Hoje tem Copom: o que esperar do Banco Central e da bolsa após a provável volta da Selic aos dois dígitos
A alta da taxa básica de juros vai continuar, mas o tom contracionista das últimas reuniões de política monetária se aproxima de seu limite

Entramos no mês de Carnaval já com uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na cara do gol.
Será o primeiro encontro de nossa autoridade monetária em 2022, marcando provavelmente um dos últimos comitês em que haverá uma continuidade do tom contracionista imposto desde o começo de 2021.
Em dezembro do ano passado, o Copom voltou a avaliar cenários alternativos, mas optou por manter o ritmo, sinalizando outro movimento de mesma magnitude neste início de ano.
Taxa Selic deve ir a 10,75% ao ano
Com isso, pelo menos por enquanto, a conjuntura ainda demanda que o BC dê sequência ao aperto monetário, elevando em 150 pontos-base a taxa Selic, conforme o contratado no último Copom, levando-a para 10,75% ao ano — voltamos aos dois dígitos depois de mais de quatro anos.
Atenção ao comunicado
O ponto de atenção reside, portanto, no comunicado que acompanha a decisão.
Apesar de estarmos próximos do fim do ciclo, não se sabe ao certo o quão longe Roberto Campos Neto pretende levar a política monetária do país; isto é, não se sabe o mês no qual o processo de elevação da Selic se encerrará ou até mesmo qual a taxa terminal. Atualmente, entende-se como mais provável um patamar entre 12% e 12,5%.
Leia Também
Mercado em 5 Minutos: Os investidores se preparam para a Super Quarta
Mercado em 5 Minutos: Um respiro para a atividade global
Neste caso, as próximas reuniões até maio podem guardar mais duas elevações, de modo a levar a taxa de juros de maneira mais gradual ao patamar vislumbrado. Contudo, isso não é certeza, ao menos não ainda.
Dessa forma, se faz de extrema importância a compreensão do tom de RCN, de modo a termos maior previsibilidade em relação aos próximos passos de política monetária.
Tom contracionista deve começar a ser atenuado
Em função das sucessivas revisões para a inflação em 2022, que promete ficar acima do teto da meta novamente, e do balanço de riscos no âmbito doméstico (quadro fiscal e eleitoral, por exemplo) e internacional — este último relacionado com o processo de aperto monetário nos países desenvolvidos, em especial nos EUA, e a assuntos geopolíticos —, a percepção geral é de manutenção de um tom contracionista neste próximo comunicado, ainda que marginalmente mais leve que os anteriores.
Talvez o mais importante seja a combinação de uma inflação acima de 5% neste ano com um Federal Reserve, nos EUA, mais hawkish (contracionista).
Em busca de uma âncora
Em relação ao primeiro ponto, o IPCA subiu para 5,38% em 2022 pela mediana do consenso, cada vez mais distante do teto da meta de inflação deste ano (3,5%) e acima do teto da banda superior.
A desancoragem das expectativas de inflação preocupa a autoridade monetária e a faz atuar de maneira cada vez mais enfática; afinal, acabamos de sair de um ano com inflação acima de 10%. As sucessivas revisões para cima das projeções contidas no relatório Focus exacerbam este problema, indicando potencialmente fatores mais estruturais na inflação do anteriormente prevíamos.
Já em relação ao segundo ponto, um discurso mais duro no exterior pode dar margem para que o BC brasileiro siga pelo mesmo caminho sem tanta preocupação. Ou seja, podemos seguir apertando a nossa política monetária, em linha com o que outros pares globais têm feito, ainda que seja bem sabido que o Brasil se antecipou ao início do processo de elevação de juros já no ano passado.
E qual é o problema?
Controlar a inflação tem um custo.
Com o mercado ainda aguardando os dados econômicos de dezembro, o consenso de crescimento do PIB em 2021 está em 4,49%, enquanto o consenso de 2022 repousa em 0,30% — este número é a mediana das expectativas do mercado, que já conta com players prevendo recessão neste ano, muito em função dos juros de dois dígitos. Isto é, o crescimento deste ano está já sob forte pressão.
Diferentemente dos EUA, em que faz parte do mandato informal do Fed a busca por um mercado de trabalho saudável, o Brasil pode se dar ao luxo de privilegiar em sua política a estabilidade do poder de compra da moeda. De qualquer forma, porém, é inegável que, ao subir os juros, o BC se preocupa com o estrago na economia que possa gerar e nas consequências fiscais de serviço da dívida que pode proporcionar.
Tudo considerado, ainda entendo como provável que o BC mantenha o ritmo de alta de 150 pontos-base na reunião desta semana, conforme indicado pelo comunicado de dezembro.
Adicionalmente, acredito que seu comunicado, que acompanha a decisão, ainda será duro, mas marginalmente mais relaxado frente ao que havia transmitido anteriormente. Em outras palavras, podemos ter mais uma contratação da ordem de 100 pontos base para a próxima reunião.
Gosto sempre de utilizar o seguinte gráfico para entender os ciclos monetários:
São quatro estágios:
- reflação, com queda dos juros;
- recuperação, positivo para as ações;
- superaquecimento, com alta da inflação; e
- estagflação, que estamos entrando agora.
Estamos saindo do superaquecimento, com alta dos juros, e entrando na estagflação de 2022. O racional é de que o crescimento provoca inflação, que força a autoridade monetária a subir os juros, movimento que gera uma recessão e, consequentemente, uma desinflação.
O contexto não é trivial, de fato. Temos ainda cenários alternativos menos prováveis:
- Cenário mais hawkish (duro com a inflação): alta de 150 pontos-base e contratação de mais 125 pontos; e
- Cenário mais dovish (leve com a inflação): alta de 150 pontos-base e contratação de mais 75 pontos.
Os dois contextos são menos prováveis, mas poderiam gerar uma digestão mais dolorosa por parte do mercado, como movimentação mais agressiva na curva de juros, que provocaria provavelmente um ajuste na Bolsa, ao menos no curto prazo. Como vemos os dois cenários alternativos como de menor chance, foco no inicialmente apresentado aos leitores.
Quem ganha com o movimento atual na bolsa
O movimento atual ainda é positivo para nomes da economia tradicional e muito descontados. Para a primeira metade do ano, ainda gosto dos players de commodities, como petróleo, mineração e siderurgia. Algumas empresas com duration mais curta (fluxo de caixa no presente) e associadas às teses de valor também podem ser interessantes, como os bancos tradicionais muito baratos.
Complementarmente, cíclicos domésticos que ficaram para trás na segunda metade de 2021, como indústria e varejo, com destaque especial para o de moda, também têm espaço. Me afastaria de tudo que tem precificado muito crescimento, como empresas de tecnologia, ao menos em um primeiro momento.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Mercado em 5 Minutos: O que a queda de um símbolo nos mostra sobre o momento atual?
A morte da Rainha Elizabeth II marca não só o fim do 2º período elisabetano para os britânicos, mas também a queda de um dos mais icônicos símbolos de estabilidade das últimas décadas
Mercado em 5 Minutos: Uma nova frente de estímulos ao redor do mundo vem ganhando força
É possível sentir uma cautela no ar antes da reunião do Banco Central Europeu (BCE), nesta semana, enquanto acompanhamos as consequências do corte de gás da Rússia
O pior ainda está por vir: Europa corre o risco de apagões e recessão se Putin seguir cortando o gás
Existem duas frentes de preocupação da crise energética que o mercado deve permanecer de olho: o gás natural e o pétroleo
Mercado em 5 Minutos: Quem está ansioso para o dia da independência?
Começamos com o Dia do Trabalhos nos EUA, nesta segunda-feira (5), que fecha o mercado americano. Os mercados asiáticos iniciaram a semana em queda, acompanhados pelas bolsas europeias.
