Dólar cai quando entrar governo ‘menos lunático’, diz ex-ministro Rubens Ricupero
Diplomata vê inépcia do governo com a pandemia e diz que a Cúpula do Clima, que começa nesta quinta, é a “última chance” para o Brasil apresentar contribuição mais ambiciosa de combate à crise climática

O dólar está nas alturas em consequência da crise desencadeada pela pandemia — que fragilizou ainda mais as contas públicas e exigiu a derrubada da Selic, tornando o investimento no Brasil menos atraente por conta do diferencial de juros entre as economias. É o que diz parte do mercado.
Para o ex-ministro da Fazenda e diplomata Rubens Ricupero, esses fatores explicam apenas parte da valorização da moeda norte-americana. Segundo ele, o câmbio deveria estar na faixa de R$ 4,50, não fosse o governo de Jair Bolsonaro afastando investidores estrangeiros. O dólar está acima de R$ 5,50.
Com ampla experiência em questões internacionais, Ricupero afirma que um Executivo "normal" traria alívios imediatos à economia. "Se entrar um governo menos lunático, até o câmbio se ajusta", diz o hoje diretor da instituição de ensino FAAP em entrevista ao Seu Dinheiro.
É ao governo federal e a sua falta de compromisso com a agenda social e ambiental que o ministro do Meio Ambiente e da Fazenda do governo Itamar Franco credita uma série de desajustes na economia — e não só à pandemia.
Assim como muitas pessoas a par do assunto, Ricupero vê na Cúpula de Líderes sobre o Clima, convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a "última chance" de o governo brasileiro demonstrar compromisso no combate ao desmatamento ilegal da Amazônia.
Segundo Ricupero, durante o encontro que acontece nesta quinta (22) e sexta-feira (23), o Brasil precisa apresentar uma contribuição mais ambiciosa às metas do Acordo de Paris — tratado de 2015 que rege medidas de redução de emissão de gases estufa.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: Falta pouco agora
No último dia 14, o presidente Jair Bolsonaro enviou uma carta ao líder norte-americano, na qual pediu apoio para zerar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030. O documento tem o que Biden gostaria de ouvir, mas é o contrário do que o governo pratica, segundo o ex-ministro.
Ricupero fala na necessidade de uma ação coordenada do governo para reestabelecer a credibilidade internacional, muito mais do que uma troca de ministro. "O [Ricardo] Salles está em uma atitude quase de chantagem, dizendo que o Brasil só vai fazer algo se receber dinheiro de fora. O que é irresponsável".
Embaixador do Brasil na ONU, nos EUA e na Itália, Ricupero foi secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD), em Genebra, de 1995 a 2004. Ele é autor de, entre outros, "A Diplomacia na Construção do Brasil. 1750-2016" (Versal Editores) e "O Brasil e o Dilema da Globalização" (Senac).
Estagflação à frente
Além dos desafios da política externa, Ricupero avalia que é possível o Brasil passar por um período prolongado de inflação alta e atividade em baixa, a estagflação.
"Muitos dos fatores do aumento de preços não dependem das políticas do governo", afirma, citando a política monetária como uma das poucas ferramentas para conter o avanço da inflação.
O ex-ministro diz que via como mais adequado um aumento da taxa básica de juros de 2% para 2,25% — e não a alta para 2,75%, como foi feito pelo Copom na última reunião. "Achei que foi um ajuste muito forte para uma economia ainda prostrada".
Para o diplomata, 2021 será um ano "difícil". Ele entende que a nova rodada do auxílio emergencial será insuficiente para sustentar a economia e que a tendência é de prolongamento da pandemia "por causa da inépcia do governo".
Ricupero critica em particular a postura na compra de vacinas adotada pelo Ministério da Saúde. "Não há como explicar por que rejeitaram a oferta da Pfizer no ano passado."
A farmacêutica comunicou em março que o governo brasileiro recusou uma oferta de 70 milhões de doses de vacina em agosto de 2020, de um total de três propostas.
Hoje, cerca de 6% da população do país recebeu a segunda dose do imunizante contra a covid-19 — sendo a maior parte da Coronavac, a vacina produzida pelo Instituto Butantan, do governo de São Paulo.
