

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Pacote fiscal do governo vira novela mexicana e ameaça provocar um efeito colateral indesejado

12 de novembro de 2024 - 7:01

Uma alta ainda maior dos juros seria um efeito colateral da demora para a divulgação dos detalhes do pacote fiscal pelo governo

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Caminhos opostos: Fed se prepara para cortar juros nos EUA depois das eleições; no Brasil, a alta da taxa Selic continua

5 de novembro de 2024 - 7:11

Eleições americanas e reuniões de política monetária do Fed e do Copom movimentam a semana mais importante do ano nos mercados

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Fortes emoções à vista nos mercados: Investidores se preparam para possível vitória de Trump às vésperas de decisão do Fed sobre juros

29 de outubro de 2024 - 6:43

Eventual vitória de Trump pode levar a desaceleração de ciclo de cortes de juros que se inicia em grande parte do mundo desenvolvido

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Ouro a US$ 3.000? Como os crescentes déficits dos EUA podem levar o metal precioso a níveis ainda mais altos que os recordes recentes

22 de outubro de 2024 - 7:01

Com a credibilidade do dólar questionada em meio a uma gestão fiscal deficitária, investidores e governos buscam alternativas mais seguras para suas reservas

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

China anuncia medidas de estímulo em diversas frentes e ações locais disparam — mas esse rali tem fundamento?

1 de outubro de 2024 - 6:14

Um rali baseado em estímulos parece estar em andamento na China, mas seu sucesso vai depender da rápida implementação das medidas

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Corte de juros nos EUA não resolve tudo na bolsa: bomba fiscal põe em risco fim de ano do mercado de ações no Brasil

24 de setembro de 2024 - 6:17

Da mesma forma, o aumento dos juros por aqui é insuficiente sem um compromisso firme do governo com a responsabilidade fiscal

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Fed corta os juros? Copom eleva a Selic? Saiba o que esperar de mais uma Super Quarta dos bancos centrais

17 de setembro de 2024 - 7:01

Enquanto o Fed se prepara para iniciar um processo de alívio monetário, Brasil flerta com juros ainda mais altos nos próximos meses

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

‘It’s time!’: O tão aguardado dia do debate da eleição americana entre Donald Trump e Kamala Harris finalmente chegou

10 de setembro de 2024 - 6:16

Antes da saída de Biden, muitos consideravam Kamala Harris uma candidata menos competitiva frente a Trump, mas, desde então, Harris surpreendeu com um desempenho significativamente melhor

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

O Ibovespa experimentou novos recordes em agosto — e uma combinação de acontecimentos pode ajudar a bolsa a subir ainda mais

3 de setembro de 2024 - 7:01

Enquanto o ambiente externo segue favorável aos ativos de risco, a economia brasileira tem se mostrado mais resistente que o esperado

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

O Ibovespa acaba de estabelecer um novo recorde — e isto é o que precisa acontecer para a bolsa alçar voos ainda mais altos

20 de agosto de 2024 - 6:19

Correções são esperadas, mas a perspectiva para o Ibovespa permanece otimista, com potencial para ultrapassar os 140 mil pontos em breve

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

O que precisa acontecer para o dólar parar de subir — e diminuir a pressão sobre a inflação e os juros

13 de agosto de 2024 - 7:01

O aguardado início de um ciclo de corte de juros pelo Fed tende a mudar a dinâmica das ações e do dólar nos mercados globais

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Um susto nos mercados globais: existe razão para tanta histeria?

6 de agosto de 2024 - 7:02

Ibovespa teve desempenho melhor que o de outros índices de ações em meio ao susto nos mercados — e ainda pode se beneficiar da queda nos juros, pelo menos em tese

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar