Investir num negócio com barreiras de entrada é uma estratégia que, a priori, parece interessante: o cenário de concorrência escassa é bastante favorável para o desenvolvimento de uma empresa. Sendo assim, por que as ações da B3 (B3SA3) — uma companhia que nada praticamente sozinha em seu setor — caem tanto em 2021? No vídeo abaixo, o Seu Dinheiro discute o panorama para os papéis da bolsa:
Pare para pensar: a B3 não tem concorrentes diretos — não há outra bolsa no Brasil. E, para melhorar o quadro, o mercado de ações vem ganhando popularidade no país, atraindo milhares de novos investidores a cada mês.
O volume médio negociado por dia tem crescido de maneira consistente, dando impulso ao segmento listado — o mais importante na composição da receita líquida da B3.
Mas, se tudo vai às mil maravilhas… o que explica esse gráfico?

Dois dados chamam a atenção no desempenho recente da B3: a queda de 36%, muito superior à do próprio Ibovespa, que acumula baixa de 11% no ano; e a trajetória de desvalorização relativamente constante vista desde janeiro — os papéis não surfaram o bom momento visto no primeiro semestre e não pioraram com a deterioração da bolsa de julho para cá.
É um indício de que há motivos para desconfiança — e que eles existem há algum tempo.
B3 (B3SA3): futuro incerto?
Por mais que, no atual momento, a B3 esteja sozinha em sua área de atuação, muitos levantam dúvidas quanto ao dia de amanhã. A possibilidade de aumento na competição é um argumento constantemente usado por aqueles que estão reticentes com as ações B3SA3.
Diversas fintechs têm trabalhado para concorrer com a B3 em determinados pontos. Não, ninguém planeja abrir uma segunda bolsa (pelo menos não por enquanto); o que existem são iniciativas para abocanhar pequenas fatias em alguns ativos e contratos bastante específicos.
Outra hipótese, e essa promete ser bem mais agressiva, é a aplicação do blockchain. Da mesma maneira que a tecnologia permitiu a descentralização de operações financeiras com a criação de moedas digitais, há o argumento de que um processo semelhante poderia ocorrer com as negociações de ações e valores mobiliários no mundo.
Em ambos os casos, não há nada concreto para já — existem apenas suposições e esforços bastante incipientes. Ainda assim, como o mercado financeiro sempre tenta se antecipar ao futuro, a simples hipótese de aumento na competição é motivo para desencadear uma onda de insegurança quanto às ações da B3.
O próprio mau momento da bolsa e da economia brasileira também servem para acender um sinal amarelo.
Que os juros baixos trouxeram toda uma onda de novos investidores à bolsa, há pouco o que se discutir. Mas e agora, que a Selic deve cruzar novamente a linha dos 10% e a renda fixa volta a ganhar brilho? Será que teremos o efeito reverso?
B3: preço atrativo?
Também há argumentos para o outro lado, com destaque para o avanço da B3 no setor de tecnologia. Somente neste ano, ela acertou a compra da Neoway, por R$ 1,8 bilhão, e fechou uma parceria com a Totvs numa empresa de processamento de dados.
É um esforço por parte da bolsa para diversificar sua receita e capturar a forte demanda por informação — com cada vez mais investidores, corretoras, home brokers e sistemas de análise, o acesso aos dados da B3 deu um salto.
Por fim, há a questão do preço das ações B3SA3: com a desvalorização vista ao longo de 2021, os papéis estão com um valuation bastante descontado em relação aos patamares históricos. Tanto o múltiplo de Preço/Lucro quanto o de EV/Ebitda estão abaixo da média.
Ou seja: há argumentos para os dois lados. Seja como for, as grandes casas de análise possuem uma postura otimista em relação à B3: segundo dados do TradeMap, as ações B3SA3 possuem oito recomendações de compra, quatro de manutenção e apenas uma de venda; o preço-alvo médio é de R$ 20,01 — um potencial de alta de mais de 60% em relação aos patamares atuais.
No "Ações para ficar de olho" desta semana, o Seu Dinheiro dá mais detalhes sobre a tese de investimento nos papéis da B3 — e explica a fundo os prós e contras dessas ações: