Como a Méliuz (CASH3) foi do céu ao inferno após o IPO e o que esperar da empresa de cashback
Há pouco mais de um ano, a Méliuz havia acabado de fazer um follow-on a R$ 57 por ação. Hoje, depois de um desdobramento e de uma queda brusca, os papéis valem menos de R$ 2

Se esta reportagem tivesse sido publicada em setembro do ano passado, é provável que ela tivesse um sabor bem diferente para os investidores da Méliuz (CASH3).
Há pouco mais de um ano, a empresa de cashback havia acabado de fazer uma oferta subsequente de ações (follow-on) na qual elas saíram cotadas a R$ 57 cada.
Alguns dias depois, a Méliuz fez uma proposta de desdobramento que dividiu uma ação em 6 para resolver um “bom problema”. O objetivo, como em todo desdobramento de ações, era diminuir a cotação dos papéis e deixá-los mais baratos e acessíveis aos pequenos investidores.
Mas em pouco mais de 12 meses, o problema da empresa é o oposto. Hoje, pareceria mais provável que a Méliuz agrupasse suas ações, uma vez que elas não ultrapassam o patamar de R$ 2 desde junho.
Para entender o que fez a Méliuz ir do céu ao inferno na bolsa e o que podemos esperar da empresa de cashback, vale fazer um resgate do passado.
O cashback
Fundada em 2011, a Méliuz reinou sozinha na seara do cashback — ou “dinheiro de volta” — por muito tempo. Numa época em que era difícil fazer o cliente entender como funcionava o mecanismo, coube à empresa desmistificar o modelo de negócio.
Leia Também
Basicamente, redes varejistas pagam para anunciar no site e no aplicativo da Méliuz e esse valor é dividido com o cliente após ele realizar uma compra.
O cashback ficava retido na conta na Méliuz até chegar a um valor que ele pudesse transferir para um banco. Aliás, essa regra ainda vale hoje: é preciso acumular R$ 20 para poder sacar a grana.
A falta de outras utilidades para o cashback fez com que a Méliuz não conseguisse evitar o “cash-out”, ou seja, a saída do dinheiro do seu ecossistema.
Isso sem falar nas pessoas que simplesmente se “esquecem” de usar os créditos. Foi inclusive o que aconteceu comigo, que descobri que contava com 3 reais na minha conta quando baixei o aplicativo enquanto apurava esta reportagem.
Estava desenhada, aí, a necessidade de a Méliuz oferecer algumas funcionalidades, como pagamento de boletos, transferências, reutilização do cashback em outras compras etc..
Rumo à bolsa
Foi com a ideia de ampliar a participação da companhia no marketplace e nos serviços financeiros que a Méliuz decidiu captar dinheiro no mercado de capitais.
Em novembro de 2020, a empresa lançou suas ações na B3 valendo R$ 10 cada (R$ 1,66 ajustado pelo desdobramento). Com os recursos captados dos novos sócios na bolsa, a Méliuz deu início ao plano de expansão via fusões e aquisições.
A primeira transação pós-IPO foi feita em fevereiro de 2021, quando a empresa comprou o site de cupons de desconto Picodi. A aquisição foi estratégica para expandir a operação da Méliuz internacionalmente.
Alguns meses depois, veio outra compra importante: o Acesso Bank, hoje chamado de Bankly, que permitiu à Méliuz trazer para dentro do app diversos serviços financeiros.
Ainda que tudo tenha sido feito de acordo com o que foi prometido no prospecto do IPO da Méliuz, o desempenho das ações parou de responder positivamente a partir do segundo semestre do ano passado.
A trajetória dos papéis foi ascendente até a metade de 2021, quando chegaram a acumular uma valorização de mais de 600% em relação ao preço do IPO.
Mas depois da nova oferta de ações e do desdobramento, o caldo entornou, e os papéis desabaram a ponto de reverter toda a alta. No pregão desta terça-feira, CASH3 era negociada a R$ 1,28, o que representa uma baixa de 23% em relação à estreia na B3.
Vale dizer que a queda acompanhou a tendência negativa das ações do setor de tecnologia e de crescimento. Mas o desempenho também tem relação com a própria Méliuz.
Operação da Méliuz ficou complexa demais?
De acordo com o analista Victor Rosa, da Kínitro Capital, as aquisições geraram preocupação de como lidar com uma empresa que está totalmente diferente do que era no IPO.
“A Méliuz comprou duas operações complexas de se operar e ficou com um número de colaboradores muito maior. Além disso, a competição aumentou muito.”
A Kínitro chegou a ter ações da Méliuz na carteira, mas vendeu quando, na visão da gestora, a tese de investimento havia mudado.
Hoje, a complexidade da operação se reflete nos números. No segundo trimestre de 2022, a Méliuz registrou aumento do prejuízo, que chegou a R$ 28,2 milhões.
