Nos balanços do segundo trimestre, uma tendência para a bolsa: as receitas cresceram, mas os custos, também
Safra de resultados financeiros sofreu efeitos do aumento da Selic, mas sensação é de que o pior já passou

Quando mais uma temporada de balanços das empresas brasileiras começou a ganhar tração, em meados de julho, parte do mercado demonstrava preocupação: os números ainda prometiam ser afetados pelos efeitos da pandemia.
O cenário global também não era dos mais amigáveis, com inflação alta no mundo todo e uma recessão que parece cada vez mais inevitável. Mas, passada a janela de resultados, o mercado avalia que o pior já passou — e que as empresas listadas na bolsa conseguiram atravessar bem o período.
Sem grandes surpresas na temporada, ganharam destaque as altas receitas e o aumento dos custos — ambos já esperados. Fatos específicos de empresas ou setores foram pouco vistos.
Exemplo disso foi mostrado em relatório do Bank of America: entre as empresas que compõem o Ibovespa, houve uma alta de 21% nas receitas ao longo do segundo trimestre do ano, enquanto o Ebitda cresceu 9% e o lucro por ação recuou 22%.
"Logo após o resultado do primeiro trimestre, um sentimento negativo tomou conta do mercado e houve apreensão de que o trimestre seguinte viria muito ruim, mas isso não se confirmou”, diz Gabriela Joubert, analista-chefe do Inter. “Muitos resultados superaram as projeções e os dados macroeconômicos já são um pouco melhores, o ambiente mudou".
Uma das preocupações dos analistas antes do início da temporada de balanços era quanto à capacidade das companhias de navegar o mar da alta da inflação, fosse com repasse do aumento de custos ou conquistando uma fatia maior do mercado.
Leia Também
A boa notícia é que boa parte das empresas fez a lição de casa, ajustando-se ao cenário ao mesmo tempo em que buscou preservar o caixa. Assim, é possível pensar que o pior já passou e que os meses a seguir, mesmo com poucas mudanças macroeconômicas, continuarão positivos.
"Caminhamos para um cenário de menor pressão inflacionária e com taxas de juros mais previsíveis", acrescenta Gabriela Joubert.
Aqueles que brilharam
Entre os destaques positivos desta temporada, os especialistas citam o Magazine Luiza (MGLU3) e sua forte geração de caixa, a Cielo (CIEL3) e o maior volume de transações no setor, a Hapvida (HAPV3) e a melhora da sinistralidade e as varejistas de moda, como Lojas Renner (LREN3) e Grupo Soma (SOMA3).
Outros setores que trouxeram bons resultados e demonstraram capacidade de fazer repasse de preços foram o de varejo alimentar e o de shoppings centers. Enquanto o primeiro se beneficia por lidar com uma necessidade básica, o que lhe permite repassar preços, o segundo aproveita o retorno da população à rotina normal.
Em relatório recente, o Itaú BBA se diz otimista com os papéis do setor de varejo alimentar, especialmente no curto prazo, já que esses estabelecimentos devem se beneficiar com o pagamento de R$ 600 do Auxílio Brasil, que será feito mensalmente pelo menos até dezembro.
Aqueles que não brilharam tanto assim
"Mais um trimestre para esquecer". É assim que Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, classificou o balanço da Natura &Co (NTCO3) após um prejuízo líquido de R$ 766,7 milhões no segundo trimestre de 2022. A companhia reverteu lucro de R$ 234,8 milhões do mesmo período do ano passado.
Além do aumento das despesas financeiras e dos impostos, a empresa também preocupa diante das trocas constantes no alto escalão, crescimento abaixo das expectativas e integração lenta entre suas unidades de negócio.
Outra empresa de consumo que decepcionou foi Alpargatas (ALPA4). No período, a dona da Havaianas viu seu lucro líquido atribuído aos sócios cair 40% em relação ao mesmo período de 2021, chegando a R$ 64,2 milhões. Já o lucro contábil caiu 39,6%, para R$ 63,8 milhões, na mesma base de comparação.
Na avaliação da XP, ainda que haja sólido aumento de preço/mix e recuperação sequencial de margem, os volumes e o efeito cambial negativo pressionam os resultados.
A Petz (PETZ3) é citada entre as decepções após trazer números abaixo das expectativas, afetada pela inflação mais alta e perdendo força diante do cenário macroeconômico mais desafiador. O programa de expansão das lojas também acendeu um alerta para alguns analistas.
Já as construtoras trouxeram resultados mistos, mas o mercado avalia que a pressão sobre as margens brutas já começou a se estabilizar, com um alívio marginal nos preços de commodities essenciais para o setor, como o aço.
As estrelas do Ibovespa
E claro que não dá para falar de temporada de balanços sem citar as empresas com maior peso dentro do índice — Petrobras (PETR4), Vale (VALE3) e os grandes bancos.