Aperte os cintos: o Fed praticamente acabou com as teses de crescimento, e o fim do bear market rally está aí
Saída da atual crise inflacionária passa por algum sacrifício. Afinal, estamos diante de um ciclo econômico clássico e será preciso esfriar o mercado de trabalho
O conclave dos banqueiros centrais vai começar: saiba o que esperar do simpósio de Jackson Hole
Foi em Jackson Hole que Jerome Powell previu erroneamente que a inflação nos Estados Unidos seria um fenômeno transitório
Campanha eleitoral finalmente começa e volatilidade se avizinha, mas há meios de mitigar os riscos no mercado; aqui você aprende como
Muita volatilidade é esperada, mas o mercado já conhece Lula e também sabe quem é Bolsonaro; as eleições não representam uma ameaça concreta à bolsa e é possível capturar o potencial de valorização desse período
Um mundo tomado pela inflação: entenda a que é preciso prestar atenção para saber se os preços vão finalmente parar de subir
O processo de normalização dos preços será fundamental para que consigamos ter maior previsibilidade quanto ao futuro dos ativos de risco
O ciclo de alta da Selic está perto do fim – e existe um título com o qual é difícil perder dinheiro mesmo se o juro começar a cair
Quando o juro cair, o investidor ganha porque a curva arrefeceu; se não, a inflação vai ser alta o bastante para mais do que compensar novas altas
O Fed entre os juros e a inflação: por que estamos na semana mais importante de julho?
O Federal Reserve (Fed) se vê entre a cruz e a espada: subir juros de um jeito agressivo e afetar a economia, ou deixar a inflação alta?
Pouso suave ou aterrissagem forçada? Saiba o que esperar do petróleo diante da desaceleração da economia global
Apesar de a história mostrar que o petróleo caiu em 5 das últimas 6 recessões, há espaço para que o declínio dos preços das ações de petróleo seja menor que o da commodity desta vez
Ruídos da recessão: como a alta dos preços da energia na Europa acabou com a vantagem competitiva da zona do euro
Efeitos nocivos da recessão na Europa também devem afetar o Brasil, que fornece matérias-primas e compra maquinários industriais dos europeus
Pior que a alta dos combustíveis! Entenda como o aumento dos preços dos alimentos ameaça a recuperação da economia global
Questões geopolíticas devem continuar pressionando as cadeias de fornecimento de alimentos existentes, sem uma solução fácil no curto prazo
O dólar pode ser imprevisível, mas é essencial para proteger sua carteira. Entenda os riscos e conheça as melhores estratégias
Os movimentos do dólar no mercado de câmbio são incertos, mas há estratégias eficazes para investir na moeda norte-americana e diversificar seu portfólio
Economia global em desaceleração: como investir quando o risco de recessão aumenta a cada minuto que passa
Mercado financeiro está diante de águas bastante turbulentas, o que reforça a importância de diversificar e proteger seus investimentos
Precisamos sobreviver a mais uma Super Quarta: entenda por que a recessão é quase uma certeza
Não espere moleza na Super Quarta pré-feriado; o mundo deve continuar a viver a tensão de uma realidade de mais inflação e juros mais altos
Um metal precioso ganha momento com o fim dos estímulos – entenda por que você precisa dele na sua carteira
Ouro se manterá como componente indispensável do portfólio no futuro, permitindo que investidores não percam o sono mesmo em situações estressantes nos mercados
Recessão em tons de Zima Blue – como investir em um momento no qual o mercado precisa buscar suas raízes para sair da crise
Processos como o atual fazem parte de movimentos naturais do mercado; a agressividade da correção se relaciona com o tempo em que nos distanciamos de nossa essência
O futuro bate à nossa porta: entenda a importância da regulamentação do mercado de carbono no Brasil
O avanço do mercado de carbono no Brasil ainda é pequeno em comparação ao que ocorre na Europa, mas é um passo fundamental para sua consolidação
Nos embalos de um mundo ainda globalizado: como a rotação setorial deve beneficiar a Vale (VALE3)
A Vale tem atravessado uma verdadeira montanha-russa – ou seria uma montanha-chinesa? -, mas sua ação mantém-se com um caso de sucesso entre as teses de valor