Custo Brasil, reformas e privatizações
Para Ricupero, o dólar muito volátil prejudica a indústria, que não consegue prever os negócios. Segundo ele, o governo deveria enfrentar os componentes do "Custo Brasil" — nível de dificuldade de se investir no país, composto, por exemplo, pela carga tributária.
As discussões como a da reforma tributária, que deve simplificar as regras na cobrança de impostos no país, estão travadas no Congresso em meio ao agravamento da pandemia.
O ex-ministro lembra que, mesmo antes da chegada da covid-19, o governo pouco tinha avançado na agenda liberal, prometida durante a campanha eleitoral. "Mesmo a reforma da Previdência a gestão atual herdou praticamente pronta [do governo Michel Temer]", diz.
Segundo ele, todas as promessas do Ministério da Economia foram "muito fantasiosas". À frente da pasta, Paulo Guedes disse no início do governo que zeraria o déficit público em um ano e arrecadaria cerca de R$ 2 trilhões com privatizações e vendas de imóveis.
"As promessas já demonstravam a pouca responsabilidade", diz Ricupero. "A gente sabe que, ainda que fosse possível vender tudo, nós estaríamos muito longe dessas quantias."
Com o aumento dos gastos para conter os efeitos da pandemia, o governo registrou no ano passado um rombo fiscal de R$ 743,1 bilhões — pior resultado da série histórica iniciada há 24 anos.
“Qualquer pessoa que conhece as finanças brasileiras sabe da complexidade do déficit público. Se fosse fácil [zerá-lo], não teria desafiado todos os governos.”
A lista de críticas de Ricupero também passa pela reforma administrativa "anunciada por meses", pelo processo de demissão do então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e pela saída do CEO do Banco do Brasil, André Brandão. "É um governo sem rumo, com um presidente totalmente desprovido de capacidade de administrar [o país]".
O substituto de Ernesto
A decisão do governo em colocar o chanceler Carlos França à frente do Ministério das Relações Exteriores é bem avaliada por Ricupero, que ressalta o perfil "estimado" por colegas do Itamaraty. "É um homem que está com os dois pés na Terra".
No entanto, Ricupero ressalta que há frentes de atuação que dizem respeito ao trabalho da pasta, mas que não dependem só do novo ministro — como a área ambiental e a de direitos humanos.
“O Itamaraty não pode fazer tudo sozinho. Por mais que França tenha uma visão correta e inteligente, ele é ministro de um presidente que não tem nenhuma dessas qualidades.”
Já a troca na Saúde, com a chegada de Marcelo Queiroga, é vista por Ricupero como reflexo de, entre outras coisas, a carta de economistas e agentes do mercado financeiro — da qual ele foi signatário.
Durante a pandemia, o diplomata de 84 anos segue em atividade. Ele já tomou a primeira dose da vacina, da AstraZeneca/Oxford, e deve voltar a tomar o imunizante na última semana de maio. "Foi no Pacaembu [em que tomei a vacina]. Sabe que a gente não escolhe [a origem do imunizante], né? Mas estou satisfeito".
Salão de Xangai 2025: BYD, elétricos e a onda chinesa que pode transformar o mercado brasileiro
O mundo observa o que as marcas chinesas trazem de novidades, enquanto o Brasil espera novas marcas
Tony Volpon: EUA, novo mercado emergente
Não tenham dúvidas: chegamos todos na beira do abismo neste mês de abril. Por pouco não caímos.