No caso da Petrobras, a disparada no preço dos combustíveis impulsionou os lucros da petroleira no segundo semestre do ano, que chegaram a R$ 54,3 bilhões no período. Os resultados não surpreenderam os analistas; o que animou o mercado mesmo foi o anúncio de um pagamento recorde de R$ 87,8 bilhões aos acionistas, sob a forma de dividendos.
Já a Vale anunciou mais de R$ 16 bilhões em proventos, apesar de ter visto seu lucro líquido cair 50% entre abril e junho deste ano. Outra notícia que pesou negativamente para a mineradora diz respeito aos gastos com indenizações de Brumadinho e outros custos relacionados à descaracterização de barragens, que somaram US$ 280 milhões, ante US$ 185 milhões no segundo trimestre do ano passado.
O aumento de custos e os volumes também decepcionaram, desafios que ainda devem estar presentes na próxima temporada de resultados da mineradora.
Entre os bancos, a surpresa ficou por conta dos resultados do Banco do Brasil (BBAS3), que viu seu lucro saltar para R$ 7,8 bilhões no segundo trimestre, uma alta de 54,8% na comparação com o ano passado e também recorde para um trimestre.
O resultado — que superou todos os demais bancões — foi sustentado pelas margens, receitas com serviços e também uma deterioração menos acentuada dos ativos na comparação com os concorrentes.
Por essa, nem mesmo os analistas esperavam — mas eles não hesitam em dizer que, ainda que o BB esteja concorrendo de igual para igual com as instituições privadas, o risco de uma intervenção política no banco está sempre no radar, deixando um alerta para o papel.
Quem também empolgou o mercado foi o Itaú (ITUB4), que trouxe um lucro líquido gerencial de R$ 7,679 bilhões entre abril e junho de 2022, um crescimento de 17,4% em relação ao mesmo período do ano passado.
Os analistas destacam a alta discreta na inadimplência — preocupação válida para todos os bancos — e o crescimento na carteira de crédito do Itaú, que era apontado pelos especialistas como o provável destaque desta temporada de balanços.
Já Bradesco (BBDC4) e Santander Brasil (SANB11) não chegaram a decepcionar com seus lucros de R$ 7 bilhões e R$ 4 bilhões, respectivamente, mas acenderam o alerta do mercado. No caso do Bradesco, especificamente, pesaram a alta da inadimplência e as perdas registradas pela tesouraria.
"Vemos a temporada de resultados do 2T22 como positiva, com os grandes bancos brasileiros apresentando resultados não somente resilientes, mas em alguns casos (Itaú Unibanco e Banco do Brasil) também revisaram seu guidance de crescimento da carteira de crédito para este ano", disseram os analistas da XP em relatório.
O que esperar para a temporada de balanços do terceiro trimestre
Se o segundo trimestre do ano foi marcado pela pressão dos custos para as companhias de capital aberto brasileiras, o período seguinte deve ser menos nebuloso, afirmam os analistas.
Para aqueles que souberam atravessar a maré ruim, o dado de uma deflação de 0,68% no mês de julho já mostra que o segundo semestre do ano pode ser diferente e com algum alívio. A recente melhora no cenário macroeconômico e também a previsão de proximidade do fim do ciclo de aperto monetário corroboram uma visão um pouco mais otimista.
Na avaliação de Aline Cardoso, estrategista institucional de ações para o Brasil do Santander, após mais uma safra de resultados e revisões recentes de dados macroeconômicos, é possível que o mercado revise o crescimento de lucro das empresas para baixo antes da próxima temporada.
"É possível que isso aconteça e há espaço para tal, uma vez que a Selic deve continuar alta até o fim do ano pelo menos", diz.
Ela acredita, ainda, em uma continuidade de rotação de papéis de commodities por ações de empresas ligadas ao ciclo doméstico diante dos catalisadores necessários para uma reação do mercado acionário — dados melhores de inflação e pausa no ciclo de alta de juros.
Petrobras (PETR4): produção de petróleo fica estável em trimestre marcado pela queda de preços
A produção de petróleo da estatal foi de 2,214 milhões de barris por dia (bpd) entre janeiro e março, 0,1% menor do que no mesmo período do ano anterior, mas 5,5% maior na comparação trimestral
Azul (AZUL4) volta a tombar na bolsa; afinal, o que está acontecendo com a companhia aérea?
Empresa enfrenta situação crítica desde a pandemia, e resultado do follow-on, anunciado na semana passada, veio bem abaixo do esperado pelo mercado
Santander (SANB11), Weg (WEGE3), Kepler Weber (KEPL3) e mais 6 empresas divulgam resultados do 1T25 nesta semana – veja o que esperar, segundo o BTG Pactual
De olho na temporada de balanços do 1º trimestre, o BTG Pactual preparou um guia com suas expectativas para mais de 125 empresas listadas na bolsa; confira
Weg (WEGE3), Azul (AZUL4) e Embraer (EMBR3): quem “bombou” e quem “moscou” no primeiro trimestre do ano? BTG responde
Com base em dados das prévias operacionais, analistas indicam o que esperam dos setores de transporte e bens de capital
Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços
Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana
Agenda econômica: Balanços, PIB, inflação e emprego estão no radar em semana cheia no Brasil e no exterior
Semana traz IGP-M, payroll, PIB norte-americano e Zona do Euro, além dos últimos balanços antes das decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos de maio
Nova temporada de balanços vem aí; saiba o que esperar do resultado dos bancos
Quem abre as divulgações é o Santander Brasil (SANB11), nesta quarta-feira (30); analistas esperam desaceleração nos resultados ante o quarto trimestre de 2024, com impactos de um trimestre sazonalmente mais fraco e de uma nova regulamentação contábil do Banco Central
Agenda intensa: semana tem balanços de gigantes, indicadores quentes e feriado
Agenda da semana tem Gerdau, Santander e outras gigantes abrindo temporada de balanços e dados do IGP-M no Brasil e do PIB nos EUA
Smart Fit (SMFT3) entra na dieta dos investidores institucionais e é a ação preferida do varejo, diz a XP
Lojas Renner e C&A também tiveram destaque entre as escolhas, com vestuário de baixa e média renda registrando algum otimismo em relação ao primeiro trimestre
OPA do Carrefour (CRFB3): de ‘virada’, acionistas aprovam saída da empresa da bolsa brasileira
Parecia que ia dar ruim para o Carrefour (CRFB3), mas o jogo virou. Os acionistas presentes na assembleia desta sexta-feira (25) aprovaram a conversão da empresa brasileira em subsidiária integral da matriz francesa, com a consequente saída da B3
Vale (VALE3) sem dividendos extraordinários e de olho na China: o que pode acontecer com a mineradora agora; ações caem 2%
Executivos da companhia, incluindo o CEO Gustavo Pimenta, explicam o resultado financeiro do primeiro trimestre e alertam sobre os riscos da guerra comercial entre China e EUA nos negócios da empresa
Consórcio formado por grandes empresas investe R$ 55 milhões em projeto de restauração ecológica
A Biomas, empresa que tem como acionistas Itaú, Marfrig, Rabobank, Santander, Suzano e Vale, planeja restaurar 1,2 mil hectares de Mata Atlântica no sul da Bahia e gerar créditos de carbono
Fernando Collor torna-se o terceiro ex-presidente brasileiro a ser preso — mas o motivo não tem nada a ver com o que levou ao seu impeachment
Apesar de Collor ter entrado para a história com a sua saída da presidência nos anos 90, a prisão está relacionada a um outro julgamento histórico no Brasil, que também colocou outros dois ex-presidentes atrás das grades
JBS (JBSS3) avança rumo à dupla listagem, na B3 e em NY; isso é bom para as ações? Saiba o que significa para a empresa e os acionistas
Próximo passo é votação da dupla listagem em assembleia marcada para 23 de maio; segundo especialistas, dividendos podem ser afetados
Deixa a bolsa me levar: Ibovespa volta a flertar com máxima histórica em dia de IPCA-15 e repercussão de balanço da Vale
Apesar das incertezas da guerra comercial de Donald Trump, Ibovespa está a cerca de 2% de seu recorde nominal
Hypera (HYPE3): quando a incerteza joga a favor e rende um lucro de mais de 200% — e esse não é o único caso
A parte boa de trabalhar com opções é que não precisamos esperar maior clareza dos resultados para investir. Na verdade, quanto mais incerteza melhor, porque é justamente nesses casos em que podemos ter surpresas agradáveis.
Vale (VALE3) volta ao azul no primeiro trimestre de 2025, mas tem lucro 17% menor na comparação anual; confira os números da mineradora
A mineradora explica que os maiores volumes de vendas e custos menores, combinados com o melhor desempenho da Vale Base Metals, compensaram parcialmente o impacto dos preços mais baixos de minério e níquel
Dividendos extraordinários estão fora do horizonte da Petrobras (PETR4) com resultados de 2025, diz Bradesco BBI
Preço-alvo da ação da petroleira foi reduzido nas estimativas do banco, mas recomendação de compra foi mantida
Dona do Google vai pagar mais dividendos e recomprar US$ 70 bilhões em ações após superar projeção de receita e lucro no trimestre
A reação dos investidores aos números da Alphabet foi imediata: as ações chegaram a subir mais de 4% no after market em Nova York nesta quinta-feira (24)
Subir é o melhor remédio: ação da Hypera (HYPE3) dispara 12% e lidera o Ibovespa mesmo após prejuízo
Entenda a razão para o desempenho negativo da companhia entre janeiro e março não ter assustado os investidores e saiba se é o momento de colocar os papéis na carteira ou se desfazer deles