Que o relacionamento já estava abalado não é nenhuma novidade, mas o fim pode estar em vias de se tornar oficial.
A troca de farpas públicas virou rotina e o reajuste do preço dos combustíveis foi o pivô da separação entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o atual comandante da Petrobras, Roberto Castello Branco, principalmente porque a questão tem impacto direto em uma importante base política para Bolsonaro - os caminhoneiros.
Depois de algumas semanas de paz, ontem (18) o presidente voltou a mostrar descontentamento com as ações recentes da Petrobras, que anunciou um segundo reajuste no preço do óleo diesel e da gasolina em fevereiro, como forma de acompanhar a alta do petróleo, uma prática vista com bons olhos pelos investidores.
Não foi preciso esperar muito para que as desconfianças do mercado com relação a uma possível interferência política na Petrobras se confirmasse. No começo da noite desta sexta-feira (19), o presidente Jair Bolsonaro utilizou as suas redes sociais para informar que o governo irá indicar um novo nome para o comando da petroleira.
A notícia pegou os mercados fechados, em um dia que já foi marcado por uma pressão que tombou as ações da Petrobras em mais de 7%. O reflexo da decisão nos papéis da companhia devem ser vistos na segunda-feira, mas já dá para ter uma ideia do que vem por aí. Com as bolsas locais fechadas, a reação no mercado internacional é um bom termômetro.
Logo após o tuíte breve do presidente, que confirmou que o governo federal indicará o general e ex-ministro da Defesa Joaquim Silva e Luna, atualmente diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional, para assumir a presidência da Petrobras e um assento no conselho de administração da estatal, os recibos de ações da Petrobras negociados no “After Hours” em Nova York (ADRs) chegaram a recuar mais de 9%. Por volta das 22h20, os recibos recuavam mais de 7%.
A decisão final sobre a troca no comando da estatal cabe ao conselho, formado por membros indicados pelo governo mas que possuem independência na decisão. Hoje, mais cedo, o conselheiro Marcelo Mesquita havia afirmado ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Estadão, que não havia motivos para trocar o CEO da estatal e que todos do conselho "gostam muito" de Castello Branco e apoiam o que ele vem fazendo na companhia.
Para Ilan Albertman, analista de Research da Ativa Investimentos, devemos ver um mercado instável na segunda-feira. No entanto, ainda pode ser cedo para dimensionar o tamanho da queda que certamente virá. Isso porque ruídos e novos acontecimentos podem surgir ao longo do fim de semana.
Embora o analista acredite ser precipitado o julgamento sobre o indicado do governo ser ou não um bom nome para o comando da estatal, o movimento não é encarado com bons olhos. “Eu acho que o nome é o de menos. A mensagem que se passa com esse processo é que o governo tem uma caneta na mão e uma caneta forte é muito ruim e tudo o que a Petrobras não precisava neste momento”.
Aquecendo os motores
A reação do mercado, de fato, só vai ser possível conferir quando eles abrirem na segunda-feira (22). Não só podemos medir o que deve acontecer pelo comportamento dos ADRs lá fora e pelo que já era esperado e imaginado pelo mercado, mas também pela mesa de bar não-oficial do mercado financeiro: o fintwit.
Investidores, gestores, anônimos e figuras conhecidas não demoraram a reagir à indicação do novo nome feita pelo presidente.
Teve ex-secretário especial de Desestatização do governo Bolsonaro reagindo mal...
Teve ex-presidente do Banco Central reagindo com muito deboche...
E aqueles que estão prontos para soltar o grito de “eu avisei”...