Reflexões sobre o minério de ferro: por que o cenário da commodity ainda é construtivo para as ações de mineradoras e siderúrgicas
Diante de um ambiente de commodities ainda favorável e uma rotação setorial contínua de ações de crescimento para ações descontadas, Vale e Gerdau são bons nomes para o ano

As Olimpíadas de Inverno acabaram na China, mas pouco se leu ou ouviu sobre o evento diante do noticiário recente ao redor do mundo. As tensões no leste europeu entre Rússia e Ucrânia invadiram o mundo dos investimentos, conforme conversamos na semana passada, impedindo que as manchetes comentassem alguma outra coisa que não o conflito.
Ainda que o fluxo de notícias continue bastante associado aos problemas geopolíticos, a volta de um grande player como a China de uma maneira mais evidente para a realidade dos mercados é relevante, em especial para o universo das commodities, que foi preenchido pelo debate energético derivado da questão ucraniana.
Agora, podemos voltar a nos debruçar para além desta temática, abrindo espaço para que conversemos também sobre as commodities metálicas, como o minério de ferro.
Alta volatilidade
Dá máxima nas últimas 52 semanas, por volta dos US$ 230 por tonelada entre o segundo e o terceiro trimestre de 2021, o minério de ferro chegou a cair mais de 60% ao longo do segundo semestre, encontrando um ponto de inflexão ao final de novembro do ano passado.
Desde então, o minério sobe mais de 70% (reduziu a queda de suas máximas de 60% para 40%). Agora, sendo cotado ao redor de US$ 130/ton, a matéria-prima volta a chamar a atenção, em especial pela volatilidade verificada nas últimas semanas.
Isso porque, depois do rali rumo a quase US$ 150/ton, o minério de ferro negociado na bolsa de Dalian marcou sua queda semanal mais acentuada desde fevereiro de 2020.
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Em outras palavras, os preços do minério de ferro reverteram o curso em dezembro de 2021, iniciando uma tendência de alta após o colapso em meados de 2021. Depois de embarcar em um aumento de longa data desde meados de 2020 e o rali excepcional no primeiro semestre de 2021, os preços caíram acentuadamente a partir de julho de 2021.
Mas o que aconteceu?
A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China indicou a alguns traders da matéria-prima para liberar estoques excessivos e reduzir os volumes a níveis razoáveis para conter um recente aumento nos preços. Adicionalmente, a bolsa de Dalian dobrou as taxas de transação para alguns contratos futuros de minério de ferro.
Na sequência, os investidores se mostraram preocupados com os esforços intensificados dos reguladores — anteriormente, o regulador de mercado em Qingdao, um dos maiores portos de minério de ferro do país, onde os estoques aumentaram rapidamente, já havia instaurado uma investigação conjunta para averiguar possível estocagem irregular para elevar os preços.
Perspectiva construtiva
Apesar do movimento ruim, ainda sigo construtivo para o minério de ferro, que deverá se manter em patamares elevados frente ao que apresentava antes da pandemia, em especial para fluxos de caixa na commodity.
Notadamente, existem fatores um pouco preocupantes para o setor a longo prazo, mas em 2022 entendo que ainda exista espaço para otimismo. Tal tom mais positivo deriva de uma visão favorável para o segmento nos próximos meses, o que apoiaria a força do minério de ferro neste ano.
Três são os motivos para isso:
i) desde o fim do ano passado, o governo chinês garantiu a estabilidade econômica via política monetária e prometeu antecipar várias políticas fiscais;
A China parece estar buscando aumentar seu apoio financeiro à economia em 2022, em meio a perspectivas de crescimento econômico enfraquecidas (apenas +4% no 4T21 versus +8,1% no ano inteiro), impulsionadas pela fraqueza do setor imobiliário, lockdowns rígidos relacionados ao Covid-19 e problemas energéticos no segundo semestre.
Recentemente, o governo chinês anunciou que estabeleceria uma cota anual razoável para títulos de governos locais, de modo a impulsionar o investimento em infraestrutura no ano de 2022, que será muito favorável à demanda e aos preços de minério de ferro.
Além disso, Pequim também anunciou transferências adicionais para os governos locais, emitindo o equivalente a US$ 230 bilhões em cotas antecipadas para títulos de propósito específico em 2022, o que potencializará os gastos com infraestrutura neste início de ano.