Haddad prepara investida para atrair investimentos em data centers no Brasil; confira as propostas
Parte crucial do processamento de dados, data centers são infraestruturas que concentram toda a tecnologia de computação em nuvem e o ministro da Fazenda quer colocar o Brasil no radar das empresas de tecnologias
Nova temporada de balanços vem aí; saiba o que esperar do resultado dos bancos
Quem abre as divulgações é o Santander Brasil (SANB11), nesta quarta-feira (30); analistas esperam desaceleração nos resultados ante o quarto trimestre de 2024, com impactos de um trimestre sazonalmente mais fraco e de uma nova regulamentação contábil do Banco Central
Se errei, não erro mais: Google volta com o conversor de real para outras moedas e adiciona recursos de segurança para ter mais precisão nas cotações
A ferramenta do Google ficou quatro meses fora do ar, depois de episódios nos quais o conversor mostrou a cotação do real bastante superior à realidade
JBS (JBSS3) avança rumo à dupla listagem, na B3 e em NY; isso é bom para as ações? Saiba o que significa para a empresa e os acionistas
Próximo passo é votação da dupla listagem em assembleia marcada para 23 de maio; segundo especialistas, dividendos podem ser afetados
Deixa a bolsa me levar: Ibovespa volta a flertar com máxima histórica em dia de IPCA-15 e repercussão de balanço da Vale
Apesar das incertezas da guerra comercial de Donald Trump, Ibovespa está a cerca de 2% de seu recorde nominal
O turismo de luxo na Escandinávia é diferente; hotéis cinco-estrelas e ostentação saem do roteiro
O verdadeiro luxo em uma viagem para a região escandinava está em praticar o slow travel
Guido Mantega vai ficar de fora do conselho da Eletrobras (ELET3) e governo busca novo nome, diz jornal
Há cinco dias da assembleia que elegerá os membros do conselho da empresa, começa a circular a informação de que o governo procura outra opção para indicar para o posto
Por que o ouro se tornou o porto seguro preferido dos investidores ante a liquidação dos títulos do Tesouro americano e do dólar?
Perda de credibilidade dos ativos americanos e proteção contra a inflação levam o ouro a se destacar neste início de ano
Fim da linha para o dólar? Moeda ainda tem muito a cair, diz economista-chefe do Goldman Sachs
Desvalorização pode vir da relutância dos investidores em se exporem a investimentos dos EUA diante da guerra comercial com a China e das incertezas tarifárias, segundo Jan Hatzius
OPA do Carrefour (CRFB3): com saída de Península e GIC do negócio, o que fazer com as ações?
Analistas ouvidos pelo Seu Dinheiro indicam qual a melhor estratégia para os pequenos acionistas — e até uma ação alternativa para comprar com os recursos
Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar
China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam
Agora 2025 começou: Ibovespa se prepara para seguir nos embalos da festa do estica e puxa de Trump — enquanto ele não muda de ideia
Bolsas internacionais amanheceram em alta nesta quarta-feira diante dos recuos de Trump em relação à guerra comercial e ao destino de Powell
Ibovespa pega carona nos fortes ganhos da bolsa de Nova York e sobe 0,63%; dólar cai a R$ 5,7284
Sinalização do governo Trump de que a guerra tarifária entre EUA e China pode estar perto de uma trégua ajudou na retomada do apetite por ativos mais arriscados
Banco Central acionou juros para defender o real — Galípolo detalha estratégia monetária brasileira em meio à guerra comercial global
Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Gabriel Galípolo detalhou a estratégia monetária do Banco Central e sua visão sobre os rumos da guerra comercial
Bitcoin engata alta e volta a superar os US$ 90 mil — enfraquecimento do dólar reforça tese de reserva de valor
Analistas veem sinais de desacoplamento entre bitcoin e o mercado de ações, com possível aproximação do comportamento do ouro
Orgulho e preconceito na bolsa: Ibovespa volta do feriado após sangria em Wall Street com pressão de Trump sobre Powell
Investidores temem que ações de Trump resultem e interferência no trabalho do Fed, o banco central norte-americano
Como o melhor chef confeiteiro do mundo quer conquistar o brasileiro, croissant por croissant
Como o Mata Café, chef porto-riquenho Antonio Bachour já deu a São Paulo um tira-gosto de sua confeitaria premiada; agora ele está pronto para servir seu prato principal por aqui
Tenda (TEND3) sem milagres: por que a incorporadora ficou (mais uma vez) para trás no rali das ações do setor?
O que explica o desempenho menor de TEND3 em relação a concorrentes como Cury (CURY3), Direcional (DIRR3) e Plano & Plano (PLPL3) e por que há ‘má vontade’ dos gestores