A guerra na Ucrânia está demorando mais do que se imaginava – e levando a uma revisão das projeções de inflação e crescimento econômico pelo mundo
Diante da continuidade do conflito, as próximas semanas devem ser definitivas para que saibamos o quão duradouros serão os efeitos sobre as commodities

Em poucos dias a invasão da Ucrânia pela Rússia completará um mês. A situação é bastante delicada e complexa, devendo ser sempre tratada com a devida seriedade, muito pelo fato de ser um dos eventos mais importantes do século 21 até aqui, com potencial de desdobramento sobre nossas vidas em diferentes sentidos.
Temos conversado sempre com especialistas em geopolítica, de modo a entendermos por completo os caminhos que poderemos tomar daqui em diante, até mesmo porque a guerra está levando mais tempo do que a Rússia pressupunha.
Desde 1946, 26% das guerras terminam em menos de um mês, outros 25% em menos de um ano e, dentre os que duram mais de um ano, 26% acabaram com um cessar-fogo. Em poucos dias a guerra na Ucrânia caminhará para o segundo grupo, sem muita perspectiva de para onde caminha.
Saída honrosa cada vez mais difícil para a Rússia
O problema é que, a cada dia que passa, uma saída honrosa para a Rússia de Vladimir Putin fica mais difícil, uma vez que os ucranianos podem até concordar com a neutralidade, mas se negam a aceitar o desmembramento de seus territórios, conforme demanda o Kremlin.
Para ilustrar, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse em entrevista recente que está pronto para negociar com Putin se houver apenas 1% de chance de pararmos esta guerra. Contudo, ele se recusou a reconhecer a independência de duas repúblicas separatistas no leste da Ucrânia, como a Rússia exigiu.
Paralelamente, quanto mais tempo a guerra durar, mais custoso será para o presidente russo, que tem que lidar com as sanções ocidentais. Aliás, por falar no Ocidente, o presidente americano Joe Biden vai a Bruxelas na quinta-feira (24) para uma reunião de emergência de dois dias com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A ideia do encontro será discutir a resposta do Ocidente aos ataques russos.
Leia Também
Trump quer brincar de heterodoxia com Powell — e o Fed que se cuide
No fim do dia, sabe-se que as forças russas não conseguiram atingir o objetivo original do presidente Putin de tomar rapidamente Kiev junto com outras grandes cidades e depor o governo ucraniano.
Resistência da Ucrânia surpreendeu a Rússia
As tropas da Ucrânia surpreenderam o Kremlin com sua resistência, enquanto os maus planejamento e execução russos contribuíram para que a guerra parecesse um desgaste — os problemas logísticos foram notáveis.
Há quem diga que, para entender os próximos capítulos desta guerra, agora já com quase um mês, precisamos avaliar a cidade de Mariupol. A Rússia é acusada de crimes de guerra na cidade portuária do Sul depois de bombardear um teatro, uma maternidade e edifícios residenciais. Por conta dos atos, a Ucrânia rejeitou um prazo russo de hoje para entregar a cidade. Com isso, as próximas etapas podem ser piores.
A Rússia diz que está atingindo alvos militares, mas Mariupol segue um padrão de destruição implantado por Putin desde que chegou ao poder, na capital chechena de Grozny, na cidade síria de Aleppo, e agora na Ucrânia. Isso representa um dilema para Biden e outros líderes da Otan quando se encontrarem em Bruxelas.
Ou seja, apesar de estar sendo mais devagar do que se pressupunha, os russos estão avançando e se tornando cada vez mais implacáveis, se valendo de atitudes mais grotescas pouco a pouco. Abaixo, verifica-se a evolução da tomada dos territórios ucranianos, em vermelho, e a manutenção de controle pela resistência, em amarelo.
Escalada na Ucrânia testa apetite por mais sanções
A escalada de tom russa na Ucrânia testa o apetite por mais sanções, prejudicando a unidade transatlântica, dado que alguns estados europeus não estão dispostos a seguir os EUA e sancionar o setor energético russo por medo dos danos às suas próprias economias.
Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e Austrália já proibiram as importações de petróleo russo, afetando cerca de 13% das exportações da Rússia. Dessa forma, espera-se que a continuidade da agressão de Moscou possa trazer a União Europeia a bordo, um movimento que pode levar a uma mudança radical na forma como o continente compra sua energia — mudanças estruturais na arquitetura energética global estão por vir nos próximos anos.
Notadamente, todas essas sanções se traduzem em um novo choque de custos para a inflação no Brasil e no mundo. Para nós, brasileiros, o principal efeito no mapeamento dos efeitos diretos da guerra se refere à oferta de fertilizantes e ao aumento nos preços das commodities agrícolas e do petróleo.
Consequentemente, os preços dos ativos respondem à falta de avanço para um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, sem falar dos ataques às instalações petrolíferas na Arábia Saudita.
Alternativas em andamento
Ao redor do mundo, para estabilizar o mercado de energia, vemos várias iniciativas que podem dar resultado positivo nos próximos meses, de modo a reduzir a dependência global das matérias-primas russas.
O Catar, por exemplo, disse que concordou em trabalhar no fornecimento de gás natural liquefeito à Alemanha, já que a maior economia da Europa busca reduzir sua dependência da energia russa. O ministro da Economia alemão disse, durante conversas em Doha ontem, que seu governo planeja acelerar dois terminais de importação de GNL na Alemanha.
Enquanto isso, no Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson está se voltando para a energia nuclear e eólica na tentativa de aumentar a segurança energética doméstica da Grã-Bretanha — já comentamos muito sobre energia nuclear no passado e ela deve ganhar cada vez mais relevância nesta nova década.
Sem perspectiva de recuos
Grosso modo, portanto, podemos concluir que a campanha inicial russa falhou (tentar tomar Kiev, Kharkiv e outras grandes cidades ucranianas nos primeiros dias da guerra) por conta da resistência ucraniana e por erros logísticos graves (as imagens de tanques russos presos na lama são uma metáfora adequada para a situação).
Assim, sem perspectivas de que um dos dois lados saia das atuais negociações com um recuo, devemos ter uma elevação de tom no conflito, em linha com o que tem acontecido em Mariupol — a Rússia devastou a cidade do sudeste com um cerco sufocante e bombardeios constantes (há relatos de que “não é mais uma cidade”).
Em outras palavras, a atual estratégia da Rússia, segundo o que consultei de especialistas, parece não estar funcionando tão bem. No final do dia, as forças armadas russas estão espalhadas, engajadas em combates locais de pequena escala e que não produzem os resultados esperados pelo Kremlin.
Os próximos passos
Dessa forma, resta entender quais serão as próximas respostas da Otan e de aliados para no próximo mês da guerra na Ucrânia, que promete marcar o início de um novo capítulo mais violento e sangrento.
Ao todo, o conflito pode se arrastar por semanas ou meses.
Novas alternativas ocidentais poderão contar com mais sanções e com uma no-fly zone (ou zona de exclusão aérea), apesar de este último ser bastante polêmico pela sua capacidade de escalar ainda mais as tensões entre Rússia e Ocidente.
O aguardar de novas resoluções ressoam em mais inflação para os países no curto prazo, provocando um início de revisões negativas às projeções de crescimento econômico. As próximas semanas poderão ser definitivas para que saibamos o quão duradouro serão tais efeitos sobre as commodities.
Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso
O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.
A nova corrida do ouro? Cotação dispara em meio a busca por proteção e passa de US$ 2.900, mas pode subir mais
Fortalecimento da cotação do ouro é acentuado por incertezas sobre a política tarifária de Trump e pela persistente tensão geopolítica
Trump restabelece a política externa do ‘grande porrete’ nos EUA, mas deixa de lado uma parte importante dessa doutrina
Mercado financeiro segue atento à escalada tarifária de Donald Trump e ao potencial inflacionário da guerra comercial do novo presidente dos EUA
Donald Trump está de volta com promessa de novidades para a economia e para o mercado — e isso abre oportunidades temáticas de investimentos
Trump assina dezenas de ordens executivas em esforço para ‘frear o declínio americano e inaugurar a Era de Ouro da América’.
O porrete monetário, sozinho, não será suficiente: é necessário um esforço fiscal urgente
Crescente desconfiança sobre a sustentabilidade fiscal agrava desequilíbrios macroeconômicos e alimentam ainda mais o pessimismo
Os juros vão subir ainda mais? Quando a âncora fiscal falha, a âncora monetária precisa ser acionada com mais força
Falta de avanços na agenda fiscal faz aumentar a chance de uma elevação ainda maior dos juros na última reunião do Copom em 2024
A dura realidade matemática: ou o Brasil acerta a trajetória fiscal ou a situação explode
Mercado esperava mensagem clara de responsabilidade fiscal e controle das contas públicas, mas o governo falhou em transmitir essa segurança
Um nome agrada o mercado: como a escolha de Trump para o Tesouro afeta o humor dos investidores
Escolhido por Trump para chefiar o Tesouro dos EUA, Scott Bessent associa ortodoxia, previsibilidade e consistência na condução da economia
Pacote fiscal do governo vira novela mexicana e ameaça provocar um efeito colateral indesejado
Uma alta ainda maior dos juros seria um efeito colateral da demora para a divulgação dos detalhes do pacote fiscal pelo governo
Caminhos opostos: Fed se prepara para cortar juros nos EUA depois das eleições; no Brasil, a alta da taxa Selic continua
Eleições americanas e reuniões de política monetária do Fed e do Copom movimentam a semana mais importante do ano nos mercados
Fortes emoções à vista nos mercados: Investidores se preparam para possível vitória de Trump às vésperas de decisão do Fed sobre juros
Eventual vitória de Trump pode levar a desaceleração de ciclo de cortes de juros que se inicia em grande parte do mundo desenvolvido
Ouro a US$ 3.000? Como os crescentes déficits dos EUA podem levar o metal precioso a níveis ainda mais altos que os recordes recentes
Com a credibilidade do dólar questionada em meio a uma gestão fiscal deficitária, investidores e governos buscam alternativas mais seguras para suas reservas
China anuncia medidas de estímulo em diversas frentes e ações locais disparam — mas esse rali tem fundamento?
Um rali baseado em estímulos parece estar em andamento na China, mas seu sucesso vai depender da rápida implementação das medidas
Corte de juros nos EUA não resolve tudo na bolsa: bomba fiscal põe em risco fim de ano do mercado de ações no Brasil
Da mesma forma, o aumento dos juros por aqui é insuficiente sem um compromisso firme do governo com a responsabilidade fiscal
Fed corta os juros? Copom eleva a Selic? Saiba o que esperar de mais uma Super Quarta dos bancos centrais
Enquanto o Fed se prepara para iniciar um processo de alívio monetário, Brasil flerta com juros ainda mais altos nos próximos meses
‘It’s time!’: O tão aguardado dia do debate da eleição americana entre Donald Trump e Kamala Harris finalmente chegou
Antes da saída de Biden, muitos consideravam Kamala Harris uma candidata menos competitiva frente a Trump, mas, desde então, Harris surpreendeu com um desempenho significativamente melhor
O Ibovespa experimentou novos recordes em agosto — e uma combinação de acontecimentos pode ajudar a bolsa a subir ainda mais
Enquanto o ambiente externo segue favorável aos ativos de risco, a economia brasileira tem se mostrado mais resistente que o esperado
O Ibovespa acaba de estabelecer um novo recorde — e isto é o que precisa acontecer para a bolsa alçar voos ainda mais altos
Correções são esperadas, mas a perspectiva para o Ibovespa permanece otimista, com potencial para ultrapassar os 140 mil pontos em breve
O que precisa acontecer para o dólar parar de subir — e diminuir a pressão sobre a inflação e os juros
O aguardado início de um ciclo de corte de juros pelo Fed tende a mudar a dinâmica das ações e do dólar nos mercados globais
Um susto nos mercados globais: existe razão para tanta histeria?
Ibovespa teve desempenho melhor que o de outros índices de ações em meio ao susto nos mercados — e ainda pode se beneficiar da queda nos juros, pelo menos em tese