Todos esses esforços, somados às reduções das taxas de juros, devem elevar o consumo de aço nos próximos meses e manter a demanda e os preços de minério de ferro sustentados.
ii) a China estabeleceu 2030 como o novo prazo para o pico de emissões para o setor siderúrgico, contra uma meta anterior de 2025; e
Eu entendo a tese de médio-longo prazo de que o consumo de aço será mais fraco, principalmente por conta do declínio estrutural dos mercados imobiliários e a postura de descarbonização da China, ambas indiscutivelmente negativas para a demanda de minério.
Contudo, segundo estimativas da Fitch, a ampliação de prazo para a redução de emissão de gases efeito estufa por parte do setor siderúrgico possibilitará um crescimento da produção global de minério de 2,4% em média ao ano entre 2021 e 2025, em comparação com a queda de 2% nos últimos cinco anos.
O atraso nas metas coincide com a retórica recente do governo sobre o equilíbrio dos objetivos verdes com outros escopos, uma vez que, segundo o próprio presidente Xi Jinping, os alvos climáticos não devem comprometer o fornecimento de commodities.
Isso elevaria a produção anual em 378 milhões de toneladas em 2025 em comparação com os níveis de 2020, o equivalente à produção da Índia e da Rússia em 2020 juntas. Ou seja, o minério de ferro teria mais sustentação de seu preço por mais tempo.
iii) redução de produção em alguns pontos importantes no Brasil e na Austrália.
Por fim, a oferta de minério de ferro tem um ponto sazonal mais baixo durante o primeiro semestre, concentrado no início do ano. As fortes chuvas nas regiões produtoras mais importantes do Brasil, como Carajás no Norte e Minas Gerais no Sudeste, muitas vezes têm um impacto significativo na produção de minério de ferro do país.
Neste ano, as fortes chuvas em Minas Gerais paralisaram cerca de um terço da capacidade brasileira de produção de minério de ferro por mais de uma semana, incluindo Vale, CSN, Usiminas e outros. O mesmo acontece na Austrália, pois a temporada de ciclones e outros eventos climáticos extremos ocorre no início do ano.
Dessa forma, acredito que tal ambiente desafiador deve continuar apoiando uma relação de oferta e demanda mais saudável, reduzindo os estoques de minério de ferro em toda a cadeia de suprimentos e sustentando os preços da matéria-prima nos próximos meses.
Olhando para os próximos bimestres
Ao fim deste primeiro bimestre de 2022, consigo avaliar a melhora das expectativas para a economia chinesa como um importante catalisador para a história do minério de ferro daqui para frente. O afrouxamento monetário e a expansão fiscal deverão, em última instância, beneficiar a demanda de minério de ferro, dando suporte aos seus preços.
Se por um lado a demanda permanecerá forte, por outro, a oferta seguirá comprometida.
Para ilustrar, a produção persistentemente fraca da Vale entre 2018 e 2020 preparou o cenário para o rali de preços de 2020, principalmente porque os produtores de aço chineses, que têm uma preferência crescente pelo minério de alto teor do Brasil, aumentaram a produção e, assim, a demanda por minério de ferro.
É um desenho muito parecido com o que podemos ter em 2022.
Volatilidade no horizonte
Claro, haverá volatilidade, sem dúvida, e as coisas vão balançar bastante ao longo do resto do ano, mas entendo que a pressão recente não deverá se confirmar como permanente, abrindo espaço para posicionamento no setor de mineração e siderurgia dentro da carteira de ações.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Por isso, embora os preços do minério de ferro possam ver alguma fraqueza nos próximos dias devido à repressão chinesa, acredito que isso será apenas temporário. Ao longo do ano, os preços devem cair para uma média de US$ 120/ton em 2022, conforme abaixo.
Em cenários como este, no qual o primeiro semestre deve ser bom e o segundo um pouco mais fraco, ainda pautado pela desaceleração chinesa, o investidor deve focar na seleção de fluxos de caixa, até mesmo porque o patamar médio de US$ 120/ton em 2022 é melhor que o verificado nos anos pré-pandemia e acima do preço estrutural de US$ 110/ton.
Dessa forma, com um ambiente de commodities ainda favorável e uma rotação setorial contínua de ações de crescimento para ações descontadas (teses de valor), vejo a Vale e a Gerdau como bons nomes para o ano, sendo elas as minhas top picks no setor.
Lembre-se, busque fluxo de caixa.
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