Enquanto as receitas líquidas cresceram 45% na comparação com o segundo trimestre do ano passado, o número de contas totais aumentou 34%, para 25,2 milhões.
O problema é que, por outro lado, as despesas operacionais mais que dobraram no mesmo período. Destaque para as despesas com pessoal, que quase quadruplicaram.
Méliuz virou banco?
Com as aquisições trazendo tantas mudanças dentro da Méliuz, ficou até difícil de encaixá-la em algum setor específico.
O Bank of America, por exemplo, classifica a Méliuz como parte do setor de Telecomunicações, Mídia e Tecnologia. Já o BTG Pactual encaixa a empresa no setor financeiro, excluindo bancos.
Mas a intenção da Méliuz, de acordo com o CFO, Luciano Valle, nunca foi ser vista como banco.
“O que acontece é que eu estou trazendo mais ferramentas para poder conectar os consumidores aos nossos parceiros de forma mais fácil. Isso passa por expandir portfólio de produtos e serviços, incluindo financeiros”, disse Valle em entrevista ao Seu Dinheiro.
A ordem, agora, é de arrumar a casa e ganhar eficiência com todas as aquisições que foram feitas e gerar vendas cruzadas dentro da plataforma, para manter o poder de engajamento.
Para isso, a Méliuz conta com as funcionalidades que passaram a ser oferecidas devido à compra do Bankly. Hoje é possível, por meio do app, não apenas fazer compras e coletar cashback, mas fazer Pix, carregar créditos no celular, pagar boletos, negociar bitcoin e até pedir empréstimo pessoal.
A Méliuz também lançou um cartão de crédito próprio após o sucesso da parceria com o Banco Pan, que oferecia cartões co-branded. Segundo Valle, a parceria funcionou como um teste para verificar se a empresa era capaz de oferecer o produto para os clientes.
“A gente sempre começa pequeno para testar bastante e, depois, escalar”, afirmou.
Concorrência “desleal”
No entanto, a Méliuz passou a enfrentar uma concorrência que pode ser considerada desleal. Enquanto a empresa de cashback se expandiu do marketplace para os produtos financeiros, os bancos estão fazendo o caminho inverso.
O movimento começou com os bancos digitais, como Inter e C6 Bank, mas agora até o gigante Itaú passou a ter um marketplace para chamar de seu.
“Imagine ter um competidor que cresce por vias majoritariamente orgânicas, enquanto você tem de pagar para fidelizar boa parte do seu tráfego”, argumentou Rosa, da Kínitro.
Essa situação já fez, inclusive, o BTG Pactual especular se a Méliuz poderia virar interesse de compra de companhias como o Nubank ou grandes bancos.
Mas o diretor da Méliuz enxerga a concorrência de forma natural.
“Tivemos um IPO super bem-sucedido, o que trouxe mais evidência para esse tipo de negócio e é natural que acabe promovendo maior competição”, disse Valle.
Méliuz (CASH3): hora de comprar a ação?
Ainda que, a julgar pelo comportamento da ação, grande parte dos investidores tenha desembarcado da tese da Méliuz, os analistas continuam recomendando compra dos papéis.
O Bank of America avalia que a Méliuz está passando por um período de transformação, o que pressiona as margens. Mas espera-se que os números do segundo semestre deste ano já mostrem melhora.
Segundo o Trademap, de 7 casas que cobrem a Méliuz, 5 recomendam compra e 2 recomendam manutenção.
Confira abaixo as recomendações às quais o Seu Dinheiro teve acesso:
ANALISTA | RECOMENDAÇÃO | PREÇO-ALVO |
Itaú BBA | Outperform | R$ 3,30 |
BTG Pactual | Compra | R$ 2,00 |
BofA | Compra | R$ 2,00 |
UBS | Neutra | R$ 1,40 |
Genial | Compra | R$ 2,45 |
Leia também:
San Francisco ou Los Angeles: qual cidade da Califórnia tem mais a ver com você?
As duas cidades mais proeminentes do estado são responsáveis por encantar os turistas, cada uma à sua maneira
Tem que aumentar mais: o que pensam os economistas que esperam mais uma elevação da Selic pelo Copom, para uma taxa terminal de 15% ao ano?
O comitê deixou o cenário em aberto na última reunião e agora o mercado está dividido entre os que esperam a manutenção dos juros e os que projetam um aumento residual de 0,25 p.p.
