Que o setor de óleo e gás é um dos mais lucrativos do mundo não é nenhuma novidade. Até hoje, porém, pouca gente de fora da indústria se deu ao trabalho de calcular o lucro gerado pela exploração do petróleo e de combustíveis fósseis ao longo do tempo.
Agora, um estudo conduzido pelo professor Aviel Verbruggen, da Universidade de Antuérpia, revela que a indústria de petróleo e gás natural gerou lucro líquido diário de US$ 2,8 bilhões pelos últimos 50 anos.
Na cotação de hoje, estamos falando de R$ 15,4 bilhões. Por dia. Livre de impostos. Ao longo de meio século.
“Fiquei realmente surpreso com números tão altos. Eles são enormes”, disse Verbruggen ao jornal britânico The Guardian.
Lucro acumulado passa dos US$ 50 trilhões
O lucro acumulado pelas empresas estatais e privadas de petróleo entre 1970 e 2020 é multitrilionário.
De acordo com o estudo, os governos e empresas com atuação no setor capturaram nada menos que US$ 52 trilhões no período analisado.
Na média anual, já descontada a inflação, a renda gerada pelo setor a seus controladores foi de US$ 1,02 trilhão, ou R$ 5,6 trilhões.
Apenas a título de comparação, o produto interno bruto (PIB) do Brasil em 2021 somou R$ 8,7 trilhões.
Poder de corromper?
O lucro de quase US$ 3 bilhões por dia proporciona às empresas de óleo e gás o poder de corromper, diz Verbruggen.
“É uma quantia enorme de dinheiro”, disse ele. “Você pode comprar todos os políticos, todos os sistemas com todo esse dinheiro, e acredito que isso tenha acontecido.”
No entendimento do acadêmico, todo esse dinheiro “protege [os produtores] de interferências políticas que possam limitar suas atividades”.
Segundo ele, os enormes lucros foram inflados por cartéis de países por meio de uma restrição artificial da oferta. “Eles capturaram 1% de toda a riqueza do mundo sem fazer nada por isso.”
Diante disso, prossegue ele, a captura dos lucros da exploração de petróleo e gás natural impõe-se como um obstáculo a uma ação global mais efetiva no combate às mudanças climáticas.
Estudo sobre lucro com petróleo baseia-se em dados do Banco Mundial
Como você já deve ter percebido, Verbruggen está longe de ser um entusiasta do setor de óleo e gás.
Economista especializado nos setores de energia e ambiente, o autor do estudo leciona na Universidade de Antuérpia, na Bélgica.
No passado, o acadêmico participou ativamente da elaboração de um dos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas.
Dito isto, o estudo de Verbruggen baseia-se em dados do Banco Mundial sobre as exportações de petróleo e gás natural no decorrer do período analisado.
As conclusões ainda não foram publicadas em nenhuma revista acadêmica. Entretanto, o Guardian conversou com especialistas da University College London, da London School of Economics e do thinktank Carbon Tracker que tiveram acesso ao estudo.
Todos eles qualificaram a análise do professor Verbruggen como “precisa”.