O copo meio… cheio: a visão da Bradesco Asset para a bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje
Com feriado na China e fala de Powell nos EUA, mercados reagem a tarifas de Trump (de novo!) e ofensiva russa contra Ucrânia
Bradesco Asset aposta em 5 ações para investir na bolsa brasileira no segundo semestre — e uma delas já subiu 35% em 2025
Em entrevista ao Seu Dinheiro, Rodrigo Santoro revelou as maiores posições da carteira de ações da gestora, que atualmente administra mais de R$ 940 bilhões em ativos
Com ‘mundaréu’ de dinheiro gringo chegando à bolsa brasileira, Ibovespa aos 140 mil é só o começo, afirma gestor da Bradesco Asset
Na avaliação de Rodrigo Santoro Geraldes, head de equities na gestora, o cenário virou completamente para a bolsa brasileira — e nem mesmo a falta de corte de juros deve atrapalhar a valorização das ações locais em 2025
Coala Festival volta a Portugal com intenção de ser plataforma da música em português no mundo
Do underground paulistano ao palco em Caiscais, Portugal, Gabriel Andrade, criador do Coala Festival, conta como segunda edição do festival na Europa, neste fim de semana (31 e 1º) amplia seu projeto de promover a música em língua portuguesa no globo
Agibank estreia no mercado de FIDCs com captação de R$ 2 bilhões com lastro em carteira de crédito consignado
O banco pretende destinar os recursos levantados com a captação para o funding das operações de crédito
Méliuz (CASH3) apresenta proposta de follow-on para comprar Bitcoin, e ações caem nesta sexta (30)
Segundo fato relevante enviado à CVM, a iniciativa pode movimentar até R$ 450 milhões se todas as novas ações forem absorvidas pelo mercado
Se o PIB surpreender, será para cima (de novo), diz economista-chefe do Inter; o que esperar dos números da economia no 1º trimestre
Economistas têm revisado para cima as projeções para o PIB do Brasil no primeiro trimestre de 2025, mas a surpresa pode ser ainda maior
Recuperação Judicial da Azul (AZUL4) causará turbulência para seus acionistas minoritários; entenda como processo pode afetar as ações
Companhia aérea entrou com pedido de reestruturação nos Estados Unidos — o temido Chapter 11 — nesta quarta (28)
Prevenir é melhor que remediar: Ibovespa repercute decisão judicial contra tarifaço, PIB dos EUA e desemprego no Brasil
Um tribunal norte-americano suspendeu o tarifaço de Donald Trump contra o resto do mundo; decisão anima as bolsas
Entenda a resolução do BC que estremeceu as provisões dos bancos e custou ao Banco do Brasil (BBAS3) quase R$ 1 bilhão no resultado do 1T25
Espelhada em padrões internacionais, a resolução 4.966 requer dos bancos uma abordagem mais preventiva e proativa contra calotes. Saiba como isso afetou os resultados dos bancões e derrubou as ações do Banco do Brasil na B3
De São Paulo a Xangai em um clique: China abre seu mercado de ações para o Brasil em uma parceria rara de ETFs recíprocos
Primeiros fundos lançados na B3 para investir direto em ações chinesas são da Bradesco Asset e já estão sendo negociados
Se não houver tag along na oferta de Tanure pela Braskem (BRKM5), “Lei das S.A. deixou de nos servir”, diz presidente da Amec
Em entrevista ao Seu Dinheiro, Fábio Coelho explica os motivos pelos quais a proposta do empresário Nelson Tanure pelo controle da Braskem deveria acionar o tag along — e as consequências se o mecanismo for “driblado”
Após reunião com banqueiros, Fazenda diz que vai estudar alternativas ao IOF
Ministro da Fazenda e secretário-executivo estiveram com os presidentes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e dos quatro maiores bancos privados do país
Méliuz (CASH3) divulga regras para quem quer pular fora da estratégia dos bitcoins e receber o dinheiro de volta
Os investidores que não desejarem fazer parte da nova empreitada da plataforma já podem pedir o reembolso dos investimentos nos papéis CASH3
Após alta do IOF, contas em dólar ainda valem mais a pena que cartões pré-pagos e cartões de crédito? Fizemos as contas
Comparamos cotações de contas como Wise, Nomad, Avenue e as contas globais de bancos com a compra de papel-moeda, cartões pré-pagos e cartões de crédito internacionais
Ser Educacional (SEER3): com ação subindo 126% no ano, CEO diz que nova regulação do EaD é ‘oportunidade’ e aposta no curso de medicina
Em entrevista ao Seu Dinheiro, Jânyo Diniz conta por que enxerga oportunidade com a nova regulamentação, fala sobre os resultados da empresa e o pagamento de dividendos
BTG Pactual (BPAC11) compra R$ 1,5 bilhão em ativos de Daniel Vorcaro, e recursos serão usados para capitalizar o Banco Master
Operação faz parte do processo da venda do Master para o BRB e inclui a compra de participações na Light (LIGT3) e no Méliuz (CASH3)
Sem OPA na Braskem (BRKM5)? Por que a compra do controle por Nelson Tanure não acionaria o mecanismo de tag along
Especialistas consultados pelo Seu Dinheiro avaliam que não necessariamente há uma obrigatoriedade de oferta pública de Tanure pelas ações dos minoritários da Braskem; entenda